Quatorze de março é o dia mundial da conscientização sobre a incontinência urinária.
Definida como a perda involuntária de urina, acomete 45% das mulheres e 15 % dos homens com mais de 40 anos, segundo estudo realizado no Brasil.
Apresenta-se de forma diversificada, desde perdas leves e esporádicas de urina até perdas iminentes e abundantes, trazendo a necessidade do uso de absorventes e até de fraldas. Muitas vezes relevada, seja por conformismo ou mesmo vergonha, pode causar impacto significativo na qualidade de vida do indivíduo, com repercussões na sua higiene e saúde.
Dermatites causadas pelo contato da urina com a pele são frequentes. Distúrbio do sono causado por idas constantes ao banheiro durante a noite favorecem o cansaço crônico, quedas em populações mais idosas e predispõe a doenças como hipertensão arterial, dentre outras.
É comum notar uma significativa redução na ingestão de líquidos em portadores de incontinência, sob o raciocínio equivocado de que produzir menos urina implica menor perda. A desidratação crônica poderá desencadear outras consequências para a saúde. Ansiedade, piora da autoestima, diminuição da atividade sexual e depressão são condições que poderão se instalar a partir de um quadro de incontinência.
Há, também, o impacto social. O afastamento de amigos e família pode ocorrer devido ao constrangimento de perda urinária em público ou a preocupação com o eventual odor de urina exalado pela roupa.
Idas e vindas a qualquer lugar ficam restritas aos locais que apresentam banheiros acessíveis no trajeto.
Mais que um problema do indivíduo, trata-se de um problema de saúde pública. Provavelmente, milhões de reais são gastos por ano no Brasil por tudo que envolve a incontinência urinária, desde a aquisição de fraldas geriátricas e medicamentos, até a realização de eventuais cirurgias para o tratamento, fato que, em janeiro de 2020, o senado brasileiro realizou uma sessão especial para discussão sobre o tema.
Existem vários tipos de incontinência urinária, dependendo dos fatores causais, sendo mais frequentes a incontinência por esforço, a incontinência por urgência, além da incontinência mista.
Na incontinência por esforço, a perda urinária ocorre quando o indivíduo ri, tosse, espirra ou caminha. Nas mulheres, a causa está relacionada, principalmente, à fraqueza dos músculos pélvicos que sustentam a uretra e a bexiga; nos homens, por outro lado, tal condição é mais comumente relacionada a problemas relacionados à próstata.
Na incontinência por urgência, ocorre uma vontade súbita de urinar em decorrência de contrações inesperadas da bexiga. O principal fator causal é o envelhecimento, embora tal quadro possa ser notado eventualmente em indivíduos jovens saudáveis.
Finalmente, o tipo misto que engloba as características dos dois tipos de perda urinária anteriormente descritas.
Dentre os fatores de risco para o desenvolvimento da incontinência estão a idade, obesidade, tabagismo, ingestão excessiva de cafeína, diabetes, doenças neurológicas, dentre outros.
No caso das mulheres, o número de gestações, tipo do parto e história de cirurgia do útero são relevantes. Nos homens, frequentemente, as doenças da próstata estão associadas a perda urinária.
O tratamento deverá ser orientado por um médico urologista com avaliação histórica do quadro, exame físico e, eventualmente, alguns poucos exames e testes a fim de se diagnosticar o tipo da incontinência, sua intensidade e fator causal.
Mudanças de hábitos, fisioterapia, medicamentos e eventualmente cirurgias poderão ser indicadas, caso a caso. Com o tratamento adequado, a melhora e até a cura são observadas em mais de 80% dos casos.
Fica o conceito de que a perda urinária pode afetar (e muito) a qualidade de vida. Então, se você é portador de incontinência urinária ou conhece alguém que seja, a hora é de atitude!
No ano 1 d.C., Sêneca, filósofo romano, conselheiro de César, imperador de Roma, escreveu: "Não importa o quanto viveremos, mas a qualidade de vida que teremos".
*Renato Teixeira Mascarenhas, urologista do Corpo Clínico do Biocor Instituto, membro titular da Sociedade Brasileira de Urologia, mestre em ciências da saúde pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, coordenador do departamento de urologia feminina da Sociedade Brasileira de Urologia, seção MG