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Relatório final do acordo de reparação da Volks conclui que houve participação direta da montadora na perseguição política da ditadura; leia documento


"A Volkswagen estabeleceu por disposição própria uma intensa relação de contribuição com os órgãos da repressão política, muito além dos limites da fábrica", diz documento; empresa começou a pagar multa de R$ 36,3 milhões por apoio aos porões do regime militar

Por Rayssa Motta

Após quase seis anos de trabalho e no dia em que o golpe de 31 de março de 1964 completa 57 anos, a força-tarefa formada por representantes dos Ministérios Públicos Federal, de São Paulo e do Trabalho divulgou a versão final do relatório sobre a participação da Volkswagen na ditadura militar no Brasil (1964-1985).

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O documento, que esclarece em detalhes o papel da montadora alemã no regime de exceção, faz parte do acordo firmado com a empresa para garantir a reparação judicial pela anuência a violações aos direitos humanos. Em troca do pagamento de uma multa de R$ 36,3 milhões e do reconhecimento da participação no aparato repressor da ditadura, a investigação do caso foi arquivada sem ações judiciais contra a empresa.

O relatório foi produzido a partir do trabalho de dois pesquisadores externos: o cientista político Guaracy Mingardi, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), convidado pelos Ministérios Públicos, e o professor Christopher Kopper, da Universidade de Bielefeld, na Alemanha, contratado pela própria Volkswagen.

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Cavalaria da PM cerca a empresa em São Bernardo do Campo durante paralisação em 1979 Foto: Estadão

A partir das frentes de pesquisa, os investigadores concluíram que participação da Volks no regime militar girou em torno de três eixos. O primeiro começa com engajamento no golpe: a montadora teria ajudado materialmente na implantação da Operação Bandeirante (Oban), que funcionou como o primeiro aparato repressor criado pelos militares, uma espécie de 'projeto-piloto' dos métodos que viriam a ser desenvolvidos.

O segundo eixo foi a colaboração com os órgãos de repressão, com conhecimento da presidência da empresa. A segurança industrial da montadora e a polícia política do regime militar trabalharam juntos na troca de informações. Materiais considerados subversivos eram confiscados e funcionários tidos como suspeitos delatados, o que teria levado ao menos empregados da fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, à prisão sem que as famílias fossem comunicadas, já que os paradeiros eram ocultados pela montadora.

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A empresa também teria condenado diversos empregados demitidos por suspeita de envolvimento em atividades políticas ao desemprego permanente. Isso porque seus nomes passaram a constar nas 'listas sujas' trocadas pela Volkswagen com empregadores.

Fuscas, carros fabricados pela Volks, na avenida Conselheiro Carrão em 1972. Foto: Sérgio Araki/Estadão
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Por fim, a Volks teria participado da repressão a organizações de trabalhadores, sobretudo nas greves de 1978 a 1980, quando, pela primeira vez desde o golpe, os metalúrgicos de São Paulo tiveram sucesso na articulação por reivindicações de classe. De acordo com o relatório, a montadora agiu para criminalizar lideranças sindicais, colaborando com a polícia política para reprimir o movimento. A empresa teria, por exemplo, mobilizado funcionários armados para as alas grevistas e desligado a rede de telefonia para impedir a comunicação entre os manifestantes.

"Essa cooperação foi muito além de mero suporte por simpatia política ou da defesa dos interesses comerciais da companhia. A empresa, por decisão de sua alta direção no Brasil e conivência da direção da matriz na Alemanha, se envolveu diretamente na perseguição política a opositores do regime ditatorial", diz um trecho do relatório final. "Está claro que a Volkswagen estabeleceu por disposição própria uma intensa relação de contribuição com os órgãos da repressão política, muito além dos limites da fábrica. A empresa demonstrou vontade de participar do sistema repressivo, sabendo que submetia seus funcionários a risco de prisões ilegais e tortura".

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DOPS, no centro de São Paulo: temível polícia política dos anos de chumbo. Foto: Arquivo/Estadão

"Adotou-se a prática rotineira de delatar trabalhadores e trabalhadoras aos órgãos de polícia política, expondo-os conscientemente a prisões ilegais e tortura. Facilitou-se a realização deprisões ilegais nas dependências da companhia, assim como a perpetração de atos de tortura física e psíquica dentro de seus escritórios. O departamento de segurança institucional da empresa agia como um longa manus da polícia política, conduzindo interrogatórios, inquéritos e investigações, mesmo fora das dependências da empresa. A cumplicidade chegou ao ponto de a empresa participar intelectual e materialmente da criação de falsas versões sobre o paradeiro de trabalhadores, ludibriando as famílias, quando se sabia que os funcionários se encontravam presos e submetidos à tortura", informa ainda o documento.

