Bolsonaro faz live em tom de despedida, diz que ‘opositor’ vai tomar posse e critica ato terrorista


Presidente tentou em pronunciamento em redes sociais justificar silêncio de quase 2 meses

Por Julia Affonso
Atualização:

BRASÍLIA – Na véspera do fim do mandato, o presidente Jair Bolsonaro fez nesta sexta-feira, 30, uma live em tom de despedida com recados a apoiadores. Na transmissão em redes sociais – a primeira após a derrota –, o mandatário afirmou que “nada justifica” o que chamou de “tentativa de ato terrorista” em Brasília, disse que “foi difícil” se manter calado por dois meses e reconheceu, pela primeira vez, que seu “opositor”, Luiz Inácio Lula da Silva, tomará posse a partir deste domingo, 1.º de janeiro.

A declaração de pouco mais de 50 minutos foi marcada por justificativas à militância em relação ao silêncio desde frustrada a busca pela reeleição. Diferentemente das tradicionais lives semanais, usadas para se comunicar diretamente com a base, Bolsonaro não estava acompanhado de nenhuma autoridade, como ministros, secretários ou assessores. O presidente fez um balanço da gestão, chorou e criticou o futuro governo Lula. A fala, contudo, decepcionou apoiadores.

continua após a publicidade
Bolsonaro fez a primeira live nesta sexta-feira, 30, desde a derrota no segundo turno das eleições para Luiz Inácio Lula da Silva Foto: Reprodução

Desde a derrota de Bolsonaro, militantes têm acampado na frente do Quartel-General do Exército, em Brasília, e de instalações militares pelo País. Há apoiadores que defendem até mesmo intervenção das Forças Armadas para impedir a posse do petista. No sábado, 24, um gerente de posto de combustível do Pará foi preso e confessou ter armado um explosivo em um caminhão no aeroporto de Brasília sob a alegação de querer “provocar o caos”.

“Nada justifica, aqui em Brasília, essa tentativa de ato terrorista na região do aeroporto”, afirmou o presidente, na live. “O elemento que foi pego, graças a Deus”, afirmou. Bolsonaro defendeu o direito de manifestação e disse que, “hoje em dia, se alguém comete um erro, é bolsonarista”. “Tudo que é feito pela esquerda é bacana. Do lado de cá, é o tempo todo de atos antidemocráticos. Até de terroristas são chamados porque um elemento que passou por lá fez besteira”, afirmou.

continua após a publicidade

George Washington de Oliveira Sousa, de 54 anos, o homem preso em razão da bomba, tem conexões com outros acampados na frente do QG e relatou à polícia que participou de atos antidemocráticos realizados por apoiadores do presidente. Disse ainda que agiu por influência do discurso de Bolsonaro, defensor do armamentismo como instrumento de defesa da liberdade. No último pronunciamento, o presidente voltou a defender que as pessoas comprem armas e disse que o “revogaço” proposto pelo “opositor” vai aumentar a violência no Brasil. Segundo Bolsonaro, se se quer a paz, tem de se preparar para a guerra.

‘Alternativas’

O presidente acenou durante a live aos apoiadores que estão nas portas dos quartéis. Bolsonaro afirmou que “está prevista a posse no dia 1.º de janeiro” e que buscou, “dentro das leis, saída para isso aí”, mas não encontrou apoio. “Como foi difícil ficar dois meses calado, trabalhando para buscar alternativas”, afirmou. “Tudo dentro das quatro linhas. Ninguém quer uma aventura. Ou vivemos uma democracia ou não vivemos. Mas agora, até dentro das quatro linhas, você tem de ter apoio. Em nenhum momento, fui procurado para fazer nada de errado, violentando seja o que for”, disse.

continua após a publicidade
Em pronunciamento a um dia de terminar mandato, presidente faz balanço de sua gestão e não cita nominalmente Lula Foto: Igo Estrela/Estadão

“Até hoje, eu fiz a minha parte dentro das quatro linhas. Mas tem de ter apoio do Parlamento, de alguns do Supremo e de outras instituições. Não pode acusar a mim você que quer resolver o assunto. O caminho não é fácil”, afirmou o presidente. Bolsonaro afirmou que não pode “fazer algo que não seja bem-feito que os efeitos colaterais não sejam danosos demais”. “Tudo hoje em dia tem reflexões no mundo todo”, disse.

