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Opinião|Se não agora, quando?


Chamo a atenção do leitor para dois pontos que tornam este momento especial para subirmos a nossa régua de evolução civilizatória. Primeiro, estamos em plena era da transição energética. Segundo, a possibilidade de considerar a reforma tributária como vetor de oportunidade para a conscientização do fluxo de tributos gasto com uma máquina pública pesada

Por Anselmo Gonçalves

O momento histórico de transição energética e reforma tributária traz uma nova oportunidade de adequação entre as mudanças necessárias e a integração do cidadão comum às novas conquistas, estimuladas por governos e empresas em claro aprimoramento social, podendo unir valores éticos com o crescimento econômico. Estamos preparados para isso? Em sintética análise, muito antes do estabelecimento do que seria direita e esquerda, oriunda da Revolução Francesa, o mundo já discutia a aparente dicotomia entre direito e moral. Sociedades inteiras construíram seus valores tentando equacionar o sentido individual ou coletivo comum, a que se convencionou chamar de moral, à relação de conduta aceitável e exteriorizada entre coletividades, variando valores de acordo com as épocas e civilizações.

No meio da difícil equação acima tínhamos, e continuamos tendo, o vetor da ética como processo questionador e filosófico de toda aquela relação, instigando a evolução social dos diversos povos. É assim que caminha a humanidade até hoje, irrigada pelos avanços econômicos, tecnológicos, filosóficos em contradição com antigos conceitos enraizados em antigas convenções. Alguns já ressignificados e atuais, outros nem tanto. Um pouco deste caldeirão de influências pode explicar por que em um determinado momento a escravidão era plenamente aceitável, e em outro passou a ser combatida e rechaçada. Se antes era válida a visão aristotélica de que o escravo era um instrumento legítimo, em outro momento se estabeleceu o descrédito sobre tal entendimento.

É verdade que nem todo o convencimento ético-estrutural de uma sociedade é capaz de estancar definitivamente o mal que estava arraigado anteriormente. Mas, o real avanço é perceptível e convincente. Da mesma forma, no mundo dos negócios, ao longo do tempo, a formulação da atividade econômica passou por diversas outras alterações. Mais recentemente, sob o pós-guerra, a geração baby boomer que, apressada para alcançar resultados que viessem a premiar as novas relações de poder, aceitou o conceito de que quase tudo seria válido para que o lucro fosse obtido.

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Gerações construíram a noção de sucesso como único objetivo que premiasse a existência humana. Assim, o retorno do investimento não se relacionava com variáveis sociais, governamentais, ou mesmo de risco ambiental. O bônus de final de ano era responsável pelo modo de atuação de inúmeros executivos mundiais. Dividimos o ambiente de trabalho entre protagonistas e colaboradores, estes últimos observando atentamente a diminuição de postos de trabalho, a necessidade de atualização constante, a quase exclusão de valores que, apregoados nos dogmas de visão empresarial, não contemplavam o real fortalecimento da ética, da integridade profissional e do fortalecimento de valores pessoais no aprimoramento do cidadão e da sociedade.

Escândalos empresariais não faltaram. Evidentemente, tais condutas não poderiam se eternizar se considerarmos que os recursos da economia são limitados. Foi aí que, para as empresas, acendeu a luz amarela. Os ativistas da ecologia deixaram de ser vistos como rebeldes sem causa, os formuladores de opinião passaram a refletir sobre o futuro do trabalho e os economistas passaram a prestar atenção na chamada economia social. Como já dito, nenhum processo evolutivo se consagra da noite para o dia. Os “jovens há mais tempo” já observaram, viveram, traspuseram e talvez criticaram este processo econômico e social visível, carecedor de novas reflexões, mesmo considerando avanços e alcances. Mas nem tudo são más notícias.

Por isso, chamo a atenção do leitor para dois pontos que tornam este momento especial para subirmos a nossa régua de evolução civilizatória, sem que com isso tenhamos a visão ingênua de que todas as mazelas serão vencidas de um momento para o outro, sem tropeços. Primeiro, estamos em plena era da transição energética, que traz consigo a tentativa desesperada na busca de redução das emissões de carbono, algo imperioso e que mesmo assim encontra resistências da economia do carvão, cujos atores são conhecidos pelo atraso e pela visão retrógrada. O fato é que estamos diante de um novo padrão sem volta para a formulação energética.

