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Acampamento em frente ao QG do Exército era 'centro de construção de planos contra a democracia', diz interventor da Segurança Pública do DF


Por Pepita Ortega
Radicais invadiram sedes do Supremo, Planalto e Congresso. Foto: Wilton Júnior/Estadão

O interventor federal na Segurança Pública do Distrito Federal Ricardo Cappelli afirmou na manhã desta sexta-feira, 27, que o acampamento montado em frente ao QG do Exército em Brasília teve 'centralidade' nos atos golpistas do dia 8, quando bolsonaristas invadiram e depredaram as sedes dos três Poderes. Cappelli, que também é secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, indicou que 'todos os atos de vandalismo tiveram organização, planejamento ou ponto de apoio' no acampamento. "Virou um centro de construção de planos contra a democracia", afirmou.

O interventor ressaltou ainda que 'não houve plano operacional e sequer ordem de serviço' para conter os atos golpistas. Segundo Cappelli, houve falha, uma vez que relatório de inteligência da Secretaria de Segurança do DF - entregue ao gabinete do então chefe, Anderson Torres no dia 6 - apontou 'ameaça concreta' de invasão aos prédios públicos. No entanto, não houve 'desdobramento operacional adequado, com um plano detalhado', ressaltou o interventor.

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"Não faltou informação. Na sexta o gabinete do secretário recebeu a informação. Há memória de uma reunião no próprio dia 6, na qual existia uma insegurança, mas não com a contundência do relatório feito às 17h do dia 6", ponderou.

Torres aprovou um Plano de Ações Integradas para o dia 8, mas, segundo Cappelli, as diretrizes estabelecidas em tal documento devem gerar, nas unidades um desdobramento operacional, os planos operacionais ou ordens de serviço. "No evento do dia 8, isso não aconteceu. Não há um registro de quantos homens iriam a campo. Houve apenas um repasse burocrático para algumas unidades pelo departamento de operações", explicou.

Nas palavras de Cappelli, 'nas melhores das hipóteses, faltou comando e responsabilidade' na atuação das autoridades do DF contra os golpistas no dia 8. Ainda de acordo com o interventor, o 'conjunto de coincidências' identificado durante as apurações sobre o ocorrido no dia 8, pode caracterizar, sob os olhos da Justiça, 'algo muito pior' quanto à conduta dos responsáveis pela Segurança Pública do DF.

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Segundo o interventor, uma série de 'questões operacionais' das forças de segurança do DF 'corroboraram a ausência de um planejamento adequado em consonância com a informação que existia' - o relatório que descrevia 'tudo o que poderia acontecer' no dia 8. Cappelli diz após a edição do documento, apontando de forma 'contundente' os riscos do evento, foi elaborado 'apenas um memorando, que não acionou batalhões importantes, que sequer foram acionados'. Ele falou em 'falha operacional' e 'ausência de planejamento'.

O secretário-executivo do MJSP apontou, por exemplo, que o efeito mobilizado para área central e Esplanada no dia 8, de 555 homens, era relativo a uma 'rotina ordinária' da Polícia Militar. Ainda de acordo com Cappelli, vídeos mostram que não havia metade de tal efetivo na Esplanada, não guardando 'correspondência' com alerta feito ao gabinete de Torres no dia 6. O secretário executivo do MJSP destacou que parte dos comandantes dos Batalhões 'importantes' da PM - ao menos oito líderes - estavam de férias no dia 8.

O interventor indicou também que a barreira montada pelas forças de segurança não era 'condizente com o alarme' que existia. Segundo ele, vídeos mostram uma ação organizada e 'profissional' dos golpistas, inclusive com uso de radio comunicadores. "É impressionante como em um momento todos se levantam e puxam a linha de gradis, que cai de ponto a ponto. Há um movimento coordenado", disse.