Após quase seis anos de trabalho e no dia em que o golpe de 31 de março de 1964 completa 57 anos, a força-tarefa formada por representantes dos Ministérios Públicos Federal, de São Paulo e do Trabalho divulgou a versão final do relatório sobre a participação da Volkswagen na ditadura militar no Brasil (1964-1985).

O documento, que esclarece em detalhes o papel da montadora alemã no regime de exceção, faz parte do acordo firmado com a empresa para garantir a reparação judicial pela anuência a violações aos direitos humanos. Em troca do pagamento de uma multa de R$ 36,3 milhões e do reconhecimento da participação no aparato repressor da ditadura, a investigação do caso foi arquivada sem ações judiciais contra a empresa.

O relatório foi produzido a partir do trabalho de dois pesquisadores externos: o cientista político Guaracy Mingardi, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), convidado pelos Ministérios Públicos, e o professor Christopher Kopper, da Universidade de Bielefeld, na Alemanha, contratado pela própria Volkswagen.

Cavalaria da PM cerca a empresa em São Bernardo do Campo durante paralisação em 1979 Foto: Estadão

A partir das frentes de pesquisa, os investigadores concluíram que participação da Volks no regime militar girou em torno de três eixos. O primeiro começa com engajamento no golpe: a montadora teria ajudado materialmente na implantação da Operação Bandeirante (Oban), que funcionou como o primeiro aparato repressor criado pelos militares, uma espécie de 'projeto-piloto' dos métodos que viriam a ser desenvolvidos.

O segundo eixo foi a colaboração com os órgãos de repressão, com conhecimento da presidência da empresa. A segurança industrial da montadora e a polícia política do regime militar trabalharam juntos na troca de informações. Materiais considerados subversivos eram confiscados e funcionários tidos como suspeitos delatados, o que teria levado ao menos empregados da fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, à prisão sem que as famílias fossem comunicadas, já que os paradeiros eram ocultados pela montadora.

A empresa também teria condenado diversos empregados demitidos por suspeita de envolvimento em atividades políticas ao desemprego permanente. Isso porque seus nomes passaram a constar nas 'listas sujas' trocadas pela Volkswagen com empregadores.

Fuscas, carros fabricados pela Volks, na avenida Conselheiro Carrão em 1972. Foto: Sérgio Araki/Estadão

Por fim, a Volks teria participado da repressão a organizações de trabalhadores, sobretudo nas greves de 1978 a 1980, quando, pela primeira vez desde o golpe, os metalúrgicos de São Paulo tiveram sucesso na articulação por reivindicações de classe. De acordo com o relatório, a montadora agiu para criminalizar lideranças sindicais, colaborando com a polícia política para reprimir o movimento. A empresa teria, por exemplo, mobilizado funcionários armados para as alas grevistas e desligado a rede de telefonia para impedir a comunicação entre os manifestantes.

"Essa cooperação foi muito além de mero suporte por simpatia política ou da defesa dos interesses comerciais da companhia. A empresa, por decisão de sua alta direção no Brasil e conivência da direção da matriz na Alemanha, se envolveu diretamente na perseguição política a opositores do regime ditatorial", diz um trecho do relatório final. "Está claro que a Volkswagen estabeleceu por disposição própria uma intensa relação de contribuição com os órgãos da repressão política, muito além dos limites da fábrica. A empresa demonstrou vontade de participar do sistema repressivo, sabendo que submetia seus funcionários a risco de prisões ilegais e tortura".

DOPS, no centro de São Paulo: temível polícia política dos anos de chumbo. Foto: Arquivo/Estadão

"Adotou-se a prática rotineira de delatar trabalhadores e trabalhadoras aos órgãos de polícia política, expondo-os conscientemente a prisões ilegais e tortura. Facilitou-se a realização deprisões ilegais nas dependências da companhia, assim como a perpetração de atos de tortura física e psíquica dentro de seus escritórios. O departamento de segurança institucional da empresa agia como um longa manus da polícia política, conduzindo interrogatórios, inquéritos e investigações, mesmo fora das dependências da empresa. A cumplicidade chegou ao ponto de a empresa participar intelectual e materialmente da criação de falsas versões sobre o paradeiro de trabalhadores, ludibriando as famílias, quando se sabia que os funcionários se encontravam presos e submetidos à tortura", informa ainda o documento.

