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Opinião|O labiríntico Raul


Por José Renato Nalini

Raul Pompeia é um brasileiro cuja vida e obra merecem contínua revisita. Foi aluno das Arcadas, mas terminou o curso jurídico em Recife. Ardente abolicionista, é por muitos considerado sucessor de Luiz Gama, que morreu em 1882. Morou na pensão do velho Rafael, à rua do Chá, já então chamada Barão de Itapetininga, mas tão conhecida com o nome antigo que o viaduto erguido sobre o vale até hoje é o Viaduto do chá.

Ali também morou Coelho Neto. Quando se transferiu para o Recife, morou em Caxangá, onde também residiu Rodrigo Octávio. Era um estudioso contumaz. Lia os clássicos e observava, concretamente, o versículo da “Imitação”: “Se acreditais muito saber e bem sabê-lo, lembrai-vos de que tudo é pouco em relação àquilo que ignorais ainda...”.

Sua vida familiar era quase monástica. Encontros festivos e sociais nunca ocorreram em casa de seus pais. O genitor, retraído e casmurro, praticamente insociável, não visitava pessoa alguma e não recebia visitas. A família vivia num claustro. O casamento de uma filha só ocorreu depois da morte do pai. Foi só então que a residência da rua São Clemente abriu suas portas.

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Raul Pompeia descendia de João Zozimo Cordeiro da Silva Guerra, sendo portanto sobrinho-bisneto do Alferes de Milícia Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Como a família inteira do Proto-Mártir da Independência foi ferozmente perseguida durante doze anos pela ira popular, considerados “infames todos os seus”, teve de abandonar Diamantina, fazendo escala por Formiga, Três Pontes, Campanha e Itajubá, estabelecendo-se, finalmente, em Guaratinguetá. Foi aqui que nasceu Matilde Umbelina de Castro Pompeia, avó de Raul.

Ele era um paradoxo. Fora de casa, era alegre, entusiasta, até turbulento. Em casa era o isolamento, não levava consigo senão a angústia e a tortura. Trabalhava com ardor de crente, com a honesta sinceridade dos convertidos. Daí a sua exaltação perene, um espírito preparado para enxergar em todas as coisas, mesmo as mais naturais, uma segunda intenção, perversa, insidiosa e ameaçadora.

Vê-lo aparentemente feliz era assisti-lo nas discussões do Clube Rabelais, que fundara com Araripe Júnior. No mais, era um concentrado, um triste, dotado de tristeza congênita, original.

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Foi amigo de Capistrano de Abreu e, não se sabe o motivo, rompeu com ele. Nunca se abriu em relação a amores. Diz-se de uma namorada chamada Rosa, nome também de sua mãe. Em “Ateneu”, há uma Rosália e Rosalina é o nome da jovem heroína de sua “Tragédia no Amazonas”. No livro “Canções sem Metro”, a cor do amor é rosa.

O médico de sua família confidenciou que ele padecia de manifesta e irremediável deformação sexual. Nunca se divulgou qual era. Pode e deve ter amado. Mas nunca praticou a confidência. Restou privado desse derivativo que conforta o espírito mais desalentado e consegue desanuviar o coração mais confrangido.

Foi tenaz trabalhador da palavra. Começou cedo. Seu primeiro trabalho, quase desconhecido, é a pequena novela “Clarinha da Pedreira”. Foi escrita quando tinha 16 anos. Ele mesmo financiou a impressão de alguns exemplares, dos quais não resta notícia.

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Aos 17 anos, publicou “Uma Tragédia no Amazonas”, que Carlos de Laet recebeu como promessa de um grande escritor. “Ateneu” é uma crônica de saudades, as intrigas do colégio interno, considerado um dos livros máximos de nossa literatura de ficção.

Quase concluiu “Agonia”, novo romance, história de uma adolescente. Trabalhou, com afinco, em “Almas Mortas”, escreveu “Violeta, a mão de Luiz Gama”, alguns Contos e a obra-prima, “Canções Sem Metro”. Elaborou inúmeros panfletos, pois era um apaixonado patriota, nativista e nacionalista. Seu testamento poderia ser: “Tivemos um dia a revolução em nome da dignidade humana. Tivemos a revolução da dignidade política. É preciso que não tarde a terceira revolução: a revolução da dignidade econômica, depois da qual somente poder-se-á dizer que existe a Nação Brasileira”.