Inconformismo

continua após a publicidade

No seu último discurso, o presidente demonstrou que não assimilou a derrota, que, segundo ele, foi inesperada, uma vez que levou uma “multidão” às ruas. “Quem não leva o povo para as ruas não tem voto”, afirmou. O presidente citou medidas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que, para ele, prejudicaram-no e “mentiras” contadas na propaganda eleitoral de Lula, como a de que ele iria acabar com o reajuste do salário mínimo. Insistiu também que medidas judiciais tomadas no País afetam a liberdade das pessoas e que hoje tem gente com medo de mandar uma mensagem de WhatsApp.

O presidente pediu a compreensão dos eleitores. “É um momento triste para milhões de pessoas, alguns outros estão vibrando, mas é a minoria. É um momento de reflexão. Tem gente chateada comigo porque acha que eu poderia ter feito alguma coisa”, afirmou.

Bolsonaro sinalizou que vai tentar voltar ao poder. “Tenho certeza de que não vai demorar muito tempo e o Brasil vai voltar ao eixo da normalidade. O Brasil não sucumbirá. Acredito em vocês, acredito no Brasil, acredito em Deus. Temos um grande futuro pela frente. Perde-se a batalha, mas não a guerra. Muito obrigado a todos por terem me proporcionado quatro anos à frente da Presidência da República”, disse, com a voz embargada.

continua após a publicidade

Comparação

continua após a publicidade

Ao longo do pronunciamento, Bolsonaro comparou seu governo com o que está em formação por Lula, a quem não citou nominalmente e chamou, além de “opositor”, de “cara”. O atual presidente disse que a gestão Lula “começa capenga, já com muitas reações”, avaliando as medidas iniciais da futura administração como uma “gastança enorme, fura-teto”. “Alguma coisa poderia ser revista, mas não explodir o teto”, disse.

Bolsonaro fez uma referência à Emenda Constitucional da Transição, que ampliou o teto de gastos em R$ 145 bilhões para garantir R$ 600, além de um extra de R$ 150 para crianças de 6 anos, no Bolsa Família. O teto limita o aumento das despesas à inflação do ano anterior. No governo Bolsonaro, a âncora fiscal foi “furada” seis vezes – a última por causa da PEC da Transição, para bancar as promessas de Lula.

O presidente reforçou, ainda, o discurso de medo para seus apoiadores em relação ao governo de esquerda de Lula. “Hoje, temos uma massa de pessoas que passaram a entender melhor sobre política. As pessoas achavam que não corriam risco, mas correm risco”, disse. Pediu também que sejam comparados o seu ministério com o do “opositor” e os chefes de Estado que estarão presentes à posse, citando Daniel Ortega (Nicarágua) e Nicolás Maduro (Venezuela).

Nesta sexta, o governo Bolsonaro suspendeu a sua própria portaria que barrava a entrada de Maduro no Brasil. No entanto, o cerimonial da posse de Lula ainda não confirmou a presença do dirigente do regime chavista. Em 2019, na posse de Bolsonaro, estiveram presentes os primeiros-ministros de Israel, Benjamin Netanyahu, e da Hungria, Viktor Orbán, ideologicamente alinhados a ele.

Sem agradecimentos

O presidente não fez nenhum agradecimento a ministros de seu governo e citou apenas a primeira-dama Michelle Bolsonaro. Ele estava sozinho na live, acompanhado apenas da tradutora de libras. “Tenho a convicção que dei o melhor de mim, com sacrifício de quem estava ao meu lado, em especial a minha esposa”, afirmou. Bolsonaro disse também que trabalhou de “domingo a domingo”.

“A mão de Deus me salvou. A mão dele me elegeu”, disse o presidente. Na campanha de 2018, Lula, o líder nas pesquisas na época, estava inelegível por decisão da Justiça. Bolsonaro derrotou Fernando Haddad, que foi escolhido por Lula para ministro da Fazenda. Nesta sexta, Bolsonaro embarca para Orlando, nos Estados Unidos.

BRASÍLIA – Na véspera do fim do mandato, o presidente Jair Bolsonaro fez nesta sexta-feira, 30, uma live em tom de despedida com recados a apoiadores. Na transmissão em redes sociais – a primeira após a derrota –, o mandatário afirmou que “nada justifica” o que chamou de “tentativa de ato terrorista” em Brasília, disse que “foi difícil” se manter calado por dois meses e reconheceu, pela primeira vez, que seu “opositor”, Luiz Inácio Lula da Silva, tomará posse a partir deste domingo, 1.º de janeiro.

A declaração de pouco mais de 50 minutos foi marcada por justificativas à militância em relação ao silêncio desde frustrada a busca pela reeleição. Diferentemente das tradicionais lives semanais, usadas para se comunicar diretamente com a base, Bolsonaro não estava acompanhado de nenhuma autoridade, como ministros, secretários ou assessores. O presidente fez um balanço da gestão, chorou e criticou o futuro governo Lula. A fala, contudo, decepcionou apoiadores.