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Cappelli ainda anotou que, entre o momento em que os golpistas deixaram o acampamento em frente ao QG do Exército e o minuto em que houve a quebra da linha de contenção da PM, houve 'tempo suficiente' para o acionamento de mais tropas que dessem suporte ao efetivo, considerando a 'clara intenção' dos 'manifestantes. No entanto, o acionamento de reforço só ocorreu posteriormente e, quando as tropas chegaram à Esplanada, os três Poderes já haviam sido invadidos.

"Acho que são muitas coincidências juntas. E você percebe uma escalada. A bomba. A diplomação", anotou Cappelli, ressalvando que é necessário coletar provas sobre o ocorrido no dia 8. "Conspiração não passa recibo, não é fácil você provar. É usual as pessoas todas tirarem férias em janeiro? Muita gente tira férias em janeiro. É razoável, numa escalada de movimentos, como a gente vinha assistindo, com a tensão subindo, todo mundo tirar férias junto? Não me parece", completou.

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O interventor também chamou atenção para a 'dispensa-recompensa' do chefe do departamento de operação da PMDF no dia dos atos golpistas. Segundo o interventor, o departamento é uma 'peça central', uma vez não desdobrou o plano de ações aprovado por Torres em plano operacional ou ordem de serviço, 'nem comandou a mobilização condizente com a informação que existia', sobre a possibilidade de invasão das sedes dos Poderes.

Acampamento em frente ao QG do Exército

Ao apontar a 'centralidade' do acampamento bolsonarista montado em frente ao QG do Exército em Brasília, Cappelli destacou que foram registradas 73 ocorrências policiais no local, entre elas roubos e furtos. Segundo o interventor, trata-se de um ambiente 'onde circularam criminosos'. "Todos os eventos, o do dia 12 de dezembro, da diplomação, a tentativa de explosão de bomba, de bloqueio do aeroporto, todos passam de uma forma ou de outra pelo acampamento. Acampamento criminoso que perturbou a ordem publica no Distrito Federal", ponderou.

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Segundo o secretário executivo do MJSP não se tratava de um acampamento comum - 'porque acampamento não tem cozinha montada, infraestrutura de banheiros químicos, geradores'. A Procuradoria-Geral da República indicou que o local contava com espaço para massoterapia e sala para teatro de fantoches. Foi montada uma 'minicidade golpista' em frente o QG, indicou Capelli.

Ainda de acordo com o interventor, foi constatado que as forças policiais tentaram fazer incursões no acampamento, com mobilizações para operações canceladas às vésperas das ofensivas por 'ponderações feitas pelo comando militar do Planalto'. "Houve tentativas de policias do DF para tentar agir, mas não tiveram êxito", ponderou. Segundo Cappelli, os atos golpistas do dia 8 são 'fruto de uma escalada de eventos que começam logo após as eleições'.

Conduta do ex-comandante da PM, preso

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Com relação à atuação do ex-comandante da Polícia Militar do DF, Fábio Augusto Vieira, o interventor na Segurança Pública ponderou que o coronel estava em campo 'desde cedo' e que 'há relatos da preocupação com relação ao aumento de contingente' de policiais no dia dos atos golpistas. Para Cappelli, Vieira 'tentou defender as linhas, o Congresso Nacional, mas apesar das tentativas' seus apelos e ordens dão foram atendidos.

Após a indicação, o interventor chegou a fazer uma ponderação sobre a hierarquia e disciplina nas forças militares. " Se existe dificuldade em manter a hierarquia e disciplina nas forças militares, quem tem que zelar primeiro é o Poder Público, que não pode politizar indicações nas forças de segurança. Na hora que a polícia é politizada pelo Poder Público, quem assume o comando tem sua capacidade de comandar seriamente atingida", ponderou.

Questionado, Cappelli negou ter feito defesa de Vieira, afirmando 'citar fatos'. "O que me pareceu é que ele (Vieira), no campo e no dia (8) perdeu a capacidade de comando. Ele não tinha comando sobre quem ele deveria comandar e talvez essa tenha sido a falha mais grave dele", ponderou.

O ex-comandante da PMDF está preso por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. A prisão preventiva foi decretada com base em 'fortes indícios' de 'conivência' com os atos golpistas em Brasília. 

