Atualizada às 19h06
Por Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba, Julia Affonso, Andreza Matais e Fausto Macedo
O Ministério Público Federal denunciou à Justiça nesta segunda feira, 16, o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Vaccari consta da lista de 27 alvos da nova denúncia da Procuradoria da República no âmbito da Lava Jato. É a primeira acusação formal contra Vaccari e também a primeira contra o ex-diretor da estatal, Renato Duque, preso nesta segunda feira, no Rio, na Operação 'Que País é esse?'.
A denúncia anunciada nesta segunda feira pela Procuradoria é relativa à Operação My Way, nona fase da Lava Jato, deflagrada em fevereiro. Um dos delatores da Lava Jato afirmou à Polícia Federal e à Procuradoria que Vaccari arrecadou até US$ 200 milhões para o PT.
"Temos evidências de que João Vaccari tinha consciência que esses pagamentos eram feitos a títulos de propinas", afirmou Deltan.
A força-tarefa constatou que Vaccari se encontrava com regularidade com Renato Duque, ex-diretor de Serviços da estatal petrolífera, "para acertar os valores devidos". O relato do empresário Eduardo Leite, vice-presidente da construtora Camargo Corrêa, foi decisivo para o oferecimento da denúncia contra o tesoureiro do PT. "Ele revelou que se encontrou com Vaccari e que este pediu doações oficiais eleitorais a título de propinas."
Também tiveram peso na acusação contra Vaccari, os depoimentos de quatro delatores da Lava Jato: Augusto Mendonça, Pedro Barusco (ex-gerente de Engenharia da Diretoria de Serviços da Petrobrás), Paulo Roberto Costa (ex-diretor de Abastecimento da estatal) e o doleiro Alberto Youssef.
O procurador Deltan Dallagnol ressalta que o Ministério Público Federal jamais fará denúncia com base exclusivamente em delações premiadas. O procurador, que coordena a força tarefa da Lava Jato, informou que foram apuradas doações para o diretório nacional do PT e outras para diretórios locais. Ele ressaltou que "não existe uma vinculação a determinadas campanhas".
Também está entre os denunciados o empreiteiro José Aldemário Pinheiro, o Léo Pinheiro, da OAS, o doleiro Alberto Youssef, e o operador de propinas Mário Góes. Em fevereiro, Vaccari foi conduzido coercitivamente à sede da Polícia Federal em São Paulo. Na ocasião, o tesoureiro do PT negou qualquer irregularidade. Seu advogado, Luiz Flávio Borges D'Urso, afirma que ele não praticou atos ilícitos e que está à disposição da Justiça.
O empresário Adir Assad é outro da lista de denunciados. Empresas de fachada por ele controladas teriam sido usadas pelo doleiro Youssef para dar fluxo a propinas a políticos do esquema montado na estrutura da Petrobrás entre 2003 e 2014.
COM A PALAVRA, JOÃO VACCARI NETO.
"O sr. Vaccari repudia as referências feitas por delatores a seu respeito, pois as mesmas não correspondem à verdade. A defesa do sr. João Vaccari Neto manifesta-se diante das informações veiculadas nesta data, as quais noticiam a apresentação de denúncia contra o sr. Vaccari, secretário de Finanças do PT, além de outras 26 pessoas, na 10ª fase da operação Lava Jato, deflagrada nesta segunda-feira.
Embora ainda não se tenha ciência dos termos da denúncia, torna-se importante reiterar que o sr. Vaccari não participou de nenhum esquema para recebimento de propina ou de recursos de origem ilegal destinados ao PT. Ressaltamos que causa estranheza o fato de que o sr. Vaccari não ocupava o cargo de tesoureiro do PT no período citado pelos procuradores, durante entrevista no dia de hoje, uma vez que ele assumiu essa posição apenas em fevereiro de 2010.
O sr. Vaccari repudia as referências feitas por delatores a seu respeito, pois as mesmas não correspondem à verdade. Ele não recebeu ou solicitou qualquer contribuição de origem ilícita destinada ao PT, pois as doações solicitadas pelo sr. Vaccari foram realizadas por meio de depósitos bancários, com toda a transparência e com a devida prestação de contas às autoridades competentes.
O sr. Vaccari permanece à disposição das autoridades para todos os esclarecimentos necessários, como sempre esteve desde o início dessa investigação.
São Paulo, 16 de março de 2015
Prof. Dr. Luiz Flávio Borges D'Urso"
VEJA A LISTA DOS DENUNCIADOS PELA PROCURADORIA