A Polícia Federal (PF) vai investigar a abordagem da Polícia Militar do Amazonas ao deputado federal Amom Mandel (Cidadania-AM) na última quinta-feira, 4, após o próprio parlamentar denunciar que foi vítima de uma tentativa de intimidação.
Procurada pelo Estadão, a PF informou que não pode dar detalhes de ações em andamento. O inquérito deve apurar a versão do deputado e verificar se os policiais agiram deliberadamente para intimidar o parlamentar e se cumpriam ordens de superiores hierárquicos.
A Secretaria de Segurança Pública do Amazonas também foi procurada e negou que o deputado tenha sido desrespeitado. A pasta afirma que a abordagem é um procedimento padrão e que Amom Mandel foi tratado com “cordialidade” (leia a nota completa no final da matéria). Os policiais afirmaram no boletim de ocorrência que o deputado cometeu abuso de autoridade.
Em depoimento à Polícia Federal, Amom Mandel afirmou que a abordagem foi “truculenta” e que os agentes apontaram as armas para ele, para a mulher e para uma amiga, que também estavam no carro.
Ao Estadão, o deputado contou que os policiais chegaram a fazer ameaças como: ”agora você vai conhecer uma abordagem da Rocam”. Rocam (Rondas Ostensivas Cândido Mariano) é a força tática de elite da PM do Amazonas.
Os agentes alegam que o carro em que estava o deputado trafegava com as lanternas apagadas e mudava constantemente de faixa. Uma confusão começou depois que o parlamentar questionou a abordagem e deu voz de prisão aos policiais.
O secretário de Segurança Pública do Amazonas, o coronel Vinicius Almeida, chegou a se deslocar até a ocorrência, na avenida Autaz Mirim, em Manaus. O deputado alega que ele tentou dissuadi-lo de denunciar o caso. Um boletim de ocorrência foi registrado no 14º Distrito Integrado de Polícia.
A versão do secretário, que convocou uma coletiva de imprensa no dia seguinte, é a de que o deputado “humilhou” os policiais. “O que aconteceu foi uma abordagem padrão da Polícia Militar e que ao final os policiais foram desrespeitados, humilhados e esses são os fatos“, disse Almeida.
A abordagem aconteceu menos de um mês após o deputado compartilhar com a PF um dossiê produzido por servidores do próprio governo Wilson Lima (União) que, segundo o parlamentar, teria associado autoridades da alta cúpula da Segurança Pública do Estado com o tráfico de drogas e o crime organizado.
Questionado pelo Estadão sobre os nomes implicados, o deputado alegou que não poderia adiantar informações para não prejudicar a investigação em andamento, que tramita em sigilo.
O dossiê entregue à PF foi produzido por um sargento e por um tenente-coronel que, na época, estavam lotados na Secretaria Adjunta de Inteligência (Seai) do Amazonas, órgão vinculado à Secretaria de Segurança Pública do Estado que cuida de informações sigilosas de investigações policiais. O documento foi entregue ao superintendente da PF no Amazonas.
O Estadão apurou que o relatório denuncia a suposta negociação paralela de favores entre autoridades da Segurança Pública e facções criminosas, em troca de informações. O irmão de um narcotraficante chegou a ser nomeado para um cargo de gerência na Secretaria Executiva Adjunta de Inteligência, mas foi exonerado após o parentesco vir a público.
Mandel afirma que, desde que compartilhou o relatório com a PF, passou a receber ameaças de números estrangeiros. Também alega que foi vítima de uma campanha coordenada de fake news nas redes sociais.
O deputado pediu ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), proteção da Polícia Legislativa. Uma reunião foi marcada para avaliar a situação.
“Eu continuo temendo pela minha segurança. Há dois dias atrás botaram uma arma na minha cabeça e na cabeça na minha esposa sem justificativa.”
Esta não é a primeira investigação aberta pela PF que arrasta a alta cúpula do sistema de Segurança Pública do Amazonas durante o governo Wilson Lima. Ex-secretário de segurança, o general do Exército Carlos Alberto Mansur foi exonerado do cargo em agosto, após ser alvo de uma operação sobre crimes de corrupção ativa, peculato e lavagem de dinheiro.
COM A PALAVRA, A SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA DO AMAZONAS
A Secretaria de Estado de Segurança Publica (SSP-AM) esclarece que a narrativa apresentada pelo deputado federal Amom Mandel não corresponde à realidade dos fatos ocorridos na noite da última quinta-feira (04/01), em uma abordagem policial rotineira. A situação aconteceu durante a Operação Impacto, lançada minutos antes na região e que tem como foco a diminuição dos índices de criminalidade na capital.
No momento da abordagem o deputado estava em um veículo importado, dirigido pela sua namorada, e que trafegava com as luzes apagadas, vidros com insulfilme 100%, trocando de faixa de forma desordenada, o que chamou a atenção da guarnição policial que patrulhava a área. A condutora ignorou diversos avisos emitidos pela viatura policial para que encostasse, levando alguns minutos até que abordagem fosse realizada.
Ao descer do veículo o deputado passou a questionar o motivo de ter sido abordado pela PM e deu voz de prisão à guarnição, se utilizando das prerrogativas do cargo público que ocupa para desrespeitar, humilhar e constrangendo os agentes.
“O que aconteceu foi uma abordagem padrão da Polícia Militar, em que ao final os policiais foram desrespeitados e humilhados. Esses são os fatos”, disse o secretário de Segurança Vinicius Almeida.
O deputado chegou a ligar para o secretário de Segurança solicitando interferência do titular da pasta para que a sua vontade fosse cumprida, o que não foi feito. Diante do impasse os envolvidos foram encaminhados à delegacia de polícia, onde não foram encontrados elementos para prender os policiais em flagrante por abuso de autoridade e um inquérito foi aberto para investigar o caso.
A SSP ressalta que a abordagem realizada é um procedimento padrão aplicado a qualquer cidadão e que em todo momento da ocorrência o deputado foi tratado com cordialidade, sendo orientado quanto as medidas que poderiam ser adotadas naquele momento.