Suicidou-se no dia de Natal de 1895, aos 32 anos.

Raul Pompeia é um brasileiro cuja vida e obra merecem contínua revisita. Foi aluno das Arcadas, mas terminou o curso jurídico em Recife. Ardente abolicionista, é por muitos considerado sucessor de Luiz Gama, que morreu em 1882. Morou na pensão do velho Rafael, à rua do Chá, já então chamada Barão de Itapetininga, mas tão conhecida com o nome antigo que o viaduto erguido sobre o vale até hoje é o Viaduto do chá.

Ali também morou Coelho Neto. Quando se transferiu para o Recife, morou em Caxangá, onde também residiu Rodrigo Octávio. Era um estudioso contumaz. Lia os clássicos e observava, concretamente, o versículo da “Imitação”: “Se acreditais muito saber e bem sabê-lo, lembrai-vos de que tudo é pouco em relação àquilo que ignorais ainda...”.

Sua vida familiar era quase monástica. Encontros festivos e sociais nunca ocorreram em casa de seus pais. O genitor, retraído e casmurro, praticamente insociável, não visitava pessoa alguma e não recebia visitas. A família vivia num claustro. O casamento de uma filha só ocorreu depois da morte do pai. Foi só então que a residência da rua São Clemente abriu suas portas.

Raul Pompeia descendia de João Zozimo Cordeiro da Silva Guerra, sendo portanto sobrinho-bisneto do Alferes de Milícia Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Como a família inteira do Proto-Mártir da Independência foi ferozmente perseguida durante doze anos pela ira popular, considerados “infames todos os seus”, teve de abandonar Diamantina, fazendo escala por Formiga, Três Pontes, Campanha e Itajubá, estabelecendo-se, finalmente, em Guaratinguetá. Foi aqui que nasceu Matilde Umbelina de Castro Pompeia, avó de Raul.

Ele era um paradoxo. Fora de casa, era alegre, entusiasta, até turbulento. Em casa era o isolamento, não levava consigo senão a angústia e a tortura. Trabalhava com ardor de crente, com a honesta sinceridade dos convertidos. Daí a sua exaltação perene, um espírito preparado para enxergar em todas as coisas, mesmo as mais naturais, uma segunda intenção, perversa, insidiosa e ameaçadora.

Vê-lo aparentemente feliz era assisti-lo nas discussões do Clube Rabelais, que fundara com Araripe Júnior. No mais, era um concentrado, um triste, dotado de tristeza congênita, original.

Foi amigo de Capistrano de Abreu e, não se sabe o motivo, rompeu com ele. Nunca se abriu em relação a amores. Diz-se de uma namorada chamada Rosa, nome também de sua mãe. Em “Ateneu”, há uma Rosália e Rosalina é o nome da jovem heroína de sua “Tragédia no Amazonas”. No livro “Canções sem Metro”, a cor do amor é rosa.

O médico de sua família confidenciou que ele padecia de manifesta e irremediável deformação sexual. Nunca se divulgou qual era. Pode e deve ter amado. Mas nunca praticou a confidência. Restou privado desse derivativo que conforta o espírito mais desalentado e consegue desanuviar o coração mais confrangido.

Foi tenaz trabalhador da palavra. Começou cedo. Seu primeiro trabalho, quase desconhecido, é a pequena novela “Clarinha da Pedreira”. Foi escrita quando tinha 16 anos. Ele mesmo financiou a impressão de alguns exemplares, dos quais não resta notícia.

Aos 17 anos, publicou “Uma Tragédia no Amazonas”, que Carlos de Laet recebeu como promessa de um grande escritor. “Ateneu” é uma crônica de saudades, as intrigas do colégio interno, considerado um dos livros máximos de nossa literatura de ficção.

Quase concluiu “Agonia”, novo romance, história de uma adolescente. Trabalhou, com afinco, em “Almas Mortas”, escreveu “Violeta, a mão de Luiz Gama”, alguns Contos e a obra-prima, “Canções Sem Metro”. Elaborou inúmeros panfletos, pois era um apaixonado patriota, nativista e nacionalista. Seu testamento poderia ser: “Tivemos um dia a revolução em nome da dignidade humana. Tivemos a revolução da dignidade política. É preciso que não tarde a terceira revolução: a revolução da dignidade econômica, depois da qual somente poder-se-á dizer que existe a Nação Brasileira”.

Suicidou-se no dia de Natal de 1895, aos 32 anos.

