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'Reservatórios invisíveis': a importância da floresta na disponibilidade e segurança hídrica


Por Samuel Barrêto e Claudio Klemz
Samuel Barrêto e Claudio Klemz. Foto: TNC/Divulgação

Nos últimos anos, os eventos climáticos têm oscilado de chuvas em excesso para estiagens longas. Em São Paulo, agora é vez da chuva nos lembrar da importância da gestão territorial. No período de estiagem, as baixas nos reservatórios preocupam especialistas e governos e estampam as manchetes dos jornais à espera das próximas chuvas. Chega a ser irônico.

Estes extremos, associados a planejamento e gestão territorial ineficientes, são apontados como uma das principais causas da crise hídrica. No entanto, muitas situações são na verdade uma crise de governança da água. O relatório sobre mudanças climáticas do IPCC (2022) mostra que os eventos extremos ocorrerão com maior frequência e intensidade, afetando não apenas as pessoas, mas também sistemas ecológicos e economia. Cada vez mais, as Soluções baseadas em Natureza (SbN) se revelam uma alternativa viável e importante para a adaptação às mudanças climáticas, a proteção da biodiversidade e a segurança hídrica.

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IPCC 2022

Neste sentido, a The Nature Conservancy (TNC) Brasil avaliou o impacto positivo das florestas e do uso bem planejado do solo nas bacias hidrográficas que formam o Sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento de 7,5 milhões de pessoas na Região Metropolitana de São Paulo. Foram analisados os potenciais benefícios da restauração florestal no ciclo da água e na economia, tendo por base dados hidrológicos dos últimos 30 anos, e com um olhar específico sobre a crise hídrica que atingiu a região em 2014 e 2015. O estudo sugere que os custos ambientais e econômicos desta crise seriam menores se os padrões de uso do solo em todo o Sistema fossem diferentes.

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Quando os rios e as represas que abastecem a Região Metropolitana de São Paulo praticamente secaram, o custo econômico da escassez de água foi alto - chegando a perdas estimadas de R$ 1,6 bilhão. Hoje, com as mudanças climáticas continuando a afetar a região, definir como o Sistema Cantareira deve se adaptar ao aumento dos períodos de seca é imperativo.

O estudo trouxe evidências a partir de análises de possíveis cenários para encontrar subsídios técnicos-científicos que orientem a definição de políticas de planejamento e gestão territorial de mananciais. Foram observados os efeitos em cadeia a partir de intervenções como restauração florestal e o cenário que apresentou melhor resultado foi o que priorizou a restauração em locais cujas características geográficas potencializam a infiltração de água no solo e a manutenção da vazão em época de estiagem. A análise sugere um aumento médio de 33% na quantidade de água subterrânea e superficial para todo o Cantareira. Estamos falando da água que entra pela chuva, é desacelerada pelas folhas e escorre pelos galhos e troncos percolando no solo, abastecendo os lençóis freáticos, fluindo lentamente entre os períodos de chuva e seca. É o chamado "efeito esponja", que reabastece um verdadeiro reservatório invisível.

Também analisamos os potenciais benefícios econômicos associados ao ganho de resiliência durante a baixa disponibilidade hídrica. Se o cenário descrito acima representasse o uso e cobertura do solo prevalente durante os 30 anos anteriores à crise hídrica, poderiam ter sido evitadas perdas econômicas da ordem de R$ 443,88 milhões, considerando somente um recorte da atividade industrial e das receitas perdidas pelo setor de água e esgoto.

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Todavia, estes dados não podem ser simplesmente projetados para o futuro. Incertezas são um componente implícito de uma análise assim. Mas eles nos mostram o caminho para resolver um dos grandes desafios do século: disponibilidade hídrica em quantidade e qualidade suficiente para atender as atuais e futuras gerações em seus diversos usos.

Parte importante da resposta está na própria natureza, com investimentos em infraestrutura verde que fomentem a proteção dos nossos mananciais e a saúde das nossas bacias hidrográficas. Nesse contexto, o setor de saneamento pode e deve assumir um papel de liderança e envolver outros atores e forças políticas, como as administrações públicas e setor privado. Captar, tratar e vender água é um modelo de negócio que não é mais suficiente diante da realidade de extremos climáticos. Devemos ampliar a abordagem para cuidar da proteção e recuperação dos nossos mananciais.

