O grupo de operações das Forças Especiais do Exército conhecido como “Kids Pretos” tinha um objetivo importante caso o plano de golpe de Estado preparado pela organização criminosa que cercava o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se concretizasse: “a missão de efetuar a prisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes assim que o decreto presidencial fosse assinado”. Isso é o que aponta o relatório da Polícia Federal que levou à Operação Tempus Veritatis na quinta-feira, 8, e que indica como o tentente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, quase assumiu o comando da tropa durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Membros dos Kids Pretos foram chamados para participar no próprio planejamento de ações golpistas em 2022. Segundo a PF, o coronel Bernardo Romão Corrêa Neto, que à época era assistente do Comandante Militar do Sul, participou junto de Mauro Cid da organização de uma reunião para o dia 28 de novembro de 2022. Diálogos encontrados no celular de Cid mostram que Corrêa Neto “intermediou o convite para reunião e selecionou apenas os militares formados no curso de Forças Especiais (Kids Pretos), o que demonstra planejamento minucioso para utilizar, contra o próprio Estado brasileiro, as técnicas militares para consumação do golpe de Estado”, indica o relatório policial.
Leia Também:
“Kids pretos” é o nome informal de um grupo de elite no Exército brasileiro conhecido por usar gorros pretos em operações e são constantemente descritos no relatório da PF como “Forças Especiais”. Eles fazem parte do Comando de Operações Especiais (Copesp), cujo emprego era de responsabilidade do ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército (Coter) general Estevam Theóphilo, também alvo de operação da Polícia Federal.
Segundo as investigações, o general seria o “responsável operacional” por arregimentar os “Kids Pretos” para prender o ministro Alexandre de Moraes.
Mauro Cid ganharia comando sobre “Kids Pretos” que prenderiam Moraes
O relatório da PF indica ainda que, em 2 de janeiro de 2023, já sob o governo Lula, Mauro Cid buscou o general Theóphilo “com a informação de que poderia ser preso nas primeiras semanas do ano”. O general tranquilizou o colega de farda dizendo que o então comandante do exército, Júlio César de Arruda garantiria sua proteção. “Fique tranquilo, Cid. Vou conversar com Arruda hoje. Nada lhe acontecerá”, aponta mensagem apreendida pela PF.
Como mostrado pelo Estadão à época, a resistência de Arruda em exonerar Cid de sua nomeação para chefiar o 1.º Batalhão de Ações de Comando do Exército em Goiânia foi um dos motivos que levou à decisão de Lula de demití-lo do comando e substituí-lo pelo general Tomás Miguel Ribeiro Paiva.
Esse fato também está na investigação da Polícia Federal, que destaca ainda: o batalhão a que Cid havia sido designado era o mesmo que foi “encarregado de cumprir semanas antes a prisão do ministro Alexandre de Moraes”.