'Instabilidade' causada por Torres, exonerações e inquéritos sobre a conduta de PMs

Durante a coletiva, Cappelli informou que seis coronéis da PMDF que estavam em posições de comando no dia 8 foram exonerados. Além disso, também foram dispensados todos os quadros da Secretaria de Segurança Pública que haviam sido nomeados pelo ex-secretário de Segurança Pública do DF Anderson Torres - atualmente preso. Segundo o secretário executivo do MJSP, 'ficou claro o impacto da posse de Torres no dia 2' na SSP - "da instabilidade que gerou na secretaria com as exonerações, com trocas. Logo depois ele viaja. O gabinete recebe um relatório de inteligência e ele não tem nenhum desdobramento. Não é uma questão burocracia, mas de comando".

O interventor também registrou que foram instaurados inquéritos policiais militares sobre a atuação de agentes de segurança durante os atos golpistas. Eles apuram: a conduta de agentes do choque, que não impediram a entrada de golpistas no Congresso; a postura de policiais flagrados conversando e tirando fotos com radicais; a responsabilidade do ex-comandante da PMDF e de comandantes operacionais; o envolvimento de policiais militares na arrecadação de dinheiro em serviço de segurança privada no acampamento em frente ao QG do Exército; a conduta de PMs que derrubaram um 'manifestante' no Planalto; e sobre as imagens divulgadas pelo STF, em que policiais permitem a passagem de radicais que vandalizaram o Plenário da Corte máxima.

Radicais invadiram sedes do Supremo, Planalto e Congresso. Foto: Wilton Júnior/Estadão

O interventor federal na Segurança Pública do Distrito Federal Ricardo Cappelli afirmou na manhã desta sexta-feira, 27, que o acampamento montado em frente ao QG do Exército em Brasília teve 'centralidade' nos atos golpistas do dia 8, quando bolsonaristas invadiram e depredaram as sedes dos três Poderes. Cappelli, que também é secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, indicou que 'todos os atos de vandalismo tiveram organização, planejamento ou ponto de apoio' no acampamento. "Virou um centro de construção de planos contra a democracia", afirmou.

O interventor ressaltou ainda que 'não houve plano operacional e sequer ordem de serviço' para conter os atos golpistas. Segundo Cappelli, houve falha, uma vez que relatório de inteligência da Secretaria de Segurança do DF - entregue ao gabinete do então chefe, Anderson Torres no dia 6 - apontou 'ameaça concreta' de invasão aos prédios públicos. No entanto, não houve 'desdobramento operacional adequado, com um plano detalhado', ressaltou o interventor.

"Não faltou informação. Na sexta o gabinete do secretário recebeu a informação. Há memória de uma reunião no próprio dia 6, na qual existia uma insegurança, mas não com a contundência do relatório feito às 17h do dia 6", ponderou.

Torres aprovou um Plano de Ações Integradas para o dia 8, mas, segundo Cappelli, as diretrizes estabelecidas em tal documento devem gerar, nas unidades um desdobramento operacional, os planos operacionais ou ordens de serviço. "No evento do dia 8, isso não aconteceu. Não há um registro de quantos homens iriam a campo. Houve apenas um repasse burocrático para algumas unidades pelo departamento de operações", explicou.

Nas palavras de Cappelli, 'nas melhores das hipóteses, faltou comando e responsabilidade' na atuação das autoridades do DF contra os golpistas no dia 8. Ainda de acordo com o interventor, o 'conjunto de coincidências' identificado durante as apurações sobre o ocorrido no dia 8, pode caracterizar, sob os olhos da Justiça, 'algo muito pior' quanto à conduta dos responsáveis pela Segurança Pública do DF.

Segundo o interventor, uma série de 'questões operacionais' das forças de segurança do DF 'corroboraram a ausência de um planejamento adequado em consonância com a informação que existia' - o relatório que descrevia 'tudo o que poderia acontecer' no dia 8. Cappelli diz após a edição do documento, apontando de forma 'contundente' os riscos do evento, foi elaborado 'apenas um memorando, que não acionou batalhões importantes, que sequer foram acionados'. Ele falou em 'falha operacional' e 'ausência de planejamento'.

