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Opinião|Ruy, o inexcedível


Por José Renato Nalini

Por mais que se escreva sobre Ruy Barbosa, sempre haverá o que se dizer sobre esse baiano que estudou em São Paulo e cujo centenário de morte – 2023 – não foi celebrado à altura de seu merecimento. É o Brasil desmemoriado que cultua o poder transitório de quem não tem cacife para ser lembrado após à partida e descuida de transmitir às gerações de amanhã os exemplos que merecem eterna reverência. Isso explica, em boa parte, os frangalhos em que se encontra a ética tupiniquim.

Ruy descendia de antiga família portuguesa dos Barbosa de Oliveira, estabelecida na Bahia no século 18. Desse tronco, Albino Barbosa de Oliveira, tio de seu pai, morou em Campinas, onde constituiu família.

Albino Barbosa de Oliveira foi magistrado, fazendeiro em Campinas e faleceu em 1889, como Conselheiro, Grã Cruz de Cristo, Presidente do Supremo Tribunal de Justiça. É interessante a leitura de “Ruy Barbosa – Mocidade e Exílio”, de Américo Jacobina Lacombe, para resgatar fatos e circunstâncias que merecem atenção em tempos bicudos como os nossos.

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O tio Albino, hoje também esquecido em Campinas, era muito elegante no vestir. Pequena estatura, face cuidadosamente escanhoada e deixava em torno ao rosto barbas muito brancas, que iam de orelha a orelha. A família levava uma vida fidalga. O Conselheiro jamais consentiu em se entregar à promiscuidade democrática dos bondes. Tinha um coche com boleeiro e lacaio, ambos usando cartola e uniforme azul escuro, com debrum amarelo e vermelho na gola.

O sobrinho Ruy, desde as Arcadas, obteve claque nas conferências abolicionistas e comícios democráticos. Como advogado, foi exemplo de coragem. Assumiu a causa dos treze generais reformados administrativamente por Floriano. Para isso, elaborou um alentado arrazoado, monumento de saber e alta lição de civismo, publicado sob o título “Os atos inconstitucionais do Congresso e do Executivo ante a Justiça Federal”.

Ruy Barbosa crescia em sapiência, destacando-se no Brasil medíocre tal píncaro solitário que, da amplidão de seus horizontes, observava todos os quadrantes da realidade nacional.

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O STF não acolhia automaticamente seus argumentos. Em inúmeras questões, além daquela dos treze generais, Pedro Lessa o fez perder as causas. Num processo célebre, de interesse dos mineiros, foi uma profunda decepção e a mídia registrou os termos violentos com que se manifestaram várias autoridades. Ruy opôs embargos, que foram rechaçados.

Isso não impediu fosse ele nomeado Chefe da Delegação à Conferência de Paz de 1907 em Haia. Era Vice-Presidente do Senado e primeiro substituto do Vice-Presidente da novel República. Ruy Barbosa chegou a Paris com a família, no dia 8 de junho de 1907 e se instalou no Hotel Regina. Era grande a delegação brasileira: Rodrigo Octávio, Coronel Roberto Trompowski, capitão de fragata Tancredo Burlamaqui, Arthur de Carvalho Moreira, Abelardo Roças, José Rodrigues Alves, Antonio Baptista Pereira, Leopoldo Magalhães Castro e Fernando Dobbert, entre outros.

Essa Conferência de Paz de 1907 era a segunda, pois a primeira fora realizada em 1899 e restrita à questão da redução dos armamentos militares. Além do México, o Brasil fora o único país latino da América a ser convidado a participar. E, convidado, não compareceu. Atribui-se a culpa a Olynto de Magalhães, Ministro das Relações Exteriores de Campos Salles. E isso porque o Brasil não se dispunha a reduzir seu material bélico de terra e de mar. Ao contrário, estava empenhado em renovar seu armamento, em restaurar o seu poder militar.

