Transformando a gestão pública brasileira e fortalecendo a democracia

Minha primeira experiência com o Altruísmo Eficaz


Por Isabel Opice é mestre em economia, líder MLG, atuou na Secretaria de Governo do Estado de São Paulo e atualmente estuda Gestão Pública em Harvard.

O vídeosobre Altruísmo Eficaz de Peter Singer, filósofo e um dos grandes nomes do movimento, começa com uma provocação. Se as pessoas se importam com crianças morrendo por causas banais, porque não estão fazendo nada para diminuir a miséria no mundo? Como aparentemente todos na platéia fiquei incomodada com a pergunta, é claro que me importo com crianças morrendo. Meu mecanismo natural de defesa foi pensar em causas com as quais já me envolvi - trabalhos voluntários e doações esporádicas para algumas ONGs. Assistindo o vídeo até o final e lendo mais sobre o movimento, porém, ficou claro que a provocação não tinha como objetivo incutir a culpa, mas mostrar o porquê de apoiar ações que diminuam o sofrimento alheio, e mais importante, como fazer.

Sobre o porquê, existem formas simples de melhorar a condição de vida no planeta. Há doenças em países pobres que podem ser facilmentes prevenidas, salvando milhões de vidas. O sofrimento animal, uma das grandes causas do movimento, diminuiria com a redução no consumo de carne e derivados de leite. O desejo de ajudar é natural diante das emoções que vivenciamos ao presenciar o sofrimento alheio. Mas o mesmo não é verdade quando a dor do outro ocorre longe dos nossos sentidos. É aí que entra a dimensão eficaz do altruísmo.

O Altruísmo Eficaz prega que as decisões sobre para quem doar devam ser racionais, buscando maximizar o impacto do dinheiro investido. Assim, a escolha de doar para determinada instituição depende não só do que será feito pela mesma mas também do que poderia ser feito por todas as outras instituições que atuam na área. Um exemplo clássico é na ajuda a pessoas cegas. Treinar um cão guia nos Estados Unidos custa em torno de U$45 mil. Ao mesmo tempo,  curar pessoas com tracoma em países em desenvolvimento custa entre U$20-U$50. Fazendo as contas, chega-se à conclusão de que prover um cão-guia para um cego em um país desenvolvido é equivalente a curar entre 400 a 2000 pessoas em um país em desenvolvimento. Dentro do movimento, não há dúvida que a segunda opção é muito mais eficaz na ajuda a pessoas cegas. Assim, uma abordagem mais racional torna a distância dos sofrimentos irrelevante.

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Além da definição de intervenções dentro de determinada área, há uma pergunta anterior sobre qual causa priorizar. No exemplo do último parágrafo, a decisão seria investir em cirurgias de tracoma em países em desenvolvimento. Mas por que a escolha de atuar na ajuda a pessoas cegas em primeiro lugar?

Neste semestre participei de um projeto junto ao grupo de Effective Altruism de Harvard pesquisando áreas prioritárias para o investimento filantrópico no Brasil. O trabalho de priorização se baseou em três grandes dimensões. A primeira é importância, ou seja, o número de pessoas impactadas caso resolvêssemos o problema. Se pensarmos em violência no Brasil, por exemplo, resolver o problema pode significar salvar 60 mil vidas por ano - nosso número de homicídios anual. A segunda dimensão é tractabilidade, ou quão factível é resolver o problema. De novo pensando em violência, existem soluções efetivas para reduzir os nossos indicadores de criminalidade? Por último, olhamos para negligencialidade, ou seja, quem são os demais atores que estão atuando nessa mesma área. As áreas com maior impacto, em que existem intervenções eficazes e em que há menos pessoas atuando são as mais promissoras.

Avaliar causas diversas exige estabelecer algumas premissas a fim de se trabalhar com métricas únicas. Senão, como seria possível comparar intervenções que melhoram a educação com outras que previnem impactos de desastres naturais? Uma das belezas do movimento é a abertura em relação à essas difíceis decisões filosóficas - por exemplo, quanto vale uma vida e quanto esse valor muda segunda a faixa etária. O site americano GiveWell, que avalia o impacto de diversas ONGs, disponibiliza suas análises de custo-benefício, expondo seus cálculos e permitindo às pessoas interessadas que modifiquem suas planilhas de acordo com as suas próprias premissas.

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Como economista e estudante de administração pública, me acostumei a pensar nos problemas do mundo sob a perspectiva do governo. E apesar do impacto inegável que o setor público tem sobre o bem-estar humano, esse olhar pode trazer distanciamento e um sentimento de impotência em relação ao que cada um de nós pode fazer. O Altruísmo Eficaz traz um senso de responsabilidade e é daí que veio meu incômodo com a pergunta no vídeo do Peter Singer. Depois desse primeiro contato fiquei com vontade de me aprofundar mais no assunto. E feliz em saber que o movimento está presente no Brasil. Você pode conhecer mais por meio desse link em português e esse em inglês.