O secretário-executivo do MJSP apontou, por exemplo, que o efeito mobilizado para área central e Esplanada no dia 8, de 555 homens, era relativo a uma 'rotina ordinária' da Polícia Militar. Ainda de acordo com Cappelli, vídeos mostram que não havia metade de tal efetivo na Esplanada, não guardando 'correspondência' com alerta feito ao gabinete de Torres no dia 6. O secretário executivo do MJSP destacou que parte dos comandantes dos Batalhões 'importantes' da PM - ao menos oito líderes - estavam de férias no dia 8.

O interventor indicou também que a barreira montada pelas forças de segurança não era 'condizente com o alarme' que existia. Segundo ele, vídeos mostram uma ação organizada e 'profissional' dos golpistas, inclusive com uso de radio comunicadores. "É impressionante como em um momento todos se levantam e puxam a linha de gradis, que cai de ponto a ponto. Há um movimento coordenado", disse.

Cappelli ainda anotou que, entre o momento em que os golpistas deixaram o acampamento em frente ao QG do Exército e o minuto em que houve a quebra da linha de contenção da PM, houve 'tempo suficiente' para o acionamento de mais tropas que dessem suporte ao efetivo, considerando a 'clara intenção' dos 'manifestantes. No entanto, o acionamento de reforço só ocorreu posteriormente e, quando as tropas chegaram à Esplanada, os três Poderes já haviam sido invadidos.

"Acho que são muitas coincidências juntas. E você percebe uma escalada. A bomba. A diplomação", anotou Cappelli, ressalvando que é necessário coletar provas sobre o ocorrido no dia 8. "Conspiração não passa recibo, não é fácil você provar. É usual as pessoas todas tirarem férias em janeiro? Muita gente tira férias em janeiro. É razoável, numa escalada de movimentos, como a gente vinha assistindo, com a tensão subindo, todo mundo tirar férias junto? Não me parece", completou.

O interventor também chamou atenção para a 'dispensa-recompensa' do chefe do departamento de operação da PMDF no dia dos atos golpistas. Segundo o interventor, o departamento é uma 'peça central', uma vez não desdobrou o plano de ações aprovado por Torres em plano operacional ou ordem de serviço, 'nem comandou a mobilização condizente com a informação que existia', sobre a possibilidade de invasão das sedes dos Poderes.

Acampamento em frente ao QG do Exército

Ao apontar a 'centralidade' do acampamento bolsonarista montado em frente ao QG do Exército em Brasília, Cappelli destacou que foram registradas 73 ocorrências policiais no local, entre elas roubos e furtos. Segundo o interventor, trata-se de um ambiente 'onde circularam criminosos'. "Todos os eventos, o do dia 12 de dezembro, da diplomação, a tentativa de explosão de bomba, de bloqueio do aeroporto, todos passam de uma forma ou de outra pelo acampamento. Acampamento criminoso que perturbou a ordem publica no Distrito Federal", ponderou.

Segundo o secretário executivo do MJSP não se tratava de um acampamento comum - 'porque acampamento não tem cozinha montada, infraestrutura de banheiros químicos, geradores'. A Procuradoria-Geral da República indicou que o local contava com espaço para massoterapia e sala para teatro de fantoches. Foi montada uma 'minicidade golpista' em frente o QG, indicou Capelli.

Ainda de acordo com o interventor, foi constatado que as forças policiais tentaram fazer incursões no acampamento, com mobilizações para operações canceladas às vésperas das ofensivas por 'ponderações feitas pelo comando militar do Planalto'. "Houve tentativas de policias do DF para tentar agir, mas não tiveram êxito", ponderou. Segundo Cappelli, os atos golpistas do dia 8 são 'fruto de uma escalada de eventos que começam logo após as eleições'.