Na semana do Dia Mundial da Água (22 de março), reforçamos que a tarefa não é fácil, os desafios e investimentos são muitos, mas, sem liderança e uma ação coletiva integrada entre governos, iniciativa privada e sociedade civil, o custo futuro da inação será muito mais alto, e todos nós pagaremos.

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*Claudio Klemz é especialista em Políticas Públicas da The Nature Conservancy (TNC) Brasil. Há 20 anos trabalha na concepção, negociação e gestão de projetos de conservação da natureza no Brasil e em outros países. Nos últimos anos, tem se dedicado à promoção do engajamento do setor de saneamento e sua regulação em iniciativas de proteção da natureza

*Samuel Barrêto, ambientalista, é gerente de Sistemas de Água e Agricultura da TNC Brasil, integra a Aliança Latino-americana de Fundos de Água, a Seção Brasil do Fórum Mundial de Água, sendo ainda membro do Comitê Gestor do Observatório de Governança das Águas (OGA) e do Grupo de Trabalho de Água da Rede Brasileira do Pacto Global da ONU. Na TNC Brasil, é o responsável por fomentar um novo modelo de conservação de forma a criar soluções que modificam o sistema e são escaláveis, garantindo maior sinergia entre as agendas de agricultura e água

Samuel Barrêto e Claudio Klemz. Foto: TNC/Divulgação

Nos últimos anos, os eventos climáticos têm oscilado de chuvas em excesso para estiagens longas. Em São Paulo, agora é vez da chuva nos lembrar da importância da gestão territorial. No período de estiagem, as baixas nos reservatórios preocupam especialistas e governos e estampam as manchetes dos jornais à espera das próximas chuvas. Chega a ser irônico.

Estes extremos, associados a planejamento e gestão territorial ineficientes, são apontados como uma das principais causas da crise hídrica. No entanto, muitas situações são na verdade uma crise de governança da água. O relatório sobre mudanças climáticas do IPCC (2022) mostra que os eventos extremos ocorrerão com maior frequência e intensidade, afetando não apenas as pessoas, mas também sistemas ecológicos e economia. Cada vez mais, as Soluções baseadas em Natureza (SbN) se revelam uma alternativa viável e importante para a adaptação às mudanças climáticas, a proteção da biodiversidade e a segurança hídrica.

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IPCC 2022

Neste sentido, a The Nature Conservancy (TNC) Brasil avaliou o impacto positivo das florestas e do uso bem planejado do solo nas bacias hidrográficas que formam o Sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento de 7,5 milhões de pessoas na Região Metropolitana de São Paulo. Foram analisados os potenciais benefícios da restauração florestal no ciclo da água e na economia, tendo por base dados hidrológicos dos últimos 30 anos, e com um olhar específico sobre a crise hídrica que atingiu a região em 2014 e 2015. O estudo sugere que os custos ambientais e econômicos desta crise seriam menores se os padrões de uso do solo em todo o Sistema fossem diferentes.

Quando os rios e as represas que abastecem a Região Metropolitana de São Paulo praticamente secaram, o custo econômico da escassez de água foi alto - chegando a perdas estimadas de R$ 1,6 bilhão. Hoje, com as mudanças climáticas continuando a afetar a região, definir como o Sistema Cantareira deve se adaptar ao aumento dos períodos de seca é imperativo.

O estudo trouxe evidências a partir de análises de possíveis cenários para encontrar subsídios técnicos-científicos que orientem a definição de políticas de planejamento e gestão territorial de mananciais. Foram observados os efeitos em cadeia a partir de intervenções como restauração florestal e o cenário que apresentou melhor resultado foi o que priorizou a restauração em locais cujas características geográficas potencializam a infiltração de água no solo e a manutenção da vazão em época de estiagem. A análise sugere um aumento médio de 33% na quantidade de água subterrânea e superficial para todo o Cantareira. Estamos falando da água que entra pela chuva, é desacelerada pelas folhas e escorre pelos galhos e troncos percolando no solo, abastecendo os lençóis freáticos, fluindo lentamente entre os períodos de chuva e seca. É o chamado "efeito esponja", que reabastece um verdadeiro reservatório invisível.

Também analisamos os potenciais benefícios econômicos associados ao ganho de resiliência durante a baixa disponibilidade hídrica. Se o cenário descrito acima representasse o uso e cobertura do solo prevalente durante os 30 anos anteriores à crise hídrica, poderiam ter sido evitadas perdas econômicas da ordem de R$ 443,88 milhões, considerando somente um recorte da atividade industrial e das receitas perdidas pelo setor de água e esgoto.

