Bolsonaro aposta em discurso populista clássico para mobilizar convertidos


‘Guerra cultural’ anima seguidores leais, mas é pouco atraente para eleitores indecisos

Por Oliver Stuenkel
Atualização:

Em seu livro O que é populismo?, Jan-Werner Müller, professor de ciência política da Universidade de Princeton, argumenta que os populistas, no fundo, sempre rejeitam o pluralismo e afirmam ser os representantes exclusivos e morais do “povo” e de seus interesses. O populismo seria, segundo Müller, antes de tudo, uma imaginação moralista da política e uma tentativa de deslegitimar a oposição. Os populistas muitas vezes se referem, como costumava fazer o ex-presidente americano Richard Nixon, a uma “maioria silenciosa”, que, segundo eles afirmam, os apoia. É por isso que, em sua forma mais extrema, como na Venezuela chavista, os populistas não organizam mais eleições livres: o pleito tornou-se desnecessário, pois o líder populista já sabe o que “o povo” realmente quer. Depois de uma eleição perdida em 2002, o primeiro-ministro hungaro Viktor Orbán lançou mão de um bordão populista típico e declarou que “a nação não pode estar na oposição”. No México, o atual presidente Obrador chamou, certa vez, a vitória da direita de “moralmente impossível”.

O presidente Jair Bolsonaro durante desfile militar na Esplanada dos Ministérios em homenagem ao Bicentenário da Independência do Brasil  Foto: Wilton Junior/Estadão

Os discursos do presidente Bolsonaro em Brasília, após o desfile de 7 de Setembro em comemoração ao Bicentenário da Independência assim como no Rio de Janeiro, se encaixam na mesma lógica. Descrevendo as eleições de outubro como uma “luta do bem contra o mal”, Bolsonaro questiona o elemento-chave que diferencia sistemas democráticos de regimes autoritários: a aceitação de que aqueles que pensam diferente não apenas têm legitimidade, mas também que sua chegada periódica ao poder é essencial para o funcionamento da democracia. O famoso chavão “nossa bandeira jamais será vermelha”, bem como o chamado da primeira-dama Michelle de “resgatar o patriotismo”, tem o mesmo objetivo: apropriar-se de símbolos nacionais para promover uma suposta divisão da população entre patriotas de um lado e inimigos da pátria de outro.

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Apesar de menos aguerridos do que no ano passado, quando o presidente fez ameaças diretas ao STF, os discursos de Bolsonaro no dia 7 de setembro tiveram como público-alvo os convertidos, com um esforço limitado para dialogar com os indecisos, a maioria dos quais dificilmente se identifica com o discurso do bem contra o mal. A ênfase nas “guerras culturais” e a constante ênfase em Deus, família e promessas de não permitir a legalização das drogas sugere que Bolsonaro aposta que a sua estratégia de 2018 pode funcionar novamente. Acima de tudo, em função de um contexto econômico muito mais desafiador hoje do que quatro anos atrás, trata-se de uma aposta de alto risco.

7 de setembro em Brasília; veja fotos

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Desfile 7 de setembro em Brasília

Foto: Wilton Junior/Estadão - 07/09/2022
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Em seu livro O que é populismo?, Jan-Werner Müller, professor de ciência política da Universidade de Princeton, argumenta que os populistas, no fundo, sempre rejeitam o pluralismo e afirmam ser os representantes exclusivos e morais do “povo” e de seus interesses. O populismo seria, segundo Müller, antes de tudo, uma imaginação moralista da política e uma tentativa de deslegitimar a oposição. Os populistas muitas vezes se referem, como costumava fazer o ex-presidente americano Richard Nixon, a uma “maioria silenciosa”, que, segundo eles afirmam, os apoia. É por isso que, em sua forma mais extrema, como na Venezuela chavista, os populistas não organizam mais eleições livres: o pleito tornou-se desnecessário, pois o líder populista já sabe o que “o povo” realmente quer. Depois de uma eleição perdida em 2002, o primeiro-ministro hungaro Viktor Orbán lançou mão de um bordão populista típico e declarou que “a nação não pode estar na oposição”. No México, o atual presidente Obrador chamou, certa vez, a vitória da direita de “moralmente impossível”.

O presidente Jair Bolsonaro durante desfile militar na Esplanada dos Ministérios em homenagem ao Bicentenário da Independência do Brasil  Foto: Wilton Junior/Estadão

Os discursos do presidente Bolsonaro em Brasília, após o desfile de 7 de Setembro em comemoração ao Bicentenário da Independência assim como no Rio de Janeiro, se encaixam na mesma lógica. Descrevendo as eleições de outubro como uma “luta do bem contra o mal”, Bolsonaro questiona o elemento-chave que diferencia sistemas democráticos de regimes autoritários: a aceitação de que aqueles que pensam diferente não apenas têm legitimidade, mas também que sua chegada periódica ao poder é essencial para o funcionamento da democracia. O famoso chavão “nossa bandeira jamais será vermelha”, bem como o chamado da primeira-dama Michelle de “resgatar o patriotismo”, tem o mesmo objetivo: apropriar-se de símbolos nacionais para promover uma suposta divisão da população entre patriotas de um lado e inimigos da pátria de outro.

