Neste mês do Dia Internacional da Mulher fizemos na Associação dos Magistrados do Estado de Goiás (Asmego) mais uma ação pioneira e de vasto alcance em defesa da magistratura. Desta vez, voltada à mulher magistrada. Em uma série de vídeos, elas relataram os desafios enfrentados no âmbito do Judiciário e na sociedade em geral. Foram contadas histórias por quem está há mais de dez, 20 e até 30 anos no dia a dia da magistratura.
Delas ouvimos os preconceitos enfrentados no início da carreira — e também no decorrer dela — bem como as dificuldades de conciliar carreira e vida pessoal feminina, além da disparidade do número de homens e mulheres que ingressavam na magistratura, fazendo, assim, menor a rede de apoio oferecida a elas — hoje, felizmente, esse número já está equiparado. Mas todas cumpriram com seu ofício, sem esmorecer, assim como outras milhões de trabalhadoras deste nosso país.
Foi relatado, por exemplo, que em júris de casos de assassinato, a magistrada, ali diante dos familiares da vítima morta de forma brutal, disse ter tido de segurar o choro e tirar de todas as forças a firmeza, para não demonstrar fraqueza frente ao tribunal lotado. Se um juiz chora, é notícia positiva: é humano, sensível, mas se for uma juíza, é fraca, incapaz, despreparada e outros termos pejorativos.
Uma outra, titular da Vara de Execução Penal, visitava costumeiramente um presídio com mais de 6 mil detentos. Coragem? Não. Como ela mesma disse: “É o exercício da profissão. Se eu tenho que fazer, eu vou fazer.”
Tem ainda as juízas em início de carreira. Nesse quesito, a sociedade machista e patriarcal acha até na pouca idade mais um defeito para imputar à mulher. Colegas relataram dificuldade de serem respeitadas por advogados homens. Ali, não eram suficientes a formação e aprovação no concurso para magistrada. Passei por isso até mesmo quando me candidatei à Presidência da Asmego, pois a associação já contava 52 anos de existência, e nunca uma mulher havia ocupado o cargo de presidente. A mulher magistrada precisa demonstrar e reafirmar diariamente sua capacidade e conhecimento jurídico.
O positivo é que a paga é feita com trabalho. E com resultados eficazes para os jurisdicionados e para a sociedade como um todo. Apesar de que, fora deste trabalho, a mulher magistrada quase sempre tem de se dividir — além da busca pelo empoderamento dispensada aos homens — com o cuidado com a família e criação e educação de filhos. Ou seja, o fato de ser mulher já nos impõe mais tarefas obrigatórias.
Tudo isso corrobora veladamente para que menos mulheres se inscrevam nos concursos da magistratura, e para que as já magistradas ascendam a cargos mais altos e passem a compor órgãos superiores de gestão na maioria dos tribunais — bem lá onde a maioria dos eleitores é formada por homens. Essa é a realidade nos tribunais superiores. Mas uma realidade indesejada e que vem sendo superada, pois recentemente muitos nomes garantiram essas conquistas.
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ), por exemplo, tem se mostrado à frente desta luta, e as mulheres têm sido reconhecidas pelo merecimento profissional para cargos de destaque.
E que bom que, no longo capítulo das mulheres, as magistradas atuam incessantemente em defesa de todas nós.
São vários os projetos criados por mulheres que impactam fortemente na garantia dos nossos direitos. A saber: Protocolo Sinal Vermelho, da ex-presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Renata Gil; Lei Maria da Penha na Escola da desembargadora Sandra Regina (TJGO); Gibi Maria da Penha Vai à Escola, da Maria Isabel (TJDF).
Como se consta, as magistradas são mulheres que quebram barreiras diárias, promovendo justiça e inspirando futuras gerações. Que nossa dedicação e sabedoria continuem a moldar um sistema judicial mais inclusivo e igualitário. Juntas, somos fortes e imparáveis.