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A título de exemplo, o Brasil se comprometeu a diminuir em cinquenta por cento as emissões de carbono até 2030. Há uma grande discussão sobre estarmos diante de uma meta factível, mas não podemos desconsiderar que este compromisso internacional aponta para a tentativa de nos firmarmos como potência verde, à luz das dificuldades econômicas e da necessidade de financiamento externo para a proteção de matas e ecossistemas ameaçados.

Ninguém poderá imaginar que o esforço econômico da mudança da matriz energética poderá conviver com os incêndios florestais, que atemorizam o país. Mas seria contraditório imaginar que o papel da mudança econômica poderia prescindir de um grande esforço de conscientização de todos os partícipes sociais. Funcionários, fornecedores, clientes e governos. Se entendermos que é possível trazer o cidadão comum à necessidade de sobrevivência nossa e das futuras gerações, filhos, netos e bisnetos, começaremos a recolocar os verdadeiros valores sociais de respeito pelo próximo, respeito pela natureza e integridade na conduta nos trilhos da convivência possível.

Segundo, a possibilidade de considerar a reforma tributária como vetor de oportunidade para a conscientização do fluxo de tributos gasto com uma máquina pública pesada, com baixa produtividade e que desvia recursos de finalidades primordiais, como saúde preventiva e adequação educacional, em um mundo cada vez mais competitivo. Se soubermos quanto pagaremos, saberemos quanto vamos exigir. Não é um processo simples, mas é a versão moderna do mínimo múltiplo comum, que nada tem de aritmético e sim de integridade de valores alcançados pela ampla janela de oportunidades. Não se pode renunciar a nada e nem deixar de incluir o cidadão, do abastado ao mais simples. A janela de oportunidade está presente, vamos evoluir para além da tecnologia e simplificação tributária. Estamos preparados para não perder mais essas oportunidades?

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Este texto reflete única e exclusivamente a opinião do(a) autor(a) e não representa a visão do Instituto Não Aceito Corrupção (Inac). Esta série é uma parceria entre o Blog do Fausto Macedo e o Instituto Não Aceito Corrupção. Os artigos têm publicação periódica

O momento histórico de transição energética e reforma tributária traz uma nova oportunidade de adequação entre as mudanças necessárias e a integração do cidadão comum às novas conquistas, estimuladas por governos e empresas em claro aprimoramento social, podendo unir valores éticos com o crescimento econômico. Estamos preparados para isso? Em sintética análise, muito antes do estabelecimento do que seria direita e esquerda, oriunda da Revolução Francesa, o mundo já discutia a aparente dicotomia entre direito e moral. Sociedades inteiras construíram seus valores tentando equacionar o sentido individual ou coletivo comum, a que se convencionou chamar de moral, à relação de conduta aceitável e exteriorizada entre coletividades, variando valores de acordo com as épocas e civilizações.

No meio da difícil equação acima tínhamos, e continuamos tendo, o vetor da ética como processo questionador e filosófico de toda aquela relação, instigando a evolução social dos diversos povos. É assim que caminha a humanidade até hoje, irrigada pelos avanços econômicos, tecnológicos, filosóficos em contradição com antigos conceitos enraizados em antigas convenções. Alguns já ressignificados e atuais, outros nem tanto. Um pouco deste caldeirão de influências pode explicar por que em um determinado momento a escravidão era plenamente aceitável, e em outro passou a ser combatida e rechaçada. Se antes era válida a visão aristotélica de que o escravo era um instrumento legítimo, em outro momento se estabeleceu o descrédito sobre tal entendimento.

É verdade que nem todo o convencimento ético-estrutural de uma sociedade é capaz de estancar definitivamente o mal que estava arraigado anteriormente. Mas, o real avanço é perceptível e convincente. Da mesma forma, no mundo dos negócios, ao longo do tempo, a formulação da atividade econômica passou por diversas outras alterações. Mais recentemente, sob o pós-guerra, a geração baby boomer que, apressada para alcançar resultados que viessem a premiar as novas relações de poder, aceitou o conceito de que quase tudo seria válido para que o lucro fosse obtido.

