Notícias e artigos do mundo do Direito: a rotina da Polícia, Ministério Público e Tribunais

Veja e-mails que Marcelo Odebrecht entregou contra Lula


Delator ajuda investigações em busca de redução maior da pena na Lava Jato, analisando e-mails e arquivos digitais cifrados, para comprovar acertos relacionados ao ex-presidente; há mensagens sobre sítio de Atibaia, estádio do Corinthians, recursos do BNDES, África, palestras e conta gerida por Palocci, entre outros

Por Ricardo Brandt e Fausto Macedo
 

O empresário Marcelo Odebrecht entregou em 2018 uma série de documentos na Procuradoria Geral da República (PGR) para corroborar o que confessou e revelou em delação premiada, fechada com a Operação Lava Jato: que mantinha uma conta que chegou a ter R$ 300 milhões disponíveis ao PT, em favor de Lula, gerenciada pelo ex-ministro Antonio Palocci.

São relatórios sobre e-mails e documentos que encontrou e interpretou. Em um deles, anexou 24 e-mails escritos entre agosto de 2008 e agosto de 2013 que recuperou de seu computador e "contextualizam a relação e as tratativas de temas diversos referentes a Lula" - como registra a defesa no material. "E comprova também pedidos de ajuda financeira para terceiros, que direta ou indiretamente beneficiaram Lula (entre eles o Sítio de Atibaia, o filme 'Lula, o filho do Brasil', ajuda financeira ao irmão, sobrinho etc)."

continua após a publicidade

Preso em junho de 2015, fez delação em 2016. Depois de dois anos no cárcere em Curitiba, Odebrecht foi para a prisão domiciliar em janeiro de 2018. Passou boa parte do ano passado a recuperar e decifrar mensagens de seus arquivos de computador que a Lava Jato apreendeu, boa parte criptografados ou escritos de forma cifrada, e virou uma espécie de "analista" informal da PF e do MPF.

continua após a publicidade

Presta novos depoimentos, sempre que requisitado, como o do final de 2018, após Palocci fechar sua delação com a PF. Ao delegado Filipe Hille Pace, da Lava Jato em Curitiba, disse que analisou mais de 5 mil e-mails para produzir os documentos que entregou na PGR e compartilharia com ele. Ao todo, são 480 e-mails, com 230 arquivos anexados e 70 mil outros arquivos, apreendidos em seu notebook e em HDs de memória.

 

Na sexta-feira, 4, e segunda, 7, Odebrecht cumpriu mais uma rotina de sua vida de delator. Voltou a prestar depoimento à Justiça Federal. O empresário foi ouvido em uma Vara Federal de Osasco (Grande São Paulo), por meio de vídeo conferência, em dois processo que têm Lula como réu relacionados a negócios em Angola, na África, que tramitam na 10.ª Vara Federal de Brasília.

continua após a publicidade

O delator confirmou o acerto de propinas ao PT relacionados ao financiamento do BNDES para exportação de serviços do grupo em Angola, na África, de US$ 1 bilhão. O negócio teria envolvido acerto de US$ 40 milhões de propinas em 2010, com envolvimento direto de Palocci e do ex-ministro Paulo Bernardo. Em um dos processo, além de Lula é réu Taiguara Rodrigues dos Santos, conhecido como "sobrinho de Lula".

Nos dois depoimentos, Odebrecht acusou contradições nos depoimentos do pai, Emílio Odebrecht, em relação ao que havia dito na delação e em relação aos termos de Palocci.

As falas foram interpretadas como um recuo pelas defesas, em especial da de Lula, que argumentou que elas inocentam o ex-presidente. O advogado de defesa de Lula, Cristiano Zanin Martins, disse na sexta que os depoimentos de Marcelo e de Emílio, somados, deixam claro que "o ex-presidente não praticou nenhum ato ilícito que foi imputado a ele nessa ação." "Não há como sustentar vínculo com o ex-presidente. Se ocorreu algum fato ilícito, não tem qualquer participação de Lula", disse Zanin.

continua após a publicidade
 

Corroboração. Ao juiz federal Vallisney Oliveira, da 10.ª Vara Federal de Brasília, Odebrecht tentou explicar no depoimento de segunda, 7, que mantinha o teor de suas delações e atribuía ao pai mudanças em relação ao que sabia. "Sempre deixei bem claro, em todas minhas colaborações, em todos meus depoimentos, sempre, não só o da sexta passada na ação penal do rebate (de Angola), em todas as ações penais em que eu tive, que nunca tive relação nem responsabilidade pelas tratativas com presidente Lula." Segundo ele, era o pai que conversava com o petista.

