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Os que foram embora


Por José Renato Nalini
José Renato Nalini. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O baú das saudades continua a se encher, com aqueles que partem e nos deixam tristes e pensativos. Sabe-se que o caminho é esse: ninguém mais deixará de morrer. O encontro definitivo é a única certeza. Mas parece que 2022 exagerou na dose.

Quando se examina o rol dos falecidos nesse ano passado, em que pensávamos estar libertos da pandemia, não há como deixar de ficar assustado. Perdemos Arnaldo Jabor, o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips, Cláudia Jimenez, o Cardeal Cláudio Hummes. Danuza Leão, irmã de Nara. Éder Jofre, Eduardo Guardia, ex-Ministro da Fazenda, Elifas Andreato, a Rainha Elizabeth II, Elza Soares, Erasmo Carlos, Fernando Campana, Françoise Forton, Gal Costa, a tão querida Gal!

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Guilherme de Pádua, que matou Daniella Perez, a linda Ilka Soares, Jean-Louis Trintignant e Jean-Luc Godard, o queridíssimo Jô Soares! João Carlos Di Genio, João Paulo Diniz, Jorge da Cunha Lima, Judith Lauand, Lily Safra, Luiz Antonio Fleury Filho, a inesquecível Lygia Fagundes Telles, Madeleine Albright, Mikhail Gorbatchev, Milton Gonçalves, Nélidak Piñon, o influenciador Olavo de Carvalho, Olívia Newton-John, Pedro Paulo Rangel, Peter Bogdanovich, Ray Liotta, Rolando Boldrin, Shinzo Abe, Sidney Poitier, William Hurt.

Bem no finalzinho do ano ainda perdemos Pelé, que fez mais pelo Brasil do que muitos governos, e o Papa Emérito Bento XVI, o filósofo Joseph Ratzinger.

Alguns muito próximos, causaram cataclismo em meu coração. Jô Soares, de quem Millor Fernandes afirmou: "Eclético total, o que mais gosta é tudo. E tem razão quando diz que a televisão de 21 polegadas não dá toda a dimensão de seu talento". Depois completou, para fazer jus à fama de exibido: "Acho que até mesmo as televisões de 85 polegadas são insuficientes para mostrar todo o meu talento".

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Mas ele fazia por merecer: "Foram 60 anos de vida profissional, 28 anos de entrevistas, 14.426 conversas, cerca de 1.300 dias de programas de humor na TV, 300 personagens, 43 anos fazendo one-man shows, dirigi 24 peças de teatro e atuei em 11, foram dez filmes como ator e um como diretor, oito exposições como pintor, um show como músico e cantor, 15 programas de televisão como redator, nove livros".

O que dizer de Lygia Fagundes Telles, essa glória brasileira que só não recebeu o Nobel pela miopia de quem outorga o tão cobiçado prêmio. Mas mereceu o "Camões", que é o Nobel para a língua portuguesa. Talentosa, corajosa, ética, mas sobretudo amiga leal e devotada. Sinto intensamente a sua falta, a sua companhia nas caminhadas pelos jardins, os seus comentários sobre a situação política, os filmes que assistimos juntos. E o carinho com que me envolvia permanentemente, seja nas sessões da Academia Paulista de Letras, seja nos chás que tomamos juntos em sua casa e na minha.

Na minha agenda de aniversários, anoto no verso as mortes mais sentidas. Em 2022, anotei a partida de Neyton Fantoni, amigo e vizinho de Barretos, pai do juiz Neyton Fantoni, que judica em Bebedouro. D. Izael Miragaia Aguiar Moreira, fiel servidora da Academia Paulista de Letras, um verdadeiro patrimônio durante décadas. O grande Dalmo de Abreu Dallari partiu em 8 de abril. Seus "Elementos de Teoria Geral do Estado" foram objeto de minhas aulas durante mais de vinte anos.

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Em junho faleceu minha amiga Ana Estella Storani e D. Maria Antonieta Wertheimer Nogueira Garcez, viúva do inesquecível Desembargador Marcos Nogueira Garcez, um casal paradigmático na ética e no catolicismo. Em julho perdemos D. Maria Helena Leonel Gandolfo, intelectual que dedicou sua vida ao Registro de Imóveis, onde pontificava com sua experiência e criatividade doutrinária. Em 18 de agosto perdi um grande amigo: Jorge Renato Nanni, que foi ator, escrevia mas não publicou, foi poeta e um intelectual de potencialidades inexploradas por um excessivo escrúpulo, próprio dos que não são medíocres.