Conduta do ex-comandante da PM, preso

Com relação à atuação do ex-comandante da Polícia Militar do DF, Fábio Augusto Vieira, o interventor na Segurança Pública ponderou que o coronel estava em campo 'desde cedo' e que 'há relatos da preocupação com relação ao aumento de contingente' de policiais no dia dos atos golpistas. Para Cappelli, Vieira 'tentou defender as linhas, o Congresso Nacional, mas apesar das tentativas' seus apelos e ordens dão foram atendidos.

Após a indicação, o interventor chegou a fazer uma ponderação sobre a hierarquia e disciplina nas forças militares. " Se existe dificuldade em manter a hierarquia e disciplina nas forças militares, quem tem que zelar primeiro é o Poder Público, que não pode politizar indicações nas forças de segurança. Na hora que a polícia é politizada pelo Poder Público, quem assume o comando tem sua capacidade de comandar seriamente atingida", ponderou.

Questionado, Cappelli negou ter feito defesa de Vieira, afirmando 'citar fatos'. "O que me pareceu é que ele (Vieira), no campo e no dia (8) perdeu a capacidade de comando. Ele não tinha comando sobre quem ele deveria comandar e talvez essa tenha sido a falha mais grave dele", ponderou.

O ex-comandante da PMDF está preso por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. A prisão preventiva foi decretada com base em 'fortes indícios' de 'conivência' com os atos golpistas em Brasília. 

'Instabilidade' causada por Torres, exonerações e inquéritos sobre a conduta de PMs

Durante a coletiva, Cappelli informou que seis coronéis da PMDF que estavam em posições de comando no dia 8 foram exonerados. Além disso, também foram dispensados todos os quadros da Secretaria de Segurança Pública que haviam sido nomeados pelo ex-secretário de Segurança Pública do DF Anderson Torres - atualmente preso. Segundo o secretário executivo do MJSP, 'ficou claro o impacto da posse de Torres no dia 2' na SSP - "da instabilidade que gerou na secretaria com as exonerações, com trocas. Logo depois ele viaja. O gabinete recebe um relatório de inteligência e ele não tem nenhum desdobramento. Não é uma questão burocracia, mas de comando".

O interventor também registrou que foram instaurados inquéritos policiais militares sobre a atuação de agentes de segurança durante os atos golpistas. Eles apuram: a conduta de agentes do choque, que não impediram a entrada de golpistas no Congresso; a postura de policiais flagrados conversando e tirando fotos com radicais; a responsabilidade do ex-comandante da PMDF e de comandantes operacionais; o envolvimento de policiais militares na arrecadação de dinheiro em serviço de segurança privada no acampamento em frente ao QG do Exército; a conduta de PMs que derrubaram um 'manifestante' no Planalto; e sobre as imagens divulgadas pelo STF, em que policiais permitem a passagem de radicais que vandalizaram o Plenário da Corte máxima.

Radicais invadiram sedes do Supremo, Planalto e Congresso. Foto: Wilton Júnior/Estadão

O interventor federal na Segurança Pública do Distrito Federal Ricardo Cappelli afirmou na manhã desta sexta-feira, 27, que o acampamento montado em frente ao QG do Exército em Brasília teve 'centralidade' nos atos golpistas do dia 8, quando bolsonaristas invadiram e depredaram as sedes dos três Poderes. Cappelli, que também é secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, indicou que 'todos os atos de vandalismo tiveram organização, planejamento ou ponto de apoio' no acampamento. "Virou um centro de construção de planos contra a democracia", afirmou.

O interventor ressaltou ainda que 'não houve plano operacional e sequer ordem de serviço' para conter os atos golpistas. Segundo Cappelli, houve falha, uma vez que relatório de inteligência da Secretaria de Segurança do DF - entregue ao gabinete do então chefe, Anderson Torres no dia 6 - apontou 'ameaça concreta' de invasão aos prédios públicos. No entanto, não houve 'desdobramento operacional adequado, com um plano detalhado', ressaltou o interventor.

"Não faltou informação. Na sexta o gabinete do secretário recebeu a informação. Há memória de uma reunião no próprio dia 6, na qual existia uma insegurança, mas não com a contundência do relatório feito às 17h do dia 6", ponderou.