"Só que agora ele (Emílio) está dizendo em depoimento que nunca conversou com Lula sobre valores." Desde a delação, pai e filho romperam relações.

continua após a publicidade

"Respondo pela minha colaboração e pelo o que eu falei. Se pessoas acertaram propinas e disseram que não acertaram, eles é que têm que responder. Posso responder pela minha colaboração."

 

Palestras. O pagamento de palestras e atuação de Lula em nome da Odebrecht no exterior faz parte dos processos em que Lula é réu em Brasília, relacionados aos negócios em Angola. Marcelo afirmou que as tratativas com o ex-presidente eram com o pai. Mas que acertou com Palocci (Fazenda e Casa Civil/Governos Lula e Dilma) que R$ 15 milhões foram reservados ao ex-presidente e que esse valor sairia da "Planilha Italiano" - fluxo de dinheiro da empreiteira para o PT. Ele disse que o dinheiro das palestras seria descontado da planilha, sem avisar Lula.

continua após a publicidade

"No nosso entendimento, Instituto Lula fazia parte do projeto politico do PT."

Odebrecht afirmou que havia um combinado do pai com Lula, ou Alexandrino Alencar, executivo do grupo, para se fechar algumas palestras, e por isso o assunto deveria ser questionado a Emílio. Para ele, havia duas razões "havia intenção de ajudar o Instituto Lula, como ajudamos o Instituto FHC. O presidente Lula era pessoa que tinha imagem bastante positiva em várias países em que a gente atuava. Ao contratar ele para umas palestras não deixara de ser um trabalho de relações públicas."

Em um dos e-mails, de março de 2013, Odebrecht pergunta a um executivo do grupo na África sobre viagem de Lula. "Marcelo, a viagem foi muito positiva, ele de fato é nosso melhor Embaixador", responde Ernesto Bayard, que era diretor em Angola. "O interessante é que a maioria dos Chefes de Estado, no continente Africano, continuam achando que ele ainda é o Presidente."

O executivo acrescente: "está chateado com a demora do BNDES em operacionalizar os financiamentos que ele prometeu, inclusive disse que Dilma não está satisfeita com LC". O presidente do banco na época era Luciano Coutinho.

 

Odebrecht também afirmou que 'o Instituto Lula era uma romaria de empresários'. Após a saída de Lula da Presidência, 'havia sim um descontentamento enorme da classe empresarial em relação ao rumo que estava tomando o governo Dilma'. Segundo Odebrecht, era 'extremamente difícil' de lidar com Dilma. "Essa a avaliação de todos.

Esses empresários, entre os quais, meu pai, não cansavam de ir até Lula para tentar ver se ele influenciava ela (Dilma) de alguma maneira."

'Analista'.  Marcelo foi afastado do comando das empresas e viu as sucessivas tentativas de anular sua prisão as e as investigações da Lava Jato nos tribunais cair. Ficou dois anos preso em Curitiba. Por força do acordo de delação que prevê uma cláusula de desempenho, ele passou a "ajudar" a força-tarefa na tradução dos incontáveis arquivos digitais.

 

O delator fez relatórios de análise - como fazem os agentes da PF -, em que traduz as siglas de mensagens, contextualiza as conversas e as intenções, presta novos depoimentos, corrige inconsistências que vê nas denúncias. No depoimento do final de 2018, ele explicou que já tinha analisado mais de 5 mil e-mails, o que lhe consumiu mais de 500 horas. Via defesa, ele produz documentos que envia à PGR.

"Só cuidado para quando for para ir para a Justiça para ir só o áudio, entendeu?", diz Odebrecht no início do depoimento do dia 18 de setembro. "Iniciando a oitiva do colaborador Marcelo Odebrecht, às 9 horas e 13 minutos, presentes os delegados Filipe Pace, os agentes Rodrigo Prado e João Vicente Macedo, o colaborador, assistido por seus advogados."

