Há 34 anos uma multidão chora, rir e estoura garrafas em plena via pública, de onde fluem líquido dourado e cheio de bolhas. Era o champanhe, símbolo de celebrações.
Caia o muro de Berlim, o prenúncio da queda da República Democrática Alemã, a Alemanha Oriental, e da reunificação da Alemanha, separada em duas nações, desde o final da Segunda Guerra.
A queda do muro deu-se a partir das 22 horas do dia 9 de novembro de 1989, entrando pela madrugada do dia seguinte, 10.
Jovens, velhos, crianças, martelos, picaretas, paus, tudo serviu para arrancar o concreto dos pilares, que separavam dois povos.
Tudo pacificamente, sem interferência policial e sem vítimas.
Fui colega na Câmara Federal, do então deputado José Jorge de PE, depois Ministro de Minas e Energia e Ministro do TCU.
Ele e sua esposa Socorro estavam em Berlim, na noite em que se iniciou a rebeldia popular, que derrubou o muro.
Disseram-me que foi um dos espetáculos mais emocionantes, que presenciaram.
Por quase três décadas, o Muro de Berlim separou famílias inteiras e ideologias.
Dividiu a cidade de Berlim em duas, a fim de evitar a emigração da população berlinense oriental para o lado Ocidental.
Duas frases fortes em discursos de presidentes americanos condenaram a divisão das cidades.
A primeira, “Ich bin ein Berliner” (“Eu sou um berlinense”), dita por John Kennedy em 26 de junho de 1963 em Berlim Ocidental.
Vinte e quatro anos depois, na mesma cidade, foi a vez de Ronald Reagan conclamar ao secretário geral do Partido Comunista da União Soviética Mikhail Gorbachev: “Mr. Gorbachev, tear down this wall” (“Senhor Gorbachev, ponha esse muro abaixo”).
Um capítulo da história mundial, que dificilmente será esquecido.
Os Estados Unidos é o país que tem mais fragmentos do Muro de Berlim, sendo que só em Nova Iorque existem três lugares onde é possível vê-los.
Na Europa são várias as cidades, que também mantém expostas partes do “muro da vergonha”.
A queda do Muro de Berlim foi consequência da crise enfrentada pelo bloco socialista, na década de 1980.
Esse quadro de crise econômica e falta de liberdade política gerava uma população insatisfeita, que desejava sair do país, mas não podia, porque as fronteiras estavam fechadas.
A insatisfação era igualmente consequência da repressão e censura do governo.
O governo perdeu o controle e em 9 de novembro, o porta-voz soviético, Egon Krenz, anunciou que as fronteiras com a Alemanha Ocidental estavam abertas de maneira imediata.
Essa decisão foi para aliviar a pressão popular contra o governo Oriental.
O tiro saiu pela culatra.
Até soldados da Alemanha Oriental juntaram-se a multidão e derrubaram o muro.
Em festa, atravessaram a fronteira recém-aberta.
Não demorou muito para a própria União Soviética também desmoronar, em 8 de novembro de 1991.
Sem condições de acompanhar os avanços tecnológicos ocidentais e manter um nível de qualidade para a população, a URSS foi declinando e caiu.
Era a falência do modelo socioeconômico e político comunista.
O Muro de Berlim foi um dos grandes símbolos do conflito político-ideológico travado entre Estados Unidos e a ex-União Soviética (URSS), entre 1947 e 1991.
Esse período – denominado “guerra fria” - polarizou o mundo em dois grandes blocos, um alinhado ao capitalismo e outro alinhado ao comunismo.
A Alemanha foi o palco central desse confronto.
A queda do muro passou a ser o principal acontecimento do final dessa “guerra Fria”.
O mundo suspirou em alívio!
*Ney Lopes, jornalista, advogado, ex-deputado federal, ex-presidente do Parlamento Latino Americano, ex-presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal, procurador federal