O vídeosobre Altruísmo Eficaz de Peter Singer, filósofo e um dos grandes nomes do movimento, começa com uma provocação. Se as pessoas se importam com crianças morrendo por causas banais, porque não estão fazendo nada para diminuir a miséria no mundo? Como aparentemente todos na platéia fiquei incomodada com a pergunta, é claro que me importo com crianças morrendo. Meu mecanismo natural de defesa foi pensar em causas com as quais já me envolvi - trabalhos voluntários e doações esporádicas para algumas ONGs. Assistindo o vídeo até o final e lendo mais sobre o movimento, porém, ficou claro que a provocação não tinha como objetivo incutir a culpa, mas mostrar o porquê de apoiar ações que diminuam o sofrimento alheio, e mais importante, como fazer.

Sobre o porquê, existem formas simples de melhorar a condição de vida no planeta. Há doenças em países pobres que podem ser facilmentes prevenidas, salvando milhões de vidas. O sofrimento animal, uma das grandes causas do movimento, diminuiria com a redução no consumo de carne e derivados de leite. O desejo de ajudar é natural diante das emoções que vivenciamos ao presenciar o sofrimento alheio. Mas o mesmo não é verdade quando a dor do outro ocorre longe dos nossos sentidos. É aí que entra a dimensão eficaz do altruísmo.

O Altruísmo Eficaz prega que as decisões sobre para quem doar devam ser racionais, buscando maximizar o impacto do dinheiro investido. Assim, a escolha de doar para determinada instituição depende não só do que será feito pela mesma mas também do que poderia ser feito por todas as outras instituições que atuam na área. Um exemplo clássico é na ajuda a pessoas cegas. Treinar um cão guia nos Estados Unidos custa em torno de U$45 mil. Ao mesmo tempo,  curar pessoas com tracoma em países em desenvolvimento custa entre U$20-U$50. Fazendo as contas, chega-se à conclusão de que prover um cão-guia para um cego em um país desenvolvido é equivalente a curar entre 400 a 2000 pessoas em um país em desenvolvimento. Dentro do movimento, não há dúvida que a segunda opção é muito mais eficaz na ajuda a pessoas cegas. Assim, uma abordagem mais racional torna a distância dos sofrimentos irrelevante.

Além da definição de intervenções dentro de determinada área, há uma pergunta anterior sobre qual causa priorizar. No exemplo do último parágrafo, a decisão seria investir em cirurgias de tracoma em países em desenvolvimento. Mas por que a escolha de atuar na ajuda a pessoas cegas em primeiro lugar?

Neste semestre participei de um projeto junto ao grupo de Effective Altruism de Harvard pesquisando áreas prioritárias para o investimento filantrópico no Brasil. O trabalho de priorização se baseou em três grandes dimensões. A primeira é importância, ou seja, o número de pessoas impactadas caso resolvêssemos o problema. Se pensarmos em violência no Brasil, por exemplo, resolver o problema pode significar salvar 60 mil vidas por ano - nosso número de homicídios anual. A segunda dimensão é tractabilidade, ou quão factível é resolver o problema. De novo pensando em violência, existem soluções efetivas para reduzir os nossos indicadores de criminalidade? Por último, olhamos para negligencialidade, ou seja, quem são os demais atores que estão atuando nessa mesma área. As áreas com maior impacto, em que existem intervenções eficazes e em que há menos pessoas atuando são as mais promissoras.

Avaliar causas diversas exige estabelecer algumas premissas a fim de se trabalhar com métricas únicas. Senão, como seria possível comparar intervenções que melhoram a educação com outras que previnem impactos de desastres naturais? Uma das belezas do movimento é a abertura em relação à essas difíceis decisões filosóficas - por exemplo, quanto vale uma vida e quanto esse valor muda segunda a faixa etária. O site americano GiveWell, que avalia o impacto de diversas ONGs, disponibiliza suas análises de custo-benefício, expondo seus cálculos e permitindo às pessoas interessadas que modifiquem suas planilhas de acordo com as suas próprias premissas.

Como economista e estudante de administração pública, me acostumei a pensar nos problemas do mundo sob a perspectiva do governo. E apesar do impacto inegável que o setor público tem sobre o bem-estar humano, esse olhar pode trazer distanciamento e um sentimento de impotência em relação ao que cada um de nós pode fazer. O Altruísmo Eficaz traz um senso de responsabilidade e é daí que veio meu incômodo com a pergunta no vídeo do Peter Singer. Depois desse primeiro contato fiquei com vontade de me aprofundar mais no assunto. E feliz em saber que o movimento está presente no Brasil. Você pode conhecer mais por meio desse link em português e esse em inglês.