Naquele dia, falou por horas aos investigadores Durante o depoimento, Marcelo avisa que vai abrir o computador e fazer as buscas de mensagens para auxiliar o agente. "Nosso novo analista", brinca o policial. "Quando soube que o senhor estava fazendo relatório de analise fiquei muito feliz, o senhor sabe como é difícil nosso trabalho."

 

 

.

 

O empresário Marcelo Odebrecht entregou em 2018 uma série de documentos na Procuradoria Geral da República (PGR) para corroborar o que confessou e revelou em delação premiada, fechada com a Operação Lava Jato: que mantinha uma conta que chegou a ter R$ 300 milhões disponíveis ao PT, em favor de Lula, gerenciada pelo ex-ministro Antonio Palocci.

São relatórios sobre e-mails e documentos que encontrou e interpretou. Em um deles, anexou 24 e-mails escritos entre agosto de 2008 e agosto de 2013 que recuperou de seu computador e "contextualizam a relação e as tratativas de temas diversos referentes a Lula" - como registra a defesa no material. "E comprova também pedidos de ajuda financeira para terceiros, que direta ou indiretamente beneficiaram Lula (entre eles o Sítio de Atibaia, o filme 'Lula, o filho do Brasil', ajuda financeira ao irmão, sobrinho etc)."

Preso em junho de 2015, fez delação em 2016. Depois de dois anos no cárcere em Curitiba, Odebrecht foi para a prisão domiciliar em janeiro de 2018. Passou boa parte do ano passado a recuperar e decifrar mensagens de seus arquivos de computador que a Lava Jato apreendeu, boa parte criptografados ou escritos de forma cifrada, e virou uma espécie de "analista" informal da PF e do MPF.

Presta novos depoimentos, sempre que requisitado, como o do final de 2018, após Palocci fechar sua delação com a PF. Ao delegado Filipe Hille Pace, da Lava Jato em Curitiba, disse que analisou mais de 5 mil e-mails para produzir os documentos que entregou na PGR e compartilharia com ele. Ao todo, são 480 e-mails, com 230 arquivos anexados e 70 mil outros arquivos, apreendidos em seu notebook e em HDs de memória.

 

Na sexta-feira, 4, e segunda, 7, Odebrecht cumpriu mais uma rotina de sua vida de delator. Voltou a prestar depoimento à Justiça Federal. O empresário foi ouvido em uma Vara Federal de Osasco (Grande São Paulo), por meio de vídeo conferência, em dois processo que têm Lula como réu relacionados a negócios em Angola, na África, que tramitam na 10.ª Vara Federal de Brasília.

O delator confirmou o acerto de propinas ao PT relacionados ao financiamento do BNDES para exportação de serviços do grupo em Angola, na África, de US$ 1 bilhão. O negócio teria envolvido acerto de US$ 40 milhões de propinas em 2010, com envolvimento direto de Palocci e do ex-ministro Paulo Bernardo. Em um dos processo, além de Lula é réu Taiguara Rodrigues dos Santos, conhecido como "sobrinho de Lula".

Nos dois depoimentos, Odebrecht acusou contradições nos depoimentos do pai, Emílio Odebrecht, em relação ao que havia dito na delação e em relação aos termos de Palocci.

As falas foram interpretadas como um recuo pelas defesas, em especial da de Lula, que argumentou que elas inocentam o ex-presidente. O advogado de defesa de Lula, Cristiano Zanin Martins, disse na sexta que os depoimentos de Marcelo e de Emílio, somados, deixam claro que "o ex-presidente não praticou nenhum ato ilícito que foi imputado a ele nessa ação." "Não há como sustentar vínculo com o ex-presidente. Se ocorreu algum fato ilícito, não tem qualquer participação de Lula", disse Zanin.

 

Corroboração. Ao juiz federal Vallisney Oliveira, da 10.ª Vara Federal de Brasília, Odebrecht tentou explicar no depoimento de segunda, 7, que mantinha o teor de suas delações e atribuía ao pai mudanças em relação ao que sabia. "Sempre deixei bem claro, em todas minhas colaborações, em todos meus depoimentos, sempre, não só o da sexta passada na ação penal do rebate (de Angola), em todas as ações penais em que eu tive, que nunca tive relação nem responsabilidade pelas tratativas com presidente Lula." Segundo ele, era o pai que conversava com o petista.

"Só que agora ele (Emílio) está dizendo em depoimento que nunca conversou com Lula sobre valores." Desde a delação, pai e filho romperam relações.

"Respondo pela minha colaboração e pelo o que eu falei. Se pessoas acertaram propinas e disseram que não acertaram, eles é que têm que responder. Posso responder pela minha colaboração."

 

Palestras. O pagamento de palestras e atuação de Lula em nome da Odebrecht no exterior faz parte dos processos em que Lula é réu em Brasília, relacionados aos negócios em Angola. Marcelo afirmou que as tratativas com o ex-presidente eram com o pai. Mas que acertou com Palocci (Fazenda e Casa Civil/Governos Lula e Dilma) que R$ 15 milhões foram reservados ao ex-presidente e que esse valor sairia da "Planilha Italiano" - fluxo de dinheiro da empreiteira para o PT. Ele disse que o dinheiro das palestras seria descontado da planilha, sem avisar Lula.

"No nosso entendimento, Instituto Lula fazia parte do projeto politico do PT."

Odebrecht afirmou que havia um combinado do pai com Lula, ou Alexandrino Alencar, executivo do grupo, para se fechar algumas palestras, e por isso o assunto deveria ser questionado a Emílio. Para ele, havia duas razões "havia intenção de ajudar o Instituto Lula, como ajudamos o Instituto FHC. O presidente Lula era pessoa que tinha imagem bastante positiva em várias países em que a gente atuava. Ao contratar ele para umas palestras não deixara de ser um trabalho de relações públicas."

Em um dos e-mails, de março de 2013, Odebrecht pergunta a um executivo do grupo na África sobre viagem de Lula. "Marcelo, a viagem foi muito positiva, ele de fato é nosso melhor Embaixador", responde Ernesto Bayard, que era diretor em Angola. "O interessante é que a maioria dos Chefes de Estado, no continente Africano, continuam achando que ele ainda é o Presidente."

O executivo acrescente: "está chateado com a demora do BNDES em operacionalizar os financiamentos que ele prometeu, inclusive disse que Dilma não está satisfeita com LC". O presidente do banco na época era Luciano Coutinho.

 

Odebrecht também afirmou que 'o Instituto Lula era uma romaria de empresários'. Após a saída de Lula da Presidência, 'havia sim um descontentamento enorme da classe empresarial em relação ao rumo que estava tomando o governo Dilma'. Segundo Odebrecht, era 'extremamente difícil' de lidar com Dilma. "Essa a avaliação de todos.

Esses empresários, entre os quais, meu pai, não cansavam de ir até Lula para tentar ver se ele influenciava ela (Dilma) de alguma maneira."

'Analista'.  Marcelo foi afastado do comando das empresas e viu as sucessivas tentativas de anular sua prisão as e as investigações da Lava Jato nos tribunais cair. Ficou dois anos preso em Curitiba. Por força do acordo de delação que prevê uma cláusula de desempenho, ele passou a "ajudar" a força-tarefa na tradução dos incontáveis arquivos digitais.

 

O delator fez relatórios de análise - como fazem os agentes da PF -, em que traduz as siglas de mensagens, contextualiza as conversas e as intenções, presta novos depoimentos, corrige inconsistências que vê nas denúncias. No depoimento do final de 2018, ele explicou que já tinha analisado mais de 5 mil e-mails, o que lhe consumiu mais de 500 horas. Via defesa, ele produz documentos que envia à PGR.

"Só cuidado para quando for para ir para a Justiça para ir só o áudio, entendeu?", diz Odebrecht no início do depoimento do dia 18 de setembro. "Iniciando a oitiva do colaborador Marcelo Odebrecht, às 9 horas e 13 minutos, presentes os delegados Filipe Pace, os agentes Rodrigo Prado e João Vicente Macedo, o colaborador, assistido por seus advogados."

