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Opinião|O pai de Villa Lobos


Por José Renato Nalini

Quem hoje conhece o grande Heitor Villa Lobos, compositor que levou o nome do Brasil a todo o planeta, com certeza nada sabe a respeito de seu pai. Chamava-se Raul Villa Lobos.

Era uma criatura simples, retraída, humilde. Existiu no Rio uma instituição chamada Asilo dos Meninos Desvalidos. Raul Villa Lobos era um desses meninos, cujos pais eram ignorados.

O educador Alberto Brandão, que fundou um colégio de elite, ficou sabendo que três desses órfãos haviam demonstrado inclinação inata pelo estudo, mas não teriam condições de custear a continuidade da formação. Acolheu-os e neles investiu. Raul era um dos três.

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Tornou-se querido de todos. Era um artista nato. Desenhava retratos a crayon e todos os colegas queriam que ele fizesse o seu. Além disso, tocava violoncelo. Participava dos recitais do colégio e seu talento era reconhecido.

Muito aplicado aos estudos, correspondeu integralmente à generosidade do diretor do colégio, que ainda cuidou de sua preparação para a vida futura. Lecionou em colégios e fez concurso para a Biblioteca Nacional, sendo aprovado com distinção. Como funcionário dessa notável instituição, que mantinha o estilo tradicional de Frei Camilo de Montserrat e Ramiz Galvão, conviveu com homens como Capistrano de Abreu, Teixeira de Melo e Vale Cabral.

Devotado e honesto, foi funcionário exemplar. O tempo que lhe sobrava, dedicava ao desenho e à música. Publicou artigos sobre bibliografia e biblioteconomia, além de dois livros com o pseudônimo de Epaminondas Vilalba: “Corografia Geal do Brasil” e “História da Revolta da Armada”, obras de consistente erudição.

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Criatura de bondade e boa-fé, virtudes que vieram a prejudica-lo. Amante de livros, adquiriu um grande lote de volumes que depositou numa dependência do andar térreo da Biblioteca Nacional. Pensou que, desse modo, lhe seria mais fácil os ir levando para casa, a cada dia, depois do trabalho e em pequenos lotes.

A cada tarde, encerrado o expediente, ia àquele cômodo, fazia um pacote com os livros que conseguiria carregar e os levava consigo. Um servente que observou esse movimento continuado, de um funcionário da Biblioteca, denunciou o fato ao porteiro. Este, solícito, pôs-se a observar e, verificada a veracidade da informação, levou o caso ao conhecimento do Diretor.

Este ficou sabendo que o funcionário Raul Villa Lobos saía todos os dias da Biblioteca Nacional levando um pacote de livros. A denúncia passou pelos escaninhos burocráticos da administração, chegou ao Ministério Público e gerou uma denúncia.

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Raul, no mundo da lua, continuou calmamente saindo do trabalho com o seu embrulho de livros. Ignorava o que se armava contra ele.

Em 17 de dezembro de 1892, o Jornal do Comércio publicou a denúncia que o Promotor Público Lima Drumond oferecera à Câmara Criminal do extinto Tribunal Civil e Criminal contra Raul Villa Lobos, “por extravio de livros pertencentes à Biblioteca Nacional, a cuja guarda deveria zelar”.

Foi então que Raul caiu das nuvens. Por sorte de Villa Lobos, o representante do Ministério Público encarregado de funcionar nos autos era conhecedor de suas qualidades e o tinha em alta conta. A honorabilidade de Raul não condizia com esse furto ou apropriação de livros de uma Biblioteca Estatal. Bastou conversar com Raul para verificar a leviandade da acusação.

