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Opinião|Uma quase tragédia


Por José Renato Nalini

As coisas acontecem independentemente de nossa vontade. Não temos o controle de tudo. Ao contrário, às vezes temos a impressão de total descontrole, de um inevitável determinismo, que nos impõe situações das quais fugiríamos, se pudéssemos. Pobre de quem se ilude com a certeza de que pode imprimir à sua vida o rumo e o ritmo desejados.

Todos já experimentamos isso. Mas a História é prenhe de episódios assim. Famosos também se sujeitam à álea do destino. Um desses casos se passou com Olavo Bilac e Raul Pompeia, dois escritores célebre e contemporâneos. Bilac escrevia diariamente para o jornal “Cidade do Rio”, de propriedade de José do Patrocínio. Um dia, cansado e sem imaginação, pediu a um colega - cujo nome não se menciona - que escrevesse o artigo para o dia seguinte e o levasse diretamente ao jornal.

Assim se fez. Só que o “amigo” tomou por assunto um boato maligno que envolvia Raul Pompeia, a quem o artigo acabou injuriando. Olavo Bilac nutria grande estima por Pompeia. Ficou desorientado e foi procurar o alvo da crueldade jornalística para se explicar. Não o encontrou.

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Raul, justificadamente ofendido, fez publicar, no dia seguinte, uma violenta resposta que insultava Bilac. Ambos se encontraram à tarde num local em que os intelectuais se reuniam. Ao entrar, Bilac se atirou contra Raul, com o fito de agredi-lo. Pompeia reagiu. Ambos se engalfinharam e deu trabalho separá-los.

Cada grupo acompanhou um contendor até a respectiva casa. Ao entrar, Raul Pompeia foi contundente: “Vou desafiar Bilac para um duelo. Só a sangue isso pode acabar!”.

O duelo foi combinado, mas a polícia apareceu primeiro. Proibiu o enfrentamento.

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Raul Pompeia estava em uma situação desesperadora, tal o seu constrangimento e exaltação. Não havia conversa que lhe acalmasse o espírito. Sua família estava alarmada. A mãe confirmou que o filho parecia louco. Não dormia, não comia e declarava que, se o duelo não se realizasse, mataria Bilac.

Combinou-se outro local para o duelo. Para despistar a polícia, mudaram de padrinhos. Pois alguém havia advertido os investigadores e estes conseguiram, uma vez mais, impedir o confronto.

Procurou-se um espaço diferente, agora com a devida maior cautela. Encontrou-se um terreno baldio em frente ao Jardim Botânico, que terminava na Lagoa Rodrigo de Freitas. Era separado da rua por um pequeno bosque.

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Quando, às seis da manhã, chegam duelistas e padrinhos, para a segunda tentativa, a polícia havia chegado primeiro. Alguém queria evitar o encontro e prevenia os agentes da autoridade. Quem teria sido?

Convencionou-se um terceiro e derradeiro encontro. Era o atelier de Rodolfo Bernardelli, um enorme barracão de madeira na rua da Relação, esquina da rua dos Inválidos. Por coincidência, foi nesse terreno que, muito depois, se construiu o edifício da Polícia.

Dessa feita, o duelo não aconteceu também. Mas por outro motivo. Os padrinhos lavraram uma ata da qual fizeram constar que os duelistas haviam demonstrado real empenho em se bater em armas. Notável tamanha disposição. Tantas vezes frustrado o duelo, estava comprovada a rígida moral de cada qual. Portanto, não havia mais honra a ser lavada. O comportamento dos adversários evidenciou que levavam a sério as questões de caráter.

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Não se justificaria mais o prosseguimento dessa batalha. Os atos iniciais foram suficientes para que se reputassem superadas quaisquer ofensas porventura recebidas de parte a parte.

Raul Pompeia não aceitou bem a solução. Continuou desesperado. Bernardelli, que fora uma das suas testemunhas, acompanhou-o até sua casa, tentando convencê-lo de que as coisas deveriam terminar assim. Sem sangue, sem morte. O amigo não se convenceu.

Tentou-se fazer com que encarasse a realidade com discernimento e ponderação. Mas os ânimos feridos, quando atingem pontos sensíveis de alguém já complexado, não são passíveis de pacificação.

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Aparentemente, evitara-se uma tragédia. Todavia, poucos meses depois Raul Pompeia praticou suicídio. Esta sim, uma tragédia para a família e para a literatura brasileira, que se viu frustrada com a morte precoce de um talento com apenas trinta e dois anos.