Apesar de menos aguerridos do que no ano passado, quando o presidente fez ameaças diretas ao STF, os discursos de Bolsonaro no dia 7 de setembro tiveram como público-alvo os convertidos, com um esforço limitado para dialogar com os indecisos, a maioria dos quais dificilmente se identifica com o discurso do bem contra o mal. A ênfase nas “guerras culturais” e a constante ênfase em Deus, família e promessas de não permitir a legalização das drogas sugere que Bolsonaro aposta que a sua estratégia de 2018 pode funcionar novamente. Acima de tudo, em função de um contexto econômico muito mais desafiador hoje do que quatro anos atrás, trata-se de uma aposta de alto risco.

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Em seu livro O que é populismo?, Jan-Werner Müller, professor de ciência política da Universidade de Princeton, argumenta que os populistas, no fundo, sempre rejeitam o pluralismo e afirmam ser os representantes exclusivos e morais do “povo” e de seus interesses. O populismo seria, segundo Müller, antes de tudo, uma imaginação moralista da política e uma tentativa de deslegitimar a oposição. Os populistas muitas vezes se referem, como costumava fazer o ex-presidente americano Richard Nixon, a uma “maioria silenciosa”, que, segundo eles afirmam, os apoia. É por isso que, em sua forma mais extrema, como na Venezuela chavista, os populistas não organizam mais eleições livres: o pleito tornou-se desnecessário, pois o líder populista já sabe o que “o povo” realmente quer. Depois de uma eleição perdida em 2002, o primeiro-ministro hungaro Viktor Orbán lançou mão de um bordão populista típico e declarou que “a nação não pode estar na oposição”. No México, o atual presidente Obrador chamou, certa vez, a vitória da direita de “moralmente impossível”.

O presidente Jair Bolsonaro durante desfile militar na Esplanada dos Ministérios em homenagem ao Bicentenário da Independência do Brasil  Foto: Wilton Junior/Estadão

Os discursos do presidente Bolsonaro em Brasília, após o desfile de 7 de Setembro em comemoração ao Bicentenário da Independência assim como no Rio de Janeiro, se encaixam na mesma lógica. Descrevendo as eleições de outubro como uma “luta do bem contra o mal”, Bolsonaro questiona o elemento-chave que diferencia sistemas democráticos de regimes autoritários: a aceitação de que aqueles que pensam diferente não apenas têm legitimidade, mas também que sua chegada periódica ao poder é essencial para o funcionamento da democracia. O famoso chavão “nossa bandeira jamais será vermelha”, bem como o chamado da primeira-dama Michelle de “resgatar o patriotismo”, tem o mesmo objetivo: apropriar-se de símbolos nacionais para promover uma suposta divisão da população entre patriotas de um lado e inimigos da pátria de outro.

Apesar de menos aguerridos do que no ano passado, quando o presidente fez ameaças diretas ao STF, os discursos de Bolsonaro no dia 7 de setembro tiveram como público-alvo os convertidos, com um esforço limitado para dialogar com os indecisos, a maioria dos quais dificilmente se identifica com o discurso do bem contra o mal. A ênfase nas “guerras culturais” e a constante ênfase em Deus, família e promessas de não permitir a legalização das drogas sugere que Bolsonaro aposta que a sua estratégia de 2018 pode funcionar novamente. Acima de tudo, em função de um contexto econômico muito mais desafiador hoje do que quatro anos atrás, trata-se de uma aposta de alto risco.

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O presidente Jair Bolsonaro durante desfile militar na Esplanada dos Ministérios em homenagem ao Bicentenário da Independência do Brasil  Foto: Wilton Junior/Estadão

Os discursos do presidente Bolsonaro em Brasília, após o desfile de 7 de Setembro em comemoração ao Bicentenário da Independência assim como no Rio de Janeiro, se encaixam na mesma lógica. Descrevendo as eleições de outubro como uma “luta do bem contra o mal”, Bolsonaro questiona o elemento-chave que diferencia sistemas democráticos de regimes autoritários: a aceitação de que aqueles que pensam diferente não apenas têm legitimidade, mas também que sua chegada periódica ao poder é essencial para o funcionamento da democracia. O famoso chavão “nossa bandeira jamais será vermelha”, bem como o chamado da primeira-dama Michelle de “resgatar o patriotismo”, tem o mesmo objetivo: apropriar-se de símbolos nacionais para promover uma suposta divisão da população entre patriotas de um lado e inimigos da pátria de outro.

Apesar de menos aguerridos do que no ano passado, quando o presidente fez ameaças diretas ao STF, os discursos de Bolsonaro no dia 7 de setembro tiveram como público-alvo os convertidos, com um esforço limitado para dialogar com os indecisos, a maioria dos quais dificilmente se identifica com o discurso do bem contra o mal. A ênfase nas “guerras culturais” e a constante ênfase em Deus, família e promessas de não permitir a legalização das drogas sugere que Bolsonaro aposta que a sua estratégia de 2018 pode funcionar novamente. Acima de tudo, em função de um contexto econômico muito mais desafiador hoje do que quatro anos atrás, trata-se de uma aposta de alto risco.

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