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Tudo se esclareceu, mas ainda houve um conflito de competência entre a Justiça Estadual e a Justiça Federal, ambas “comuns”, no bizarro sistema brasileiro em que elas continuam a debater, de forma estéril, quem é responsável por julgar um processo judicial. Só no Brasil, terra em que o número de faculdades de direito suplanta a soma de todas as demais, espalhadas pelo restante do planeta, se explica a coexistência de duas “Justiças Comuns”. Só falta criar a Justiça Comum Municipal. E não se dê ideia, porque para multiplicar estruturas, cargos e tribunais, este o país ideal.

A denúncia foi rejeitada. Não houve recurso ministerial. O pesadelo desvanecera. Pouco depois, Raul que morava em singela casa atrás da Igreja da Glória do Outeiro, contraiu varíola e morreu.

Deixou, em grande pobreza, quase miséria, viúva e filhos menores. Dos quais, o mais velho, então com dez anos de idade, era aquele que se tornaria famoso em todo o mundo: Heitor Villa Lobos. Cujo pai foi esse órfão abandonado, de vida sofrida e de caráter irrepreensível.

Quem hoje conhece o grande Heitor Villa Lobos, compositor que levou o nome do Brasil a todo o planeta, com certeza nada sabe a respeito de seu pai. Chamava-se Raul Villa Lobos.

Era uma criatura simples, retraída, humilde. Existiu no Rio uma instituição chamada Asilo dos Meninos Desvalidos. Raul Villa Lobos era um desses meninos, cujos pais eram ignorados.

O educador Alberto Brandão, que fundou um colégio de elite, ficou sabendo que três desses órfãos haviam demonstrado inclinação inata pelo estudo, mas não teriam condições de custear a continuidade da formação. Acolheu-os e neles investiu. Raul era um dos três.

Tornou-se querido de todos. Era um artista nato. Desenhava retratos a crayon e todos os colegas queriam que ele fizesse o seu. Além disso, tocava violoncelo. Participava dos recitais do colégio e seu talento era reconhecido.

Muito aplicado aos estudos, correspondeu integralmente à generosidade do diretor do colégio, que ainda cuidou de sua preparação para a vida futura. Lecionou em colégios e fez concurso para a Biblioteca Nacional, sendo aprovado com distinção. Como funcionário dessa notável instituição, que mantinha o estilo tradicional de Frei Camilo de Montserrat e Ramiz Galvão, conviveu com homens como Capistrano de Abreu, Teixeira de Melo e Vale Cabral.

Devotado e honesto, foi funcionário exemplar. O tempo que lhe sobrava, dedicava ao desenho e à música. Publicou artigos sobre bibliografia e biblioteconomia, além de dois livros com o pseudônimo de Epaminondas Vilalba: “Corografia Geal do Brasil” e “História da Revolta da Armada”, obras de consistente erudição.

Criatura de bondade e boa-fé, virtudes que vieram a prejudica-lo. Amante de livros, adquiriu um grande lote de volumes que depositou numa dependência do andar térreo da Biblioteca Nacional. Pensou que, desse modo, lhe seria mais fácil os ir levando para casa, a cada dia, depois do trabalho e em pequenos lotes.

A cada tarde, encerrado o expediente, ia àquele cômodo, fazia um pacote com os livros que conseguiria carregar e os levava consigo. Um servente que observou esse movimento continuado, de um funcionário da Biblioteca, denunciou o fato ao porteiro. Este, solícito, pôs-se a observar e, verificada a veracidade da informação, levou o caso ao conhecimento do Diretor.

Este ficou sabendo que o funcionário Raul Villa Lobos saía todos os dias da Biblioteca Nacional levando um pacote de livros. A denúncia passou pelos escaninhos burocráticos da administração, chegou ao Ministério Público e gerou uma denúncia.

Raul, no mundo da lua, continuou calmamente saindo do trabalho com o seu embrulho de livros. Ignorava o que se armava contra ele.

Em 17 de dezembro de 1892, o Jornal do Comércio publicou a denúncia que o Promotor Público Lima Drumond oferecera à Câmara Criminal do extinto Tribunal Civil e Criminal contra Raul Villa Lobos, “por extravio de livros pertencentes à Biblioteca Nacional, a cuja guarda deveria zelar”.

