O arquivamento de parte da investigação sobre empresários que trocaram mensagens golpistas no Whatsapp nesta segunda, 21, evidencia um afunilamento da apuração, que agora entra na lista de inquéritos do Supremo Tribunal Federal que chegaram mais perto do ex-presidente Jair Bolsonaro. A Polícia Federal quer seguir as diligências após encontrar uma suposta ordem de repasse de fake news atribuída ao ex-chefe do Executivo, o que liga o caso ao inquérito das milícias digitais.
Segundo os investigadores, tal relação teria inclusive a finalidade de ‘disseminação de várias notícias falsas e atentatórias à Democracia e ao Estado Democrático de Direito’, com uso do mesmo modo de agir das milícias digitais também alvo de investigação no Supremo.
Para ilustrar tal dinâmica a PF cita um diálogo mantido entre Nigri e o contato ‘Pr Bolsonaro 8′ pouco antes de serem enviadas supostas mensagens golpistas no grupo ‘Empresários & Política’ – o que motivou o inquérito.
Segundo a Polícia Federal, o contato ‘Pr Bolsonaro 8′ enviou ao fundador da Tecnisa ‘mensagens com conteúdo não lastreado ou conhecidamente falso, atacando integrantes de instituições públicas especialmente Ministros do STF, desacreditando o processo eleitoral brasileiro’.
Em seguida, Nigri ‘publicou o conteúdo ilícito no grupo de WhatsApp Empresários & Política’, indicam ainda os investigadores. O empresário ainda teria avisado o ‘Pr’ que uma das fake news, sobre suposta fraude no sistema de votação, ‘foi repassada a vários grupos’.
Em nota, a defesa do empresário diz que ele ‘recebeu uma ou outra mensagem do presidente República e repassou para pouquíssimos grupos’. “Ele não tem Facebook, não tem Instagram, não tem nenhuma plataforma de disseminação em massa de notícias ou mensagens, não é uma pessoa que tinha envolvimento com disseminação de fake news”, afirmou o advogado Alberto Zacarias Toron, que defende Nigri.
A avaliação da PF sobre a relação mantida entre Nigri e Bolsonaro se deu a partir da análise de informações foram encontradas em uma conta do empresário. Segundo a corporação, ‘ficou robustecido existir uma relação pessoal entre a família do ex-presidente e o empresário.
“Inclusive, no ano de 2021, há evidências de uma possível visita do então Presidente à residência de MEYER NIGRI, ressaltando que o específico grupo de WhatsApp denominado “Empresários & Política”, objeto desta investigação, foi criado, supostamente, naquele ano”, narrou a PF.
COM A PALAVRA, O CRIMINALISTA ALBERTO ZACHARIAS TORON, QUE REPRESENTA MEYER NIGRI
“A decisão do ministro Alexandre de Moraes é surpreendente porque o Ministério Público Federal já havia pedido o arquivamento dessa investigação. Soa estranho que ele tenha feito isso agora, num controle da falta de justa causa, nos exatos termos do que disse, ou de forma assemelhada, o procurador-geral da República. Em relação ao sr. Meyer Nigri, vamos aguardar o desenvolvimento das investigações. Temos absoluta certeza de que ele não praticou crime algum contra o estado democrático de direito. Ele recebeu uma ou outra mensagem do presidente República e repassou para pouquíssimos grupos. Ele não tem Facebook, não tem Instagram, não tem nenhuma plataforma de disseminação em massa de notícias ou mensagens, não é uma pessoa que tinha envolvimento com disseminação de fake news. Eu tinha a impressão de que a investigação já havia deixado isso claro, mas agora percebo que o ministro quer aprofundar essas investigações e é bem-vindo esse aprofundamento. Não temos nada a esconder, ele colaborou amplamente com as investigações, se deslocou até Brasília para ser ouvido novamente e continua à disposição das autoridades.”
COM A PALAVRA, A DEFESA DE BOLSONARO
A reportagem busca contato com os advogados do ex-presidente. O espaço está aberto para manifestações.