O músico Michael Messias, terceiro preso por suspeita de envolvimento com o Hezbollah, grupo paramilitar xiita do Líbano, disse em depoimento à Polícia Federal (PF) que viajou a Beirute duas vezes com despesas pagas. A primeira, no final de 2022, foi para fazer turismo, segundo o depoimento, e a segunda a trabalho, para se apresentar. “Intercâmbio musical”, afirmou aos investigadores.
O suspeito narrou que, no ano passado, tocou em um casamento no Alto da Boa Vista, na zona oeste do Rio de Janeiro, onde “conheceu dois libaneses que se interessaram por sua música”. Um deles teria pago sua primeira viagem ao Líbano.
Messias afirma que não sabe quem custeou a segunda viagem. Ele sustenta que recebeu ligação pelo WhatsApp, de uma pessoa desconhecida, que teria se oferecido para pagar suas passagens e estadia. Os bilhetes e comprovante de reserva do hotel teriam sido encaminhados na sequência. Ao chegar no hotel, ele teria sido procurado por um homem, que não era brasileiro, e os dois teriam conversado apenas sobre o “intercâmbio musical”.
O Estadão apurou Michael Messias teria ligação com Mohammad Khir Adbulmajid, apontado como elo entre o Hezbollah e os brasileiros investigados.
Também na mira da PF, o nome de Mohammad está na lista de difusão vermelha - mais procurados - da Interpol. Segundo investigadores, ele estaria no Líbano.
Veja o depoimento
‘Proposta de negócio’ e rotina de viagens
Os dois primeiro presos pela PF na investigação negaram, em audiência de custódia na 5.ª Vara Federal Criminal de São Paulo, participação em planos terroristas.
Os presos são o autônomo Lucas Passos Lima, 35, detido no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, quando voltava do Líbano, e o técnico em plásticos Jean Carlos de Souza, 38, preso próximo a um hotel onde estava hospedado no centro da capital paulista.
Morador de Brasília, Lucas narrou que viajou ao Líbano porque recebeu uma proposta de “crescimento de negócio”. Ele contou que estudou até o oitavo ano e trabalha com regularização de imóveis, corretagem e venda de grãos.
Jean Carlos mora em Joinville (SC). Ele afirmou, na audiência de custódia, que vive uma rotina de viagens e, por isso, já foi parado e revistado inúmeras vezes pela Polícia Federal (PF), mas nunca sob acusação de terrorismo.
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Investigação
As primeiras informações divulgadas pela Polícia Federal indicam que os presos e outros brasileiros investigados planejavam ataques a prédios da comunidade judaica no Brasil. A PF afirma que sinagogas estavam sendo monitoradas e fotografadas.
O inquérito foi aberto a partir de um alerta dos serviços de inteligência dos Estados Unidos e de Israel. Como mostrou o repórter Marcelo Godoy, do Estadão, a general americana Laura Richardson havia alertado para “intenções malignas” do Hezbollah no Brasil.
A Operação Trapiche provocou uma crise entre o Ministério da Justiça e o embaixador de Israel em Brasília, Daniel Zonshine, que deu declarações públicas sobre a suposta presença de representantes do Hezbollah no Brasil. O ministro Flávio Dino reagiu e afirmou que “nenhuma força estrangeira manda na Polícia Federal” e que o caso está sob investigação.