Foi então que Raul caiu das nuvens. Por sorte de Villa Lobos, o representante do Ministério Público encarregado de funcionar nos autos era conhecedor de suas qualidades e o tinha em alta conta. A honorabilidade de Raul não condizia com esse furto ou apropriação de livros de uma Biblioteca Estatal. Bastou conversar com Raul para verificar a leviandade da acusação.

Tudo se esclareceu, mas ainda houve um conflito de competência entre a Justiça Estadual e a Justiça Federal, ambas “comuns”, no bizarro sistema brasileiro em que elas continuam a debater, de forma estéril, quem é responsável por julgar um processo judicial. Só no Brasil, terra em que o número de faculdades de direito suplanta a soma de todas as demais, espalhadas pelo restante do planeta, se explica a coexistência de duas “Justiças Comuns”. Só falta criar a Justiça Comum Municipal. E não se dê ideia, porque para multiplicar estruturas, cargos e tribunais, este o país ideal.

A denúncia foi rejeitada. Não houve recurso ministerial. O pesadelo desvanecera. Pouco depois, Raul que morava em singela casa atrás da Igreja da Glória do Outeiro, contraiu varíola e morreu.

Deixou, em grande pobreza, quase miséria, viúva e filhos menores. Dos quais, o mais velho, então com dez anos de idade, era aquele que se tornaria famoso em todo o mundo: Heitor Villa Lobos. Cujo pai foi esse órfão abandonado, de vida sofrida e de caráter irrepreensível.

Quem hoje conhece o grande Heitor Villa Lobos, compositor que levou o nome do Brasil a todo o planeta, com certeza nada sabe a respeito de seu pai. Chamava-se Raul Villa Lobos.

Era uma criatura simples, retraída, humilde. Existiu no Rio uma instituição chamada Asilo dos Meninos Desvalidos. Raul Villa Lobos era um desses meninos, cujos pais eram ignorados.

O educador Alberto Brandão, que fundou um colégio de elite, ficou sabendo que três desses órfãos haviam demonstrado inclinação inata pelo estudo, mas não teriam condições de custear a continuidade da formação. Acolheu-os e neles investiu. Raul era um dos três.

Tornou-se querido de todos. Era um artista nato. Desenhava retratos a crayon e todos os colegas queriam que ele fizesse o seu. Além disso, tocava violoncelo. Participava dos recitais do colégio e seu talento era reconhecido.

Muito aplicado aos estudos, correspondeu integralmente à generosidade do diretor do colégio, que ainda cuidou de sua preparação para a vida futura. Lecionou em colégios e fez concurso para a Biblioteca Nacional, sendo aprovado com distinção. Como funcionário dessa notável instituição, que mantinha o estilo tradicional de Frei Camilo de Montserrat e Ramiz Galvão, conviveu com homens como Capistrano de Abreu, Teixeira de Melo e Vale Cabral.

Devotado e honesto, foi funcionário exemplar. O tempo que lhe sobrava, dedicava ao desenho e à música. Publicou artigos sobre bibliografia e biblioteconomia, além de dois livros com o pseudônimo de Epaminondas Vilalba: “Corografia Geal do Brasil” e “História da Revolta da Armada”, obras de consistente erudição.

Criatura de bondade e boa-fé, virtudes que vieram a prejudica-lo. Amante de livros, adquiriu um grande lote de volumes que depositou numa dependência do andar térreo da Biblioteca Nacional. Pensou que, desse modo, lhe seria mais fácil os ir levando para casa, a cada dia, depois do trabalho e em pequenos lotes.

A cada tarde, encerrado o expediente, ia àquele cômodo, fazia um pacote com os livros que conseguiria carregar e os levava consigo. Um servente que observou esse movimento continuado, de um funcionário da Biblioteca, denunciou o fato ao porteiro. Este, solícito, pôs-se a observar e, verificada a veracidade da informação, levou o caso ao conhecimento do Diretor.

