BRASÍLIA - A cadeirada dada por José Luiz Datena (PSDB) em Pablo Marçal (PRTB) neste domingo, 15, gerou sentimentos distintos entre as principais lideranças do bolsonarismo. Se por um lado deputados e comunicadores repudiaram a agressão física feita pelo apresentador, por outro viram uma comparação descabida feita pelo coach entre o episódio e os atentados cometidos contra os ex-presidentes Jair Bolsonaro (2018) e Donald Trump (2024), dos Estados Unidos).
Na noite deste domingo, a TV Cultura organizou um debate eleitoral entre os principais candidatos à Prefeitura de São Paulo. Em determinado momento, Marçal provocou Datena com a acusação de uma suposta violência sexual, até que o apresentador deixou o seu local e desferiu um golpe no oponente com uma das cadeiras do auditório. O debate foi interrompido em seguida.
Como tem feito ao longo da campanhas, Marçal imediatamente transformou a cena em cortes para as suas redes sociais, gerando milhões de visualizações. Mas uma das publicações incomodou lideranças do bolsonarismo: a montagem comparou a cadeirada no debate com a facada dada por Adélio Bispo contra Bolsonaro na campanha de 2018, e o ataque a tiros que atingiu a orelha do ex-presidente americano Donald Trump, na campanha presidencial deste ano. Abaixo, Marçal escreveu “por que tanto ódio?”
O Estadão consultou parlamentares e comunicadores próximos a Bolsonaro para medir como a comparação foi recebida. Segundo eles, que preferiram não se identificar, o paralelo não faz sentido e Marçal está “forçando a barra, né”, respondeu um deles. Na visão desses aliados de Bolsonaro, o candidato quer criar uma imagem de mártir para si, visando comover o eleitorado pelo lado da vítima. Ao mesmo tempo, o coach tenta se igualar ao ex-presidente ao se colocar no mesmo patamar os diferentes episódios de violência, como se a esquerda e o sistema político tivessem como alvos de mesmo potencial. Para essas lideranças, o “barraco” entre Marçal e Datena estaria longe de um atentado à vida, como os de Bolsonaro e Trump.
Há quem veja meta cumprida de Marçal ao ser alvo da agressão, visto que o noticiário voltou virar os holofotes sobre o coach após ele estagnar nas pesquisas. Depois de crescer sete pontos percentuais no Datafolha entre o começo e o fim da agosto, de 14% para 21%, o coach oscilou para 19% na última medição, publicada na semana passada. Os dados foram vistos como ponto de atenção, já que sua rejeição cresceu de 38% para 44% e o colocou como o candidato mais reprovado da disputa.
A análise mais prolongada sobre essa montagem veio do youtuber Kim Paim, cujo canal é acompanhado pela família Bolsonaro. “Você pode odiar o Datena e adorar o Marçal, mas você acha que tem comparação esse tipo de coisa?”, questiona ele, antes de criticar o fato de que aliados de Marçal têm tentado comparar os embates em que o coach se envolve com a violência extrema sofrida por Bolsonaro e Trump.
Paim critica a direita “pé na porta”, que costuma defender comportamentos duros contra adversários e que enalteceu a postura do apresentador Augusto Nunes contra o jornalista Glenn Greenwald ao ser chamado de “covarde” no programa Pânico em 2019, por colocar Marçal como vítima indefesa de Datena.
Paim menciona o fato de a acusação da repórter Bruna Drews contra Datena — citada por Marçal no debate para acusá-lo de estuprador — não mencionar estupro, e sim comentários vulgares. “Vocês, homens, concordariam em serem acusados de ser um (estuprador) por causa dessas falas? Parte da direita perdeu a capacidade de ter empatia, de olhar para as coisas e raciocinar”, afirma ele no vídeo publicado nesta segunda-feira, 16.
Lideranças como a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, o pastor Silas Malafaia, o deputado federal Nikolas Ferreira e o comunicador Paulo Figueiredo variaram o tom nos comentários ao episódio, entre o deboche da cena e o apoio ao candidato do PRTB. Michelle aproveitou a repercussão para acusar os rivais da direita de serem “doentes, hipócritas, contraditórios, violentos e do mal”, dando a entender que Datena seria de esquerda. Nikolas seguiu na mesma toada.
Marçal tem aproveitado a repercussão do episódio para gerar conteúdo e audiência para suas redes sociais. Logo após sair do debate rumo ao hospital Sírio Libanês, ele publicou 20 vídeos com conteúdo sobre a agressão e gerou 94 milhões de visualizações. Numa transmissão ao vivo feita na manhã desta segunda, ele voltou a chamar Datena de agressor sexual, mas disse que perdoaria o apresentador.