BRASÍLIA - Às vésperas do 7 de Setembro, convocações para atos de apoio à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) a serem realizados na data ganharam tom de ultimato contra adversários do candidato. Outdoors espalhados pelas cercanias de Brasília, pagos por apoiadores que omitem a autoria, falam em “agora ou nunca” e em “segunda independência” do Brasil.
As peças publicitárias instaladas na capital federal não mencionam Bolsonaro nem pedem voto explicitamente para ele. A identidade visual das placas e as mensagens nelas contidas, porém, têm semelhanças com a estética da campanha eleitoral do presidente.
Nas redes sociais, os chamamentos também partem de grupos que já estiveram na mira do STF por suposto envolvimento com atos antidemocráticos. Nas ruas, o setor ruralista incentiva as manifestações e pretende trazer maquinário agrícola à Esplanada dos Ministérios em demonstração de apoio do segmento. Lideranças do agronegócio dizem que, ao sugerir que a parte setor que apoia Bolsonaro é “fascista”, Lula (PT) acabou ampliando a adesão do setor à mobilização.
Bolsonaro pretende se manifestar em Brasília, pela manhã, e no Rio de Janeiro, à tarde. A partir da convocação que ele tem feito, apoiadores se preparam para dar o mesmo tom eleitoral às comemorações do 7 de Setembro em outras cidades. O PT, a esquerda e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) são os mais citados como antagonistas nos chamamentos para o ato, especialmente na internet.
Em Belo Horizonte, o ex-jogador de vôlei Maurício Souza (PL), candidato a deputado federal, trata o ato como uma “missão”. “Povo mineiro, essa é a hora de mostrar a nossa força. O futuro do nosso país está em nossas mãos. Dia 7 de setembro, vamos de verde e amarelo representar nosso capitão”, publicou nas redes.
Entre os grupos que articulam a mobilização está o Movimento Avança Brasil, citado no inquérito dos atos antidemocráticos, do STF, que acabou arquivado. Em torno do movimento há empresários investigados por suposto financiamento de eventos que atentam contra instituições. Para a manifestação, o movimento declara que “um novo grito pela liberdade será dado”.
Advogado do Avança Brasil, Davi Gebara Neto diz que manteve o aconselhamento para que a manifestação se dê dentro das leis. “A orientação é seguir a Constituição e as leis, e exercer o direito de manifestação”, disse. Segundo ele, os atos representam a “empolgação do povo brasileiro”. Não só dos membros do Avança Brasil, mas a de todo “brasileiro de bons costumes”. Também há mobilização em grupos de redes sociais que defendem intervenção militar.
Agronegócio
Bolsonaro conta com uma parte relevante do agronegócio para dar volume aos protestos da próxima semana. No 7 de Setembro do ano passado, o então presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), Antonio Galvan, surgiu como um dos incentivadores mais entusiasmados.
Também foi relacionado em investigações do STF por suspeita de patrocinar atos que visavam uma invasão do prédio da Suprema Corte. Galvan está licenciado da Aprosoja porque concorre a uma vaga de senador pelo PTB de Mato Grosso.
O presidente em exercício, José Sismeiro, diz que a associação não pretende se envolver nas manifestações. “Esse ano não vamos nos envolver. Vai ficar a cargo de cada diretor, de cada cidadão”, disse. No entanto, ele não considera que a entidade tenha participado dos atos no ano passado. Alega que Galvan incentivou os atos na condição de simples produtor rural.
Paranaense, Sismeiro não descarta vir a Brasília para a manifestação bolsonarista nessa mesma condição. “Quem se envolveu foi o presidente na pessoa dele. E colocaram a Aprosoja no contexto geral. Como entidade, não vamos nos envolver. Se eu for, vai ser como cidadão. Depende de como estará a agenda. Se a agenda permitir, vou com certeza”, disse o fazendeiro.
Na Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputados e senadores se dividem sobre apoio a Lula ou a Bolsonaro. Os que preferem o petistas dizem que o atual presidente pouco fez em benefício do segmento, ao passo que as gestões de Lula foram responsáveis por levantar marcos do setor. Dizem ainda que o tom golpista dos atos de 2021 afastaram alguns ruralistas de Bolsonaro porque avaliaram o comportamento do presidente como prejudicial à imagem do País no exterior -- e consequentemente a do agronegócio.
“Acabaram ficando decepcionados com Bolsonaro, que teve que recorrer ao Michel Temer para fazer a carta e acalmar o País. Creio que muitos sindicatos que participaram ano passado não participam mais”, disse um ativo membro da poderosa FPA que pediu para não ser identificado.
O presidente da Frente, deputado Sérgio Souza (MDB-PR), afirma que a posição é minoritária e que a maioria dos integrantes do grupo vai aderir às manifestações.
“É uma Frente pluripartidária, mas a grande maioria dos membros vai aderir e se manifestar. O setor agropecuário vê em Bolsonaro a possibilidade de produzir alimentos com segurança jurídica, de redução do custo de produção, de fazer com que alimento chegue mais barato para as famílias”, afirmou Souza.
No entorno de Brasília, sindicatos ruralistas apostam em uma participação maior que a de 2021. Washington Luiz de Paulo, presidente Sindicato Rural de Campinorte (GO), promete chegar à Esplanada com tratores. A associação feita por Lula, de que uma parte do agronegócio é fascista, vai aumentar a participação, segundo ele.
“Acredito que 60% dos sindicatos de Goiás estarão presentes, bem mais que no ano passado. Diante da fala do Lula a gente fica bastante preocupado. Foi muito infeliz considerar o setor como fascista. Dá a entender que não quer contar com a gente no governo dele. O setor tem se preocupado com esse tipo de posicionamento, não é em si com o candidato ou com o resultado”, frisou.