Este ficou sabendo que o funcionário Raul Villa Lobos saía todos os dias da Biblioteca Nacional levando um pacote de livros. A denúncia passou pelos escaninhos burocráticos da administração, chegou ao Ministério Público e gerou uma denúncia.

Raul, no mundo da lua, continuou calmamente saindo do trabalho com o seu embrulho de livros. Ignorava o que se armava contra ele.

Em 17 de dezembro de 1892, o Jornal do Comércio publicou a denúncia que o Promotor Público Lima Drumond oferecera à Câmara Criminal do extinto Tribunal Civil e Criminal contra Raul Villa Lobos, “por extravio de livros pertencentes à Biblioteca Nacional, a cuja guarda deveria zelar”.

Foi então que Raul caiu das nuvens. Por sorte de Villa Lobos, o representante do Ministério Público encarregado de funcionar nos autos era conhecedor de suas qualidades e o tinha em alta conta. A honorabilidade de Raul não condizia com esse furto ou apropriação de livros de uma Biblioteca Estatal. Bastou conversar com Raul para verificar a leviandade da acusação.

Tudo se esclareceu, mas ainda houve um conflito de competência entre a Justiça Estadual e a Justiça Federal, ambas “comuns”, no bizarro sistema brasileiro em que elas continuam a debater, de forma estéril, quem é responsável por julgar um processo judicial. Só no Brasil, terra em que o número de faculdades de direito suplanta a soma de todas as demais, espalhadas pelo restante do planeta, se explica a coexistência de duas “Justiças Comuns”. Só falta criar a Justiça Comum Municipal. E não se dê ideia, porque para multiplicar estruturas, cargos e tribunais, este o país ideal.

A denúncia foi rejeitada. Não houve recurso ministerial. O pesadelo desvanecera. Pouco depois, Raul que morava em singela casa atrás da Igreja da Glória do Outeiro, contraiu varíola e morreu.

Deixou, em grande pobreza, quase miséria, viúva e filhos menores. Dos quais, o mais velho, então com dez anos de idade, era aquele que se tornaria famoso em todo o mundo: Heitor Villa Lobos. Cujo pai foi esse órfão abandonado, de vida sofrida e de caráter irrepreensível.

Quem hoje conhece o grande Heitor Villa Lobos, compositor que levou o nome do Brasil a todo o planeta, com certeza nada sabe a respeito de seu pai. Chamava-se Raul Villa Lobos.

Era uma criatura simples, retraída, humilde. Existiu no Rio uma instituição chamada Asilo dos Meninos Desvalidos. Raul Villa Lobos era um desses meninos, cujos pais eram ignorados.

O educador Alberto Brandão, que fundou um colégio de elite, ficou sabendo que três desses órfãos haviam demonstrado inclinação inata pelo estudo, mas não teriam condições de custear a continuidade da formação. Acolheu-os e neles investiu. Raul era um dos três.

Tornou-se querido de todos. Era um artista nato. Desenhava retratos a crayon e todos os colegas queriam que ele fizesse o seu. Além disso, tocava violoncelo. Participava dos recitais do colégio e seu talento era reconhecido.

Muito aplicado aos estudos, correspondeu integralmente à generosidade do diretor do colégio, que ainda cuidou de sua preparação para a vida futura. Lecionou em colégios e fez concurso para a Biblioteca Nacional, sendo aprovado com distinção. Como funcionário dessa notável instituição, que mantinha o estilo tradicional de Frei Camilo de Montserrat e Ramiz Galvão, conviveu com homens como Capistrano de Abreu, Teixeira de Melo e Vale Cabral.

