O Ministério Público Federal abriu prazo de dez dias para a Secretaria Especial de Comunicação (Secom) do governo Jair Bolsonaro explicar uma sequência de tuítes em que critica o humorista Marcelo Adnet, que no mês passado parodiou uma campanha do Planalto. O pedido foi enviado pela Procuradoria como forma de colher 'informações preliminares' para deliberar sobre a instauração de procedimento contra a pasta.
Documento
PROCURADORIA QUER EXPLICAÇÕESA Secom foi alvo de representações no MPF por direcionar uma sequência de tuítes para criticar Adnet, ferindo, em tese, o princípio da impessoalidade da administração pública. Uma das representações é assinada pelo senador Randolfe Rodriges (Rede-AP).
O caso ocorreu em setembro, quando Adnet gravou um vídeo satírico sobre a campanha 'Um povo heroico', estrelada pelo secretário de Cultura, Mário Frias, e destinada a ser uma homenagem do Planalto ao feriado de 7 de Setembro. Pelas redes sociais, a Secom criticou o humorista.
"Erramos. Acreditamos que seria possível unir todo o país em torno de bons valores e de bons exemplos. Afinal, ninguém é contra a bondade, o amor ao próximo, o sacrifício por inocentes, certo? Errado! Infelizmente, há quem prefira parodiar o bem e fazer pouco dos brasileiros", afirmou a pasta, publicando uma foto do humorista.
O prazo para o envio de informações foi aberto pelo procurador Felipe Fritz Braga, do Ministério Público Federal do Distrito Federal. Segundo ele, a medida tem como intuito 'colher informações preliminares a fim de deliberar sobre a instauração de procedimento próprio' contra a Secom.
O pedido consta em promoção de arquivamento parcial de uma representação que, além de pedir apurações contra a Secom, acusava o Ministério Público Federal de ser omisso em relação à 'perpetuação' de condutas da secretaria contra cidadãos e à imprensa. Como a competência para investigar membros do MPF cabe à Procuradoria-Geral da República, esta parte da representação foi arquivada.
'Mimimi'. No vídeo humorístico criticado pelo governo, Adnet também fez paródias com as figuras do presidente Jair Bolsonaro, do advogado Frederick Wassef e do ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz, investigado por suposta participação no esquema de 'rachadinhas' na Assembleia Legislativa do Rio.
Adnet respondeu à Secom declarando que o vídeo humorístico não foi direcionada ao povo brasileiro, mas ao governo federal, que 'em vez de trabalhar prefere perseguir seus próprios cidadãos'. O humorista ainda rebateu a secretária afirmando que Bolsonaro se elegeu sob a bandeira do 'fim do mimimi e do politicamente correto', mas não aguenta uma 'sátira'.
"Aos fatos: 1-se elegeram sob a bandeira do fim do mimimi e do politicamente correto mas não aguentam UMA SÁTIRA que vem chorar em perfil oficial! 2-A crítica não é ao povo, não força a barra. É AO GOVERNO FEDERAL que em vez de trabalhar prefere perseguir seus próprios cidadãos", escreveu Adnet.
COM A PALAVRA, A SECRETARIA ESPECIAL DE COMUNICAÇÃOA reportagem entrou em contato com a Secom e aguarda resposta. O espaço está aberto a manifestações (paulo.netto@estadao.com)