O material apreendido pela Polícia Federal (PF) em endereços ligados ao empresário Andreson de Oliveira Gonçalves, o “lobista dos tribunais”, na Operação Ultima Ratio, é considerado essencial para avançar nas investigações sobre gabinetes de ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
A partir dos documentos e aparelhos eletrônicos recolhidos em seis endereços comerciais e residenciais ligados ao lobista, a Polícia Federal espera reconstituir a rede de influência dele em Brasília.
Os investigadores acreditam que o empresário tinha acesso privilegiado a gabinetes do STJ. A PF suspeita que ele “vendia” a influência a advogados e clientes interessados em comprar decisões. A Polícia Federal busca identificar agora quem teria recorrido aos “serviços” do lobista.
Conversas encontradas no celular do advogado Roberto Zampieri, assassinado a tiros em dezembro de 2023, na porta de seu escritório em Cuiabá, colocaram o empresário na mira da PF.
Em uma das mensagens, o advogado se refere a Andreson como o “rapaz de Brasília”. Roberto Zampieri pede ajuda do lobista para descobrir se havia investigações contra o desembargador Sebastião de Moraes Filho, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, em curso no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e no STJ.
“No CNJ ainda não entrou com nada, todos avisando já. Se entra, a gente organiza”, responde Gonçalves.
O desembargador foi afastado do cargo por suspeita de vender decisões.
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A Polícia Federal encontrou outra evidência de que o empresário tem bom trânsito em Brasília. Ele compartilhou com o desembargador Marcos José de Brito Rodrigues, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, documentos de um inquérito e de uma ação penal sigilosos que tramitam no STJ.
O ministro Francisco Falcão, relator da Operação Última Ratio no STJ, classificou como de “extrema gravidade” o fato de o lobista repassar ao desembargador dados referentes a um processo fechado e da alçada do Superior Tribunal de Justiça. Falcão assinalou que “o empresário não figura como investigado naqueles autos”.
O inquérito mostra que Andreson também está ligado a outro personagem da Operação Ultima Ratio, o advogado Félix Jayme Nunes da Cunha, que teria negociado decisões junto a desembargadores do Tribunal de Mato Grosso do Sul.
Uma empresa do lobista, a Florais Transportes, transferiu R$ 1,1 milhão ao advogado em 2017. Segundo a PF, a maior parte do dinheiro foi sacada em operações fracionadas para não alertar órgãos de investigação e controle financeiro. A suspeita é que os valores tenham sido repassados para a compra de sentenças.
O Superior Tribunal de Justiça abriu um procedimento administrativo disciplinar sobre dois servidores citados nas investigações da PF. Segundo a Corte, até o momento, “não há qualquer indício de envolvimento de ministros”.