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Opinião|O casamento e a política relacional


Por Marco Antonio Spinelli

Uma amiga querida vem relatando nas mesas de boteco a saga de seu filho, que vem tendo anos de relação estável com uma moça, um pouco mais velha, que tem uma espécie de agenda relacional bastante diferente do rapaz. Sua paranoia era bastante turbinada pelo seu Ginecologista, que ficava falando sobre envelhecimento de seus óvulos e riscos envolvidos, que não vou me estender aqui porque me irrita. O debate sobre congelamento de óvulos tensionou a pressão sobre o casal: você quer ter filhos? Quer comprar um cachorro? A doença que já abordamos nessa coluna, do Information Overload, além das dificuldades de comunicação do casal, foi criando uma zona de cobrança de uma e de esquiva, do outro. Uma família chamando a menina de chata e a outra chamando o rapaz de omisso e cagão. Finalmente ele falou que não pretendia embarcar na jornada de uma gestação. O embate se deslocou para comprar um apartamento, ou algo que representasse a solidez da relação. A disputa, então passou a ser, obsessivamente, com a demanda da moça de levar a relação para “o próximo nível” e o rapaz aparentemente tentando atender a demanda, porque gosta da namorada, mas sempre atrasando a realização de seus desejos, mais ou menos hollywoodianos. Finalmente, na hora de assinar os papeis para aquisição de um imóvel, o rapaz derrubou a caneta e se declarou indeciso. Saiu da sala. A moça ficou enlouquecida, mas a coisa não terminou por aí. No saguão da Imobiliária ele declarou que estava terminando com ela. Não queria casar, não queria ter filhos, não queria escalar nem o próximo, nem nenhum nível de relacionamento que estivesse na sua cabeça. Já consigo imaginar as moças que estão lendo essa história cerrando os dentes de raiva. E os rapazes comemorando a “coragem” do cara. O fato é que isso não foi um término, foi um cancelamento. O homem bloqueou a moça e a apagou da própria vida de uma maneira implacável e, pode-se dizer, inapelável. Dá para imaginar que esse rompimento abrupto estava muito relacionado a uma espécie de Burnout relacional. O cara simplesmente cancelou o debate infinito, o blá-blá-blá também infinito e a questão obsessiva de qual era o plano de carreira que o relacionamento deveria, ou não, cumprir.

No belíssimo filme “Vidas Passadas”, ao qual eu pretendo dedicar uma análise mais longa no futuro, dois namorados de infância, da Coreia do Sul, se reencontram, após mais de vinte anos, em Nova York, ela casada e escritora, ele solteiro e com a vida meio travada na mediocridade. Conversam longamente, inclusive, sobre o relacionamento que ele acabara de romper. Nora, a moça, fala sobre casamento com uma metáfora encantadora: para ela, o casamento é como plantar duas plantas no mesmo vaso, e as raízes das plantas vão, inelutavelmente, disputar espaço, e isso vai causar desconforto. Se as raízes se ajeitarem e forem complementares, vai dar certo. Mas pode também acontecer das duas plantas se sufocarem mutuamente.

Os estudos mostram que o casamento hoje é muito mais igualitário, menos machista e menos determinado por imperativos econômicos. A mulher, no mais das vezes, não depende mais economicamente do marido, nem fica presa numa estrutura de dominação, tanto que estatísticas americanas apontam que as mulheres já estão pedindo o divórcio duas vezes mais do que os homens. Elas não ficam mais presas dentro de um casamento infeliz. Já o desejo dos homens de casar e ter filhos, além de assumir responsabilidades, está menor, levando a mulher a ser aquela que fica lutando desesperadamente para levar a relação “ao próximo nível”, como no caso que contei no início desse artigo.

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O fato é que a relação a dois ficou bastante contaminada pela instância política, de mulheres que solicitam mais presença e dedicação dos caras, que sonham com esposas mais acolhedoras e mais parecidas com a geração de suas mães. O resultado, como a metáfora do filme, pode ser uma disputa entre as raízes que levam as duas plantas ao esgotamento. Ou, uma raiz engolir a outra, com uma planta prevalecendo e a outra perdendo o brilho. Isso está fazendo os casamentos serem mais tardios e menos propensos a durarem.

A sabedoria oriental do filme pode criar uma metáfora melhor: menos que uma disputa por espaço, as raízes precisam ter uma presença complementar. O problema é que a disputa de direitos e deveres cria uma espécie de nova moral, que às vezes “obriga” um dos participantes à separação. Buscar a complementaridade, abrir mão e sustentar a tensão de uma relação a dois já é suficientemente difícil, sem que a relação vire uma eterna (e sofrida) queda de braço.

Uma amiga querida vem relatando nas mesas de boteco a saga de seu filho, que vem tendo anos de relação estável com uma moça, um pouco mais velha, que tem uma espécie de agenda relacional bastante diferente do rapaz. Sua paranoia era bastante turbinada pelo seu Ginecologista, que ficava falando sobre envelhecimento de seus óvulos e riscos envolvidos, que não vou me estender aqui porque me irrita. O debate sobre congelamento de óvulos tensionou a pressão sobre o casal: você quer ter filhos? Quer comprar um cachorro? A doença que já abordamos nessa coluna, do Information Overload, além das dificuldades de comunicação do casal, foi criando uma zona de cobrança de uma e de esquiva, do outro. Uma família chamando a menina de chata e a outra chamando o rapaz de omisso e cagão. Finalmente ele falou que não pretendia embarcar na jornada de uma gestação. O embate se deslocou para comprar um apartamento, ou algo que representasse a solidez da relação. A disputa, então passou a ser, obsessivamente, com a demanda da moça de levar a relação para “o próximo nível” e o rapaz aparentemente tentando atender a demanda, porque gosta da namorada, mas sempre atrasando a realização de seus desejos, mais ou menos hollywoodianos. Finalmente, na hora de assinar os papeis para aquisição de um imóvel, o rapaz derrubou a caneta e se declarou indeciso. Saiu da sala. A moça ficou enlouquecida, mas a coisa não terminou por aí. No saguão da Imobiliária ele declarou que estava terminando com ela. Não queria casar, não queria ter filhos, não queria escalar nem o próximo, nem nenhum nível de relacionamento que estivesse na sua cabeça. Já consigo imaginar as moças que estão lendo essa história cerrando os dentes de raiva. E os rapazes comemorando a “coragem” do cara. O fato é que isso não foi um término, foi um cancelamento. O homem bloqueou a moça e a apagou da própria vida de uma maneira implacável e, pode-se dizer, inapelável. Dá para imaginar que esse rompimento abrupto estava muito relacionado a uma espécie de Burnout relacional. O cara simplesmente cancelou o debate infinito, o blá-blá-blá também infinito e a questão obsessiva de qual era o plano de carreira que o relacionamento deveria, ou não, cumprir.

No belíssimo filme “Vidas Passadas”, ao qual eu pretendo dedicar uma análise mais longa no futuro, dois namorados de infância, da Coreia do Sul, se reencontram, após mais de vinte anos, em Nova York, ela casada e escritora, ele solteiro e com a vida meio travada na mediocridade. Conversam longamente, inclusive, sobre o relacionamento que ele acabara de romper. Nora, a moça, fala sobre casamento com uma metáfora encantadora: para ela, o casamento é como plantar duas plantas no mesmo vaso, e as raízes das plantas vão, inelutavelmente, disputar espaço, e isso vai causar desconforto. Se as raízes se ajeitarem e forem complementares, vai dar certo. Mas pode também acontecer das duas plantas se sufocarem mutuamente.

Os estudos mostram que o casamento hoje é muito mais igualitário, menos machista e menos determinado por imperativos econômicos. A mulher, no mais das vezes, não depende mais economicamente do marido, nem fica presa numa estrutura de dominação, tanto que estatísticas americanas apontam que as mulheres já estão pedindo o divórcio duas vezes mais do que os homens. Elas não ficam mais presas dentro de um casamento infeliz. Já o desejo dos homens de casar e ter filhos, além de assumir responsabilidades, está menor, levando a mulher a ser aquela que fica lutando desesperadamente para levar a relação “ao próximo nível”, como no caso que contei no início desse artigo.

O fato é que a relação a dois ficou bastante contaminada pela instância política, de mulheres que solicitam mais presença e dedicação dos caras, que sonham com esposas mais acolhedoras e mais parecidas com a geração de suas mães. O resultado, como a metáfora do filme, pode ser uma disputa entre as raízes que levam as duas plantas ao esgotamento. Ou, uma raiz engolir a outra, com uma planta prevalecendo e a outra perdendo o brilho. Isso está fazendo os casamentos serem mais tardios e menos propensos a durarem.

A sabedoria oriental do filme pode criar uma metáfora melhor: menos que uma disputa por espaço, as raízes precisam ter uma presença complementar. O problema é que a disputa de direitos e deveres cria uma espécie de nova moral, que às vezes “obriga” um dos participantes à separação. Buscar a complementaridade, abrir mão e sustentar a tensão de uma relação a dois já é suficientemente difícil, sem que a relação vire uma eterna (e sofrida) queda de braço.