O vídeosobre Altruísmo Eficaz de Peter Singer, filósofo e um dos grandes nomes do movimento, começa com uma provocação. Se as pessoas se importam com crianças morrendo por causas banais, porque não estão fazendo nada para diminuir a miséria no mundo? Como aparentemente todos na platéia fiquei incomodada com a pergunta, é claro que me importo com crianças morrendo. Meu mecanismo natural de defesa foi pensar em causas com as quais já me envolvi - trabalhos voluntários e doações esporádicas para algumas ONGs. Assistindo o vídeo até o final e lendo mais sobre o movimento, porém, ficou claro que a provocação não tinha como objetivo incutir a culpa, mas mostrar o porquê de apoiar ações que diminuam o sofrimento alheio, e mais importante, como fazer.

Sobre o porquê, existem formas simples de melhorar a condição de vida no planeta. Há doenças em países pobres que podem ser facilmentes prevenidas, salvando milhões de vidas. O sofrimento animal, uma das grandes causas do movimento, diminuiria com a redução no consumo de carne e derivados de leite. O desejo de ajudar é natural diante das emoções que vivenciamos ao presenciar o sofrimento alheio. Mas o mesmo não é verdade quando a dor do outro ocorre longe dos nossos sentidos. É aí que entra a dimensão eficaz do altruísmo.

O Altruísmo Eficaz prega que as decisões sobre para quem doar devam ser racionais, buscando maximizar o impacto do dinheiro investido. Assim, a escolha de doar para determinada instituição depende não só do que será feito pela mesma mas também do que poderia ser feito por todas as outras instituições que atuam na área. Um exemplo clássico é na ajuda a pessoas cegas. Treinar um cão guia nos Estados Unidos custa em torno de U$45 mil. Ao mesmo tempo,  curar pessoas com tracoma em países em desenvolvimento custa entre U$20-U$50. Fazendo as contas, chega-se à conclusão de que prover um cão-guia para um cego em um país desenvolvido é equivalente a curar entre 400 a 2000 pessoas em um país em desenvolvimento. Dentro do movimento, não há dúvida que a segunda opção é muito mais eficaz na ajuda a pessoas cegas. Assim, uma abordagem mais racional torna a distância dos sofrimentos irrelevante.

Além da definição de intervenções dentro de determinada área, há uma pergunta anterior sobre qual causa priorizar. No exemplo do último parágrafo, a decisão seria investir em cirurgias de tracoma em países em desenvolvimento. Mas por que a escolha de atuar na ajuda a pessoas cegas em primeiro lugar?

Neste semestre participei de um projeto junto ao grupo de Effective Altruism de Harvard pesquisando áreas prioritárias para o investimento filantrópico no Brasil. O trabalho de priorização se baseou em três grandes dimensões. A primeira é importância, ou seja, o número de pessoas impactadas caso resolvêssemos o problema. Se pensarmos em violência no Brasil, por exemplo, resolver o problema pode significar salvar 60 mil vidas por ano - nosso número de homicídios anual. A segunda dimensão é tractabilidade, ou quão factível é resolver o problema. De novo pensando em violência, existem soluções efetivas para reduzir os nossos indicadores de criminalidade? Por último, olhamos para negligencialidade, ou seja, quem são os demais atores que estão atuando nessa mesma área. As áreas com maior impacto, em que existem intervenções eficazes e em que há menos pessoas atuando são as mais promissoras.

Avaliar causas diversas exige estabelecer algumas premissas a fim de se trabalhar com métricas únicas. Senão, como seria possível comparar intervenções que melhoram a educação com outras que previnem impactos de desastres naturais? Uma das belezas do movimento é a abertura em relação à essas difíceis decisões filosóficas - por exemplo, quanto vale uma vida e quanto esse valor muda segunda a faixa etária. O site americano GiveWell, que avalia o impacto de diversas ONGs, disponibiliza suas análises de custo-benefício, expondo seus cálculos e permitindo às pessoas interessadas que modifiquem suas planilhas de acordo com as suas próprias premissas.

Como economista e estudante de administração pública, me acostumei a pensar nos problemas do mundo sob a perspectiva do governo. E apesar do impacto inegável que o setor público tem sobre o bem-estar humano, esse olhar pode trazer distanciamento e um sentimento de impotência em relação ao que cada um de nós pode fazer. O Altruísmo Eficaz traz um senso de responsabilidade e é daí que veio meu incômodo com a pergunta no vídeo do Peter Singer. Depois desse primeiro contato fiquei com vontade de me aprofundar mais no assunto. E feliz em saber que o movimento está presente no Brasil. Você pode conhecer mais por meio desse link em português e esse em inglês.

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