A três dias das eleições 2024, a Polícia Federal realiza na manhã desta quinta-feira, 3, operações em ao menos cinco Estados para investigar desde violência política de gênero e a compra direta de votos até esquema de cooptação de eleitores para mudança de domicílio eleitoral, distribuição de vale-combustível a eleitores e ameaças a candidatos, por parte de pessoas ligadas a uma facção do tráfico de drogas, com suposta inércia de policiais militares. As ofensivas foram abertas nos Estados do Amazonas, Pará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Sergipe.
As operações apuram supostos crimes de associação e organização criminosa, inscrição fraudulenta, uso de documento falso, criminosa, corrupção eleitoral, corrupção de menores, abolição do estado democrático de direito, utilização de violência para obter votos e impedir o exercício de propaganda eleitoral.
Leia Também:
Influência de facção na eleição em Parintins com ex-cúpula do governo e PMs
No Amazonas, a Operação Tupinambarana Liberta vasculha cinco endereços para desbaratar uma quadrilha de faccionados e agentes públicos que cometia crimes eleitorais em prol de uma candidatura à prefeitura de Parintins. O inquérito viu inclusive o uso de estruturas de Estado, como a Polícia Militar, para benefício de uma chapa concorrente à Prefeitura de Parintins.
Entre os alvos da ofensiva estão o ex-secretário da Cultura do Amazonas Marcos Apolo, o ex-secretário de Administração Fabrício Barbosa, o ex-presidente da Companhia de Saneamento do Amazonas Armando do Valle, o ex-chefe de Rondas Ostensivas (grupo de elite da PM) Jackson Ribeiro e o ex-chefe do setor de inteligência da Rocam Guilherme Navarro.
A reportagem busca contato com os investigados. O espaço está aberto para manifestações.
Segundo a PF, há vídeos mostram autoridades públicas “articulando para influenciar diretamente nas eleições da cidade de Parintins, mediante diversas condutas escusas e formas ilegais de atuação”. A suspeita é a de que a reunião teria sido feita para favorecer a candidata Brena Dianná (União Brasil). Na terça-feira, 1, o Ministério Público do Amazonas abriu um inquérito sobre o caso.
A Justiça Eleitoral proibiu os investigados de acessarem Parintins. O caso levou inclusive ao aumento do efetivo da PF no município. O nome da operação faz referência aos apelidos dados à cidade de Parintins, “Ilha Tupinambarana, Ilha da magia”.
O inquérito apura supostas ameaças de líderes comunitários ligados a uma facção de tráfico de drogas, proibindo o acesso de candidatos à prefeitura a certos bairros. A PF diz ter encontrado indícios de possível inércia de agentes públicos para coibir tais ameaças em prol de uma candidatura à Prefeitura de Parintins.
“As ações coordenadas do grupo criminoso teriam promovido a espionagem de pessoas ligadas a um grupo político do município e também monitorado o deslocamento de policiais federais com a finalidade de frustrar a atuação da Polícia Federal”, indicou a corporação.
Apreensão de R$ 20 mil em espécie com assessora parlamentar
Em outra ação, também em Manaus, a PF apreendeu R$ 20 mil em espécie com uma assessora parlamentar, que embarcava para Benjamim Constant do Aeroporto de Flores. A assessora não tinha comprovação do saque e nem sabia a origem do dinheiro. Segundo a PF, o parlamentar que a acompanhava assumiu que o dinheiro era dele.
A Polícia Federal instaurou inquérito policial sobre o caso e encaminhou os investigados para a Superintendência Regional para prestar esclarecimentos.
Violência política de gênero
No Pará, a PF vasculhou as casas de dois investigados por violência política de gênero contra uma candidata trans ao cargo de vereadora de Paragominas. Os celulares e computadores dos alvos foram apreendidos.
Segundo o inquérito, a dupla mesclou imagens e vídeos de campanha da parlamentar com vídeos de conteúdo adulto para “constranger e humilhar a candidata, utilizando-se de menosprezo ou discriminação à condição de mulher com a finalidade de impedir ou de dificultar a sua campanha eleitoral”.