Gerações construíram a noção de sucesso como único objetivo que premiasse a existência humana. Assim, o retorno do investimento não se relacionava com variáveis sociais, governamentais, ou mesmo de risco ambiental. O bônus de final de ano era responsável pelo modo de atuação de inúmeros executivos mundiais. Dividimos o ambiente de trabalho entre protagonistas e colaboradores, estes últimos observando atentamente a diminuição de postos de trabalho, a necessidade de atualização constante, a quase exclusão de valores que, apregoados nos dogmas de visão empresarial, não contemplavam o real fortalecimento da ética, da integridade profissional e do fortalecimento de valores pessoais no aprimoramento do cidadão e da sociedade.

Escândalos empresariais não faltaram. Evidentemente, tais condutas não poderiam se eternizar se considerarmos que os recursos da economia são limitados. Foi aí que, para as empresas, acendeu a luz amarela. Os ativistas da ecologia deixaram de ser vistos como rebeldes sem causa, os formuladores de opinião passaram a refletir sobre o futuro do trabalho e os economistas passaram a prestar atenção na chamada economia social. Como já dito, nenhum processo evolutivo se consagra da noite para o dia. Os “jovens há mais tempo” já observaram, viveram, traspuseram e talvez criticaram este processo econômico e social visível, carecedor de novas reflexões, mesmo considerando avanços e alcances. Mas nem tudo são más notícias.

Por isso, chamo a atenção do leitor para dois pontos que tornam este momento especial para subirmos a nossa régua de evolução civilizatória, sem que com isso tenhamos a visão ingênua de que todas as mazelas serão vencidas de um momento para o outro, sem tropeços. Primeiro, estamos em plena era da transição energética, que traz consigo a tentativa desesperada na busca de redução das emissões de carbono, algo imperioso e que mesmo assim encontra resistências da economia do carvão, cujos atores são conhecidos pelo atraso e pela visão retrógrada. O fato é que estamos diante de um novo padrão sem volta para a formulação energética.

A título de exemplo, o Brasil se comprometeu a diminuir em cinquenta por cento as emissões de carbono até 2030. Há uma grande discussão sobre estarmos diante de uma meta factível, mas não podemos desconsiderar que este compromisso internacional aponta para a tentativa de nos firmarmos como potência verde, à luz das dificuldades econômicas e da necessidade de financiamento externo para a proteção de matas e ecossistemas ameaçados.

Ninguém poderá imaginar que o esforço econômico da mudança da matriz energética poderá conviver com os incêndios florestais, que atemorizam o país. Mas seria contraditório imaginar que o papel da mudança econômica poderia prescindir de um grande esforço de conscientização de todos os partícipes sociais. Funcionários, fornecedores, clientes e governos. Se entendermos que é possível trazer o cidadão comum à necessidade de sobrevivência nossa e das futuras gerações, filhos, netos e bisnetos, começaremos a recolocar os verdadeiros valores sociais de respeito pelo próximo, respeito pela natureza e integridade na conduta nos trilhos da convivência possível.

Segundo, a possibilidade de considerar a reforma tributária como vetor de oportunidade para a conscientização do fluxo de tributos gasto com uma máquina pública pesada, com baixa produtividade e que desvia recursos de finalidades primordiais, como saúde preventiva e adequação educacional, em um mundo cada vez mais competitivo. Se soubermos quanto pagaremos, saberemos quanto vamos exigir. Não é um processo simples, mas é a versão moderna do mínimo múltiplo comum, que nada tem de aritmético e sim de integridade de valores alcançados pela ampla janela de oportunidades. Não se pode renunciar a nada e nem deixar de incluir o cidadão, do abastado ao mais simples. A janela de oportunidade está presente, vamos evoluir para além da tecnologia e simplificação tributária. Estamos preparados para não perder mais essas oportunidades?