Uma amiga querida vem relatando nas mesas de boteco a saga de seu filho, que vem tendo anos de relação estável com uma moça, um pouco mais velha, que tem uma espécie de agenda relacional bastante diferente do rapaz. Sua paranoia era bastante turbinada pelo seu Ginecologista, que ficava falando sobre envelhecimento de seus óvulos e riscos envolvidos, que não vou me estender aqui porque me irrita. O debate sobre congelamento de óvulos tensionou a pressão sobre o casal: você quer ter filhos? Quer comprar um cachorro? A doença que já abordamos nessa coluna, do Information Overload, além das dificuldades de comunicação do casal, foi criando uma zona de cobrança de uma e de esquiva, do outro. Uma família chamando a menina de chata e a outra chamando o rapaz de omisso e cagão. Finalmente ele falou que não pretendia embarcar na jornada de uma gestação. O embate se deslocou para comprar um apartamento, ou algo que representasse a solidez da relação. A disputa, então passou a ser, obsessivamente, com a demanda da moça de levar a relação para “o próximo nível” e o rapaz aparentemente tentando atender a demanda, porque gosta da namorada, mas sempre atrasando a realização de seus desejos, mais ou menos hollywoodianos. Finalmente, na hora de assinar os papeis para aquisição de um imóvel, o rapaz derrubou a caneta e se declarou indeciso. Saiu da sala. A moça ficou enlouquecida, mas a coisa não terminou por aí. No saguão da Imobiliária ele declarou que estava terminando com ela. Não queria casar, não queria ter filhos, não queria escalar nem o próximo, nem nenhum nível de relacionamento que estivesse na sua cabeça. Já consigo imaginar as moças que estão lendo essa história cerrando os dentes de raiva. E os rapazes comemorando a “coragem” do cara. O fato é que isso não foi um término, foi um cancelamento. O homem bloqueou a moça e a apagou da própria vida de uma maneira implacável e, pode-se dizer, inapelável. Dá para imaginar que esse rompimento abrupto estava muito relacionado a uma espécie de Burnout relacional. O cara simplesmente cancelou o debate infinito, o blá-blá-blá também infinito e a questão obsessiva de qual era o plano de carreira que o relacionamento deveria, ou não, cumprir.

No belíssimo filme “Vidas Passadas”, ao qual eu pretendo dedicar uma análise mais longa no futuro, dois namorados de infância, da Coreia do Sul, se reencontram, após mais de vinte anos, em Nova York, ela casada e escritora, ele solteiro e com a vida meio travada na mediocridade. Conversam longamente, inclusive, sobre o relacionamento que ele acabara de romper. Nora, a moça, fala sobre casamento com uma metáfora encantadora: para ela, o casamento é como plantar duas plantas no mesmo vaso, e as raízes das plantas vão, inelutavelmente, disputar espaço, e isso vai causar desconforto. Se as raízes se ajeitarem e forem complementares, vai dar certo. Mas pode também acontecer das duas plantas se sufocarem mutuamente.

Os estudos mostram que o casamento hoje é muito mais igualitário, menos machista e menos determinado por imperativos econômicos. A mulher, no mais das vezes, não depende mais economicamente do marido, nem fica presa numa estrutura de dominação, tanto que estatísticas americanas apontam que as mulheres já estão pedindo o divórcio duas vezes mais do que os homens. Elas não ficam mais presas dentro de um casamento infeliz. Já o desejo dos homens de casar e ter filhos, além de assumir responsabilidades, está menor, levando a mulher a ser aquela que fica lutando desesperadamente para levar a relação “ao próximo nível”, como no caso que contei no início desse artigo.

O fato é que a relação a dois ficou bastante contaminada pela instância política, de mulheres que solicitam mais presença e dedicação dos caras, que sonham com esposas mais acolhedoras e mais parecidas com a geração de suas mães. O resultado, como a metáfora do filme, pode ser uma disputa entre as raízes que levam as duas plantas ao esgotamento. Ou, uma raiz engolir a outra, com uma planta prevalecendo e a outra perdendo o brilho. Isso está fazendo os casamentos serem mais tardios e menos propensos a durarem.

A sabedoria oriental do filme pode criar uma metáfora melhor: menos que uma disputa por espaço, as raízes precisam ter uma presença complementar. O problema é que a disputa de direitos e deveres cria uma espécie de nova moral, que às vezes “obriga” um dos participantes à separação. Buscar a complementaridade, abrir mão e sustentar a tensão de uma relação a dois já é suficientemente difícil, sem que a relação vire uma eterna (e sofrida) queda de braço.