Meu primo Plínio Lopes de Camargo partiu em novembro, assim como D. Margarida Éber Marchi, matriarca respeitável em Jundiaí. Finalmente, em dezembro, despediu-se da vida minha última tia, Jacyra Salles Nalini, que chegou a ser diretora da extinta Companhia Paulista de Estradas de Ferro, sobrinha que era de Antonio de Pádua Salles. O desembargador Laércio Laurelli, a educadora Cleide Bauab Bochichio, que foi Secretária Adjunta da Educação durante minha experiência na Pasta.

Como gostava de dizer o imortal Paulo Bomfim, o último dos Príncipes da Poesia Brasileira, durante nossa peregrinação vamos colecionando perdas. Elas nos fazem lembrar que um dia seremos nós a deixar a existência terrena. Estejamos preparados, embora seja fácil dizer e difícil de observar.

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*José Renato Nalini é diretor-geral da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras

José Renato Nalini. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O baú das saudades continua a se encher, com aqueles que partem e nos deixam tristes e pensativos. Sabe-se que o caminho é esse: ninguém mais deixará de morrer. O encontro definitivo é a única certeza. Mas parece que 2022 exagerou na dose.

Quando se examina o rol dos falecidos nesse ano passado, em que pensávamos estar libertos da pandemia, não há como deixar de ficar assustado. Perdemos Arnaldo Jabor, o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips, Cláudia Jimenez, o Cardeal Cláudio Hummes. Danuza Leão, irmã de Nara. Éder Jofre, Eduardo Guardia, ex-Ministro da Fazenda, Elifas Andreato, a Rainha Elizabeth II, Elza Soares, Erasmo Carlos, Fernando Campana, Françoise Forton, Gal Costa, a tão querida Gal!

Guilherme de Pádua, que matou Daniella Perez, a linda Ilka Soares, Jean-Louis Trintignant e Jean-Luc Godard, o queridíssimo Jô Soares! João Carlos Di Genio, João Paulo Diniz, Jorge da Cunha Lima, Judith Lauand, Lily Safra, Luiz Antonio Fleury Filho, a inesquecível Lygia Fagundes Telles, Madeleine Albright, Mikhail Gorbatchev, Milton Gonçalves, Nélidak Piñon, o influenciador Olavo de Carvalho, Olívia Newton-John, Pedro Paulo Rangel, Peter Bogdanovich, Ray Liotta, Rolando Boldrin, Shinzo Abe, Sidney Poitier, William Hurt.

Bem no finalzinho do ano ainda perdemos Pelé, que fez mais pelo Brasil do que muitos governos, e o Papa Emérito Bento XVI, o filósofo Joseph Ratzinger.

Alguns muito próximos, causaram cataclismo em meu coração. Jô Soares, de quem Millor Fernandes afirmou: "Eclético total, o que mais gosta é tudo. E tem razão quando diz que a televisão de 21 polegadas não dá toda a dimensão de seu talento". Depois completou, para fazer jus à fama de exibido: "Acho que até mesmo as televisões de 85 polegadas são insuficientes para mostrar todo o meu talento".

Mas ele fazia por merecer: "Foram 60 anos de vida profissional, 28 anos de entrevistas, 14.426 conversas, cerca de 1.300 dias de programas de humor na TV, 300 personagens, 43 anos fazendo one-man shows, dirigi 24 peças de teatro e atuei em 11, foram dez filmes como ator e um como diretor, oito exposições como pintor, um show como músico e cantor, 15 programas de televisão como redator, nove livros".

O que dizer de Lygia Fagundes Telles, essa glória brasileira que só não recebeu o Nobel pela miopia de quem outorga o tão cobiçado prêmio. Mas mereceu o "Camões", que é o Nobel para a língua portuguesa. Talentosa, corajosa, ética, mas sobretudo amiga leal e devotada. Sinto intensamente a sua falta, a sua companhia nas caminhadas pelos jardins, os seus comentários sobre a situação política, os filmes que assistimos juntos. E o carinho com que me envolvia permanentemente, seja nas sessões da Academia Paulista de Letras, seja nos chás que tomamos juntos em sua casa e na minha.

Na minha agenda de aniversários, anoto no verso as mortes mais sentidas. Em 2022, anotei a partida de Neyton Fantoni, amigo e vizinho de Barretos, pai do juiz Neyton Fantoni, que judica em Bebedouro. D. Izael Miragaia Aguiar Moreira, fiel servidora da Academia Paulista de Letras, um verdadeiro patrimônio durante décadas. O grande Dalmo de Abreu Dallari partiu em 8 de abril. Seus "Elementos de Teoria Geral do Estado" foram objeto de minhas aulas durante mais de vinte anos.

