Por Mateus Coutinho, Ricardo Brandt e Fausto Macedo
Acusado de ser um dos operadores de propina na diretoria de Serviços da Petrobrás e preso na Lava Jato, Mario Góes utilizou sua empresa Riomarine para investir em jogadores do clube de futebol Botafogo e também teria recebido dinheiro com a transferência do meia uruguaio Nicolas Lodeiro ao Corinthians, em 2014.
As informações constam de contratos apreendidos pela Polícia Federal nas buscas na sede da empresa de Góes, durante a nona etapa da Lava Jato. Segundo a documentação, Góes teria investido um total de R$ 600 mil para obter uma parcela direitos de vários jogadores do clube carioca.
Em um dos contratos, Góes se comprometeu a investir o equivalente a 45 mil euros para ajudar a viabilizar a transferência do meia Maicosuel do clube alemão Hoffenheim ao Botafogo, em julho de 2010. Além de Góes, o documento previa que outros 19 investidores também investissem em direitos do atleta para a transferência.
No caso de Góes, contudo, a PF identificou que, no mesmo mês que firmou o contrato, ele emitiu um cheque de sua empresa Riomarine no valor de R$ 100 mil para ele mesmo e, logo depois, transferiu o dinheiro de sua conta bancária para o Botafogo.
A Riomarine está na mira da Lava Jato por ter recebido pelo menos R$ 39,7 milhões, entre 2008 e 2014, de sete empreiteiras investigadas na operação por supostos serviços de consultoria. Sem qualquer funcionário no período em que emitiu a maior parte das notas (2009 e 2010) nem "relatórios de consultoria ou assessoria que denotassem o efetivo cumprimento" dos contratos milionários, as suspeitas dos investigadores da Lava Jato são de que a Riomarine fosse uma fachada usada para "esquentar" o dinheiro da propina.
O caso de Maicosuel não é o único. Góes firmou contratos para obter direitos de outros atletas do clube, incluindo o meia uruguaio Nicolas Lodeiro, transferido para o Corinthians em 2014. Cerca de um ano antes, Góes adquiriu, junto com outros três investidores, uma parcela dos direitos de Lodeiro. Neste negócio, ele pagou o equivalente a R$ 150 mil, transferidos de sua conta para o Botafogo.
Com isso, na transferência de Lodeiro para o Corinthians em 2014, Goes recebeu, junto com os demais investidores, uma porcentagem dos valores pagos pelo clube paulista ao Botafogo para obter o jogador. No relatório, contudo, a PF não diz de quanto seria o valor recebido por Góes no contrato.
VEJA TRECHO DO RELATÓRIO QUE MOSTRA QUE GOES TERIA RECEBIDO COM A TRANSFERÊNCIA DE LODEIRO EM 2014
COM A PALAVRA, O BOTAFOGO-RJ:
"O Conselho Diretor do Botafogo de Futebol e Regatas vem apresentar os seguintes esclarecimentos:
a) não participou da operação envolvendo os jogadores Lodeiro, Rafael Marques e Lucas;
b) contratará uma auditoria independente para analisar todos os compromissos celebrados pela gestão anterior do clube;
c) não mantém qualquer relação e desconhece a pessoa de Mário Goes;
d) o atual Conselho Diretor não assinou contrato de investimento com MFD Empreendimentos e Participações Ltda., bem como não teve participação na operação envolvendo os direitos econômicos dos jogadores Lodeiro, Rafael Marques e Lucas. A relação existente com MFD Empreendimentos e Participações Ltda. diz respeito à representação de alguns atletas que integram o atual elenco do Botafogo de Futebol e Regatas. Quem poderá esclarecer eventuais relações jurídicas celebradas no passado com a referida empresa, são os ex gestores do clube, Srs. Mauricio Assumpção e Sergio Landau.
Botafogo de Futebol e Regatas Domingos Fleury da Rocha Vice-Presidente Jurídico"
A reportagem não conseguiu localizar a assessoria do Corinthians para comentar o caso.
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+ Especial de 1 ano da Operação Lava Jato
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