Este texto reflete única e exclusivamente a opinião do(a) autor(a) e não representa a visão do Instituto Não Aceito Corrupção (Inac). Esta série é uma parceria entre o Blog do Fausto Macedo e o Instituto Não Aceito Corrupção. Os artigos têm publicação periódica

O momento histórico de transição energética e reforma tributária traz uma nova oportunidade de adequação entre as mudanças necessárias e a integração do cidadão comum às novas conquistas, estimuladas por governos e empresas em claro aprimoramento social, podendo unir valores éticos com o crescimento econômico. Estamos preparados para isso? Em sintética análise, muito antes do estabelecimento do que seria direita e esquerda, oriunda da Revolução Francesa, o mundo já discutia a aparente dicotomia entre direito e moral. Sociedades inteiras construíram seus valores tentando equacionar o sentido individual ou coletivo comum, a que se convencionou chamar de moral, à relação de conduta aceitável e exteriorizada entre coletividades, variando valores de acordo com as épocas e civilizações.

No meio da difícil equação acima tínhamos, e continuamos tendo, o vetor da ética como processo questionador e filosófico de toda aquela relação, instigando a evolução social dos diversos povos. É assim que caminha a humanidade até hoje, irrigada pelos avanços econômicos, tecnológicos, filosóficos em contradição com antigos conceitos enraizados em antigas convenções. Alguns já ressignificados e atuais, outros nem tanto. Um pouco deste caldeirão de influências pode explicar por que em um determinado momento a escravidão era plenamente aceitável, e em outro passou a ser combatida e rechaçada. Se antes era válida a visão aristotélica de que o escravo era um instrumento legítimo, em outro momento se estabeleceu o descrédito sobre tal entendimento.

É verdade que nem todo o convencimento ético-estrutural de uma sociedade é capaz de estancar definitivamente o mal que estava arraigado anteriormente. Mas, o real avanço é perceptível e convincente. Da mesma forma, no mundo dos negócios, ao longo do tempo, a formulação da atividade econômica passou por diversas outras alterações. Mais recentemente, sob o pós-guerra, a geração baby boomer que, apressada para alcançar resultados que viessem a premiar as novas relações de poder, aceitou o conceito de que quase tudo seria válido para que o lucro fosse obtido.

Gerações construíram a noção de sucesso como único objetivo que premiasse a existência humana. Assim, o retorno do investimento não se relacionava com variáveis sociais, governamentais, ou mesmo de risco ambiental. O bônus de final de ano era responsável pelo modo de atuação de inúmeros executivos mundiais. Dividimos o ambiente de trabalho entre protagonistas e colaboradores, estes últimos observando atentamente a diminuição de postos de trabalho, a necessidade de atualização constante, a quase exclusão de valores que, apregoados nos dogmas de visão empresarial, não contemplavam o real fortalecimento da ética, da integridade profissional e do fortalecimento de valores pessoais no aprimoramento do cidadão e da sociedade.

Escândalos empresariais não faltaram. Evidentemente, tais condutas não poderiam se eternizar se considerarmos que os recursos da economia são limitados. Foi aí que, para as empresas, acendeu a luz amarela. Os ativistas da ecologia deixaram de ser vistos como rebeldes sem causa, os formuladores de opinião passaram a refletir sobre o futuro do trabalho e os economistas passaram a prestar atenção na chamada economia social. Como já dito, nenhum processo evolutivo se consagra da noite para o dia. Os “jovens há mais tempo” já observaram, viveram, traspuseram e talvez criticaram este processo econômico e social visível, carecedor de novas reflexões, mesmo considerando avanços e alcances. Mas nem tudo são más notícias.

Por isso, chamo a atenção do leitor para dois pontos que tornam este momento especial para subirmos a nossa régua de evolução civilizatória, sem que com isso tenhamos a visão ingênua de que todas as mazelas serão vencidas de um momento para o outro, sem tropeços. Primeiro, estamos em plena era da transição energética, que traz consigo a tentativa desesperada na busca de redução das emissões de carbono, algo imperioso e que mesmo assim encontra resistências da economia do carvão, cujos atores são conhecidos pelo atraso e pela visão retrógrada. O fato é que estamos diante de um novo padrão sem volta para a formulação energética.