Em junho faleceu minha amiga Ana Estella Storani e D. Maria Antonieta Wertheimer Nogueira Garcez, viúva do inesquecível Desembargador Marcos Nogueira Garcez, um casal paradigmático na ética e no catolicismo. Em julho perdemos D. Maria Helena Leonel Gandolfo, intelectual que dedicou sua vida ao Registro de Imóveis, onde pontificava com sua experiência e criatividade doutrinária. Em 18 de agosto perdi um grande amigo: Jorge Renato Nanni, que foi ator, escrevia mas não publicou, foi poeta e um intelectual de potencialidades inexploradas por um excessivo escrúpulo, próprio dos que não são medíocres.

Meu primo Plínio Lopes de Camargo partiu em novembro, assim como D. Margarida Éber Marchi, matriarca respeitável em Jundiaí. Finalmente, em dezembro, despediu-se da vida minha última tia, Jacyra Salles Nalini, que chegou a ser diretora da extinta Companhia Paulista de Estradas de Ferro, sobrinha que era de Antonio de Pádua Salles. O desembargador Laércio Laurelli, a educadora Cleide Bauab Bochichio, que foi Secretária Adjunta da Educação durante minha experiência na Pasta.

Como gostava de dizer o imortal Paulo Bomfim, o último dos Príncipes da Poesia Brasileira, durante nossa peregrinação vamos colecionando perdas. Elas nos fazem lembrar que um dia seremos nós a deixar a existência terrena. Estejamos preparados, embora seja fácil dizer e difícil de observar.

*José Renato Nalini é diretor-geral da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras

José Renato Nalini. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O baú das saudades continua a se encher, com aqueles que partem e nos deixam tristes e pensativos. Sabe-se que o caminho é esse: ninguém mais deixará de morrer. O encontro definitivo é a única certeza. Mas parece que 2022 exagerou na dose.

Quando se examina o rol dos falecidos nesse ano passado, em que pensávamos estar libertos da pandemia, não há como deixar de ficar assustado. Perdemos Arnaldo Jabor, o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips, Cláudia Jimenez, o Cardeal Cláudio Hummes. Danuza Leão, irmã de Nara. Éder Jofre, Eduardo Guardia, ex-Ministro da Fazenda, Elifas Andreato, a Rainha Elizabeth II, Elza Soares, Erasmo Carlos, Fernando Campana, Françoise Forton, Gal Costa, a tão querida Gal!

Guilherme de Pádua, que matou Daniella Perez, a linda Ilka Soares, Jean-Louis Trintignant e Jean-Luc Godard, o queridíssimo Jô Soares! João Carlos Di Genio, João Paulo Diniz, Jorge da Cunha Lima, Judith Lauand, Lily Safra, Luiz Antonio Fleury Filho, a inesquecível Lygia Fagundes Telles, Madeleine Albright, Mikhail Gorbatchev, Milton Gonçalves, Nélidak Piñon, o influenciador Olavo de Carvalho, Olívia Newton-John, Pedro Paulo Rangel, Peter Bogdanovich, Ray Liotta, Rolando Boldrin, Shinzo Abe, Sidney Poitier, William Hurt.

Bem no finalzinho do ano ainda perdemos Pelé, que fez mais pelo Brasil do que muitos governos, e o Papa Emérito Bento XVI, o filósofo Joseph Ratzinger.

Alguns muito próximos, causaram cataclismo em meu coração. Jô Soares, de quem Millor Fernandes afirmou: "Eclético total, o que mais gosta é tudo. E tem razão quando diz que a televisão de 21 polegadas não dá toda a dimensão de seu talento". Depois completou, para fazer jus à fama de exibido: "Acho que até mesmo as televisões de 85 polegadas são insuficientes para mostrar todo o meu talento".

Mas ele fazia por merecer: "Foram 60 anos de vida profissional, 28 anos de entrevistas, 14.426 conversas, cerca de 1.300 dias de programas de humor na TV, 300 personagens, 43 anos fazendo one-man shows, dirigi 24 peças de teatro e atuei em 11, foram dez filmes como ator e um como diretor, oito exposições como pintor, um show como músico e cantor, 15 programas de televisão como redator, nove livros".