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Já para a segunda Conferência, o critério foi outro, determinado pela intervenção do Presidente Theodor Roosevelt. Para ela foram convidados todos os países de soberania reconhecida. Era a tentativa de concerto universal. Todos os Estados, por minúsculos fossem seus territórios e importância, passaram a ter voz no capítulo. Foi uma espécie de adoção, na vida internacional, do princípio do sufrágio universal. O Brasil não fazia ainda ideia de que traria para a Conferência, na pequenina figura, quase desconhecida no plano internacional, alguém que se apresentaria como defensor impertérrito do princípio que prevaleceu no domínio internacional, de igualdade entre as nações.

Foi a partir daí que Ruy Barbosa passou a ser considerado em sua terra a maior expressão de cultura jurídica e de capacidade intelectual. A figura que poderia brilhar no estrangeiro seria Joaquim Nabuco, então Embaixador em Washington e bem prestigiado na diplomacia mundial. Mas Ruy teve de conquistar, nesse espaço, palmo a palmo, o respeito de todo o planeta. Animava-o, perfeita consciência de sua responsabilidade, embora acabrunhado pelo peso dela. Voltarei ao tema.

Por mais que se escreva sobre Ruy Barbosa, sempre haverá o que se dizer sobre esse baiano que estudou em São Paulo e cujo centenário de morte – 2023 – não foi celebrado à altura de seu merecimento. É o Brasil desmemoriado que cultua o poder transitório de quem não tem cacife para ser lembrado após à partida e descuida de transmitir às gerações de amanhã os exemplos que merecem eterna reverência. Isso explica, em boa parte, os frangalhos em que se encontra a ética tupiniquim.

Ruy descendia de antiga família portuguesa dos Barbosa de Oliveira, estabelecida na Bahia no século 18. Desse tronco, Albino Barbosa de Oliveira, tio de seu pai, morou em Campinas, onde constituiu família.

Albino Barbosa de Oliveira foi magistrado, fazendeiro em Campinas e faleceu em 1889, como Conselheiro, Grã Cruz de Cristo, Presidente do Supremo Tribunal de Justiça. É interessante a leitura de “Ruy Barbosa – Mocidade e Exílio”, de Américo Jacobina Lacombe, para resgatar fatos e circunstâncias que merecem atenção em tempos bicudos como os nossos.

O tio Albino, hoje também esquecido em Campinas, era muito elegante no vestir. Pequena estatura, face cuidadosamente escanhoada e deixava em torno ao rosto barbas muito brancas, que iam de orelha a orelha. A família levava uma vida fidalga. O Conselheiro jamais consentiu em se entregar à promiscuidade democrática dos bondes. Tinha um coche com boleeiro e lacaio, ambos usando cartola e uniforme azul escuro, com debrum amarelo e vermelho na gola.

O sobrinho Ruy, desde as Arcadas, obteve claque nas conferências abolicionistas e comícios democráticos. Como advogado, foi exemplo de coragem. Assumiu a causa dos treze generais reformados administrativamente por Floriano. Para isso, elaborou um alentado arrazoado, monumento de saber e alta lição de civismo, publicado sob o título “Os atos inconstitucionais do Congresso e do Executivo ante a Justiça Federal”.

Ruy Barbosa crescia em sapiência, destacando-se no Brasil medíocre tal píncaro solitário que, da amplidão de seus horizontes, observava todos os quadrantes da realidade nacional.

O STF não acolhia automaticamente seus argumentos. Em inúmeras questões, além daquela dos treze generais, Pedro Lessa o fez perder as causas. Num processo célebre, de interesse dos mineiros, foi uma profunda decepção e a mídia registrou os termos violentos com que se manifestaram várias autoridades. Ruy opôs embargos, que foram rechaçados.

Isso não impediu fosse ele nomeado Chefe da Delegação à Conferência de Paz de 1907 em Haia. Era Vice-Presidente do Senado e primeiro substituto do Vice-Presidente da novel República. Ruy Barbosa chegou a Paris com a família, no dia 8 de junho de 1907 e se instalou no Hotel Regina. Era grande a delegação brasileira: Rodrigo Octávio, Coronel Roberto Trompowski, capitão de fragata Tancredo Burlamaqui, Arthur de Carvalho Moreira, Abelardo Roças, José Rodrigues Alves, Antonio Baptista Pereira, Leopoldo Magalhães Castro e Fernando Dobbert, entre outros.