Todavia, estes dados não podem ser simplesmente projetados para o futuro. Incertezas são um componente implícito de uma análise assim. Mas eles nos mostram o caminho para resolver um dos grandes desafios do século: disponibilidade hídrica em quantidade e qualidade suficiente para atender as atuais e futuras gerações em seus diversos usos.

Parte importante da resposta está na própria natureza, com investimentos em infraestrutura verde que fomentem a proteção dos nossos mananciais e a saúde das nossas bacias hidrográficas. Nesse contexto, o setor de saneamento pode e deve assumir um papel de liderança e envolver outros atores e forças políticas, como as administrações públicas e setor privado. Captar, tratar e vender água é um modelo de negócio que não é mais suficiente diante da realidade de extremos climáticos. Devemos ampliar a abordagem para cuidar da proteção e recuperação dos nossos mananciais.

Na semana do Dia Mundial da Água (22 de março), reforçamos que a tarefa não é fácil, os desafios e investimentos são muitos, mas, sem liderança e uma ação coletiva integrada entre governos, iniciativa privada e sociedade civil, o custo futuro da inação será muito mais alto, e todos nós pagaremos.

*Claudio Klemz é especialista em Políticas Públicas da The Nature Conservancy (TNC) Brasil. Há 20 anos trabalha na concepção, negociação e gestão de projetos de conservação da natureza no Brasil e em outros países. Nos últimos anos, tem se dedicado à promoção do engajamento do setor de saneamento e sua regulação em iniciativas de proteção da natureza

*Samuel Barrêto, ambientalista, é gerente de Sistemas de Água e Agricultura da TNC Brasil, integra a Aliança Latino-americana de Fundos de Água, a Seção Brasil do Fórum Mundial de Água, sendo ainda membro do Comitê Gestor do Observatório de Governança das Águas (OGA) e do Grupo de Trabalho de Água da Rede Brasileira do Pacto Global da ONU. Na TNC Brasil, é o responsável por fomentar um novo modelo de conservação de forma a criar soluções que modificam o sistema e são escaláveis, garantindo maior sinergia entre as agendas de agricultura e água

Samuel Barrêto e Claudio Klemz. Foto: TNC/Divulgação

Nos últimos anos, os eventos climáticos têm oscilado de chuvas em excesso para estiagens longas. Em São Paulo, agora é vez da chuva nos lembrar da importância da gestão territorial. No período de estiagem, as baixas nos reservatórios preocupam especialistas e governos e estampam as manchetes dos jornais à espera das próximas chuvas. Chega a ser irônico.

Estes extremos, associados a planejamento e gestão territorial ineficientes, são apontados como uma das principais causas da crise hídrica. No entanto, muitas situações são na verdade uma crise de governança da água. O relatório sobre mudanças climáticas do IPCC (2022) mostra que os eventos extremos ocorrerão com maior frequência e intensidade, afetando não apenas as pessoas, mas também sistemas ecológicos e economia. Cada vez mais, as Soluções baseadas em Natureza (SbN) se revelam uma alternativa viável e importante para a adaptação às mudanças climáticas, a proteção da biodiversidade e a segurança hídrica.

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IPCC 2022

Neste sentido, a The Nature Conservancy (TNC) Brasil avaliou o impacto positivo das florestas e do uso bem planejado do solo nas bacias hidrográficas que formam o Sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento de 7,5 milhões de pessoas na Região Metropolitana de São Paulo. Foram analisados os potenciais benefícios da restauração florestal no ciclo da água e na economia, tendo por base dados hidrológicos dos últimos 30 anos, e com um olhar específico sobre a crise hídrica que atingiu a região em 2014 e 2015. O estudo sugere que os custos ambientais e econômicos desta crise seriam menores se os padrões de uso do solo em todo o Sistema fossem diferentes.

Quando os rios e as represas que abastecem a Região Metropolitana de São Paulo praticamente secaram, o custo econômico da escassez de água foi alto - chegando a perdas estimadas de R$ 1,6 bilhão. Hoje, com as mudanças climáticas continuando a afetar a região, definir como o Sistema Cantareira deve se adaptar ao aumento dos períodos de seca é imperativo.

