BRASÍLIA — Além de ocupar os ministérios do Esporte e de Portos e Aeroportos, os partidos do Centrão negociam com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva direito de assumir não só a presidência da Caixa Econômica Federal, como também as 12 vice-presidências da instituição financeira estatal. Referência no setor de financiamento imobiliário, o banco é responsável por executar o pagamento dos programas sociais e operar os fundos das loterias federais. A Caixa pagou, até junto de 2023, R$ 190,8 bilhões em benefícios — desse valor, R$ 78,2 bilhões foram do Bolsa Família.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), pretende definir a nova cúpula da Caixa em reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Nova York. Os dois estão nos Estados Unidos para participar da Assembleia- Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).
A carteira de crédito (soma de todos os empréstimos e financiamentos que um banco tem em andamento) da Caixa encerrou o segundo trimestre de 2023 com R$ 1 trilhão. O setor imobiliário é o que tem maior peso, chegando a um saldo de R$ 682,8 bilhões.
A vice-presidência de Habitação é um dos espaços de disputa entre o PT e as demais legendas por também cuidar do Minha Casa Minha Vida. No final de 2022, a Caixa tinha de 637,9 bilhões de reais apenas para a área de habitação. O Orçamento de 2023 prevê R$ 9,5 bilhões para o programa.
Inês Magalhães, que chefia o setor, foi uma das lideranças que desenharam o programa habitacional e chegou a ser ministra das Cidades por um mês, em 2016, às vésperas do impeachment de Dilma Rousseff. O PT tenta a todo custo segurá-la no cargo.
O nome da ex-deputada Margarete Coelho fazia parte do acordo entre Lira e Lula para presidir a Caixa no lugar de Rita Serrano. Houve, no entanto, forte campanha contra ela dentro do banco e o próprio PP recuou.
Ex-vice-governadora do Piauí e atualmente ocupando a diretoria financeira do Sebrae, Margarete é ligada a Lira e ao senador Ciro Nogueira, que comanda o PP e faz ferrenha oposição ao governo Lula.
Com a provável saída de Margarete desse páreo, os dois nomes mais cotados para substituir Serrano na presidência da Caixa são os de Daniela Calazans – hoje secretária de Planejamento do Rio Grande do Sul – e de Gilberto Occhi. Ex-ministro nos governos Dilma Rousseff e Michel Temer, Occhi também já foi presidente da Caixa.
Caso tenha o controle da presidência, o Centrão poderá gerir a vice-presidência do agente operador, responsável pelas loterias. Foram R$ 1,1 bilhão gerados apenas em receitas da prestação do serviço no primeiro semestre deste ano.
A vice-presidência da área de governo é outra área potencialmente valiosa ao grupo. São vinculadas à área as diretorias executivas de serviços de governo de de fundos de governo. Nos primeiros seis meses deste ano, foram R$ 4,8 bilhões movimentados em receitas de serviços de governo.
A Caixa pagou, até junho de 2023, R$ 190,8 bilhões em benefícios. O Bolsa Família era o principal alvo do Centrão após a reforma ministerial. O desejo era assumir a pasta do Desenvolvimento Social, atualmente nas mãos de Wellington Dias, para poder gerir o recurso bilionário dentro da pasta. Lula não cedeu e disse que o ministério era dele. “Esse ministério é meu, não sai do PT”, afirmou.
Como principal parceira do Governo Federal na execução dos programas sociais, a Caixa recebe tarifas decorrentes da prestação do serviço de pagamento dos programas de transferência de renda, destacando-se o Programa Bolsa Família, Seguro Desemprego e Abono Salarial.
No mês passado, a presidente da Caixa reclamou do assédio do Centrão ao afirmar que estava há 50 dias sob especulações de que seria substituída. Na ocasião, ela disse que seu “patrão”, o presidente Lula, é quem deveria responder se ela segue ou terá que deixar a vaga.