A Operação Hefesto, inquérito da Polícia Federal (PF) que cita o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), levou os investigadores a executarem uma missão especial para rastrear o destino do dinheiro movimentado por operadores financeiros supostamente ligados a fraudes e desvios em contratos para a compra de kits de robótica por 42 prefeituras de Alagoas. Provas do caso foram anuladas no Supremo Tribunal Federal (STF).
A reportagem do Estadão teve acesso a documentos que detalham a estratégia dos investigadores no rastro de Pedro Magno e Juliana Salomão Dias, suspeitos de lavarem dinheiro que teria sido desviado dos contratos.
O ponto de partida dos agentes da PF supostamente desviado foi uma interceptação telefônica que revelou que eles planejavam um saque de R$ 39 mil.
A PF se antecipou ao saque e foi até uma agência da Caixa Econômica Federal, em Brasília, para levantar o número de série de todas as cédulas que seriam repassadas pelo banco aos investigados. Foi Pedro Magno quem compareceu à agência para resgatar o valor.
Quando a Operação Hefesto foi deflagrada, em junho, os policiais apreenderam R$ 150 mil com Wanderson Ribeiro Josino de Jesus, motorista do assessor parlamentar Luciano Cavalcante, ex-auxiliar de Lira. A PF cruzou os números das cédulas e descobriu que eles batiam.
Wanderson virou, então, peça-chave na investigação. A suspeita é que o motorista seja um ‘laranja’ no suposto esquema. Com ele, a PF também apreendeu um caderno de capa dura azul, aparentemente de contabilidade, com anotações de valores em dinheiro e nomes, inclusive o de Arthur Lira.
As suspeitas de envolvimento do presidente da Câmara com os desvios levaram o juiz juiz Roney Raimundo Leão Otílio, da 2.ª Vara Federal de Alagoas, a declinar da competência do caso e remeter os autos ao Supremo Tribunal Federal (STF), que tem atribuição para conduzir investigações sobre autoridades com direito a foro privilegiado na Corte.
”As anotações encontradas em poder de Wanderson Ribeiro indicam que ele e Luciano Cavalcante tinham de alguma forma controle sobre o pagamento de despesas pessoais de Arthur Lira e de seus familiares”, diz um trecho do documento que formalizou o declínio de competência.
Provas do caso foram então anuladas pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que considerou que o inquérito não poderia ter iniciado na primeira instância. Ele argumentou que a investigação foi aberta com base em reportagens que citavam Arthur Lira, ou seja, na avaliação do ministro, já era possível identificar que os autos deveriam tramitar no STF.
Quando as suspeitas vieram a público, Arthur Lira afirmou que toda a sua movimentação financeira ‘tem origem nos seus ganhos como agropecuarista e da remuneração como deputado federal’.
Após o STF anular as provas, o presidente da Câmara também que a investigação ‘tinha como único objetivo me atingir’. “Passei dias sendo exposto e injustiçado, mas sempre confiei plenamente no Poder Judiciário, um pilar fundamental na garantia dos direitos do cidadão.”