Essa Conferência de Paz de 1907 era a segunda, pois a primeira fora realizada em 1899 e restrita à questão da redução dos armamentos militares. Além do México, o Brasil fora o único país latino da América a ser convidado a participar. E, convidado, não compareceu. Atribui-se a culpa a Olynto de Magalhães, Ministro das Relações Exteriores de Campos Salles. E isso porque o Brasil não se dispunha a reduzir seu material bélico de terra e de mar. Ao contrário, estava empenhado em renovar seu armamento, em restaurar o seu poder militar.

Já para a segunda Conferência, o critério foi outro, determinado pela intervenção do Presidente Theodor Roosevelt. Para ela foram convidados todos os países de soberania reconhecida. Era a tentativa de concerto universal. Todos os Estados, por minúsculos fossem seus territórios e importância, passaram a ter voz no capítulo. Foi uma espécie de adoção, na vida internacional, do princípio do sufrágio universal. O Brasil não fazia ainda ideia de que traria para a Conferência, na pequenina figura, quase desconhecida no plano internacional, alguém que se apresentaria como defensor impertérrito do princípio que prevaleceu no domínio internacional, de igualdade entre as nações.

Foi a partir daí que Ruy Barbosa passou a ser considerado em sua terra a maior expressão de cultura jurídica e de capacidade intelectual. A figura que poderia brilhar no estrangeiro seria Joaquim Nabuco, então Embaixador em Washington e bem prestigiado na diplomacia mundial. Mas Ruy teve de conquistar, nesse espaço, palmo a palmo, o respeito de todo o planeta. Animava-o, perfeita consciência de sua responsabilidade, embora acabrunhado pelo peso dela. Voltarei ao tema.

Por mais que se escreva sobre Ruy Barbosa, sempre haverá o que se dizer sobre esse baiano que estudou em São Paulo e cujo centenário de morte – 2023 – não foi celebrado à altura de seu merecimento. É o Brasil desmemoriado que cultua o poder transitório de quem não tem cacife para ser lembrado após à partida e descuida de transmitir às gerações de amanhã os exemplos que merecem eterna reverência. Isso explica, em boa parte, os frangalhos em que se encontra a ética tupiniquim.

Ruy descendia de antiga família portuguesa dos Barbosa de Oliveira, estabelecida na Bahia no século 18. Desse tronco, Albino Barbosa de Oliveira, tio de seu pai, morou em Campinas, onde constituiu família.

Albino Barbosa de Oliveira foi magistrado, fazendeiro em Campinas e faleceu em 1889, como Conselheiro, Grã Cruz de Cristo, Presidente do Supremo Tribunal de Justiça. É interessante a leitura de “Ruy Barbosa – Mocidade e Exílio”, de Américo Jacobina Lacombe, para resgatar fatos e circunstâncias que merecem atenção em tempos bicudos como os nossos.

O tio Albino, hoje também esquecido em Campinas, era muito elegante no vestir. Pequena estatura, face cuidadosamente escanhoada e deixava em torno ao rosto barbas muito brancas, que iam de orelha a orelha. A família levava uma vida fidalga. O Conselheiro jamais consentiu em se entregar à promiscuidade democrática dos bondes. Tinha um coche com boleeiro e lacaio, ambos usando cartola e uniforme azul escuro, com debrum amarelo e vermelho na gola.

O sobrinho Ruy, desde as Arcadas, obteve claque nas conferências abolicionistas e comícios democráticos. Como advogado, foi exemplo de coragem. Assumiu a causa dos treze generais reformados administrativamente por Floriano. Para isso, elaborou um alentado arrazoado, monumento de saber e alta lição de civismo, publicado sob o título “Os atos inconstitucionais do Congresso e do Executivo ante a Justiça Federal”.

Ruy Barbosa crescia em sapiência, destacando-se no Brasil medíocre tal píncaro solitário que, da amplidão de seus horizontes, observava todos os quadrantes da realidade nacional.

O STF não acolhia automaticamente seus argumentos. Em inúmeras questões, além daquela dos treze generais, Pedro Lessa o fez perder as causas. Num processo célebre, de interesse dos mineiros, foi uma profunda decepção e a mídia registrou os termos violentos com que se manifestaram várias autoridades. Ruy opôs embargos, que foram rechaçados.