As coisas acontecem independentemente de nossa vontade. Não temos o controle de tudo. Ao contrário, às vezes temos a impressão de total descontrole, de um inevitável determinismo, que nos impõe situações das quais fugiríamos, se pudéssemos. Pobre de quem se ilude com a certeza de que pode imprimir à sua vida o rumo e o ritmo desejados.

Todos já experimentamos isso. Mas a História é prenhe de episódios assim. Famosos também se sujeitam à álea do destino. Um desses casos se passou com Olavo Bilac e Raul Pompeia, dois escritores célebre e contemporâneos. Bilac escrevia diariamente para o jornal “Cidade do Rio”, de propriedade de José do Patrocínio. Um dia, cansado e sem imaginação, pediu a um colega - cujo nome não se menciona - que escrevesse o artigo para o dia seguinte e o levasse diretamente ao jornal.

Assim se fez. Só que o “amigo” tomou por assunto um boato maligno que envolvia Raul Pompeia, a quem o artigo acabou injuriando. Olavo Bilac nutria grande estima por Pompeia. Ficou desorientado e foi procurar o alvo da crueldade jornalística para se explicar. Não o encontrou.

Raul, justificadamente ofendido, fez publicar, no dia seguinte, uma violenta resposta que insultava Bilac. Ambos se encontraram à tarde num local em que os intelectuais se reuniam. Ao entrar, Bilac se atirou contra Raul, com o fito de agredi-lo. Pompeia reagiu. Ambos se engalfinharam e deu trabalho separá-los.

Cada grupo acompanhou um contendor até a respectiva casa. Ao entrar, Raul Pompeia foi contundente: “Vou desafiar Bilac para um duelo. Só a sangue isso pode acabar!”.

O duelo foi combinado, mas a polícia apareceu primeiro. Proibiu o enfrentamento.

Raul Pompeia estava em uma situação desesperadora, tal o seu constrangimento e exaltação. Não havia conversa que lhe acalmasse o espírito. Sua família estava alarmada. A mãe confirmou que o filho parecia louco. Não dormia, não comia e declarava que, se o duelo não se realizasse, mataria Bilac.

Combinou-se outro local para o duelo. Para despistar a polícia, mudaram de padrinhos. Pois alguém havia advertido os investigadores e estes conseguiram, uma vez mais, impedir o confronto.

Procurou-se um espaço diferente, agora com a devida maior cautela. Encontrou-se um terreno baldio em frente ao Jardim Botânico, que terminava na Lagoa Rodrigo de Freitas. Era separado da rua por um pequeno bosque.

Quando, às seis da manhã, chegam duelistas e padrinhos, para a segunda tentativa, a polícia havia chegado primeiro. Alguém queria evitar o encontro e prevenia os agentes da autoridade. Quem teria sido?

Convencionou-se um terceiro e derradeiro encontro. Era o atelier de Rodolfo Bernardelli, um enorme barracão de madeira na rua da Relação, esquina da rua dos Inválidos. Por coincidência, foi nesse terreno que, muito depois, se construiu o edifício da Polícia.

Dessa feita, o duelo não aconteceu também. Mas por outro motivo. Os padrinhos lavraram uma ata da qual fizeram constar que os duelistas haviam demonstrado real empenho em se bater em armas. Notável tamanha disposição. Tantas vezes frustrado o duelo, estava comprovada a rígida moral de cada qual. Portanto, não havia mais honra a ser lavada. O comportamento dos adversários evidenciou que levavam a sério as questões de caráter.

Não se justificaria mais o prosseguimento dessa batalha. Os atos iniciais foram suficientes para que se reputassem superadas quaisquer ofensas porventura recebidas de parte a parte.

Raul Pompeia não aceitou bem a solução. Continuou desesperado. Bernardelli, que fora uma das suas testemunhas, acompanhou-o até sua casa, tentando convencê-lo de que as coisas deveriam terminar assim. Sem sangue, sem morte. O amigo não se convenceu.

Tentou-se fazer com que encarasse a realidade com discernimento e ponderação. Mas os ânimos feridos, quando atingem pontos sensíveis de alguém já complexado, não são passíveis de pacificação.

Aparentemente, evitara-se uma tragédia. Todavia, poucos meses depois Raul Pompeia praticou suicídio. Esta sim, uma tragédia para a família e para a literatura brasileira, que se viu frustrada com a morte precoce de um talento com apenas trinta e dois anos.