A título de exemplo, o Brasil se comprometeu a diminuir em cinquenta por cento as emissões de carbono até 2030. Há uma grande discussão sobre estarmos diante de uma meta factível, mas não podemos desconsiderar que este compromisso internacional aponta para a tentativa de nos firmarmos como potência verde, à luz das dificuldades econômicas e da necessidade de financiamento externo para a proteção de matas e ecossistemas ameaçados.

Ninguém poderá imaginar que o esforço econômico da mudança da matriz energética poderá conviver com os incêndios florestais, que atemorizam o país. Mas seria contraditório imaginar que o papel da mudança econômica poderia prescindir de um grande esforço de conscientização de todos os partícipes sociais. Funcionários, fornecedores, clientes e governos. Se entendermos que é possível trazer o cidadão comum à necessidade de sobrevivência nossa e das futuras gerações, filhos, netos e bisnetos, começaremos a recolocar os verdadeiros valores sociais de respeito pelo próximo, respeito pela natureza e integridade na conduta nos trilhos da convivência possível.

Segundo, a possibilidade de considerar a reforma tributária como vetor de oportunidade para a conscientização do fluxo de tributos gasto com uma máquina pública pesada, com baixa produtividade e que desvia recursos de finalidades primordiais, como saúde preventiva e adequação educacional, em um mundo cada vez mais competitivo. Se soubermos quanto pagaremos, saberemos quanto vamos exigir. Não é um processo simples, mas é a versão moderna do mínimo múltiplo comum, que nada tem de aritmético e sim de integridade de valores alcançados pela ampla janela de oportunidades. Não se pode renunciar a nada e nem deixar de incluir o cidadão, do abastado ao mais simples. A janela de oportunidade está presente, vamos evoluir para além da tecnologia e simplificação tributária. Estamos preparados para não perder mais essas oportunidades?

Este texto reflete única e exclusivamente a opinião do(a) autor(a) e não representa a visão do Instituto Não Aceito Corrupção (Inac). Esta série é uma parceria entre o Blog do Fausto Macedo e o Instituto Não Aceito Corrupção. Os artigos têm publicação periódica

O momento histórico de transição energética e reforma tributária traz uma nova oportunidade de adequação entre as mudanças necessárias e a integração do cidadão comum às novas conquistas, estimuladas por governos e empresas em claro aprimoramento social, podendo unir valores éticos com o crescimento econômico. Estamos preparados para isso? Em sintética análise, muito antes do estabelecimento do que seria direita e esquerda, oriunda da Revolução Francesa, o mundo já discutia a aparente dicotomia entre direito e moral. Sociedades inteiras construíram seus valores tentando equacionar o sentido individual ou coletivo comum, a que se convencionou chamar de moral, à relação de conduta aceitável e exteriorizada entre coletividades, variando valores de acordo com as épocas e civilizações.

No meio da difícil equação acima tínhamos, e continuamos tendo, o vetor da ética como processo questionador e filosófico de toda aquela relação, instigando a evolução social dos diversos povos. É assim que caminha a humanidade até hoje, irrigada pelos avanços econômicos, tecnológicos, filosóficos em contradição com antigos conceitos enraizados em antigas convenções. Alguns já ressignificados e atuais, outros nem tanto. Um pouco deste caldeirão de influências pode explicar por que em um determinado momento a escravidão era plenamente aceitável, e em outro passou a ser combatida e rechaçada. Se antes era válida a visão aristotélica de que o escravo era um instrumento legítimo, em outro momento se estabeleceu o descrédito sobre tal entendimento.

É verdade que nem todo o convencimento ético-estrutural de uma sociedade é capaz de estancar definitivamente o mal que estava arraigado anteriormente. Mas, o real avanço é perceptível e convincente. Da mesma forma, no mundo dos negócios, ao longo do tempo, a formulação da atividade econômica passou por diversas outras alterações. Mais recentemente, sob o pós-guerra, a geração baby boomer que, apressada para alcançar resultados que viessem a premiar as novas relações de poder, aceitou o conceito de que quase tudo seria válido para que o lucro fosse obtido.