Torres aprovou um Plano de Ações Integradas para o dia 8, mas, segundo Cappelli, as diretrizes estabelecidas em tal documento devem gerar, nas unidades um desdobramento operacional, os planos operacionais ou ordens de serviço. "No evento do dia 8, isso não aconteceu. Não há um registro de quantos homens iriam a campo. Houve apenas um repasse burocrático para algumas unidades pelo departamento de operações", explicou.

Nas palavras de Cappelli, 'nas melhores das hipóteses, faltou comando e responsabilidade' na atuação das autoridades do DF contra os golpistas no dia 8. Ainda de acordo com o interventor, o 'conjunto de coincidências' identificado durante as apurações sobre o ocorrido no dia 8, pode caracterizar, sob os olhos da Justiça, 'algo muito pior' quanto à conduta dos responsáveis pela Segurança Pública do DF.

Segundo o interventor, uma série de 'questões operacionais' das forças de segurança do DF 'corroboraram a ausência de um planejamento adequado em consonância com a informação que existia' - o relatório que descrevia 'tudo o que poderia acontecer' no dia 8. Cappelli diz após a edição do documento, apontando de forma 'contundente' os riscos do evento, foi elaborado 'apenas um memorando, que não acionou batalhões importantes, que sequer foram acionados'. Ele falou em 'falha operacional' e 'ausência de planejamento'.

O secretário-executivo do MJSP apontou, por exemplo, que o efeito mobilizado para área central e Esplanada no dia 8, de 555 homens, era relativo a uma 'rotina ordinária' da Polícia Militar. Ainda de acordo com Cappelli, vídeos mostram que não havia metade de tal efetivo na Esplanada, não guardando 'correspondência' com alerta feito ao gabinete de Torres no dia 6. O secretário executivo do MJSP destacou que parte dos comandantes dos Batalhões 'importantes' da PM - ao menos oito líderes - estavam de férias no dia 8.

O interventor indicou também que a barreira montada pelas forças de segurança não era 'condizente com o alarme' que existia. Segundo ele, vídeos mostram uma ação organizada e 'profissional' dos golpistas, inclusive com uso de radio comunicadores. "É impressionante como em um momento todos se levantam e puxam a linha de gradis, que cai de ponto a ponto. Há um movimento coordenado", disse.

Cappelli ainda anotou que, entre o momento em que os golpistas deixaram o acampamento em frente ao QG do Exército e o minuto em que houve a quebra da linha de contenção da PM, houve 'tempo suficiente' para o acionamento de mais tropas que dessem suporte ao efetivo, considerando a 'clara intenção' dos 'manifestantes. No entanto, o acionamento de reforço só ocorreu posteriormente e, quando as tropas chegaram à Esplanada, os três Poderes já haviam sido invadidos.

"Acho que são muitas coincidências juntas. E você percebe uma escalada. A bomba. A diplomação", anotou Cappelli, ressalvando que é necessário coletar provas sobre o ocorrido no dia 8. "Conspiração não passa recibo, não é fácil você provar. É usual as pessoas todas tirarem férias em janeiro? Muita gente tira férias em janeiro. É razoável, numa escalada de movimentos, como a gente vinha assistindo, com a tensão subindo, todo mundo tirar férias junto? Não me parece", completou.

O interventor também chamou atenção para a 'dispensa-recompensa' do chefe do departamento de operação da PMDF no dia dos atos golpistas. Segundo o interventor, o departamento é uma 'peça central', uma vez não desdobrou o plano de ações aprovado por Torres em plano operacional ou ordem de serviço, 'nem comandou a mobilização condizente com a informação que existia', sobre a possibilidade de invasão das sedes dos Poderes.