Bolsonaro fez a primeira live nesta sexta-feira, 30, desde a derrota no segundo turno das eleições para Luiz Inácio Lula da Silva Foto: Reprodução

Desde a derrota de Bolsonaro, militantes têm acampado na frente do Quartel-General do Exército, em Brasília, e de instalações militares pelo País. Há apoiadores que defendem até mesmo intervenção das Forças Armadas para impedir a posse do petista. No sábado, 24, um gerente de posto de combustível do Pará foi preso e confessou ter armado um explosivo em um caminhão no aeroporto de Brasília sob a alegação de querer “provocar o caos”.

“Nada justifica, aqui em Brasília, essa tentativa de ato terrorista na região do aeroporto”, afirmou o presidente, na live. “O elemento que foi pego, graças a Deus”, afirmou. Bolsonaro defendeu o direito de manifestação e disse que, “hoje em dia, se alguém comete um erro, é bolsonarista”. “Tudo que é feito pela esquerda é bacana. Do lado de cá, é o tempo todo de atos antidemocráticos. Até de terroristas são chamados porque um elemento que passou por lá fez besteira”, afirmou.

George Washington de Oliveira Sousa, de 54 anos, o homem preso em razão da bomba, tem conexões com outros acampados na frente do QG e relatou à polícia que participou de atos antidemocráticos realizados por apoiadores do presidente. Disse ainda que agiu por influência do discurso de Bolsonaro, defensor do armamentismo como instrumento de defesa da liberdade. No último pronunciamento, o presidente voltou a defender que as pessoas comprem armas e disse que o “revogaço” proposto pelo “opositor” vai aumentar a violência no Brasil. Segundo Bolsonaro, se se quer a paz, tem de se preparar para a guerra.

‘Alternativas’

O presidente acenou durante a live aos apoiadores que estão nas portas dos quartéis. Bolsonaro afirmou que “está prevista a posse no dia 1.º de janeiro” e que buscou, “dentro das leis, saída para isso aí”, mas não encontrou apoio. “Como foi difícil ficar dois meses calado, trabalhando para buscar alternativas”, afirmou. “Tudo dentro das quatro linhas. Ninguém quer uma aventura. Ou vivemos uma democracia ou não vivemos. Mas agora, até dentro das quatro linhas, você tem de ter apoio. Em nenhum momento, fui procurado para fazer nada de errado, violentando seja o que for”, disse.

Em pronunciamento a um dia de terminar mandato, presidente faz balanço de sua gestão e não cita nominalmente Lula Foto: Igo Estrela/Estadão

“Até hoje, eu fiz a minha parte dentro das quatro linhas. Mas tem de ter apoio do Parlamento, de alguns do Supremo e de outras instituições. Não pode acusar a mim você que quer resolver o assunto. O caminho não é fácil”, afirmou o presidente. Bolsonaro afirmou que não pode “fazer algo que não seja bem-feito que os efeitos colaterais não sejam danosos demais”. “Tudo hoje em dia tem reflexões no mundo todo”, disse.

Inconformismo

No seu último discurso, o presidente demonstrou que não assimilou a derrota, que, segundo ele, foi inesperada, uma vez que levou uma “multidão” às ruas. “Quem não leva o povo para as ruas não tem voto”, afirmou. O presidente citou medidas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que, para ele, prejudicaram-no e “mentiras” contadas na propaganda eleitoral de Lula, como a de que ele iria acabar com o reajuste do salário mínimo. Insistiu também que medidas judiciais tomadas no País afetam a liberdade das pessoas e que hoje tem gente com medo de mandar uma mensagem de WhatsApp.

O presidente pediu a compreensão dos eleitores. “É um momento triste para milhões de pessoas, alguns outros estão vibrando, mas é a minoria. É um momento de reflexão. Tem gente chateada comigo porque acha que eu poderia ter feito alguma coisa”, afirmou.

Bolsonaro sinalizou que vai tentar voltar ao poder. “Tenho certeza de que não vai demorar muito tempo e o Brasil vai voltar ao eixo da normalidade. O Brasil não sucumbirá. Acredito em vocês, acredito no Brasil, acredito em Deus. Temos um grande futuro pela frente. Perde-se a batalha, mas não a guerra. Muito obrigado a todos por terem me proporcionado quatro anos à frente da Presidência da República”, disse, com a voz embargada.