O estudo trouxe evidências a partir de análises de possíveis cenários para encontrar subsídios técnicos-científicos que orientem a definição de políticas de planejamento e gestão territorial de mananciais. Foram observados os efeitos em cadeia a partir de intervenções como restauração florestal e o cenário que apresentou melhor resultado foi o que priorizou a restauração em locais cujas características geográficas potencializam a infiltração de água no solo e a manutenção da vazão em época de estiagem. A análise sugere um aumento médio de 33% na quantidade de água subterrânea e superficial para todo o Cantareira. Estamos falando da água que entra pela chuva, é desacelerada pelas folhas e escorre pelos galhos e troncos percolando no solo, abastecendo os lençóis freáticos, fluindo lentamente entre os períodos de chuva e seca. É o chamado "efeito esponja", que reabastece um verdadeiro reservatório invisível.

Também analisamos os potenciais benefícios econômicos associados ao ganho de resiliência durante a baixa disponibilidade hídrica. Se o cenário descrito acima representasse o uso e cobertura do solo prevalente durante os 30 anos anteriores à crise hídrica, poderiam ter sido evitadas perdas econômicas da ordem de R$ 443,88 milhões, considerando somente um recorte da atividade industrial e das receitas perdidas pelo setor de água e esgoto.

Todavia, estes dados não podem ser simplesmente projetados para o futuro. Incertezas são um componente implícito de uma análise assim. Mas eles nos mostram o caminho para resolver um dos grandes desafios do século: disponibilidade hídrica em quantidade e qualidade suficiente para atender as atuais e futuras gerações em seus diversos usos.

Parte importante da resposta está na própria natureza, com investimentos em infraestrutura verde que fomentem a proteção dos nossos mananciais e a saúde das nossas bacias hidrográficas. Nesse contexto, o setor de saneamento pode e deve assumir um papel de liderança e envolver outros atores e forças políticas, como as administrações públicas e setor privado. Captar, tratar e vender água é um modelo de negócio que não é mais suficiente diante da realidade de extremos climáticos. Devemos ampliar a abordagem para cuidar da proteção e recuperação dos nossos mananciais.

Na semana do Dia Mundial da Água (22 de março), reforçamos que a tarefa não é fácil, os desafios e investimentos são muitos, mas, sem liderança e uma ação coletiva integrada entre governos, iniciativa privada e sociedade civil, o custo futuro da inação será muito mais alto, e todos nós pagaremos.

*Claudio Klemz é especialista em Políticas Públicas da The Nature Conservancy (TNC) Brasil. Há 20 anos trabalha na concepção, negociação e gestão de projetos de conservação da natureza no Brasil e em outros países. Nos últimos anos, tem se dedicado à promoção do engajamento do setor de saneamento e sua regulação em iniciativas de proteção da natureza

*Samuel Barrêto, ambientalista, é gerente de Sistemas de Água e Agricultura da TNC Brasil, integra a Aliança Latino-americana de Fundos de Água, a Seção Brasil do Fórum Mundial de Água, sendo ainda membro do Comitê Gestor do Observatório de Governança das Águas (OGA) e do Grupo de Trabalho de Água da Rede Brasileira do Pacto Global da ONU. Na TNC Brasil, é o responsável por fomentar um novo modelo de conservação de forma a criar soluções que modificam o sistema e são escaláveis, garantindo maior sinergia entre as agendas de agricultura e água

Samuel Barrêto e Claudio Klemz. Foto: TNC/Divulgação

Nos últimos anos, os eventos climáticos têm oscilado de chuvas em excesso para estiagens longas. Em São Paulo, agora é vez da chuva nos lembrar da importância da gestão territorial. No período de estiagem, as baixas nos reservatórios preocupam especialistas e governos e estampam as manchetes dos jornais à espera das próximas chuvas. Chega a ser irônico.

Estes extremos, associados a planejamento e gestão territorial ineficientes, são apontados como uma das principais causas da crise hídrica. No entanto, muitas situações são na verdade uma crise de governança da água. O relatório sobre mudanças climáticas do IPCC (2022) mostra que os eventos extremos ocorrerão com maior frequência e intensidade, afetando não apenas as pessoas, mas também sistemas ecológicos e economia. Cada vez mais, as Soluções baseadas em Natureza (SbN) se revelam uma alternativa viável e importante para a adaptação às mudanças climáticas, a proteção da biodiversidade e a segurança hídrica.