Isso não impediu fosse ele nomeado Chefe da Delegação à Conferência de Paz de 1907 em Haia. Era Vice-Presidente do Senado e primeiro substituto do Vice-Presidente da novel República. Ruy Barbosa chegou a Paris com a família, no dia 8 de junho de 1907 e se instalou no Hotel Regina. Era grande a delegação brasileira: Rodrigo Octávio, Coronel Roberto Trompowski, capitão de fragata Tancredo Burlamaqui, Arthur de Carvalho Moreira, Abelardo Roças, José Rodrigues Alves, Antonio Baptista Pereira, Leopoldo Magalhães Castro e Fernando Dobbert, entre outros.

Essa Conferência de Paz de 1907 era a segunda, pois a primeira fora realizada em 1899 e restrita à questão da redução dos armamentos militares. Além do México, o Brasil fora o único país latino da América a ser convidado a participar. E, convidado, não compareceu. Atribui-se a culpa a Olynto de Magalhães, Ministro das Relações Exteriores de Campos Salles. E isso porque o Brasil não se dispunha a reduzir seu material bélico de terra e de mar. Ao contrário, estava empenhado em renovar seu armamento, em restaurar o seu poder militar.

Já para a segunda Conferência, o critério foi outro, determinado pela intervenção do Presidente Theodor Roosevelt. Para ela foram convidados todos os países de soberania reconhecida. Era a tentativa de concerto universal. Todos os Estados, por minúsculos fossem seus territórios e importância, passaram a ter voz no capítulo. Foi uma espécie de adoção, na vida internacional, do princípio do sufrágio universal. O Brasil não fazia ainda ideia de que traria para a Conferência, na pequenina figura, quase desconhecida no plano internacional, alguém que se apresentaria como defensor impertérrito do princípio que prevaleceu no domínio internacional, de igualdade entre as nações.

Foi a partir daí que Ruy Barbosa passou a ser considerado em sua terra a maior expressão de cultura jurídica e de capacidade intelectual. A figura que poderia brilhar no estrangeiro seria Joaquim Nabuco, então Embaixador em Washington e bem prestigiado na diplomacia mundial. Mas Ruy teve de conquistar, nesse espaço, palmo a palmo, o respeito de todo o planeta. Animava-o, perfeita consciência de sua responsabilidade, embora acabrunhado pelo peso dela. Voltarei ao tema.

Por mais que se escreva sobre Ruy Barbosa, sempre haverá o que se dizer sobre esse baiano que estudou em São Paulo e cujo centenário de morte – 2023 – não foi celebrado à altura de seu merecimento. É o Brasil desmemoriado que cultua o poder transitório de quem não tem cacife para ser lembrado após à partida e descuida de transmitir às gerações de amanhã os exemplos que merecem eterna reverência. Isso explica, em boa parte, os frangalhos em que se encontra a ética tupiniquim.

Ruy descendia de antiga família portuguesa dos Barbosa de Oliveira, estabelecida na Bahia no século 18. Desse tronco, Albino Barbosa de Oliveira, tio de seu pai, morou em Campinas, onde constituiu família.

Albino Barbosa de Oliveira foi magistrado, fazendeiro em Campinas e faleceu em 1889, como Conselheiro, Grã Cruz de Cristo, Presidente do Supremo Tribunal de Justiça. É interessante a leitura de “Ruy Barbosa – Mocidade e Exílio”, de Américo Jacobina Lacombe, para resgatar fatos e circunstâncias que merecem atenção em tempos bicudos como os nossos.

O tio Albino, hoje também esquecido em Campinas, era muito elegante no vestir. Pequena estatura, face cuidadosamente escanhoada e deixava em torno ao rosto barbas muito brancas, que iam de orelha a orelha. A família levava uma vida fidalga. O Conselheiro jamais consentiu em se entregar à promiscuidade democrática dos bondes. Tinha um coche com boleeiro e lacaio, ambos usando cartola e uniforme azul escuro, com debrum amarelo e vermelho na gola.

