São Paulo preza sua gente, mas recebe carinhosamente os que a escolhem para viver. Um desses paulistas de coração foi Francisco Rangel Pestana, que nasceu em Iguaçu, no Rio de Janeiro, aos 26 de novembro de 1839.
Matriculou-se na São Francisco em 1859 e desde logo mostrou pendores para o jornalismo. Em 1860 redigiu “O Lírio”, jornalzinho de variedades, com Quirino dos Santos e Barros Júnior. Em 1861, redator de “O Timbira”, jornal político e literário. Em 1862, ao lado de Teófilo Otoni e José Cesário de Faria Alvim, edita “O Futuro”. Em 1863, colabora em “A Época”, ambas publicações de cunho liberal.
Suas qualidades eram reconhecidas pelos contemporâneos. Peçanha Póvoa testemunhou seu ardor, entusiasmo e sentimentos. Considerava-o “o infatigável, o mais fanático dos escritores políticos de nosso tempo e um dos mais adiantados na história política contemporânea”. No “Correio Paulistano” de 17.5.1863, outro colega, Teodomiro Alves Pereira, a ele se referiu como “Rangel Pestana: fronte sombria, natureza misteriosa, talento pronto, convicção até à morte”. No Rio, Zacarias de Góes o convidou para ser redator do “Diário Oficial”.
Com a saúde frágil e comprometida pelas madrugadas na redação, veio a residir em Campinas em 1870. Advogou, foi professor, pronunciou conferências e se casou com Damiana Quirino dos Santos, irmã de seu colega de turma Francisco Quirino dos Santos. O casal teve treze filhos. Além do escritório de advocacia, mantinha uma “Escola do Povo”, onde educava a juventude sem cobrar mensalidades. Posteriormente cria, com sua esposa, uma escola que teve de fechar em 1879, por insuficiência de recursos. Deu aulas no célebre “Colégio Florence”.
Abolicionista convicto, libertou todos os escravos que lhe couberam por herança e os que sua mulher possuía em Campinas. Republicano ativo, foi eficiente propagandista do novo regime.
Fundou “A Província de São Paulo”, concretização de uma ideia que já fora tratada na Convenção de Itu, em 1873.
Para isso, criou-se uma associação comanditária de republicanos, cujos maiores cotistas e simultaneamente redatores principais eram Francisco Rangel Pestana e Américo de Campos. O primeiro número de “A Província de São Paulo”, depois convertida em “O Estado de São Paulo”, foi publicado numa segunda-feira, 4 de janeiro de 1875.
Rangel Pestana esteve à testa do “Estadão” durante mais de três lustros. Foi redator e diretor. Escrevia com clareza e critério. Abordava assuntos úteis à sociedade.
Diziam que não tinha estilo. O acadêmico de direito Lúcio de Mendonça, revisor do jornal em 1875, afirmou anos mais tarde: “o que lhe fata, mas absolutamente, é gosto estético imaginação artística. Deixa no jornalismo pátrio, em que tem consumido a vida, monumentos de doutrina política. Não deixa uma única página literária. Fora da imprensa, em sido como peixe fora d’água – um deslocado”.
Seja como for, Rangel Pestana exerceu papel de realce na política. Foi deputado provincial durante a Monarquia. Logo após à proclamação da República, integrou, com Prudente de Morais e o coronel Sousa Mursa, o governo provisório de São Paulo.
Senador em 1890, trabalhou com a comissão incumbida de apresentar projeto de Constituição da República. E a primeira Constituição Republicana é, realmente, uma obra prima. Ele foi um de seus signatários. Em virtude de tal convocação, foi para Petrópolis e se afastou da direção de “O Estado de São Paulo”. Mas imprimia diretrizes à distância.
Desiludiu-se com a República, principalmente com a dissolução do Congresso por Deodoro da Fonseca. O segundo Marechal, Floriano Peixoto, o convida para ser Ministro do Supremo Tribunal Federal, mas Rangel declina. Quantos brasileiros teriam o desprendimento de recusar uma nomeação automática, eis que o Senado apenas procede a uma entrevista encomiástica do indicado pelo Presidente da República?
Assumiu, em 1895, a presidência do Banco do Brasil. Em 1899, foi eleito deputado federal e senador, pelo Rio de Janeiro. Foi vice-Presidente daquele Estado. Sua folha de serviços é robusta e intensa. Não por outro motivo, a avenida Rangel Pestana é uma das artérias mais importantes da megalópole chamada São Paulo.
Eleito vereador, volta para São Paulo em 1896 e fixa definitiva residência na capital bandeirante, onde falece no dia 17 de março de 1903. Está sepultado no Cemitério da Consolação.
*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras