A cúpula da campanha de Jair Bolsonaro à reeleição avalia que a entrevista do presidente ao Jornal Nacional, na noite desta segunda-feira, 22, serviu para amenizar resistências à sua participação em debates. O ministro da Economia, Paulo Guedes, foi um dos que saíram aliviados da sabatina na TV Globo.
Em reuniões com a equipe de Bolsonaro, o “Posto Ipiranga” admitia estar preocupado com o temperamento explosivo de Bolsonaro. Se dependesse de Guedes, o presidente não deveria comparecer a debates nem a sabatinas nessa temporada. Mas o ministro mudou de ideia.
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Nos quarenta minutos de entrevista ao JN, diante dos jornalistas William Bonner e Renata Vasconcellos, Bolsonaro não fugiu do script. Abatido, com a fisionomia avermelhada, ele foi mais do mesmo e repetiu inverdades. Não se comprometeu a respeitar o resultado das eleições, impondo como condição que o voto seja “auditável”, embora isso já ocorra nas urnas eletrônicas.
Disse ainda que, a partir de janeiro do ano passado, o governo comprou vacinas contra a Covid-19 mais rapidamente do que outros países, quando mais de 50 já haviam iniciado a vacinação até o fim de 2020, como mostrou o Estadão Verifica.
Apesar de coordenadores da campanha avaliarem que Bolsonaro poderia ter criticado mais o adversário Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e capitalizado dividendos com o Auxílio Brasil de R$ 600, o aumento do vale-gás e os benefícios concedidos a caminhoneiros e taxistas, o fato de ele não ter sido agressivo foi considerado um trunfo.
O receio era de que o presidente, rejeitado pelo público feminino, fosse grosseiro, principalmente com Renata, o que poderia fazê-lo perder mais pontos nesse eleitorado. Mesmo assim, durante a entrevista, Bolsonaro foi alvo de panelaços em várias cidades.
Guedes, no entanto, não escondeu a satisfação ao ver o presidente dizendo que “os números da economia são fantásticos”, se comparados aos do resto do mundo. Após comprar muitas brigas com a ala política do governo por resistir a quebrar o teto de gastos, o “Posto Ipiranga” era só sorrisos na noite desta segunda-feira, ao lado dos ministros Ciro Nogueira (Casa Civil), Fábio Faria (Comunicações) e do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho “01″, que acompanharam o presidente aos estúdios da TV Globo.
Para escapar das contradições entre o discurso da campanha de 2018 contra “a velha política” e a prática no Planalto, Bolsonaro recorreu a uma frase de efeito, claramente ensaiada, sobre a aliança com o Centrão. “Você está me estimulando a ser ditador”, disse ele a Bonner, ao afirmar que o jornalista queria vê-lo governar sem o Congresso.
Sempre acusado de incitar um golpe de Estado por causa de suas declarações contra o sistema eleitoral, Bolsonaro tentou virar o jogo nesse capítulo ao se referir à ditadura. Não conseguiu. E ainda, por cima, disse que, no seu tempo, não havia Centrão.
Deputado federal durante quase três décadas, Bolsonaro protagoniza um desconcertante vaivém retórico. Após eleito com críticas ao “toma lá, dá cá”, chegou a admitir que era do Centrão, bloco do qual faz parte o PL, seu atual partido.
Velho de guerra, o Centrão ganhou fama no Congresso Constituinte de 1988, quando o então deputado Roberto Cardoso Alves, conhecido como “Robertão”, liderou o bloco. A composição do grupo, suprapartidário, sempre teve caráter conservador e foi mudando ao longo do tempo.
Mas foi naquela época que “Robertão”, do PMDB, fez a releitura da Oração de São Francisco de Assis, na tentativa de explicar o apoio de parlamentares ao mandato de cinco anos para o presidente José Sarney. “É dando que se recebe”, justificava ele. A máxima permanece até hoje no Congresso. Ou até pior, com o orçamento secreto correndo solto.