O sobrinho Ruy, desde as Arcadas, obteve claque nas conferências abolicionistas e comícios democráticos. Como advogado, foi exemplo de coragem. Assumiu a causa dos treze generais reformados administrativamente por Floriano. Para isso, elaborou um alentado arrazoado, monumento de saber e alta lição de civismo, publicado sob o título “Os atos inconstitucionais do Congresso e do Executivo ante a Justiça Federal”.

Ruy Barbosa crescia em sapiência, destacando-se no Brasil medíocre tal píncaro solitário que, da amplidão de seus horizontes, observava todos os quadrantes da realidade nacional.

O STF não acolhia automaticamente seus argumentos. Em inúmeras questões, além daquela dos treze generais, Pedro Lessa o fez perder as causas. Num processo célebre, de interesse dos mineiros, foi uma profunda decepção e a mídia registrou os termos violentos com que se manifestaram várias autoridades. Ruy opôs embargos, que foram rechaçados.

Isso não impediu fosse ele nomeado Chefe da Delegação à Conferência de Paz de 1907 em Haia. Era Vice-Presidente do Senado e primeiro substituto do Vice-Presidente da novel República. Ruy Barbosa chegou a Paris com a família, no dia 8 de junho de 1907 e se instalou no Hotel Regina. Era grande a delegação brasileira: Rodrigo Octávio, Coronel Roberto Trompowski, capitão de fragata Tancredo Burlamaqui, Arthur de Carvalho Moreira, Abelardo Roças, José Rodrigues Alves, Antonio Baptista Pereira, Leopoldo Magalhães Castro e Fernando Dobbert, entre outros.

Essa Conferência de Paz de 1907 era a segunda, pois a primeira fora realizada em 1899 e restrita à questão da redução dos armamentos militares. Além do México, o Brasil fora o único país latino da América a ser convidado a participar. E, convidado, não compareceu. Atribui-se a culpa a Olynto de Magalhães, Ministro das Relações Exteriores de Campos Salles. E isso porque o Brasil não se dispunha a reduzir seu material bélico de terra e de mar. Ao contrário, estava empenhado em renovar seu armamento, em restaurar o seu poder militar.

Já para a segunda Conferência, o critério foi outro, determinado pela intervenção do Presidente Theodor Roosevelt. Para ela foram convidados todos os países de soberania reconhecida. Era a tentativa de concerto universal. Todos os Estados, por minúsculos fossem seus territórios e importância, passaram a ter voz no capítulo. Foi uma espécie de adoção, na vida internacional, do princípio do sufrágio universal. O Brasil não fazia ainda ideia de que traria para a Conferência, na pequenina figura, quase desconhecida no plano internacional, alguém que se apresentaria como defensor impertérrito do princípio que prevaleceu no domínio internacional, de igualdade entre as nações.

Foi a partir daí que Ruy Barbosa passou a ser considerado em sua terra a maior expressão de cultura jurídica e de capacidade intelectual. A figura que poderia brilhar no estrangeiro seria Joaquim Nabuco, então Embaixador em Washington e bem prestigiado na diplomacia mundial. Mas Ruy teve de conquistar, nesse espaço, palmo a palmo, o respeito de todo o planeta. Animava-o, perfeita consciência de sua responsabilidade, embora acabrunhado pelo peso dela. Voltarei ao tema.

Por mais que se escreva sobre Ruy Barbosa, sempre haverá o que se dizer sobre esse baiano que estudou em São Paulo e cujo centenário de morte – 2023 – não foi celebrado à altura de seu merecimento. É o Brasil desmemoriado que cultua o poder transitório de quem não tem cacife para ser lembrado após à partida e descuida de transmitir às gerações de amanhã os exemplos que merecem eterna reverência. Isso explica, em boa parte, os frangalhos em que se encontra a ética tupiniquim.

Ruy descendia de antiga família portuguesa dos Barbosa de Oliveira, estabelecida na Bahia no século 18. Desse tronco, Albino Barbosa de Oliveira, tio de seu pai, morou em Campinas, onde constituiu família.