Devotado e honesto, foi funcionário exemplar. O tempo que lhe sobrava, dedicava ao desenho e à música. Publicou artigos sobre bibliografia e biblioteconomia, além de dois livros com o pseudônimo de Epaminondas Vilalba: “Corografia Geal do Brasil” e “História da Revolta da Armada”, obras de consistente erudição.

Criatura de bondade e boa-fé, virtudes que vieram a prejudica-lo. Amante de livros, adquiriu um grande lote de volumes que depositou numa dependência do andar térreo da Biblioteca Nacional. Pensou que, desse modo, lhe seria mais fácil os ir levando para casa, a cada dia, depois do trabalho e em pequenos lotes.

A cada tarde, encerrado o expediente, ia àquele cômodo, fazia um pacote com os livros que conseguiria carregar e os levava consigo. Um servente que observou esse movimento continuado, de um funcionário da Biblioteca, denunciou o fato ao porteiro. Este, solícito, pôs-se a observar e, verificada a veracidade da informação, levou o caso ao conhecimento do Diretor.

Este ficou sabendo que o funcionário Raul Villa Lobos saía todos os dias da Biblioteca Nacional levando um pacote de livros. A denúncia passou pelos escaninhos burocráticos da administração, chegou ao Ministério Público e gerou uma denúncia.

Raul, no mundo da lua, continuou calmamente saindo do trabalho com o seu embrulho de livros. Ignorava o que se armava contra ele.

Em 17 de dezembro de 1892, o Jornal do Comércio publicou a denúncia que o Promotor Público Lima Drumond oferecera à Câmara Criminal do extinto Tribunal Civil e Criminal contra Raul Villa Lobos, “por extravio de livros pertencentes à Biblioteca Nacional, a cuja guarda deveria zelar”.

Foi então que Raul caiu das nuvens. Por sorte de Villa Lobos, o representante do Ministério Público encarregado de funcionar nos autos era conhecedor de suas qualidades e o tinha em alta conta. A honorabilidade de Raul não condizia com esse furto ou apropriação de livros de uma Biblioteca Estatal. Bastou conversar com Raul para verificar a leviandade da acusação.

Tudo se esclareceu, mas ainda houve um conflito de competência entre a Justiça Estadual e a Justiça Federal, ambas “comuns”, no bizarro sistema brasileiro em que elas continuam a debater, de forma estéril, quem é responsável por julgar um processo judicial. Só no Brasil, terra em que o número de faculdades de direito suplanta a soma de todas as demais, espalhadas pelo restante do planeta, se explica a coexistência de duas “Justiças Comuns”. Só falta criar a Justiça Comum Municipal. E não se dê ideia, porque para multiplicar estruturas, cargos e tribunais, este o país ideal.

A denúncia foi rejeitada. Não houve recurso ministerial. O pesadelo desvanecera. Pouco depois, Raul que morava em singela casa atrás da Igreja da Glória do Outeiro, contraiu varíola e morreu.

Deixou, em grande pobreza, quase miséria, viúva e filhos menores. Dos quais, o mais velho, então com dez anos de idade, era aquele que se tornaria famoso em todo o mundo: Heitor Villa Lobos. Cujo pai foi esse órfão abandonado, de vida sofrida e de caráter irrepreensível.

Quem hoje conhece o grande Heitor Villa Lobos, compositor que levou o nome do Brasil a todo o planeta, com certeza nada sabe a respeito de seu pai. Chamava-se Raul Villa Lobos.

Era uma criatura simples, retraída, humilde. Existiu no Rio uma instituição chamada Asilo dos Meninos Desvalidos. Raul Villa Lobos era um desses meninos, cujos pais eram ignorados.

O educador Alberto Brandão, que fundou um colégio de elite, ficou sabendo que três desses órfãos haviam demonstrado inclinação inata pelo estudo, mas não teriam condições de custear a continuidade da formação. Acolheu-os e neles investiu. Raul era um dos três.

