O vereador de Cubatão Ricardo Queixão (PSD) - preso na Operação Muditia por suposta ligação com fraudes em licitações sob influência do PCC -, pedia explicitamente propinas ao principal operador do esquema de desvios, indicando as contas de sua mulher para recebimento dos valores.
A informação é do Ministério Público de São Paulo, que disparou a Operação no último dia 16, por ordem da juíza Priscila Devechi Ferraz Maia, da 5.ª Vara Criminal de Guarulhos, na Grande São Paulo. Além de Queixão, outros dois vereadores foram presos, um de Ferraz de Vasconcelos, outro de Santa Isabel.
A reportagem buscou contato por telefone com os advogados de Queixão e com o gabinete do parlamentar. O espaço está aberto para manifestações.
Em uma conversa interceptada pela Promotoria, Queixão pede ao pagodeiro Vagner Borges Dias, o ‘Latrell Britto’, para ‘agilizar para ele’ - referência a uma liberação mais rápida de dinheiro, segundo conclusão dos investigadores.
O vereador alega que ‘tinha que comprar o terno para a posse e agilizar outras coisas para sua Presidência’.
Queixão mandou a mensagem às vésperas de sua posse na presidência da Câmara de Cubatão, no dia 29 de dezembro de 2020. Em outro diálogo, em novembro de 2020, ele disse ao pagodeiro do PCC. “Meu brother. Esquece de mim não. Temos muita coisa para alinhar nesse próximo mandato.”
Segundo os investigadores, ‘em paralelo aos contratos da Prefeitura e da Câmara, Queixão pedia diretamente para Vagner’, por meio de uma laranja, sua cunhada. “O PIX não foi feito, sangue bom?”, questionou o vereador sobre um pagamento.
As cobranças são registradas em outros diálogos: “E ae. Nada?”; “Mando o PIX agora?”
O MP diz ter identificado ‘dezenas de pagamentos’ registrados no celular de ‘Latrell Britto’ que ‘atestam a relação escusa’ com o vereador de Cubatão. “Nos relatórios da telemática, são dezenas de pagamentos feitos mensalmente da associação/organização criminosa em favor de ‘Queixão’, sem qualquer pudor no uso de familiares”, ponderou o órgão.
Segundo a Promotoria, o vereador indicava chaves ‘PIX’ de diversos agentes parlamentares, ‘demonstrando a audácia na tentativa de ocultar rastros dos pagamentos sucessivos’.
Ao pedir à Justiça a abertura da Operação Muditia - deflagrada no último dia 16 - os promotores argumentaram como as conversas entre Queixão e Vagner ‘atestam, efetivamente, o vínculo dos pagamentos à função exercida e às facilidades do contrato’. Em uma das mensagens, o vereador tranquiliza o suposto ‘cabeça’ do esquema sob investigação.
Junto da prisão de Queixão, o MP chegou a pedir a detenção de Fabiana de Abreu Silva, apontada como ‘Assessora Especial de Políticas Estratégicas’ da Prefeitura. Segundo os investigadores, ela intercede também nos contratos da Câmara, intermediando ‘o contato escuso’ com o vereador. A Promotoria aponta que a servidora também está na ‘folha de pagamentos da associação criminosa’, vez que ‘efetivamente age em favor dos demais investigados’.
Outro investigado ligado a Queixão é o advogado Áureo Tupinambá, que representa o líder do PCC foragido André do Rap na Justiça. Em 2020, o vereador anunciou que Áureo seria o novo diretor-secretário do Legislativo no biênio 2021-2022. O advogado também foi preso na Operação Muditia, também sob suspeita de receber propinas da quadrilha investigada por supostas fraudes em licitações sob influência do PCC.