Naquele dia, falou por horas aos investigadores Durante o depoimento, Marcelo avisa que vai abrir o computador e fazer as buscas de mensagens para auxiliar o agente. "Nosso novo analista", brinca o policial. "Quando soube que o senhor estava fazendo relatório de analise fiquei muito feliz, o senhor sabe como é difícil nosso trabalho."

 

 

.

 

O empresário Marcelo Odebrecht entregou em 2018 uma série de documentos na Procuradoria Geral da República (PGR) para corroborar o que confessou e revelou em delação premiada, fechada com a Operação Lava Jato: que mantinha uma conta que chegou a ter R$ 300 milhões disponíveis ao PT, em favor de Lula, gerenciada pelo ex-ministro Antonio Palocci.

São relatórios sobre e-mails e documentos que encontrou e interpretou. Em um deles, anexou 24 e-mails escritos entre agosto de 2008 e agosto de 2013 que recuperou de seu computador e "contextualizam a relação e as tratativas de temas diversos referentes a Lula" - como registra a defesa no material. "E comprova também pedidos de ajuda financeira para terceiros, que direta ou indiretamente beneficiaram Lula (entre eles o Sítio de Atibaia, o filme 'Lula, o filho do Brasil', ajuda financeira ao irmão, sobrinho etc)."

Preso em junho de 2015, fez delação em 2016. Depois de dois anos no cárcere em Curitiba, Odebrecht foi para a prisão domiciliar em janeiro de 2018. Passou boa parte do ano passado a recuperar e decifrar mensagens de seus arquivos de computador que a Lava Jato apreendeu, boa parte criptografados ou escritos de forma cifrada, e virou uma espécie de "analista" informal da PF e do MPF.

Presta novos depoimentos, sempre que requisitado, como o do final de 2018, após Palocci fechar sua delação com a PF. Ao delegado Filipe Hille Pace, da Lava Jato em Curitiba, disse que analisou mais de 5 mil e-mails para produzir os documentos que entregou na PGR e compartilharia com ele. Ao todo, são 480 e-mails, com 230 arquivos anexados e 70 mil outros arquivos, apreendidos em seu notebook e em HDs de memória.

 

Na sexta-feira, 4, e segunda, 7, Odebrecht cumpriu mais uma rotina de sua vida de delator. Voltou a prestar depoimento à Justiça Federal. O empresário foi ouvido em uma Vara Federal de Osasco (Grande São Paulo), por meio de vídeo conferência, em dois processo que têm Lula como réu relacionados a negócios em Angola, na África, que tramitam na 10.ª Vara Federal de Brasília.

O delator confirmou o acerto de propinas ao PT relacionados ao financiamento do BNDES para exportação de serviços do grupo em Angola, na África, de US$ 1 bilhão. O negócio teria envolvido acerto de US$ 40 milhões de propinas em 2010, com envolvimento direto de Palocci e do ex-ministro Paulo Bernardo. Em um dos processo, além de Lula é réu Taiguara Rodrigues dos Santos, conhecido como "sobrinho de Lula".

Nos dois depoimentos, Odebrecht acusou contradições nos depoimentos do pai, Emílio Odebrecht, em relação ao que havia dito na delação e em relação aos termos de Palocci.

As falas foram interpretadas como um recuo pelas defesas, em especial da de Lula, que argumentou que elas inocentam o ex-presidente. O advogado de defesa de Lula, Cristiano Zanin Martins, disse na sexta que os depoimentos de Marcelo e de Emílio, somados, deixam claro que "o ex-presidente não praticou nenhum ato ilícito que foi imputado a ele nessa ação." "Não há como sustentar vínculo com o ex-presidente. Se ocorreu algum fato ilícito, não tem qualquer participação de Lula", disse Zanin.

 

Corroboração. Ao juiz federal Vallisney Oliveira, da 10.ª Vara Federal de Brasília, Odebrecht tentou explicar no depoimento de segunda, 7, que mantinha o teor de suas delações e atribuía ao pai mudanças em relação ao que sabia. "Sempre deixei bem claro, em todas minhas colaborações, em todos meus depoimentos, sempre, não só o da sexta passada na ação penal do rebate (de Angola), em todas as ações penais em que eu tive, que nunca tive relação nem responsabilidade pelas tratativas com presidente Lula." Segundo ele, era o pai que conversava com o petista.

