Desde 4 de outubro realiza-se em Roma a 16ª edição da Assembleia do Sínodo dos bispos convocada pelo Papa Francisco para debater o futuro da Igreja Católica, após uma consulta que buscou ouvir fiéis do mundo todo ao longo de quase dois anos.
O sínodo é uma assembleia de bispos da Igreja Católica do mundo inteiro reunida com o Papa ou bispo de Roma.
A finalidade de um sínodo é refletir de maneira conjunta sobre temas relevantes para o bem da igreja e da humanidade.
Esta etapa é a última e mais delicada do processo.
Caberá à assembleia discutir e sintetizar as mudanças na Igreja Católica.
Na abertura o Papa Francisco foi enfático: sínodo “não é uma reunião parlamentar, nem um plano de reformas”,
Deixou clara a defesa de uma igreja que não desanime, não ceda a soluções cômodas ou à agenda do mundo.
Cabe registrar a firmeza dos jesuítas, ao longo da história.
A Companhia de Jesus, a ordem dos jesuítas à qual pertence Francisco, foi fundada em 1540 pelo espanhol Inácio de Loyola, que lançou suas bases na capela de Montmartre em Paris a partir de 1534 com seis outros companheiros, entre eles São Francisco Xavier.
250 anos atrás, a congregação fundada por Santo Inácio de Loyola estava prestes a desaparecer da Terra, por decisão do Papa Clemente 14 (21 de julho de 1773), que assinou um documento intitulado Dominus ac Redemptor, por meio do qual eliminou os jesuítas da estrutura da Igreja e retirou todos os bens deles.
A recusa de Catarina, “a Grande” em endossar a decisão do papa Clemente 14 de suprimir a Companhia, permitiu que a ordem sobrevivesse no Império Russo.
Os reis tinham direitos sobre a Igreja e indicavam os bispos ao papa.
Isso não acontecia com os jesuítas.
Essa falta de controle, não agradava aos reis e seus conselheiros.
Os jesuítas acreditam que a salvação não se consegue no convento, mas na medida em que tentamos transformar a realidade.
Portanto, se o monarca ou governante pode mudar a realidade, então porque não tentar influenciá-lo? - defendem eles.
Nem sempre foi compreendido o modo como os seguidores de Santo Inácio realizam seu trabalho, nem dentro, nem fora da Igreja.
Com essa formação de jesuíta, o Papa Francisco é considerado progressista, sendo alvo de oposição interna, devido a seus recorrentes sinais de abertura a homossexuais e divorciados e já foi acusado até de “heresia” por parte de membros ultraconservadores do clero.
De forma corajosa, o Papa não se intimidou e colocou em debate no Sínodo temas controvertidos, tais como, a maior participação de mulheres, inclusive na tomada de decisões; a possibilidade de elas serem ordenadas diaconisas, podendo, então, celebrar batizados e casamentos (mas não eucaristia, nem confissão); ordenação de homens casados como padres; aproximação a grupos marginalizados pela Igreja, como divorciados em segundo casamento, pessoas LGBTQIA+ e abusos sexuais e de poder dentro da instituição.
Há muita resistência ao Sínodo entre os bispos e por parte daqueles que pensam erroneamente, que o Papa está tentando levar a Igreja Católica à uma direção errônea.
Acusam-no até de comunista, o que é um absurdo.
Tais pessoas são totalmente ignorantes, porque no primeiro milênio, até as reformas gregorianas no século XI, todas as igrejas, mesmo antes do grande cisma (1054), realizaram Sínodos, como forma de consulta para decisões e mudanças.
Vê-se, que a posição de Francisco não é algo novo sendo injetado.
É, antes, um retorno às fontes originais da Igreja.
Espera-se, que do atual Sínodo surjam novos rumos para a ação evangélica da Igreja Católica,
O Papa Francisco age corretamente e não foge ao Evangelho.
Trata-se apenas de reação ao gesso do conservadorismo, da intolerância, do radicalismo gritante, que buscam impedir qualquer transformação progressista, moderna ou atualizada.
Deus proteja e ilumine sempre o nosso Pontífice!
*Ney Lopes, jornalista, advogado, ex-deputado federal; ex-presidente do Parlamento Latino-Americano, procurador federal