Imperdível a leitura do livro “O mutirão das árvores: queremos sombra e água fresca”, do educador e grande pensador Cláudio de Moura Castro. A proposta é objetiva e explícita: “Este livro é muito simples e ao mesmo tempo muito pretensioso: propõe nada menos do que inundar o Brasil de árvores. Sem desprezar o deleite de uma boa sombra, trata-se de responder de forma contundente à escassez generalizada de água e ao aquecimento global. Embora não seja o único caminho a ser trilhado, a tese é persuasiva: plantar árvores é o melhor remédio para esses males”.
A partir dessa proposta, ele oferece uma delícia de leitura. Dedica a primeira parte a demonstrar que o problema ambiental é maior do que parece. Um dos grandes desafios do Brasil de nossos dias é que falta água e sobra fogo. Discorre sobre a nossa vocação de “plantar desertos” e indica a alternativa ao caos: consumir menos, usar energias limpas e sequestrar carbono. Propicia uma reflexão a respeito de como reduzir o estrago causado à Terra. Indaga se precisamos consumir tanto. Aborda a era da reciclagem, indica a necessidade de maior eficiência no uso da energia, mostra o potencial das energias menos poluentes e evidencia que sequestrar carbono com a preservação de florestas é não só o melhor negócio, como a única alternativa hoje oferecida à humanidade.
Reflorestar esta Pátria que já destruiu boa parte de sua exuberante cobertura vegetal não é missão muito fácil. Mas não é impossível. Lidar com florestas é uma ciência e uma arte. O Brasil tem condições excepcionais para se tornar um oásis na era dos fenômenos extremos, se levar a sério o compromisso de reverter o saque contra o verde. O manejo florestal é a galinha dos ovos de ouro destes tempos. Existe uma quantidade imensa de glebas degradadas. Reflorestar é a solução.
O livro de Cláudio de Moura Castro invoca a ciência, mas é uma conclamação a que todos participem dessa empreitada salvífica. Pois existem ferramentas para cuidar de nossas florestas. Essencial o papel da educação, para que a sociedade se conscientize de que é parte relevante do problema, porém está em suas mãos converter-se em solucionadora.
É preciso apaixonar-se pela causa. Os ecologistas, os ambientalistas, os humanistas, são aqueles que se apaixonam pela natureza e se reconhecem dela integrantes. A cada qual é reservado um papel. Não é desprezível o trabalho anônimo, discreto, de formiguinha, de cidadãos que se encarregam de devolver ao ambiente as espécies dele exterminadas. O Estado, nesse caso, seria o Maestro de uma grande orquestra, que não pode desafinar. Pois ao lado da atuação individual, é preciso obter o engajamento das empresas, da Universidade, da Igreja, da mídia e da sociedade civil.
Já existem boas iniciativas e a cultura ESG pode se tornar um gatilho eficiente para deflagrar boas ações. O voluntariado é poderoso elemento de transformação da sociedade e da vida. No prefácio escrito por Alysson Paolinelli (1936-2023), pouco antes de falecer, vê-se como o entusiasmo de Cláudio contaminou o ex-Ministro da Agricultura: “Até que enfim surge uma ideia que vai se transformando em ação pela grande mobilização de todas as forças vivas que estão dispostas a ajudar. Trata-se não só de recompor os estragos anteriormente feitos, mas também de se criar uma mentalidade em nossa juventude e em todos os brasileiros que querem ver este país cada dia melhor”.
Paolinelli menciona que o projeto surgiu em uma das reuniões do Fórum do Futuro, quando o grupo da Conspiração Mineira pela Educação sugeriu a apresentação de uma proposta para se fazer, no Brasil, o maior plantio de árvores tropicais do mundo. A ideia é envolver escolas, pequenos, médios e grandes produtores, suas organizações e associações, sindicatos, cooperativas e tudo que seja possível mobilizar, no campo e na cidade. O empresário Evando Neiva e sua filha Helena Neiva assumiram a coordenação desse verdadeiro sonho, plenamente concretizável e imprescindível para que o Brasil reassuma a sua liderança ecológica no contexto mundial.
Mas o primeiro passo de quem se preocupa com aquilo que tem acontecido e que continuará a ocorrer, com frequência e intensidade maiores, é a leitura de “O mutirão das árvores: queremos sombra e água fresca”, de Cláudio de Moura Castro. O respeitado e lúcido educador reitera, várias vezes em sua obra, que seu livro “proclama que todos deveríamos plantar árvores ou participar de esforços para fazê-lo. Suponhamos que minhas pregações tenham o poder de levar algum leitor a tomar a decisão: vou plantar”. E quem se dispuser a ler essa delícia de livro se transformará, obrigatoriamente, num criador de florestas, de tanto entusiasmo que deflui de um texto excepcionalmente claro e sedutor.