O que dizer de Lygia Fagundes Telles, essa glória brasileira que só não recebeu o Nobel pela miopia de quem outorga o tão cobiçado prêmio. Mas mereceu o "Camões", que é o Nobel para a língua portuguesa. Talentosa, corajosa, ética, mas sobretudo amiga leal e devotada. Sinto intensamente a sua falta, a sua companhia nas caminhadas pelos jardins, os seus comentários sobre a situação política, os filmes que assistimos juntos. E o carinho com que me envolvia permanentemente, seja nas sessões da Academia Paulista de Letras, seja nos chás que tomamos juntos em sua casa e na minha.

Na minha agenda de aniversários, anoto no verso as mortes mais sentidas. Em 2022, anotei a partida de Neyton Fantoni, amigo e vizinho de Barretos, pai do juiz Neyton Fantoni, que judica em Bebedouro. D. Izael Miragaia Aguiar Moreira, fiel servidora da Academia Paulista de Letras, um verdadeiro patrimônio durante décadas. O grande Dalmo de Abreu Dallari partiu em 8 de abril. Seus "Elementos de Teoria Geral do Estado" foram objeto de minhas aulas durante mais de vinte anos.

Em junho faleceu minha amiga Ana Estella Storani e D. Maria Antonieta Wertheimer Nogueira Garcez, viúva do inesquecível Desembargador Marcos Nogueira Garcez, um casal paradigmático na ética e no catolicismo. Em julho perdemos D. Maria Helena Leonel Gandolfo, intelectual que dedicou sua vida ao Registro de Imóveis, onde pontificava com sua experiência e criatividade doutrinária. Em 18 de agosto perdi um grande amigo: Jorge Renato Nanni, que foi ator, escrevia mas não publicou, foi poeta e um intelectual de potencialidades inexploradas por um excessivo escrúpulo, próprio dos que não são medíocres.

Meu primo Plínio Lopes de Camargo partiu em novembro, assim como D. Margarida Éber Marchi, matriarca respeitável em Jundiaí. Finalmente, em dezembro, despediu-se da vida minha última tia, Jacyra Salles Nalini, que chegou a ser diretora da extinta Companhia Paulista de Estradas de Ferro, sobrinha que era de Antonio de Pádua Salles. O desembargador Laércio Laurelli, a educadora Cleide Bauab Bochichio, que foi Secretária Adjunta da Educação durante minha experiência na Pasta.

Como gostava de dizer o imortal Paulo Bomfim, o último dos Príncipes da Poesia Brasileira, durante nossa peregrinação vamos colecionando perdas. Elas nos fazem lembrar que um dia seremos nós a deixar a existência terrena. Estejamos preparados, embora seja fácil dizer e difícil de observar.

*José Renato Nalini é diretor-geral da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras

José Renato Nalini. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O baú das saudades continua a se encher, com aqueles que partem e nos deixam tristes e pensativos. Sabe-se que o caminho é esse: ninguém mais deixará de morrer. O encontro definitivo é a única certeza. Mas parece que 2022 exagerou na dose.

Quando se examina o rol dos falecidos nesse ano passado, em que pensávamos estar libertos da pandemia, não há como deixar de ficar assustado. Perdemos Arnaldo Jabor, o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips, Cláudia Jimenez, o Cardeal Cláudio Hummes. Danuza Leão, irmã de Nara. Éder Jofre, Eduardo Guardia, ex-Ministro da Fazenda, Elifas Andreato, a Rainha Elizabeth II, Elza Soares, Erasmo Carlos, Fernando Campana, Françoise Forton, Gal Costa, a tão querida Gal!

Guilherme de Pádua, que matou Daniella Perez, a linda Ilka Soares, Jean-Louis Trintignant e Jean-Luc Godard, o queridíssimo Jô Soares! João Carlos Di Genio, João Paulo Diniz, Jorge da Cunha Lima, Judith Lauand, Lily Safra, Luiz Antonio Fleury Filho, a inesquecível Lygia Fagundes Telles, Madeleine Albright, Mikhail Gorbatchev, Milton Gonçalves, Nélidak Piñon, o influenciador Olavo de Carvalho, Olívia Newton-John, Pedro Paulo Rangel, Peter Bogdanovich, Ray Liotta, Rolando Boldrin, Shinzo Abe, Sidney Poitier, William Hurt.

Bem no finalzinho do ano ainda perdemos Pelé, que fez mais pelo Brasil do que muitos governos, e o Papa Emérito Bento XVI, o filósofo Joseph Ratzinger.

