O Brasil nunca pode se esquecer que sempre foi uma referência em relações internacionais. Maior país da América do Sul, principal parceiro comercial das maiores nações do planeta, protagonista em debates importantes como acordos climáticos e praticante habilidoso das relações diplomáticas, o Brasil não tem o direito de abdicar desta posição de equilíbrio construída graças a posicionamentos históricos de nossos antecessores.
O que está posto à mesa é que a postura equilibrada não é importante apenas do ponto de vista diplomático, mas também para tornar o Brasil mais competitivo do ponto de vista das relações comerciais. Um país com uma balança comercial robusta tem mais recursos entrando em seu território, o que melhora a economia, gera mais renda e emprego para empresários e trabalhadores, e dá mais condições para se combater o Custo Brasil, promovendo a inclusão social.
O Custo Brasil é a nossa velha âncora de R$1,5 trilhão - 22% do PIB - que ainda nos impede de dar saltos maiores rumo ao desenvolvimento. O Movimento Brasil Competitivo e a Secretaria Especial de Produtividade e Competitividade mostram que, deste total, entre R$100 e R$120 bi são provocados por entraves comerciais que nos calam diante do mundo. Esse número está expresso em um dos eixos da Mandala do Custo Brasil, que inspira os trabalhos da Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo, da qual sou um dos coordenadores.
A balança comercial brasileira fechou 2021 com superávit de US$61 bi. A perspectiva da equipe econômica é de que, neste ano de 2022, consigamos melhorar ainda mais esses números, com previsões que projetam um superávit de US$79,4 bilhões. Todos esperamos que sim.
O Brasil precisa enxergar as relações diplomáticas pela ótica econômica. O Congresso aprovou, recentemente, um importante acordo comercial com o Chile, que vai fortalecer o relacionamento com este que é o quinto maior destino das exportações brasileiras (quando se considera a União Europeia como um único mercado). Além desse, outros acordos importantes a serem analisados pelo parlamento são os de Cooperação e Facilitação de Investimentos assinados com Guiana, Índia, Emirados Árabes, Etiópia e Suriname; para evitar a dupla tributação com Argentina, Suécia e Singapura; e de Cooperação e Assistência Mútua em Matéria Aduaneira com Emirados Árabes e México, todos em minha relatoria.
Relatoria que também se fez presente em outros dois momentos essenciais para as tratativas da entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE): o acordo de cooperação firmado com a Organização, e o acordo para a instalação do escritório da entidade no país. País que tem plenas condições de manter alianças estratégicas e relações bilaterais que fortaleçam o diálogo, ampliem interesses mútuos e revisem a pauta comercial.
Um Brasil mais competitivo passa por uma relação madura com os demais players globais. Equilíbrio e bom senso fortalecem relações e abrem portas, condições essenciais de sobrevivência para empresas e trabalhadores em um mundo profundamente interconectado. Estremecimentos recentes com parceiros importantes não nos ajudam em nada.
É preciso sempre buscar a paz e fortalecer organismos multilaterais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), Organização Mundial do Comércio (OMC) e outras tantas que buscam promover a paz e o entendimento pelo meio do diálogo adulto entre chefes de Estado e de Nação.
Independentemente da existência dessas instituições, os governantes também precisam agir dentro dos limites da responsabilidade. Não é mais possível sustentar o antigo hábito de polaridade que prejudica a estabilidade econômica, política e social. A situação recente na Europa mostra como as relações internacionais e os novos tempos pedem firmeza e diálogo consciente, onde o ganho de um não signifique a perda dos demais.
*Eduardo Cury (PSDB-SP) é deputado federal e coordenador de mobilidade urbana da Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo