BRASÍLIA – Apuradas as urnas nas 5,5 mil cidades do País, o Partido Liberal (PL) agora conta com a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro para reforçar as campanhas de seus 13 candidatos que disputarão o segundo turno das eleições municipais, em 27 de outubro.
Em São Paulo, capital em que a sigla conta com o coronel Mello Araújo na chapa do prefeito Ricardo Nunes (MDB), no entanto, o engajamento de Bolsonaro é incerto. O PL ainda conta com a disposição do MDB em reforçar os laços com o aliado e, até o momento, Nunes foi tanto criticado por esconder Bolsonaro quanto o ex-presidente foi questionado por não se envolver na campanha.
Ainda que aliados da dupla defendam que o ex-presidente atue mais na eleição paulistana daqui em diante — o advogado de Bolsonaro, Fabio Wajngarten, por exemplo, diz ser tanto vontade de Bolsonaro quanto de Nunes que isso aconteça —, há obstáculos pela frente. Isso porque existe resistência entre integrantes do núcleo duro da equipe de Nunes em relação à aproximação de Bolsonaro. A ala ligada ao MDB vê a alta rejeição do ex-presidente na cidade como um risco eleitoral.
No primeiro turno, a relação entre Nunes e Bolsonaro foi marcada por idas e vindas, com o ex-presidente em alguns momentos flertando com a candidatura de Marçal. Na reta final, pesquisas indicaram um derretimento de Nunes junto ao eleitorado bolsonarista, o que levou a campanha a buscar um gesto de apoio de Bolsonaro para estancar a perda de votos. O ex-presidente chegou a afirmar que o prefeito paulistano “não era o seu candidatos dos sonhos”.
Bolsonaro, que inicialmente resistia a se envolver, pois sentia ter sido deixado de lado durante a campanha, mudou de postura ao ser apresentado a números que indicavam risco de Nunes ficar fora do segundo turno. Em uma transmissão ao vivo ao lado de Mello Araújo dias atrás, por exemplo, Bolsonaro atacou Marçal, chamando-o de “idiota”, “oportunista” e “amor de verão”.
Em coletiva de imprensa na noite do domingo após o resultado das urnas, no Rio de Janeiro, Bolsonaro afirmou que vai “mergulhar de cabeça” no segundo turno em São Paulo, e justificou sua ausência até então pelo fato de que, segundo ele, havia “uma preocupação até que ponto ele iria ajudar ou atrapalhar”.
Na terça-feira, a cúpula do PL e Bolsonaro devem receber candidatos do partido em Brasília para discutir a intensidade da participação do ex-presidente nas campanhas. A legenda deve terminar de contabilizar o tamanho da vitória nesta segunda-feira.
O partido sai deste primeiro turno com vitória em quatro capitais (prefeitos eleitos em Maceió e Rio Branco, e vices em Boa Vista e Florianópolis), e ainda tem disputa em aberto em outras 13: em nove com cabeças de chapa (Aracaju, Belém, Belo Horizonte, Cuiabá, Goiânia, Fortaleza, João Pessoa, Manaus, Palmas) e em quatro com vices (Porto Velho, Curitiba, Porto Alegre e São Paulo).
Ao contrário de outras capitais, como o Rio de Janeiro, onde Bolsonaro entrou de cabeça na disputa eleitoral e o PL investiu R$ 26 milhões na candidatura de Alexandre Ramagem, na capital paulista seu aliado mal contou com a presença do ex-presidente. O desempenho de Nunes, ao terminar o primeiro turno na liderança (29,48% dos votos), tem sido mais atribuído ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) do que a Bolsonaro.
Na noite deste domingo, tão logo Nunes foi confirmado no segundo turno, lideranças bolsonaristas fizeram uma videochamada com Tarcísio para lhe agradecer pela vitória. Um vídeo do momento foi publicado por Wajngarten.
Na imagem que escolheu para ilustrar sua vitória deste domingo no Instagram, Nunes escolheu uma montagem com Tarcísio e Araújo, sem nenhuma menção a Bolsonaro. Guilherme Boulos (PSOL), seu rival no segundo turno, por outro lado, compartilhou um vídeo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mais cedo, e mencionou nominalmente o petista em seu discurso após o resultado.
“Do lado de lá, nós temos o candidato apoiado pelo Bolsonaro, que se colocou contra a vacina, que acredita que o 8 de Janeiro foi apenas um encontro de senhoras. Do lado de cá, nós temos o time que ajudou a resguardar a democracia no Brasil. Nós temos o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin, a ministra Marina Silva”, discursou Boulos.
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O senador Rogério Marinho (PL-RN), responsável pela coordenação eleitoral do partido a nível nacional, diz que Bolsonaro deve participar do maior número de campanhas que puder no segundo turno, “se ele for convidado”. Questionado como será o envolvimento do ex-presidente na campanha de Nunes, ele disse que isso não depende do PL.
“Vai depender muito da campanha do próprio Nunes. Bolsonaro tem a consciência de que as campanhas municipais tem uma lógica própria. Cada campanha certamente vai avaliar de que forma ele vai participar. A campanha de São Paulo deixou claro que majoritariamente a população se identifica com o viés conservador. A discussão foi qual a direita que ia chegar ao segundo turno”, afirmou o senador, referindo-se ao prefeito e a Pablo Marçal (PRTB), que terminou a disputa em terceiro lugar, com 28,14%.