Procuradores da Lava Jato Rio apuram indícios de suposta lavagem de dinheiro cometida pelo secretário de Transportes Metropolitanos de São Paulo, Alexandre Baldy, por meio de transações financeiras envolvendo sua esposa, Luana Barbosa. Quebras do sigilo bancário indicariam que o ex-ministro poderia estar usando seu núcleo familiar para ocultar propinas recebidas em crimes de corrupção.
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AS ACUSAÇÕES DA LAVA JATO CONTRA BALDYBaldy foi preso nesta quinta, 6, na Operação Dardanário, que mira propinas firmadas entre ele e empresários investigados por desvios no Rio. À noite, o secretário anunciou que se afastaria do governo João Doria por 30 dias para se concentrar em sua defesa.
As transações suspeitas envolvendo o núcleo familiar de Baldy incluem a compra de uma aeronave Breech Aircraft e uma casa em Brasília, a venda de um apartamento em São Paulo, movimentações de alto valor na conta do sogro de Baldy e duas operações de câmbio não declaradas.
"Os apontamentos do Relatório de Inteligência Financeira do COAF revelam indícios de que Alexandre Baldy pode estar utilizando seu núcleo familiar para ocultar valores oriundos dos crimes de corrupção e organização criminosa", afirmou a Lava Jato. "As suspeitas ficam ainda mais consistentes diante da análise dos dados fiscais e bancários".
No caso da aeronave, a quebra de sigilo apontou que Baldy pegou R$ 1,6 milhão emprestados da esposa, Luana Barbosa, em 2013 e, com o dinheiro, teria emprestado R$ 920 mil a dois sócios da AZ Participações LTDA, mesmo sem ter lastro financeiro.
O empréstimo aos sócios, contudo, não foi declarado em 2014 e só foi quitado em 2015, quando a dupla comprou uma aeronave Breech Aircraft para Luana Barbosa no valor de R$ 1,1 milhão. Naquele ano, Baldy afirmou que ainda devia R$ 600 mil à esposa, quitados em 2016.
Outro caso envolve a compra de uma casa em Brasília pelo valor de R$ 7,6 milhões. Segundo os procuradores, a quebra de sigilo de Luana e Baldy identificou que somente R$ 3,8 milhões foram transferidos das contas do casal para a vendedora do imóvel, 'restando um saldo de R$ 3.772.795,99 que não aparece no sistema bancário e que, portanto, pode ter sido pago por fora'.
A Lava Jato também apontou a venda de um apartamento de Baldy em São Paulo no valor de R$6,1 milhões à Constur Agropecuária. Extrato detalhado demonstrou que o secretário teria recebido, na verdade, R$ 8,5 milhões de duas empresas que são sócias direta e indiretamente da Constur.
Baldy é investigado por receber propinas de empresários ligados a desvio de verbas da saúde no Rio de Janeiro quando era secretário de Comércio do Estado de Goiás, em 2014, e ministro das Cidades, durante a gestão Michel Temer. Os pagamentos também seriam feitos ao seu primo, Rodrigo Dias, ex-presidente do FNDE no governo Jair Bolsonaro, que não foi localizado.
Entre os crimes investigados estão o recebimento de R$ 900 mil em propinas por direcionamento de contratação de R$ 4,5 milhões realizada pela Fiocruz e o repasse de R$ 500 mil em propinas em troca da regularização de pagamentos do Hospital HURSO, em Goiânia, que era administrado pela organização social Pró-Saúde - alvo da Lava Jato por desvio de verbas públicas do Rio.
Sogro. A Lava Jato também considerou suspeitas as 52 movimentações de alto valor registradas na conta de Marcelo Gonçalves, sogro de Alexandre Baldy. As transações de saques e depósitos envolviam valores em espécie superiores a R$ 100 mil, e foram realizados entre 2012 a 2017.
Os procuradores também apuram duas 'vultosas operações de câmbio não declaradas' pelo secretário realizadas em 2017 no valor total de R$ 1,1 milhão em uma loja de câmbio no aeroporto do Galeão, no Rio.
"Cotejando essas informações com os dados bancários de Alexandre Baldy, tem-se que essas transações não constam do sistema bancário oficial", afirma a Lava Jato. "Aliás, verifica-se que nos meses de julho e outubro de 2017, a movimentação total de recursos de Alexandre Baldy não alcançou débitos suficientes para se chegar aos valores constantes das aquisições de moeda estrangeira, do que se infere que a compra foi realizada possivelmente através de dinheiro em espécie, por fora do sistema bancário".
Ao pedir a prisão de Baldy, a Lava Jato descreveu trechos de delações, fotos, mensagens de WhatsApp, recibos e tabelas de despesas, além de e-mails e extratos de contas relacionadas à três situações ilícitas envolvendo Baldy e Rodrigo Dias.
Os argumentos e evidências apresentados pela Lava Jato fluminense à Justiça levaram o juiz Marcelo Bretas a autorizar parcialmente as medidas cautelares solicitadas. Na decisão, Bretas apontou que Alexandre Baldy 'adotou a prática habitual de cometimento de vários ilícitos penais ao longo dos seguidos cargos públicos que ocupou.