Albino Barbosa de Oliveira foi magistrado, fazendeiro em Campinas e faleceu em 1889, como Conselheiro, Grã Cruz de Cristo, Presidente do Supremo Tribunal de Justiça. É interessante a leitura de “Ruy Barbosa – Mocidade e Exílio”, de Américo Jacobina Lacombe, para resgatar fatos e circunstâncias que merecem atenção em tempos bicudos como os nossos.

O tio Albino, hoje também esquecido em Campinas, era muito elegante no vestir. Pequena estatura, face cuidadosamente escanhoada e deixava em torno ao rosto barbas muito brancas, que iam de orelha a orelha. A família levava uma vida fidalga. O Conselheiro jamais consentiu em se entregar à promiscuidade democrática dos bondes. Tinha um coche com boleeiro e lacaio, ambos usando cartola e uniforme azul escuro, com debrum amarelo e vermelho na gola.

O sobrinho Ruy, desde as Arcadas, obteve claque nas conferências abolicionistas e comícios democráticos. Como advogado, foi exemplo de coragem. Assumiu a causa dos treze generais reformados administrativamente por Floriano. Para isso, elaborou um alentado arrazoado, monumento de saber e alta lição de civismo, publicado sob o título “Os atos inconstitucionais do Congresso e do Executivo ante a Justiça Federal”.

Ruy Barbosa crescia em sapiência, destacando-se no Brasil medíocre tal píncaro solitário que, da amplidão de seus horizontes, observava todos os quadrantes da realidade nacional.

O STF não acolhia automaticamente seus argumentos. Em inúmeras questões, além daquela dos treze generais, Pedro Lessa o fez perder as causas. Num processo célebre, de interesse dos mineiros, foi uma profunda decepção e a mídia registrou os termos violentos com que se manifestaram várias autoridades. Ruy opôs embargos, que foram rechaçados.

Isso não impediu fosse ele nomeado Chefe da Delegação à Conferência de Paz de 1907 em Haia. Era Vice-Presidente do Senado e primeiro substituto do Vice-Presidente da novel República. Ruy Barbosa chegou a Paris com a família, no dia 8 de junho de 1907 e se instalou no Hotel Regina. Era grande a delegação brasileira: Rodrigo Octávio, Coronel Roberto Trompowski, capitão de fragata Tancredo Burlamaqui, Arthur de Carvalho Moreira, Abelardo Roças, José Rodrigues Alves, Antonio Baptista Pereira, Leopoldo Magalhães Castro e Fernando Dobbert, entre outros.

Essa Conferência de Paz de 1907 era a segunda, pois a primeira fora realizada em 1899 e restrita à questão da redução dos armamentos militares. Além do México, o Brasil fora o único país latino da América a ser convidado a participar. E, convidado, não compareceu. Atribui-se a culpa a Olynto de Magalhães, Ministro das Relações Exteriores de Campos Salles. E isso porque o Brasil não se dispunha a reduzir seu material bélico de terra e de mar. Ao contrário, estava empenhado em renovar seu armamento, em restaurar o seu poder militar.

Já para a segunda Conferência, o critério foi outro, determinado pela intervenção do Presidente Theodor Roosevelt. Para ela foram convidados todos os países de soberania reconhecida. Era a tentativa de concerto universal. Todos os Estados, por minúsculos fossem seus territórios e importância, passaram a ter voz no capítulo. Foi uma espécie de adoção, na vida internacional, do princípio do sufrágio universal. O Brasil não fazia ainda ideia de que traria para a Conferência, na pequenina figura, quase desconhecida no plano internacional, alguém que se apresentaria como defensor impertérrito do princípio que prevaleceu no domínio internacional, de igualdade entre as nações.

Foi a partir daí que Ruy Barbosa passou a ser considerado em sua terra a maior expressão de cultura jurídica e de capacidade intelectual. A figura que poderia brilhar no estrangeiro seria Joaquim Nabuco, então Embaixador em Washington e bem prestigiado na diplomacia mundial. Mas Ruy teve de conquistar, nesse espaço, palmo a palmo, o respeito de todo o planeta. Animava-o, perfeita consciência de sua responsabilidade, embora acabrunhado pelo peso dela. Voltarei ao tema.

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