"Só que agora ele (Emílio) está dizendo em depoimento que nunca conversou com Lula sobre valores." Desde a delação, pai e filho romperam relações.

"Respondo pela minha colaboração e pelo o que eu falei. Se pessoas acertaram propinas e disseram que não acertaram, eles é que têm que responder. Posso responder pela minha colaboração."

 

Palestras. O pagamento de palestras e atuação de Lula em nome da Odebrecht no exterior faz parte dos processos em que Lula é réu em Brasília, relacionados aos negócios em Angola. Marcelo afirmou que as tratativas com o ex-presidente eram com o pai. Mas que acertou com Palocci (Fazenda e Casa Civil/Governos Lula e Dilma) que R$ 15 milhões foram reservados ao ex-presidente e que esse valor sairia da "Planilha Italiano" - fluxo de dinheiro da empreiteira para o PT. Ele disse que o dinheiro das palestras seria descontado da planilha, sem avisar Lula.

"No nosso entendimento, Instituto Lula fazia parte do projeto politico do PT."

Odebrecht afirmou que havia um combinado do pai com Lula, ou Alexandrino Alencar, executivo do grupo, para se fechar algumas palestras, e por isso o assunto deveria ser questionado a Emílio. Para ele, havia duas razões "havia intenção de ajudar o Instituto Lula, como ajudamos o Instituto FHC. O presidente Lula era pessoa que tinha imagem bastante positiva em várias países em que a gente atuava. Ao contratar ele para umas palestras não deixara de ser um trabalho de relações públicas."

Em um dos e-mails, de março de 2013, Odebrecht pergunta a um executivo do grupo na África sobre viagem de Lula. "Marcelo, a viagem foi muito positiva, ele de fato é nosso melhor Embaixador", responde Ernesto Bayard, que era diretor em Angola. "O interessante é que a maioria dos Chefes de Estado, no continente Africano, continuam achando que ele ainda é o Presidente."

O executivo acrescente: "está chateado com a demora do BNDES em operacionalizar os financiamentos que ele prometeu, inclusive disse que Dilma não está satisfeita com LC". O presidente do banco na época era Luciano Coutinho.

 

Odebrecht também afirmou que 'o Instituto Lula era uma romaria de empresários'. Após a saída de Lula da Presidência, 'havia sim um descontentamento enorme da classe empresarial em relação ao rumo que estava tomando o governo Dilma'. Segundo Odebrecht, era 'extremamente difícil' de lidar com Dilma. "Essa a avaliação de todos.

Esses empresários, entre os quais, meu pai, não cansavam de ir até Lula para tentar ver se ele influenciava ela (Dilma) de alguma maneira."

'Analista'.  Marcelo foi afastado do comando das empresas e viu as sucessivas tentativas de anular sua prisão as e as investigações da Lava Jato nos tribunais cair. Ficou dois anos preso em Curitiba. Por força do acordo de delação que prevê uma cláusula de desempenho, ele passou a "ajudar" a força-tarefa na tradução dos incontáveis arquivos digitais.

 

O delator fez relatórios de análise - como fazem os agentes da PF -, em que traduz as siglas de mensagens, contextualiza as conversas e as intenções, presta novos depoimentos, corrige inconsistências que vê nas denúncias. No depoimento do final de 2018, ele explicou que já tinha analisado mais de 5 mil e-mails, o que lhe consumiu mais de 500 horas. Via defesa, ele produz documentos que envia à PGR.

"Só cuidado para quando for para ir para a Justiça para ir só o áudio, entendeu?", diz Odebrecht no início do depoimento do dia 18 de setembro. "Iniciando a oitiva do colaborador Marcelo Odebrecht, às 9 horas e 13 minutos, presentes os delegados Filipe Pace, os agentes Rodrigo Prado e João Vicente Macedo, o colaborador, assistido por seus advogados."

Naquele dia, falou por horas aos investigadores Durante o depoimento, Marcelo avisa que vai abrir o computador e fazer as buscas de mensagens para auxiliar o agente. "Nosso novo analista", brinca o policial. "Quando soube que o senhor estava fazendo relatório de analise fiquei muito feliz, o senhor sabe como é difícil nosso trabalho."

 

 

.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.