Após quase seis anos de trabalho e no dia em que o golpe de 31 de março de 1964 completa 57 anos, a força-tarefa formada por representantes dos Ministérios Públicos Federal, de São Paulo e do Trabalho divulgou a versão final do relatório sobre a participação da Volkswagen na ditadura militar no Brasil (1964-1985).

O documento, que esclarece em detalhes o papel da montadora alemã no regime de exceção, faz parte do acordo firmado com a empresa para garantir a reparação judicial pela anuência a violações aos direitos humanos. Em troca do pagamento de uma multa de R$ 36,3 milhões e do reconhecimento da participação no aparato repressor da ditadura, a investigação do caso foi arquivada sem ações judiciais contra a empresa.

O relatório foi produzido a partir do trabalho de dois pesquisadores externos: o cientista político Guaracy Mingardi, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), convidado pelos Ministérios Públicos, e o professor Christopher Kopper, da Universidade de Bielefeld, na Alemanha, contratado pela própria Volkswagen.

Cavalaria da PM cerca a empresa em São Bernardo do Campo durante paralisação em 1979 Foto: Estadão

A partir das frentes de pesquisa, os investigadores concluíram que participação da Volks no regime militar girou em torno de três eixos. O primeiro começa com engajamento no golpe: a montadora teria ajudado materialmente na implantação da Operação Bandeirante (Oban), que funcionou como o primeiro aparato repressor criado pelos militares, uma espécie de 'projeto-piloto' dos métodos que viriam a ser desenvolvidos.

O segundo eixo foi a colaboração com os órgãos de repressão, com conhecimento da presidência da empresa. A segurança industrial da montadora e a polícia política do regime militar trabalharam juntos na troca de informações. Materiais considerados subversivos eram confiscados e funcionários tidos como suspeitos delatados, o que teria levado ao menos empregados da fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, à prisão sem que as famílias fossem comunicadas, já que os paradeiros eram ocultados pela montadora.

A empresa também teria condenado diversos empregados demitidos por suspeita de envolvimento em atividades políticas ao desemprego permanente. Isso porque seus nomes passaram a constar nas 'listas sujas' trocadas pela Volkswagen com empregadores.

Fuscas, carros fabricados pela Volks, na avenida Conselheiro Carrão em 1972. Foto: Sérgio Araki/Estadão

Por fim, a Volks teria participado da repressão a organizações de trabalhadores, sobretudo nas greves de 1978 a 1980, quando, pela primeira vez desde o golpe, os metalúrgicos de São Paulo tiveram sucesso na articulação por reivindicações de classe. De acordo com o relatório, a montadora agiu para criminalizar lideranças sindicais, colaborando com a polícia política para reprimir o movimento. A empresa teria, por exemplo, mobilizado funcionários armados para as alas grevistas e desligado a rede de telefonia para impedir a comunicação entre os manifestantes.

"Essa cooperação foi muito além de mero suporte por simpatia política ou da defesa dos interesses comerciais da companhia. A empresa, por decisão de sua alta direção no Brasil e conivência da direção da matriz na Alemanha, se envolveu diretamente na perseguição política a opositores do regime ditatorial", diz um trecho do relatório final. "Está claro que a Volkswagen estabeleceu por disposição própria uma intensa relação de contribuição com os órgãos da repressão política, muito além dos limites da fábrica. A empresa demonstrou vontade de participar do sistema repressivo, sabendo que submetia seus funcionários a risco de prisões ilegais e tortura".

DOPS, no centro de São Paulo: temível polícia política dos anos de chumbo. Foto: Arquivo/Estadão

"Adotou-se a prática rotineira de delatar trabalhadores e trabalhadoras aos órgãos de polícia política, expondo-os conscientemente a prisões ilegais e tortura. Facilitou-se a realização deprisões ilegais nas dependências da companhia, assim como a perpetração de atos de tortura física e psíquica dentro de seus escritórios. O departamento de segurança institucional da empresa agia como um longa manus da polícia política, conduzindo interrogatórios, inquéritos e investigações, mesmo fora das dependências da empresa. A cumplicidade chegou ao ponto de a empresa participar intelectual e materialmente da criação de falsas versões sobre o paradeiro de trabalhadores, ludibriando as famílias, quando se sabia que os funcionários se encontravam presos e submetidos à tortura", informa ainda o documento.

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