Uma amiga querida vem relatando nas mesas de boteco a saga de seu filho, que vem tendo anos de relação estável com uma moça, um pouco mais velha, que tem uma espécie de agenda relacional bastante diferente do rapaz. Sua paranoia era bastante turbinada pelo seu Ginecologista, que ficava falando sobre envelhecimento de seus óvulos e riscos envolvidos, que não vou me estender aqui porque me irrita. O debate sobre congelamento de óvulos tensionou a pressão sobre o casal: você quer ter filhos? Quer comprar um cachorro? A doença que já abordamos nessa coluna, do Information Overload, além das dificuldades de comunicação do casal, foi criando uma zona de cobrança de uma e de esquiva, do outro. Uma família chamando a menina de chata e a outra chamando o rapaz de omisso e cagão. Finalmente ele falou que não pretendia embarcar na jornada de uma gestação. O embate se deslocou para comprar um apartamento, ou algo que representasse a solidez da relação. A disputa, então passou a ser, obsessivamente, com a demanda da moça de levar a relação para “o próximo nível” e o rapaz aparentemente tentando atender a demanda, porque gosta da namorada, mas sempre atrasando a realização de seus desejos, mais ou menos hollywoodianos. Finalmente, na hora de assinar os papeis para aquisição de um imóvel, o rapaz derrubou a caneta e se declarou indeciso. Saiu da sala. A moça ficou enlouquecida, mas a coisa não terminou por aí. No saguão da Imobiliária ele declarou que estava terminando com ela. Não queria casar, não queria ter filhos, não queria escalar nem o próximo, nem nenhum nível de relacionamento que estivesse na sua cabeça. Já consigo imaginar as moças que estão lendo essa história cerrando os dentes de raiva. E os rapazes comemorando a “coragem” do cara. O fato é que isso não foi um término, foi um cancelamento. O homem bloqueou a moça e a apagou da própria vida de uma maneira implacável e, pode-se dizer, inapelável. Dá para imaginar que esse rompimento abrupto estava muito relacionado a uma espécie de Burnout relacional. O cara simplesmente cancelou o debate infinito, o blá-blá-blá também infinito e a questão obsessiva de qual era o plano de carreira que o relacionamento deveria, ou não, cumprir.

No belíssimo filme “Vidas Passadas”, ao qual eu pretendo dedicar uma análise mais longa no futuro, dois namorados de infância, da Coreia do Sul, se reencontram, após mais de vinte anos, em Nova York, ela casada e escritora, ele solteiro e com a vida meio travada na mediocridade. Conversam longamente, inclusive, sobre o relacionamento que ele acabara de romper. Nora, a moça, fala sobre casamento com uma metáfora encantadora: para ela, o casamento é como plantar duas plantas no mesmo vaso, e as raízes das plantas vão, inelutavelmente, disputar espaço, e isso vai causar desconforto. Se as raízes se ajeitarem e forem complementares, vai dar certo. Mas pode também acontecer das duas plantas se sufocarem mutuamente.

Os estudos mostram que o casamento hoje é muito mais igualitário, menos machista e menos determinado por imperativos econômicos. A mulher, no mais das vezes, não depende mais economicamente do marido, nem fica presa numa estrutura de dominação, tanto que estatísticas americanas apontam que as mulheres já estão pedindo o divórcio duas vezes mais do que os homens. Elas não ficam mais presas dentro de um casamento infeliz. Já o desejo dos homens de casar e ter filhos, além de assumir responsabilidades, está menor, levando a mulher a ser aquela que fica lutando desesperadamente para levar a relação “ao próximo nível”, como no caso que contei no início desse artigo.

O fato é que a relação a dois ficou bastante contaminada pela instância política, de mulheres que solicitam mais presença e dedicação dos caras, que sonham com esposas mais acolhedoras e mais parecidas com a geração de suas mães. O resultado, como a metáfora do filme, pode ser uma disputa entre as raízes que levam as duas plantas ao esgotamento. Ou, uma raiz engolir a outra, com uma planta prevalecendo e a outra perdendo o brilho. Isso está fazendo os casamentos serem mais tardios e menos propensos a durarem.

A sabedoria oriental do filme pode criar uma metáfora melhor: menos que uma disputa por espaço, as raízes precisam ter uma presença complementar. O problema é que a disputa de direitos e deveres cria uma espécie de nova moral, que às vezes “obriga” um dos participantes à separação. Buscar a complementaridade, abrir mão e sustentar a tensão de uma relação a dois já é suficientemente difícil, sem que a relação vire uma eterna (e sofrida) queda de braço.

