A Polícia Federal faz buscas na manhã desta sexta-feira, 20, contra o deputado federal bolsonarista Otoni de Paula (PSC-RJ) e o cantor Sérgio Reis. As ordens foram expedidas pelo ministro Alexandre de Moraes, a pedido da Procuradoria-Geral da República. De acordo com a PF, o objetivo das medidas 'é apurar o eventual cometimento do crime de incitar a população, através das redes sociais, a praticar atos violentos e ameaçadores contra a Democracia, o Estado de Direito e suas Instituições, bem como contra os membros dos Poderes'.
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LEIA A ÍNTEGRA DA DECISÃO DE ALEXANDREA investigação está relacionada à promessa de greve nacional de caminhoneiros, feita em áudio e vídeo atribuídos a Sérgio Reis. De acordo com o cantor, aliado do presidente Jair Bolsonaro, o ato seria contra os 11 ministros do Supremo Tribunal Federal. Lideranças dos caminhoneiros afirmam que o artista não os representa. Ao todo, 29 mandados de busca e apreensão são cumpridos pela PF no âmbito das investigações, solicitadas na segunda-feira, 16. De acordo com a corporação, as diligências são realizadas no Distrito Federal , e nos Estados de Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Ceará e Paraná.
O Estadão apurou que pelo menos um empresário do agronegócio, que estaria financiando o movimento, também é alvo das buscas. Trata-se do produtor rural Antonio Galvan, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja. Galvan participou de encontro em que Sérgio Reis apresentou a proposta de convocar a paralisação das atividades dos caminhoneiros, em defesa do voto impresso e contra os ministros do STF.
Outro alvo da ofensiva é o caminhoneiro conhecido como Zé Trovão, que publicou vídeo no youtube exibindo o mandado de busca e apreensão cumprido em sua casa, além da intimação para que ele compareça à PF na tarde desta sexta-feira. Apoiador do presidente, o caminhoneiro já gravou vídeo ao lado de faixa com a frase 'O poder emana do povo, e o povo exige intervenção militar com Bolsonaro no poder'. Na gravação, publicada há quatro meses, Zé Trovão afirma: "A nossa salvação inteira está aqui, as Forças Armadas, eles são os únicos que podem resolver o problema dessa pátria. [...] Vamos montar acampamento. Acampamento, pessoal. É acampamento, definitivo, pelo tempo que for necessário, para que nossas ações sejam entendidas pelos grandes generais desse país. O poder emana do povo, e o povo exige intervenção militar já, com Bolsonaro no poder."
Assim como Zé Trovão, Otoni de Paula também comentou as buscas realizadas em sua casa. Em live realizada nas redes sociais esta manhã, ele indicou que foi intimado a comparecer à Polícia Federal para prestar depoimento. No vídeo, disse que os agentes levaram seu celular e um laptop e voltou a atacar o ministro Alexandre de Moraes. "Não vou recuar um milímetro do que a Constituição me permite, mas estamos vivendo um estado de exceção no Brasil", afirmou, acusando Moraes ter comportamento 'ditatorial'.
O deputado já foi denunciado por difamação, injúria e coação contra o ministro do STF em razão de vídeos em que chamou Alexandre de 'déspota', 'lixo' e 'esgoto do STF'. Além de ser alvo de tal processo, no âmbito criminal, Otoni foi condenado a indenizar o ministro do STF em R$ 70 mil em razão de ataques nas redes sociais em que chamou Alexandre de 'cabeça de ovo' e 'cabeça de piroca', além de fazer comentários como 'Alexandre de Morais você é um lixo' e 'você é um esgoto'.
COM A PALAVRA, OTONI DE PAULA
Em seu perfil no Twitter o parlamentar divulgou a seguinte nota: "Sobre a busca e apreensão que sofri a em minha residência, a pedido da PGR, assinada pelo Min Alexandre de Moraes, afirmo que não tenho o que temer, pois nunca incitei a população contra as instituições basilares da República, mas sou e continuarei sendo critico ao comportamento de ministros do STF, que embora não pareçam, são servidores públicos, como qualquer um que trabalha para o estado brasileiro. Querem confundir crítica a pessoa com crime contra as instituições. Nenhum ministro é o STF, assim como nenhum deputado é a Câmara Federal. Lembrando que já tive todos os meus sigilos quebrados, sem que nada houvesse sido encontrado contra mim. Quanto a ter adjetivado o Min Alexandre de Moraes de "déspota, lixo e esgoto do STF", fui processado por ele e estou recorrendo da sentença de pagamento de indenização".
COM A PALAVRA, A APROSOJA
Após a repercussão do áudios atribuídos a Sérgio Reis e antes da deflagração da operação que mirou seu presidente, Antonio Galvan, a Aprosoja divulgou a seguinte:
"Com o objetivo de levar esclarecimento à sociedade a respeito de notícias publicadas em veículos de circulação nacional sobre manifestações marcadas para o dia 7 de setembro de 2021, a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) declara que:
o não financia e tampouco incentiva a invasão do Supremo Tribunal Federal (STF) ou quaisquer atos de violência contra autoridades, pessoas, órgãos públicos ou privados em qualquer cidade do País.
o sempre defendeu de forma peremptória o Estado Democrático de Direito e o equilíbrio entre os Poderes da República e continuará a ter a mesma postura republicana em defesa do pleno funcionamento das instituições e o respeito aos representantes das esferas de poder no País. É missão da entidade, inclusive, cooperar com os órgãos oficiais.
o há mais de 30 anos representando de forma legítima 240 mil sojicultores e suas famílias, a entidade não concorda e não apoia manifestações que preguem trancamento de rodovias, ações desordeiras e outras quaisquer que prejudiquem o abastecimento de alimentos, medicamentos e bens essenciais à população, bem como seu direito de ir e vir.
o historicamente, a Aprosoja Brasil somente apoiou movimentos pacíficos e em conformidade com a Carta Constitucional brasileira.
o todos os recursos da Aprosoja Brasil são destinados e utilizados exclusivamente em atividades que tenham pertinência com seus objetivos estatutários, visando sempre a defesa dos interesses dos produtores de soja. As contas da entidade são integralmente auditadas para que o mais alto nível de ética e compliance seja alcançado.
Portanto, a associação não possui qualquer ligação com atos que defendam "invadir" ou "quebrar" o STF, não responde institucionalmente pela organização de nenhum movimento e repudia qualquer publicação que vincule a associação a movimentos violentos ou ilegais.