Gerações construíram a noção de sucesso como único objetivo que premiasse a existência humana. Assim, o retorno do investimento não se relacionava com variáveis sociais, governamentais, ou mesmo de risco ambiental. O bônus de final de ano era responsável pelo modo de atuação de inúmeros executivos mundiais. Dividimos o ambiente de trabalho entre protagonistas e colaboradores, estes últimos observando atentamente a diminuição de postos de trabalho, a necessidade de atualização constante, a quase exclusão de valores que, apregoados nos dogmas de visão empresarial, não contemplavam o real fortalecimento da ética, da integridade profissional e do fortalecimento de valores pessoais no aprimoramento do cidadão e da sociedade.

Escândalos empresariais não faltaram. Evidentemente, tais condutas não poderiam se eternizar se considerarmos que os recursos da economia são limitados. Foi aí que, para as empresas, acendeu a luz amarela. Os ativistas da ecologia deixaram de ser vistos como rebeldes sem causa, os formuladores de opinião passaram a refletir sobre o futuro do trabalho e os economistas passaram a prestar atenção na chamada economia social. Como já dito, nenhum processo evolutivo se consagra da noite para o dia. Os “jovens há mais tempo” já observaram, viveram, traspuseram e talvez criticaram este processo econômico e social visível, carecedor de novas reflexões, mesmo considerando avanços e alcances. Mas nem tudo são más notícias.

Por isso, chamo a atenção do leitor para dois pontos que tornam este momento especial para subirmos a nossa régua de evolução civilizatória, sem que com isso tenhamos a visão ingênua de que todas as mazelas serão vencidas de um momento para o outro, sem tropeços. Primeiro, estamos em plena era da transição energética, que traz consigo a tentativa desesperada na busca de redução das emissões de carbono, algo imperioso e que mesmo assim encontra resistências da economia do carvão, cujos atores são conhecidos pelo atraso e pela visão retrógrada. O fato é que estamos diante de um novo padrão sem volta para a formulação energética.

A título de exemplo, o Brasil se comprometeu a diminuir em cinquenta por cento as emissões de carbono até 2030. Há uma grande discussão sobre estarmos diante de uma meta factível, mas não podemos desconsiderar que este compromisso internacional aponta para a tentativa de nos firmarmos como potência verde, à luz das dificuldades econômicas e da necessidade de financiamento externo para a proteção de matas e ecossistemas ameaçados.

Ninguém poderá imaginar que o esforço econômico da mudança da matriz energética poderá conviver com os incêndios florestais, que atemorizam o país. Mas seria contraditório imaginar que o papel da mudança econômica poderia prescindir de um grande esforço de conscientização de todos os partícipes sociais. Funcionários, fornecedores, clientes e governos. Se entendermos que é possível trazer o cidadão comum à necessidade de sobrevivência nossa e das futuras gerações, filhos, netos e bisnetos, começaremos a recolocar os verdadeiros valores sociais de respeito pelo próximo, respeito pela natureza e integridade na conduta nos trilhos da convivência possível.

Segundo, a possibilidade de considerar a reforma tributária como vetor de oportunidade para a conscientização do fluxo de tributos gasto com uma máquina pública pesada, com baixa produtividade e que desvia recursos de finalidades primordiais, como saúde preventiva e adequação educacional, em um mundo cada vez mais competitivo. Se soubermos quanto pagaremos, saberemos quanto vamos exigir. Não é um processo simples, mas é a versão moderna do mínimo múltiplo comum, que nada tem de aritmético e sim de integridade de valores alcançados pela ampla janela de oportunidades. Não se pode renunciar a nada e nem deixar de incluir o cidadão, do abastado ao mais simples. A janela de oportunidade está presente, vamos evoluir para além da tecnologia e simplificação tributária. Estamos preparados para não perder mais essas oportunidades?

Este texto reflete única e exclusivamente a opinião do(a) autor(a) e não representa a visão do Instituto Não Aceito Corrupção (Inac). Esta série é uma parceria entre o Blog do Fausto Macedo e o Instituto Não Aceito Corrupção. Os artigos têm publicação periódica

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