Quadrilha pagava eleitores para mudarem domicílio eleitoral
No Rio de Janeiro, a Operação Nômade Eleitoral mira uma quadrilha que tentava arregimentar eleitores e fazê-los mudar de domicílio eleitoral. Agentes cumpriram seis ordens de busca e apreensão em casas de investigados em Itaguaí, Santa Cruz e na capital fluminense.
Segundo a PF, um candidato à vereador e seus cabos eleitorais forneciam comprovantes de residência falsos para os possíveis eleitores, comprando votos, para que eles se alistassem ou alterassem seu domicílio eleitoral para a cidade de Itaguaí.
Alguns dos alvos da ofensiva foram flagrados no cartório do Juízo da 105ª Zona eleitoral, em Itaguaí, pagando multas eleitorais de eleitores supostamente cooptados.
A ofensiva apura supostos crimes de organização criminosa, inscrição fraudulenta, uso de documento falso, oferecer vantagem ilícita em troca de voto e corrupção de menores - muitas das pessoas levadas à sessão eleitoral para a inscrição ou alteração do domicílio eleitoral eram menores de idade, diz a PF.
Coação de eleitores em Campos
Há ainda a uma Operação do Rio de Janeiro para investigar a coação de eleitores e compra de votos nas eleições municipais de Campos dos Goytacazes.
Agentes cumpriram três mandados de busca e apreensão contra suspeitos de guardar o dinheiro usado para a compra de votos. Os alvos também seriam responsáveis pela coação de eleitores para que votassem em um candidato a vereador do munícipio.
Segundo a PF, o inquérito teve início com a prisão de um candidato a vereador de Campos, suspeito de ter envolvimento com a morte de um cabo eleitoral.
Compra de votos em Sergipe
Já em Sergipe, a Operação Listagem mira um grupo que comprava votos. A casa de um investigado foi vasculhada na zona rural de Lagarto. A investigação teve início após denúncias sobre supostas movimentações suspeitas de compra de votos em um povoado do município.
Durante o inquérito, a PF encontrou listas de nomes de diversos eleitores indicando a organização do esquema de compra de votos.
Apoio de facção a candidato no RS
No Rio Grande do Sul, a Operação Integridade Eleitoral mira a interferência de facção criminosa no processo eleitoral da cidade de São Borja. A PF apura a cooptação de eleitores com a “distribuição de vantagens indevidas e a não declaração de gastos eleitorais”.
Agentes cumpriram 16 mandados de busca e apreensão - 11 de busca domiciliar e cinco de busca pessoal. As investigações identificaram suposto “apoio pessoal, material e financeiro de grupo criminoso atuante na região a candidato a cargo eletivo no município”.
Candidato bancado por facção do contrabando distribui vales de combustível
Também no Rio Grande do Sul, a PF vasculhou a casa, o comitê e um posto de gasolina de um candidato a vereador em Santana do Livramento. O inquérito foi aberto após denúncia de que o candidato estaria fazendo doações a moradores para obter votos. Também foi denunciado que o investigado seria financiado por integrantes do crime organizado, com dinheiro do contrabando.
Os investigadores dizem ter identificado “a atuação ativa e permanente de indivíduos com vasto histórico criminal na campanha do candidato investigado, inclusive por meio de doações em dinheiro”.
No domingo, 29, os agentes flagraram “uma grande distribuição de combustíveis” por meio de vale emitido candidato. A PF vê indícios de que o combustível teria sido custeado a partir de uma “contabilidade paralela de campanha”
Prisão em Mato Grosso por caixa 2
Nesta quarta, 2, a Polícia Federal prendeu, em Sinop, em Mato Grosso, uma coordenadora de campanha de um candidato a prefeito do município. Ela foi flagrada pagando R$ 2,5 mil em espécie para um eleitor. Foi enquadrada por caixa 2.
A prisão ocorreu quando os agentes cumpriam mandado de busca e apreensão em endereço ligado à campanha de um candidato a prefeito. O local – uma casa com uma placa de “aluga-se” e cortinas abaixadas - funcionava como um comitê não oficial de campanha.