Tornou-se querido de todos. Era um artista nato. Desenhava retratos a crayon e todos os colegas queriam que ele fizesse o seu. Além disso, tocava violoncelo. Participava dos recitais do colégio e seu talento era reconhecido.

Muito aplicado aos estudos, correspondeu integralmente à generosidade do diretor do colégio, que ainda cuidou de sua preparação para a vida futura. Lecionou em colégios e fez concurso para a Biblioteca Nacional, sendo aprovado com distinção. Como funcionário dessa notável instituição, que mantinha o estilo tradicional de Frei Camilo de Montserrat e Ramiz Galvão, conviveu com homens como Capistrano de Abreu, Teixeira de Melo e Vale Cabral.

Devotado e honesto, foi funcionário exemplar. O tempo que lhe sobrava, dedicava ao desenho e à música. Publicou artigos sobre bibliografia e biblioteconomia, além de dois livros com o pseudônimo de Epaminondas Vilalba: “Corografia Geal do Brasil” e “História da Revolta da Armada”, obras de consistente erudição.

Criatura de bondade e boa-fé, virtudes que vieram a prejudica-lo. Amante de livros, adquiriu um grande lote de volumes que depositou numa dependência do andar térreo da Biblioteca Nacional. Pensou que, desse modo, lhe seria mais fácil os ir levando para casa, a cada dia, depois do trabalho e em pequenos lotes.

A cada tarde, encerrado o expediente, ia àquele cômodo, fazia um pacote com os livros que conseguiria carregar e os levava consigo. Um servente que observou esse movimento continuado, de um funcionário da Biblioteca, denunciou o fato ao porteiro. Este, solícito, pôs-se a observar e, verificada a veracidade da informação, levou o caso ao conhecimento do Diretor.

Este ficou sabendo que o funcionário Raul Villa Lobos saía todos os dias da Biblioteca Nacional levando um pacote de livros. A denúncia passou pelos escaninhos burocráticos da administração, chegou ao Ministério Público e gerou uma denúncia.

Raul, no mundo da lua, continuou calmamente saindo do trabalho com o seu embrulho de livros. Ignorava o que se armava contra ele.

Em 17 de dezembro de 1892, o Jornal do Comércio publicou a denúncia que o Promotor Público Lima Drumond oferecera à Câmara Criminal do extinto Tribunal Civil e Criminal contra Raul Villa Lobos, “por extravio de livros pertencentes à Biblioteca Nacional, a cuja guarda deveria zelar”.

Foi então que Raul caiu das nuvens. Por sorte de Villa Lobos, o representante do Ministério Público encarregado de funcionar nos autos era conhecedor de suas qualidades e o tinha em alta conta. A honorabilidade de Raul não condizia com esse furto ou apropriação de livros de uma Biblioteca Estatal. Bastou conversar com Raul para verificar a leviandade da acusação.

Tudo se esclareceu, mas ainda houve um conflito de competência entre a Justiça Estadual e a Justiça Federal, ambas “comuns”, no bizarro sistema brasileiro em que elas continuam a debater, de forma estéril, quem é responsável por julgar um processo judicial. Só no Brasil, terra em que o número de faculdades de direito suplanta a soma de todas as demais, espalhadas pelo restante do planeta, se explica a coexistência de duas “Justiças Comuns”. Só falta criar a Justiça Comum Municipal. E não se dê ideia, porque para multiplicar estruturas, cargos e tribunais, este o país ideal.

A denúncia foi rejeitada. Não houve recurso ministerial. O pesadelo desvanecera. Pouco depois, Raul que morava em singela casa atrás da Igreja da Glória do Outeiro, contraiu varíola e morreu.

Deixou, em grande pobreza, quase miséria, viúva e filhos menores. Dos quais, o mais velho, então com dez anos de idade, era aquele que se tornaria famoso em todo o mundo: Heitor Villa Lobos. Cujo pai foi esse órfão abandonado, de vida sofrida e de caráter irrepreensível.

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