As coisas acontecem independentemente de nossa vontade. Não temos o controle de tudo. Ao contrário, às vezes temos a impressão de total descontrole, de um inevitável determinismo, que nos impõe situações das quais fugiríamos, se pudéssemos. Pobre de quem se ilude com a certeza de que pode imprimir à sua vida o rumo e o ritmo desejados.

Todos já experimentamos isso. Mas a História é prenhe de episódios assim. Famosos também se sujeitam à álea do destino. Um desses casos se passou com Olavo Bilac e Raul Pompeia, dois escritores célebre e contemporâneos. Bilac escrevia diariamente para o jornal “Cidade do Rio”, de propriedade de José do Patrocínio. Um dia, cansado e sem imaginação, pediu a um colega - cujo nome não se menciona - que escrevesse o artigo para o dia seguinte e o levasse diretamente ao jornal.

Assim se fez. Só que o “amigo” tomou por assunto um boato maligno que envolvia Raul Pompeia, a quem o artigo acabou injuriando. Olavo Bilac nutria grande estima por Pompeia. Ficou desorientado e foi procurar o alvo da crueldade jornalística para se explicar. Não o encontrou.

Raul, justificadamente ofendido, fez publicar, no dia seguinte, uma violenta resposta que insultava Bilac. Ambos se encontraram à tarde num local em que os intelectuais se reuniam. Ao entrar, Bilac se atirou contra Raul, com o fito de agredi-lo. Pompeia reagiu. Ambos se engalfinharam e deu trabalho separá-los.

Cada grupo acompanhou um contendor até a respectiva casa. Ao entrar, Raul Pompeia foi contundente: “Vou desafiar Bilac para um duelo. Só a sangue isso pode acabar!”.

O duelo foi combinado, mas a polícia apareceu primeiro. Proibiu o enfrentamento.

Raul Pompeia estava em uma situação desesperadora, tal o seu constrangimento e exaltação. Não havia conversa que lhe acalmasse o espírito. Sua família estava alarmada. A mãe confirmou que o filho parecia louco. Não dormia, não comia e declarava que, se o duelo não se realizasse, mataria Bilac.

Combinou-se outro local para o duelo. Para despistar a polícia, mudaram de padrinhos. Pois alguém havia advertido os investigadores e estes conseguiram, uma vez mais, impedir o confronto.

Procurou-se um espaço diferente, agora com a devida maior cautela. Encontrou-se um terreno baldio em frente ao Jardim Botânico, que terminava na Lagoa Rodrigo de Freitas. Era separado da rua por um pequeno bosque.

Quando, às seis da manhã, chegam duelistas e padrinhos, para a segunda tentativa, a polícia havia chegado primeiro. Alguém queria evitar o encontro e prevenia os agentes da autoridade. Quem teria sido?

Convencionou-se um terceiro e derradeiro encontro. Era o atelier de Rodolfo Bernardelli, um enorme barracão de madeira na rua da Relação, esquina da rua dos Inválidos. Por coincidência, foi nesse terreno que, muito depois, se construiu o edifício da Polícia.

Dessa feita, o duelo não aconteceu também. Mas por outro motivo. Os padrinhos lavraram uma ata da qual fizeram constar que os duelistas haviam demonstrado real empenho em se bater em armas. Notável tamanha disposição. Tantas vezes frustrado o duelo, estava comprovada a rígida moral de cada qual. Portanto, não havia mais honra a ser lavada. O comportamento dos adversários evidenciou que levavam a sério as questões de caráter.

Não se justificaria mais o prosseguimento dessa batalha. Os atos iniciais foram suficientes para que se reputassem superadas quaisquer ofensas porventura recebidas de parte a parte.

Raul Pompeia não aceitou bem a solução. Continuou desesperado. Bernardelli, que fora uma das suas testemunhas, acompanhou-o até sua casa, tentando convencê-lo de que as coisas deveriam terminar assim. Sem sangue, sem morte. O amigo não se convenceu.

Tentou-se fazer com que encarasse a realidade com discernimento e ponderação. Mas os ânimos feridos, quando atingem pontos sensíveis de alguém já complexado, não são passíveis de pacificação.

Aparentemente, evitara-se uma tragédia. Todavia, poucos meses depois Raul Pompeia praticou suicídio. Esta sim, uma tragédia para a família e para a literatura brasileira, que se viu frustrada com a morte precoce de um talento com apenas trinta e dois anos.

Opinião por José Renato Nalini

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