Alguns muito próximos, causaram cataclismo em meu coração. Jô Soares, de quem Millor Fernandes afirmou: "Eclético total, o que mais gosta é tudo. E tem razão quando diz que a televisão de 21 polegadas não dá toda a dimensão de seu talento". Depois completou, para fazer jus à fama de exibido: "Acho que até mesmo as televisões de 85 polegadas são insuficientes para mostrar todo o meu talento".

Mas ele fazia por merecer: "Foram 60 anos de vida profissional, 28 anos de entrevistas, 14.426 conversas, cerca de 1.300 dias de programas de humor na TV, 300 personagens, 43 anos fazendo one-man shows, dirigi 24 peças de teatro e atuei em 11, foram dez filmes como ator e um como diretor, oito exposições como pintor, um show como músico e cantor, 15 programas de televisão como redator, nove livros".

O que dizer de Lygia Fagundes Telles, essa glória brasileira que só não recebeu o Nobel pela miopia de quem outorga o tão cobiçado prêmio. Mas mereceu o "Camões", que é o Nobel para a língua portuguesa. Talentosa, corajosa, ética, mas sobretudo amiga leal e devotada. Sinto intensamente a sua falta, a sua companhia nas caminhadas pelos jardins, os seus comentários sobre a situação política, os filmes que assistimos juntos. E o carinho com que me envolvia permanentemente, seja nas sessões da Academia Paulista de Letras, seja nos chás que tomamos juntos em sua casa e na minha.

Na minha agenda de aniversários, anoto no verso as mortes mais sentidas. Em 2022, anotei a partida de Neyton Fantoni, amigo e vizinho de Barretos, pai do juiz Neyton Fantoni, que judica em Bebedouro. D. Izael Miragaia Aguiar Moreira, fiel servidora da Academia Paulista de Letras, um verdadeiro patrimônio durante décadas. O grande Dalmo de Abreu Dallari partiu em 8 de abril. Seus "Elementos de Teoria Geral do Estado" foram objeto de minhas aulas durante mais de vinte anos.

Em junho faleceu minha amiga Ana Estella Storani e D. Maria Antonieta Wertheimer Nogueira Garcez, viúva do inesquecível Desembargador Marcos Nogueira Garcez, um casal paradigmático na ética e no catolicismo. Em julho perdemos D. Maria Helena Leonel Gandolfo, intelectual que dedicou sua vida ao Registro de Imóveis, onde pontificava com sua experiência e criatividade doutrinária. Em 18 de agosto perdi um grande amigo: Jorge Renato Nanni, que foi ator, escrevia mas não publicou, foi poeta e um intelectual de potencialidades inexploradas por um excessivo escrúpulo, próprio dos que não são medíocres.

Meu primo Plínio Lopes de Camargo partiu em novembro, assim como D. Margarida Éber Marchi, matriarca respeitável em Jundiaí. Finalmente, em dezembro, despediu-se da vida minha última tia, Jacyra Salles Nalini, que chegou a ser diretora da extinta Companhia Paulista de Estradas de Ferro, sobrinha que era de Antonio de Pádua Salles. O desembargador Laércio Laurelli, a educadora Cleide Bauab Bochichio, que foi Secretária Adjunta da Educação durante minha experiência na Pasta.

Como gostava de dizer o imortal Paulo Bomfim, o último dos Príncipes da Poesia Brasileira, durante nossa peregrinação vamos colecionando perdas. Elas nos fazem lembrar que um dia seremos nós a deixar a existência terrena. Estejamos preparados, embora seja fácil dizer e difícil de observar.

*José Renato Nalini é diretor-geral da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras

José Renato Nalini. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O baú das saudades continua a se encher, com aqueles que partem e nos deixam tristes e pensativos. Sabe-se que o caminho é esse: ninguém mais deixará de morrer. O encontro definitivo é a única certeza. Mas parece que 2022 exagerou na dose.

Quando se examina o rol dos falecidos nesse ano passado, em que pensávamos estar libertos da pandemia, não há como deixar de ficar assustado. Perdemos Arnaldo Jabor, o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips, Cláudia Jimenez, o Cardeal Cláudio Hummes. Danuza Leão, irmã de Nara. Éder Jofre, Eduardo Guardia, ex-Ministro da Fazenda, Elifas Andreato, a Rainha Elizabeth II, Elza Soares, Erasmo Carlos, Fernando Campana, Françoise Forton, Gal Costa, a tão querida Gal!