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IPCC 2022

Neste sentido, a The Nature Conservancy (TNC) Brasil avaliou o impacto positivo das florestas e do uso bem planejado do solo nas bacias hidrográficas que formam o Sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento de 7,5 milhões de pessoas na Região Metropolitana de São Paulo. Foram analisados os potenciais benefícios da restauração florestal no ciclo da água e na economia, tendo por base dados hidrológicos dos últimos 30 anos, e com um olhar específico sobre a crise hídrica que atingiu a região em 2014 e 2015. O estudo sugere que os custos ambientais e econômicos desta crise seriam menores se os padrões de uso do solo em todo o Sistema fossem diferentes.

Quando os rios e as represas que abastecem a Região Metropolitana de São Paulo praticamente secaram, o custo econômico da escassez de água foi alto - chegando a perdas estimadas de R$ 1,6 bilhão. Hoje, com as mudanças climáticas continuando a afetar a região, definir como o Sistema Cantareira deve se adaptar ao aumento dos períodos de seca é imperativo.

O estudo trouxe evidências a partir de análises de possíveis cenários para encontrar subsídios técnicos-científicos que orientem a definição de políticas de planejamento e gestão territorial de mananciais. Foram observados os efeitos em cadeia a partir de intervenções como restauração florestal e o cenário que apresentou melhor resultado foi o que priorizou a restauração em locais cujas características geográficas potencializam a infiltração de água no solo e a manutenção da vazão em época de estiagem. A análise sugere um aumento médio de 33% na quantidade de água subterrânea e superficial para todo o Cantareira. Estamos falando da água que entra pela chuva, é desacelerada pelas folhas e escorre pelos galhos e troncos percolando no solo, abastecendo os lençóis freáticos, fluindo lentamente entre os períodos de chuva e seca. É o chamado "efeito esponja", que reabastece um verdadeiro reservatório invisível.

Também analisamos os potenciais benefícios econômicos associados ao ganho de resiliência durante a baixa disponibilidade hídrica. Se o cenário descrito acima representasse o uso e cobertura do solo prevalente durante os 30 anos anteriores à crise hídrica, poderiam ter sido evitadas perdas econômicas da ordem de R$ 443,88 milhões, considerando somente um recorte da atividade industrial e das receitas perdidas pelo setor de água e esgoto.

Todavia, estes dados não podem ser simplesmente projetados para o futuro. Incertezas são um componente implícito de uma análise assim. Mas eles nos mostram o caminho para resolver um dos grandes desafios do século: disponibilidade hídrica em quantidade e qualidade suficiente para atender as atuais e futuras gerações em seus diversos usos.

Parte importante da resposta está na própria natureza, com investimentos em infraestrutura verde que fomentem a proteção dos nossos mananciais e a saúde das nossas bacias hidrográficas. Nesse contexto, o setor de saneamento pode e deve assumir um papel de liderança e envolver outros atores e forças políticas, como as administrações públicas e setor privado. Captar, tratar e vender água é um modelo de negócio que não é mais suficiente diante da realidade de extremos climáticos. Devemos ampliar a abordagem para cuidar da proteção e recuperação dos nossos mananciais.

Na semana do Dia Mundial da Água (22 de março), reforçamos que a tarefa não é fácil, os desafios e investimentos são muitos, mas, sem liderança e uma ação coletiva integrada entre governos, iniciativa privada e sociedade civil, o custo futuro da inação será muito mais alto, e todos nós pagaremos.

*Claudio Klemz é especialista em Políticas Públicas da The Nature Conservancy (TNC) Brasil. Há 20 anos trabalha na concepção, negociação e gestão de projetos de conservação da natureza no Brasil e em outros países. Nos últimos anos, tem se dedicado à promoção do engajamento do setor de saneamento e sua regulação em iniciativas de proteção da natureza

*Samuel Barrêto, ambientalista, é gerente de Sistemas de Água e Agricultura da TNC Brasil, integra a Aliança Latino-americana de Fundos de Água, a Seção Brasil do Fórum Mundial de Água, sendo ainda membro do Comitê Gestor do Observatório de Governança das Águas (OGA) e do Grupo de Trabalho de Água da Rede Brasileira do Pacto Global da ONU. Na TNC Brasil, é o responsável por fomentar um novo modelo de conservação de forma a criar soluções que modificam o sistema e são escaláveis, garantindo maior sinergia entre as agendas de agricultura e água

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