Uma amiga querida vem relatando nas mesas de boteco a saga de seu filho, que vem tendo anos de relação estável com uma moça, um pouco mais velha, que tem uma espécie de agenda relacional bastante diferente do rapaz. Sua paranoia era bastante turbinada pelo seu Ginecologista, que ficava falando sobre envelhecimento de seus óvulos e riscos envolvidos, que não vou me estender aqui porque me irrita. O debate sobre congelamento de óvulos tensionou a pressão sobre o casal: você quer ter filhos? Quer comprar um cachorro? A doença que já abordamos nessa coluna, do Information Overload, além das dificuldades de comunicação do casal, foi criando uma zona de cobrança de uma e de esquiva, do outro. Uma família chamando a menina de chata e a outra chamando o rapaz de omisso e cagão. Finalmente ele falou que não pretendia embarcar na jornada de uma gestação. O embate se deslocou para comprar um apartamento, ou algo que representasse a solidez da relação. A disputa, então passou a ser, obsessivamente, com a demanda da moça de levar a relação para “o próximo nível” e o rapaz aparentemente tentando atender a demanda, porque gosta da namorada, mas sempre atrasando a realização de seus desejos, mais ou menos hollywoodianos. Finalmente, na hora de assinar os papeis para aquisição de um imóvel, o rapaz derrubou a caneta e se declarou indeciso. Saiu da sala. A moça ficou enlouquecida, mas a coisa não terminou por aí. No saguão da Imobiliária ele declarou que estava terminando com ela. Não queria casar, não queria ter filhos, não queria escalar nem o próximo, nem nenhum nível de relacionamento que estivesse na sua cabeça. Já consigo imaginar as moças que estão lendo essa história cerrando os dentes de raiva. E os rapazes comemorando a “coragem” do cara. O fato é que isso não foi um término, foi um cancelamento. O homem bloqueou a moça e a apagou da própria vida de uma maneira implacável e, pode-se dizer, inapelável. Dá para imaginar que esse rompimento abrupto estava muito relacionado a uma espécie de Burnout relacional. O cara simplesmente cancelou o debate infinito, o blá-blá-blá também infinito e a questão obsessiva de qual era o plano de carreira que o relacionamento deveria, ou não, cumprir.

No belíssimo filme “Vidas Passadas”, ao qual eu pretendo dedicar uma análise mais longa no futuro, dois namorados de infância, da Coreia do Sul, se reencontram, após mais de vinte anos, em Nova York, ela casada e escritora, ele solteiro e com a vida meio travada na mediocridade. Conversam longamente, inclusive, sobre o relacionamento que ele acabara de romper. Nora, a moça, fala sobre casamento com uma metáfora encantadora: para ela, o casamento é como plantar duas plantas no mesmo vaso, e as raízes das plantas vão, inelutavelmente, disputar espaço, e isso vai causar desconforto. Se as raízes se ajeitarem e forem complementares, vai dar certo. Mas pode também acontecer das duas plantas se sufocarem mutuamente.

Os estudos mostram que o casamento hoje é muito mais igualitário, menos machista e menos determinado por imperativos econômicos. A mulher, no mais das vezes, não depende mais economicamente do marido, nem fica presa numa estrutura de dominação, tanto que estatísticas americanas apontam que as mulheres já estão pedindo o divórcio duas vezes mais do que os homens. Elas não ficam mais presas dentro de um casamento infeliz. Já o desejo dos homens de casar e ter filhos, além de assumir responsabilidades, está menor, levando a mulher a ser aquela que fica lutando desesperadamente para levar a relação “ao próximo nível”, como no caso que contei no início desse artigo.

O fato é que a relação a dois ficou bastante contaminada pela instância política, de mulheres que solicitam mais presença e dedicação dos caras, que sonham com esposas mais acolhedoras e mais parecidas com a geração de suas mães. O resultado, como a metáfora do filme, pode ser uma disputa entre as raízes que levam as duas plantas ao esgotamento. Ou, uma raiz engolir a outra, com uma planta prevalecendo e a outra perdendo o brilho. Isso está fazendo os casamentos serem mais tardios e menos propensos a durarem.

A sabedoria oriental do filme pode criar uma metáfora melhor: menos que uma disputa por espaço, as raízes precisam ter uma presença complementar. O problema é que a disputa de direitos e deveres cria uma espécie de nova moral, que às vezes “obriga” um dos participantes à separação. Buscar a complementaridade, abrir mão e sustentar a tensão de uma relação a dois já é suficientemente difícil, sem que a relação vire uma eterna (e sofrida) queda de braço.

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