Guilherme de Pádua, que matou Daniella Perez, a linda Ilka Soares, Jean-Louis Trintignant e Jean-Luc Godard, o queridíssimo Jô Soares! João Carlos Di Genio, João Paulo Diniz, Jorge da Cunha Lima, Judith Lauand, Lily Safra, Luiz Antonio Fleury Filho, a inesquecível Lygia Fagundes Telles, Madeleine Albright, Mikhail Gorbatchev, Milton Gonçalves, Nélidak Piñon, o influenciador Olavo de Carvalho, Olívia Newton-John, Pedro Paulo Rangel, Peter Bogdanovich, Ray Liotta, Rolando Boldrin, Shinzo Abe, Sidney Poitier, William Hurt.

Bem no finalzinho do ano ainda perdemos Pelé, que fez mais pelo Brasil do que muitos governos, e o Papa Emérito Bento XVI, o filósofo Joseph Ratzinger.

Alguns muito próximos, causaram cataclismo em meu coração. Jô Soares, de quem Millor Fernandes afirmou: "Eclético total, o que mais gosta é tudo. E tem razão quando diz que a televisão de 21 polegadas não dá toda a dimensão de seu talento". Depois completou, para fazer jus à fama de exibido: "Acho que até mesmo as televisões de 85 polegadas são insuficientes para mostrar todo o meu talento".

Mas ele fazia por merecer: "Foram 60 anos de vida profissional, 28 anos de entrevistas, 14.426 conversas, cerca de 1.300 dias de programas de humor na TV, 300 personagens, 43 anos fazendo one-man shows, dirigi 24 peças de teatro e atuei em 11, foram dez filmes como ator e um como diretor, oito exposições como pintor, um show como músico e cantor, 15 programas de televisão como redator, nove livros".

O que dizer de Lygia Fagundes Telles, essa glória brasileira que só não recebeu o Nobel pela miopia de quem outorga o tão cobiçado prêmio. Mas mereceu o "Camões", que é o Nobel para a língua portuguesa. Talentosa, corajosa, ética, mas sobretudo amiga leal e devotada. Sinto intensamente a sua falta, a sua companhia nas caminhadas pelos jardins, os seus comentários sobre a situação política, os filmes que assistimos juntos. E o carinho com que me envolvia permanentemente, seja nas sessões da Academia Paulista de Letras, seja nos chás que tomamos juntos em sua casa e na minha.

Na minha agenda de aniversários, anoto no verso as mortes mais sentidas. Em 2022, anotei a partida de Neyton Fantoni, amigo e vizinho de Barretos, pai do juiz Neyton Fantoni, que judica em Bebedouro. D. Izael Miragaia Aguiar Moreira, fiel servidora da Academia Paulista de Letras, um verdadeiro patrimônio durante décadas. O grande Dalmo de Abreu Dallari partiu em 8 de abril. Seus "Elementos de Teoria Geral do Estado" foram objeto de minhas aulas durante mais de vinte anos.

Em junho faleceu minha amiga Ana Estella Storani e D. Maria Antonieta Wertheimer Nogueira Garcez, viúva do inesquecível Desembargador Marcos Nogueira Garcez, um casal paradigmático na ética e no catolicismo. Em julho perdemos D. Maria Helena Leonel Gandolfo, intelectual que dedicou sua vida ao Registro de Imóveis, onde pontificava com sua experiência e criatividade doutrinária. Em 18 de agosto perdi um grande amigo: Jorge Renato Nanni, que foi ator, escrevia mas não publicou, foi poeta e um intelectual de potencialidades inexploradas por um excessivo escrúpulo, próprio dos que não são medíocres.

Meu primo Plínio Lopes de Camargo partiu em novembro, assim como D. Margarida Éber Marchi, matriarca respeitável em Jundiaí. Finalmente, em dezembro, despediu-se da vida minha última tia, Jacyra Salles Nalini, que chegou a ser diretora da extinta Companhia Paulista de Estradas de Ferro, sobrinha que era de Antonio de Pádua Salles. O desembargador Laércio Laurelli, a educadora Cleide Bauab Bochichio, que foi Secretária Adjunta da Educação durante minha experiência na Pasta.

Como gostava de dizer o imortal Paulo Bomfim, o último dos Príncipes da Poesia Brasileira, durante nossa peregrinação vamos colecionando perdas. Elas nos fazem lembrar que um dia seremos nós a deixar a existência terrena. Estejamos preparados, embora seja fácil dizer e difícil de observar.

*José Renato Nalini é diretor-geral da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras

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