Atualizada às 18h26
Por Ricardo Brandt, Julia Affonso, Fausto Macedo e Andreza Matais
Entre as provas que levaram à prisão de presidente da Odebrecht está uma troca de e-mail entre um executivo da Braskem, ele e três executivos da empreiteira. O documento apreendido na sede da Odebrecht em novembro de 2014 indica que Marcelo Odebrecht sabia e tinha poder de decisão no esquema de sobrepreço em contratos de afretamento e operação de sondas.
Documento
VEJA A ÍNTEGRA DO DECRETO DE PRISÃOA mensagem eletrônica faz referência à colocação de sobrepreço de US$ 25 mil por dia no contrato de operação de sondas. Marcelo Odebrecht e os diretores Márcio Faria, Rogério Araújo e Alexandrino Alencar, da empreiteira, foram presos nesta sexta-feira, 19, na 14ª fase da Operação Lava Jato. Além do e-mail, apontamento de delações e outras provas levaram à prisão do presidente da empresa.
"De: ROBERTO PRISCO P RAMOS
Para: Marcelo Bahia Odebrecht; Fernando Barbosa; Marcio Faria da Silva; Rogerio Araujo
Enviada em: Mon Mar 21 19:01:54 2011
Assunto: RES: RES: sondas
Falei com o André em um sobre-preço no contrato de operação da ordem de $20-25000/dia (por sonda).
Acho que temos que pensar bem em como envolver a UTC e OAS, para que eles não venham a se tornar futuros concorrentes na área de afretamento e operação de sondas.
Já temos muitos brasileiros "aventureiros" neste assunto (Schahim, Etesco...).
Internamente, eu posso transferir resultado da OOG para a CNO, mas não posso fazê-lo para as outras duas; isto teria que ir dentro do mecanismo de distribuição de resultados dentro do consórcio.Meu ponto é que ele não pode ser proporcional as participações atuais, porque, sem a OOG, a equação não fecha e quem trás a OOG é a CNO.
Em tempo: falei ao André, respondendo a pergunta dele, que o desenvolvimento do Operador tem que ser desde o inicio, para participar da escolha dos componentes, acompanhar a construção das Unidades, definir níveis de spare parts e, principalmente, preparar os testes e comissionamento. Ele pareceu entender."
Segundo o procurador da República Carlos Fernando Lima e o delegado da Polícia Federal Igor Romário de Paula, essa e uma série de outras provas indicam o papel de domínio do fato do presidente da maior empreiteira do País no esquema de corrupção investigado pela Lava Jato. Para a força-tarefa da Lava Jato, havia sistematização de fraudes e desvios envolvendo contratos da empreiteira na área pública.
"A forma de contratação criminosa era disseminada dentro da Odebrecht e parece impossível se cogitar que não era de conhecimento deles (do presidente e executivos presos). Há prova material de que tinha conhecimento de pratica de sobrepreço nas contratações com a Petrobrás e que também haveria a participação deles direta nas divisões de contratos a serem contratos dentro do cartel", afirmou o delegado Igor Romário de Paula.
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Ele elencou depoimentos, indicações das transferências bancárias realizadas a pedidos dos executivos da empreiteira e a troca de email em que eles estão presentes. "São uma série de tipos de provas que somadas tornam pouco razoável que eles não tivessem conhecimento e participação no esquema."
Para o juiz Sérgio Moro, que conduz as ações da Operação Lava Jato, embora o fato necessite ser investigado mais profundamente, a mensagem eletrônica também corrobora as declarações de delatores quanto à prática de crimes na relação entre a Odebrecht e a Petrobrás.
"Considerando a duração do esquema criminoso, pelo menos desde 2004, a dimensão bilionária dos contratos obtidos com os crimes junto a Petrobrás e o valor milionário das propinas pagas aos dirigentes da Petrobrás, parece inviável que ele fosse desconhecido dos Presidentes das duas empreiteiras, Marcelo Bahia Odebrecht e Otávio Marques de Azevedo", afirma Moro.
"Mesmo ganhando a investigação notoriedade, com divulgação de notícias do possível envolvimento da Odebrecht e da Andrade Gutierrez, bem como a instauração de inquéritos, não há registro de que os dirigentes das duas empreiteiras, incluindo os Presidentes, tenham tomado qualquer providência para apurar, em seu âmbito interno, o ocorrido, punindo eventuais subordinados que tivessem, sem conhecimento da presidência, se desviado. A falta de qualquer providência da espécie é indicativo do envolvimento da cúpula diretiva e que os desvios não decorreram de ação individual, mas da política da empresa."
"A Construtora Norberto Odebrecht (CNO) confirma a operação da Polícia Federal em seu escritório em São Paulo e no Rio de Janeiro, para o cumprimento de mandados de busca e apreensão. Da mesma forma, alguns mandados de prisão e condução coercitiva foram emitidos.
Como é de conhecimento público, a CNO entende que estes mandados são desnecessários, uma vez que a empresa e seus executivos, desde o início da operação Lava Jato, sempre estiveram à disposição das autoridades para colaborar com as investigações.
Construtora Norberto Odebrecht"
COM A PALAVRA, A BRASKEM
A Braskem confirma que a Polícia Federal está cumprindo mandado de busca e apreensão em seu escritório em São Paulo no âmbito da Operação Lava Jato.
Em relação ao e-mail amplamente divulgado pela imprensa, a Braskem esclarece o seguinte:
- Todo o conteúdo da mensagem, incluindo a operação de sondas, não tem relação com qualquer atividade da Braskem.
- O autor do e-mail trabalhou na Braskem até dezembro de 2010 e, na data da referida mensagem, já havia sido transferido para outra empresa da Organização Odebrecht.
A Braskem segue empenhada na elucidação dos fatos e à disposição das autoridades competentes para colaborar com as investigações.