Ao avançar sobre o intricado esquema de pagamento de propinas a agentes públicos e políticos das empresas do grupo Odebrecht, os investigadores da Lava Jato se depararam com uma nova leva de apelidos e nomes cifrados para se refeir aos destinatários de pagamentos milionários da empreiteira. "Mineirinho", "Grisalho", "Crente", "Novo Canário" e até "Jacaré" estão entre os nomes dos destinatários que receberam recursos, inclusive, durante as eleições de 2014.
Na noite desta terça-feira, 22, os executivos da empresa, incluindo Marcelo Odebrecht, anunciaram que decidiram fazer uma colaboração "definitiva" com a Lava Jato. Com isso, a expectativa é de que os nomes cifrados acabem vindo à tona.
VEJA UMA DAS PLANILHAS DE MARIA LÚCIA:
Até o momento, ao menos 21 nomes de destinatários dos pagamentos ilícitos feitos no Brasil a mando de executivos da empreiteira foram identificados pela Polícia Federal, que suspeita que eles sejam em vários casos meros intermediários dos destinatários finais da propina.
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Alguns nomes não identificados, contudo, chamaram a atenção dos investigadores, sobretudo pelo grande volume de recursos que teriam recebido, como é o caso de "Mineirinho", apontado como destinatário de R$ 15 milhões entre 7 de outubro e 23 de dezembro de 2014. As entregas, segundo as planilhas, teriam sido feitas em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais.
A quantia foi solicitada pelo diretor superintendente da Odebrecht Infraestrutura para Minas Gerais, Espírito Santo e Região Norte, Sérgio Neves, à secretária Maria Lúcia Tavares, que fez delação e admitiu operar a "contabilidade paralela" da empresa a mando de seus superiores. O pedido foi intermediado por Fernando Migliaccio, ex-executivo da empreiteira que fazia o contato com Maria Lúcia e que foi preso na Suíça.
A solicitação foi encaminhada no dia 30 de setembro de 2014, 13 dias após o então presidente da holding Odebrecht Marcelo Odebrecht conversar com o presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Junior sobre a "viabilização" de "15" a um destinatário que até então não estava claro para a PF. "Diante das novas informações ora colacionadas, resta claro que os '15' representam, na verdade, R$ 15 milhões, o total de recursos disponibilizados a Mineirinho, via Sérgio Neves", assinala a Polícia Federal no relatório que embasou a 26ª fase da operação.
CONFIRA ABAIXO O DIÁLOGO DE MARCELO ODEBRECHT COM BENEDICTO:
Nas planilhas da empresa há identificação das operações uma coluna específica, o codinome do beneficiário e, em alguns casos, senhas utilizadas no momento da entrega. O condinome "Cabeça Chata", por exemplo, recebedor de R$ 1 milhão em 23 de outubro de 2014 usava a senha "Lasanha". O "Padeiro", também com valores milionários, tinha a senha "Gafanhoto". "Novo Canário", por sua vez recebeu, R$ 1 milhão em 30 de outubro de 2014, mesma data em que "Grisalho" e "Crente" receberam R$ 500 mil.
Ao longo das planilhas há ainda o "Comprido", o "Encostado 2?, o "Grisalhão" e o "Tanquinho" entre dezenas de outros condinomes. As senhas: "Perfume", "Amarelo", "Nelore", Alcatra", "Supervisor", "Alface", "Camarão" entre outras.
Documento
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PARTE 4Documento
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PARTE 7COM A PALAVRA, A ODEBRECHT:
Leia a íntegra da nota divulgada pela Odebrecht:
"Compromisso com o Brasil
As avaliações e reflexões levadas a efeito por nossos acionistas e executivos levaram a Odebrecht a decidir por uma colaboração definitiva com as investigações da Operação Lava Jato.
A empresa, que identificou a necessidade de implantar melhorias em suas práticas, vem mantendo contato com as autoridades com o objetivo de colaborar com as investigações, além da iniciativa de leniência já adotada em dezembro junto à Controladoria Geral da União.
Esperamos que os esclarecimentos da colaboração contribuam significativamente com a Justiça brasileira e com a construção de um Brasil melhor.
Na mesma direção, seguimos aperfeiçoando nosso sistema de conformidade e nosso modelo de governança; estamos em processo avançado de adesão ao Pacto Global, da ONU, que visa mobilizar a comunidade empresarial internacional para a adoção, em suas práticas de negócios, de valores reconhecidos nas áreas de direitos humanos, relações de trabalho, meio ambiente e combate à corrupção; estabelecemos metas de conformidade para que nossos negócios se enquadrarem como Empresa Pró-Ética (da CGU), iniciativa que incentiva as empresas a implantarem medidas de prevenção e combate à corrupção e outros tipos de fraudes. Vamos, também, adotar novas práticas de relacionamento com a esfera pública.
Apesar de todas as dificuldades e da consciência de não termos responsabilidade dominante sobre os fatos apurados na Operação Lava Jato - que revela na verdade a existência de um sistema ilegal e ilegítimo de financiamento do sistema partidário-eleitoral do país - seguimos acreditando no Brasil.
Ao contribuir com o aprimoramento do contexto institucional, a Odebrecht olha para si e procura evoluir, mirando o futuro. Entendemos nossa responsabilidade social e econômica, e iremos cumprir nossos contratos e manter seus investimentos. Assim, poderemos preservar os empregos diretos e indiretos que geramos e prosseguir no papel de agente econômico relevante, de forma responsável e sustentável.
Em respeito aos nossos mais de 130 mil integrantes, alguns deles tantas vezes injustamente retratados, às suas famílias, aos nossos clientes, às comunidades em que atuamos, aos nossos parceiros e à sociedade em geral, manifestamos nosso compromisso com o país. São 72 anos de história e sabemos que temos que avançar por meio de ações práticas, do diálogo e da transparência.
Nosso compromisso é o de evoluir com o Brasil e para o Brasil."