Li a notícia sobre a aprovação da lei que proíbe o uso de celular nas escolas do Estado de São Paulo. Houve unanimidade entre os deputados, algo raro em tempos de tanta polarização política.
Trata-se de uma tendência mundial. No Brasil, outros estados já possuem algum tipo de restrição e, onde ainda não há lei, as próprias escolas têm regulamentado o tema. O fato me inspirou a escrever, mais uma vez, sobre a nossa epidemia de conexão: Facebook, Instagram, X, LinkedIn, TikTok, e-mail, WhatsApp e, agora, IA. Minha tese — ainda que leiga no assunto — é que o nosso cérebro não está preparado para essa enxurrada de estímulos sensoriais.
Estamos cada vez mais mergulhados no mundo digital e desconectados do mundo real. Evidências científicas sugerem que o tempo gasto nos smartphones interfere no sono, na autoestima, no humor, nos relacionamentos, na memória, na criatividade e na produtividade, entre outros problemas.
Vou além. Como o fenômeno da hiperconexão é relativamente recente, acredito que poderá gerar problemas fisiológicos e emocionais de longo prazo que ainda nem foram detectados pelos especialistas. Lembro-me da época em que quase todo mundo fumava. Era charmoso. Fumava-se nos escritórios, nos restaurantes e até dentro dos aviões. Apesar de o cigarro ter sido banido dos voos em 1997, até pouco tempo as poltronas dos aviões ainda ostentavam cinzeiros. Não havia uma consciência plena dos malefícios do cigarro, tal como pode estar acontecendo com o vício na conexão.
Não me parece que somos programados para viver em constante alerta, recebendo estímulos a todo momento. Mesmo que as mensagens não tratem de problemas ou trabalho, o simples fato de acessá-las e respondê-las gera ansiedade e estresse. Como consequência, nosso organismo libera o hormônio cortisol, que desencadeia reações fisiológicas, como pequenos picos na pressão arterial, na frequência cardíaca e nos níveis de açúcar no sangue. Essas reações — fundamentais para situações de perigo, como as enfrentadas pelos nossos ancestrais no tempo das cavernas — tornam-se prejudiciais quando se tornam parte da rotina diária.
Quais seriam, então, as consequências da hiperconexão no longo prazo? Na nossa capacidade cognitiva? No desgaste dos nossos neurônios? Nas nossas relações sociais e familiares? Na nossa saúde e expectativa de vida?
Outro dia encontrei um amigo que não tem respondido às minhas mensagens no WhatsApp. Ao ser questionado, ele me respondeu:— Fernando, abandonei o Whats.
Quase incrédulo, perguntei os motivos. Ele explicou: — Não aguentava mais ser escravo do celular. Acordava pela manhã e tinha 60, 70 mensagens esperando por mim. Participava de dezenas de grupos, não tinha mais tempo para pensar. E o pior: tenho filhos pequenos, e eles me viam o tempo todo no celular. Estar no WhatsApp significa não estar com eles. Na realidade, você não está em lugar nenhum; está sempre dentro daquela caixinha de aço e vidro.
Segundo ele, se algo importante ou urgente acontece, basta ligarem ou enviarem SMS. Se não for o caso, ele responde por e-mail. Confesso que fiquei impressionado com o desprendimento. Mas sei que a maioria de nós, incluindo eu, não teria coragem de fazer o mesmo. Afinal, hoje o WhatsApp é quase indissociável da nossa rotina de trabalho e socialização.
A questão é tentar moderar o uso preservando o tempo com a família, os amigos ou mesmo o momento de ler um livro ou assistir a um filme. Eu mesmo, depois dessa conversa, comecei a deixar o celular na garagem ao chegar em casa à noite. É uma tentativa de colocar limites. Serei bem-sucedido? Conto em um próximo artigo.