Acampamento em frente ao QG do Exército

Ao apontar a 'centralidade' do acampamento bolsonarista montado em frente ao QG do Exército em Brasília, Cappelli destacou que foram registradas 73 ocorrências policiais no local, entre elas roubos e furtos. Segundo o interventor, trata-se de um ambiente 'onde circularam criminosos'. "Todos os eventos, o do dia 12 de dezembro, da diplomação, a tentativa de explosão de bomba, de bloqueio do aeroporto, todos passam de uma forma ou de outra pelo acampamento. Acampamento criminoso que perturbou a ordem publica no Distrito Federal", ponderou.

Segundo o secretário executivo do MJSP não se tratava de um acampamento comum - 'porque acampamento não tem cozinha montada, infraestrutura de banheiros químicos, geradores'. A Procuradoria-Geral da República indicou que o local contava com espaço para massoterapia e sala para teatro de fantoches. Foi montada uma 'minicidade golpista' em frente o QG, indicou Capelli.

Ainda de acordo com o interventor, foi constatado que as forças policiais tentaram fazer incursões no acampamento, com mobilizações para operações canceladas às vésperas das ofensivas por 'ponderações feitas pelo comando militar do Planalto'. "Houve tentativas de policias do DF para tentar agir, mas não tiveram êxito", ponderou. Segundo Cappelli, os atos golpistas do dia 8 são 'fruto de uma escalada de eventos que começam logo após as eleições'.

Conduta do ex-comandante da PM, preso

Com relação à atuação do ex-comandante da Polícia Militar do DF, Fábio Augusto Vieira, o interventor na Segurança Pública ponderou que o coronel estava em campo 'desde cedo' e que 'há relatos da preocupação com relação ao aumento de contingente' de policiais no dia dos atos golpistas. Para Cappelli, Vieira 'tentou defender as linhas, o Congresso Nacional, mas apesar das tentativas' seus apelos e ordens dão foram atendidos.

Após a indicação, o interventor chegou a fazer uma ponderação sobre a hierarquia e disciplina nas forças militares. " Se existe dificuldade em manter a hierarquia e disciplina nas forças militares, quem tem que zelar primeiro é o Poder Público, que não pode politizar indicações nas forças de segurança. Na hora que a polícia é politizada pelo Poder Público, quem assume o comando tem sua capacidade de comandar seriamente atingida", ponderou.

Questionado, Cappelli negou ter feito defesa de Vieira, afirmando 'citar fatos'. "O que me pareceu é que ele (Vieira), no campo e no dia (8) perdeu a capacidade de comando. Ele não tinha comando sobre quem ele deveria comandar e talvez essa tenha sido a falha mais grave dele", ponderou.

O ex-comandante da PMDF está preso por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. A prisão preventiva foi decretada com base em 'fortes indícios' de 'conivência' com os atos golpistas em Brasília. 

'Instabilidade' causada por Torres, exonerações e inquéritos sobre a conduta de PMs

Durante a coletiva, Cappelli informou que seis coronéis da PMDF que estavam em posições de comando no dia 8 foram exonerados. Além disso, também foram dispensados todos os quadros da Secretaria de Segurança Pública que haviam sido nomeados pelo ex-secretário de Segurança Pública do DF Anderson Torres - atualmente preso. Segundo o secretário executivo do MJSP, 'ficou claro o impacto da posse de Torres no dia 2' na SSP - "da instabilidade que gerou na secretaria com as exonerações, com trocas. Logo depois ele viaja. O gabinete recebe um relatório de inteligência e ele não tem nenhum desdobramento. Não é uma questão burocracia, mas de comando".

O interventor também registrou que foram instaurados inquéritos policiais militares sobre a atuação de agentes de segurança durante os atos golpistas. Eles apuram: a conduta de agentes do choque, que não impediram a entrada de golpistas no Congresso; a postura de policiais flagrados conversando e tirando fotos com radicais; a responsabilidade do ex-comandante da PMDF e de comandantes operacionais; o envolvimento de policiais militares na arrecadação de dinheiro em serviço de segurança privada no acampamento em frente ao QG do Exército; a conduta de PMs que derrubaram um 'manifestante' no Planalto; e sobre as imagens divulgadas pelo STF, em que policiais permitem a passagem de radicais que vandalizaram o Plenário da Corte máxima.

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