O ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), foi o último a votar nesta terça-feira, 31, no julgamento que condenou à inelegibilidade o ex-presidente Jair Bolsonaro e o general Walter Braga Netto por abuso de poder político e econômico e conduta vedada nas comemorações do 7 de setembro de 2022.
Moraes apresentou um longo e enérgico voto. O estilo contundente, característico do ministro, rendeu tiradas em série na reta final do julgamento. “Campanha, campanha e mais campanha”, afirmou ao defender que Bolsonaro usou as comemorações oficiais do Bicentenário da Independência para promover sua candidatura à reeleição. “O bicentenário serviu para falar desde preço da gasolina até o lançamento do Pix, passando pelo Fies e o aumento do Auxílio Brasil. Se isso não é campanha, nada mais é campanha.”
Na linha de frente do cerco ao ex-presidente e aos golpistas do 8 de janeiro, Moraes se mostra um ministro leve e solto, descontraído até. Ao invés de ler voto escrito, falou livremente nesta terça, confortável ao microfone. As anotações serviram apenas para refrescar a memória sobre pontos-chave da apresentação. O resultado foi discurso espontâneo e, em muitos momentos, ácido.
Moraes ironizou, por exemplo, a proximidade entre o desfile cívico-militar na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e o trio elétrico onde Bolsonaro fez comício após o evento. O ex-presidente foi a pé da cerimônia oficial para o ato de campanha. “Chega a ser quase uma ofensa à inteligência o palanque ser a 300 metros só. Nem precisava disfarçar. A distância só não foi menor, porque não dava”, reagiu o ministro.
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O presidente do TSE também rebateu a defesa de Bolsonaro. Um dos argumentos do advogado do ex-presidente é que, para marcar a separação entre os eventos oficial e de campanha, ele tirou a faixa presidencial. “Esqueceram só, ao tirar a faixa, de apertar um botão para sumir todo o dinheiro público que estava sendo gasto com as Forças Armadas adulando, lamentavelmente, naquele momento, e erroneamente, um candidato à sua própria reeleição”, disparou.
Em outro trecho do voto, Moraes lembrou que as comemorações do 7 de setembro no Rio, tradicionalmente organizadas na avenida Presidente Vargas, no centro da cidade, foram movidas para a orla de Copacabana, reduto de manifestações bolsonaristas, a pedido do ex-presidente. “Não houve nenhuma justificativa razoável para o cancelamento do desfile. Foi cancelado porque o presidente quis fazer em Copacabana e pronto”, disse.
O ministro lembrou ainda que o ex-deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado por manifestações antidemocráticas e preso por sucessivas violações à tornozeleira eletrônica, subiu ao palanque no Rio. “Alguém que estava desrespeitando determinação da Justiça, tinha quebrado tornozeleira eletrônica, acintosamente, participando dessa mistura entre o cívico-militar e o eleitoral”, criticou.
Moraes ainda reagiu a trechos dos discursos de Bolsonaro a apoiadores no 7 de setembro. Na ocaisão, o ex-presidente afirmou que seu governo fez ressurgir o “patriotismo” no Brasil. “Nós estávamos comemorando 200 anos de independência, não a chegada de alguém ao poder”, rebateu Moraes.
O presidente do TSE ironizou, por fim, o discurso popular entre apoiadores do ex-presidente sobre o avanço do comunismo. “Esse trauma, contra comunismo, socialismo, um dia será explicado por historiadores no Brasil.”