Após a Justiça Eleitoral determinar um bloqueio de até R$ 36 milhões do ex-presidente do Solidariedade Eurípedes Júnior, a Polícia Federal encontrou a “quantia ínfima” de R$ 12,45 nas “várias” contas do político. O valor intriga o Ministério Público Eleitoral e a Polícia Federal que, na Operação Fundo no Poço, identificou uma conta nos Estados Unidos atribuída a Eurípedes, sob suspeita de desvios milionários dos fundos partidário e eleitoral.
Os advogados de Fábio Tofic Simantob e José Eduardo Martins Cardozo, que defendem Eurípedes, afirmam que ‘praticamente todas as acusações feitas pelo Ministério Público foram aterradas’. A reportagem entrou em contato com o Solidariedade. O espaço está aberto para manifestações.
Nesta terça, 6, o juiz eleitoral Lisandro Garcia Gomes Filho mandou soltar Eurípedes, que estava preso desde 15 de junho, alvo principal da Operação Fundo no Poço. Ele terá de usar tornozeleira eletrônica e não pode comparecer a nenhum endereço do partido, nem movimentar contas no exterior.
A PF suspeita que Eurípedes usou essas contas para ocultar dinheiro de origem ilícita. E também quer aprofundar a investigação sobre cheques encontrados na casa do ex-dirigente do Solidariedade. Os cheques foram expedidos em nome de uma funerária que tem o mesmo endereço comercial da sede do partido em Planaltina, Goiás.
As suspeitas serviram como base para uma das medidas cautelares alternativas à prisão impostas a Eurípedes, o veto à movimentação de contas fora do País.
Os detalhes dessas suspeitas que recaem sobre Eurípedes estão no parecer do Ministério Público Eleitoral que defendeu a manutenção da prisão preventiva do político. Eurípedes se entregou à Justiça no dia 15 de junho, após ficar dias foragido.
A Promotoria queria que ele permanecesse detido sob alegação de que é necessária uma apuração mais profunda sobre documentos encontrados na casa de Eurípedes, alvo de buscas na Operação Fundo no Poço.
Segundo o MP, os papéis citam contas bancárias no exterior em nome do político e de sua atual mulher, uma delas mantida no Regions Bank, nos EUA.
Os investigadores supõem que essas contas podem ter sido usadas para possível ocultação de valores.
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Também na casa de Eurípedes foram encontrados cheques em nome da Funerária PAX Ltd. A Promotoria destaca que a funerária tem endereço comercial ‘coincidente’ com o do Partido Solidariedade em Planaltina e vê " forte indício de a empresa figurar como fachada”.
Ao se manifestar pelo prolongamento de Eurípedes na prisão, o Ministério Público Eleitoral sustentou que ele “é o responsável pela divisão de tarefas da organização criminosa, ex-sócio de diversas empresas de fachada que estão sob investigação, fez uso de laranjas, inclusive suas filhas e sua mãe, e permaneceu foragido por quatro dias, o que pode ter ensejado ações para dificultar as investigações, pois detém influência em toda estrutura funcional da legenda partidária”.
Para a Promotoria Eleitoral, a desfiliação de Eurípedes do partido - do qual ele renunciou à presidência após a Operação Fundo no Poço - “não interromperia a perpetração de atos criminosos que ocorrem desde 2006″.
O parecer, no entanto, não foi seguido pelo juiz Lizandro Garcia Gomes Filho, que acolheu pedido da defesa de Eurípedes. O juiz eleitoral entendeu que outros investigados já estão em liberdade e não há mais razão para a prisão de Eurípides perdurar.
Na avaliação de Lizandro Garcia, a soltura de Eurípedes não implica em “risco à ordem pública e econômica”, que está “mitigado”. Segundo o juiz, as principais provas já foram colhidas e estão sob o crivo do Ministério Público e da Polícia Federal.
“No caso, não obstante os abalizados argumentos colacionados pelo Ministério Público Eleitoral, há que se afastar a medida cautelar extrema, permitindo, por ser mais adequada e proporcional, sua eficaz substituição por medidas alternativas”, ponderou o magistrado.
Eurípedes é réu por supostos crimes de falsidade eleitoral, organização criminosa, apropriação indébita e peculato. O Ministério Público Federal levantou suspeitas do envolvimento do político não só em desvios por meio de candidaturas ‘laranja’ e uso de verbas do Solidariedade para passeios internacionais de seus familiares.
Os investigadores também responsabilizam o ex-Solidariedade pelo ‘desmonte’ da sede e do parque gráfico do PROS e por suposto esquema de furto mediante fraude que teria resultado no ‘esvaziamento de contas da agremiação’.
COM A PALAVRA, A DEFESA
Os advogados Fábio Tofic Simantob e José Eduardo Martins Cardozo, que representam o ex-dirigente do Solidariedade, alegam que “praticamente todas as acusações feitas pelo Ministério Público foram aterradas na defesa apresentada recentemente, de modo que a soltura era a única medida aguardada”.