Raul Pompeia é um brasileiro cuja vida e obra merecem contínua revisita. Foi aluno das Arcadas, mas terminou o curso jurídico em Recife. Ardente abolicionista, é por muitos considerado sucessor de Luiz Gama, que morreu em 1882. Morou na pensão do velho Rafael, à rua do Chá, já então chamada Barão de Itapetininga, mas tão conhecida com o nome antigo que o viaduto erguido sobre o vale até hoje é o Viaduto do chá.

Ali também morou Coelho Neto. Quando se transferiu para o Recife, morou em Caxangá, onde também residiu Rodrigo Octávio. Era um estudioso contumaz. Lia os clássicos e observava, concretamente, o versículo da “Imitação”: “Se acreditais muito saber e bem sabê-lo, lembrai-vos de que tudo é pouco em relação àquilo que ignorais ainda...”.

Sua vida familiar era quase monástica. Encontros festivos e sociais nunca ocorreram em casa de seus pais. O genitor, retraído e casmurro, praticamente insociável, não visitava pessoa alguma e não recebia visitas. A família vivia num claustro. O casamento de uma filha só ocorreu depois da morte do pai. Foi só então que a residência da rua São Clemente abriu suas portas.

Raul Pompeia descendia de João Zozimo Cordeiro da Silva Guerra, sendo portanto sobrinho-bisneto do Alferes de Milícia Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Como a família inteira do Proto-Mártir da Independência foi ferozmente perseguida durante doze anos pela ira popular, considerados “infames todos os seus”, teve de abandonar Diamantina, fazendo escala por Formiga, Três Pontes, Campanha e Itajubá, estabelecendo-se, finalmente, em Guaratinguetá. Foi aqui que nasceu Matilde Umbelina de Castro Pompeia, avó de Raul.

Ele era um paradoxo. Fora de casa, era alegre, entusiasta, até turbulento. Em casa era o isolamento, não levava consigo senão a angústia e a tortura. Trabalhava com ardor de crente, com a honesta sinceridade dos convertidos. Daí a sua exaltação perene, um espírito preparado para enxergar em todas as coisas, mesmo as mais naturais, uma segunda intenção, perversa, insidiosa e ameaçadora.

Vê-lo aparentemente feliz era assisti-lo nas discussões do Clube Rabelais, que fundara com Araripe Júnior. No mais, era um concentrado, um triste, dotado de tristeza congênita, original.

Foi amigo de Capistrano de Abreu e, não se sabe o motivo, rompeu com ele. Nunca se abriu em relação a amores. Diz-se de uma namorada chamada Rosa, nome também de sua mãe. Em “Ateneu”, há uma Rosália e Rosalina é o nome da jovem heroína de sua “Tragédia no Amazonas”. No livro “Canções sem Metro”, a cor do amor é rosa.

O médico de sua família confidenciou que ele padecia de manifesta e irremediável deformação sexual. Nunca se divulgou qual era. Pode e deve ter amado. Mas nunca praticou a confidência. Restou privado desse derivativo que conforta o espírito mais desalentado e consegue desanuviar o coração mais confrangido.

Foi tenaz trabalhador da palavra. Começou cedo. Seu primeiro trabalho, quase desconhecido, é a pequena novela “Clarinha da Pedreira”. Foi escrita quando tinha 16 anos. Ele mesmo financiou a impressão de alguns exemplares, dos quais não resta notícia.

Aos 17 anos, publicou “Uma Tragédia no Amazonas”, que Carlos de Laet recebeu como promessa de um grande escritor. “Ateneu” é uma crônica de saudades, as intrigas do colégio interno, considerado um dos livros máximos de nossa literatura de ficção.

Quase concluiu “Agonia”, novo romance, história de uma adolescente. Trabalhou, com afinco, em “Almas Mortas”, escreveu “Violeta, a mão de Luiz Gama”, alguns Contos e a obra-prima, “Canções Sem Metro”. Elaborou inúmeros panfletos, pois era um apaixonado patriota, nativista e nacionalista. Seu testamento poderia ser: “Tivemos um dia a revolução em nome da dignidade humana. Tivemos a revolução da dignidade política. É preciso que não tarde a terceira revolução: a revolução da dignidade econômica, depois da qual somente poder-se-á dizer que existe a Nação Brasileira”.

Suicidou-se no dia de Natal de 1895, aos 32 anos.

Opinião por José Renato Nalini

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