Comparação

Ao longo do pronunciamento, Bolsonaro comparou seu governo com o que está em formação por Lula, a quem não citou nominalmente e chamou, além de “opositor”, de “cara”. O atual presidente disse que a gestão Lula “começa capenga, já com muitas reações”, avaliando as medidas iniciais da futura administração como uma “gastança enorme, fura-teto”. “Alguma coisa poderia ser revista, mas não explodir o teto”, disse.

Bolsonaro fez uma referência à Emenda Constitucional da Transição, que ampliou o teto de gastos em R$ 145 bilhões para garantir R$ 600, além de um extra de R$ 150 para crianças de 6 anos, no Bolsa Família. O teto limita o aumento das despesas à inflação do ano anterior. No governo Bolsonaro, a âncora fiscal foi “furada” seis vezes – a última por causa da PEC da Transição, para bancar as promessas de Lula.

O presidente reforçou, ainda, o discurso de medo para seus apoiadores em relação ao governo de esquerda de Lula. “Hoje, temos uma massa de pessoas que passaram a entender melhor sobre política. As pessoas achavam que não corriam risco, mas correm risco”, disse. Pediu também que sejam comparados o seu ministério com o do “opositor” e os chefes de Estado que estarão presentes à posse, citando Daniel Ortega (Nicarágua) e Nicolás Maduro (Venezuela).

Nesta sexta, o governo Bolsonaro suspendeu a sua própria portaria que barrava a entrada de Maduro no Brasil. No entanto, o cerimonial da posse de Lula ainda não confirmou a presença do dirigente do regime chavista. Em 2019, na posse de Bolsonaro, estiveram presentes os primeiros-ministros de Israel, Benjamin Netanyahu, e da Hungria, Viktor Orbán, ideologicamente alinhados a ele.

Sem agradecimentos

O presidente não fez nenhum agradecimento a ministros de seu governo e citou apenas a primeira-dama Michelle Bolsonaro. Ele estava sozinho na live, acompanhado apenas da tradutora de libras. “Tenho a convicção que dei o melhor de mim, com sacrifício de quem estava ao meu lado, em especial a minha esposa”, afirmou. Bolsonaro disse também que trabalhou de “domingo a domingo”.

“A mão de Deus me salvou. A mão dele me elegeu”, disse o presidente. Na campanha de 2018, Lula, o líder nas pesquisas na época, estava inelegível por decisão da Justiça. Bolsonaro derrotou Fernando Haddad, que foi escolhido por Lula para ministro da Fazenda. Nesta sexta, Bolsonaro embarca para Orlando, nos Estados Unidos.

BRASÍLIA – Na véspera do fim do mandato, o presidente Jair Bolsonaro fez nesta sexta-feira, 30, uma live em tom de despedida com recados a apoiadores. Na transmissão em redes sociais – a primeira após a derrota –, o mandatário afirmou que “nada justifica” o que chamou de “tentativa de ato terrorista” em Brasília, disse que “foi difícil” se manter calado por dois meses e reconheceu, pela primeira vez, que seu “opositor”, Luiz Inácio Lula da Silva, tomará posse a partir deste domingo, 1.º de janeiro.

A declaração de pouco mais de 50 minutos foi marcada por justificativas à militância em relação ao silêncio desde frustrada a busca pela reeleição. Diferentemente das tradicionais lives semanais, usadas para se comunicar diretamente com a base, Bolsonaro não estava acompanhado de nenhuma autoridade, como ministros, secretários ou assessores. O presidente fez um balanço da gestão, chorou e criticou o futuro governo Lula. A fala, contudo, decepcionou apoiadores.

Bolsonaro fez a primeira live nesta sexta-feira, 30, desde a derrota no segundo turno das eleições para Luiz Inácio Lula da Silva Foto: Reprodução

Desde a derrota de Bolsonaro, militantes têm acampado na frente do Quartel-General do Exército, em Brasília, e de instalações militares pelo País. Há apoiadores que defendem até mesmo intervenção das Forças Armadas para impedir a posse do petista. No sábado, 24, um gerente de posto de combustível do Pará foi preso e confessou ter armado um explosivo em um caminhão no aeroporto de Brasília sob a alegação de querer “provocar o caos”.

“Nada justifica, aqui em Brasília, essa tentativa de ato terrorista na região do aeroporto”, afirmou o presidente, na live. “O elemento que foi pego, graças a Deus”, afirmou. Bolsonaro defendeu o direito de manifestação e disse que, “hoje em dia, se alguém comete um erro, é bolsonarista”. “Tudo que é feito pela esquerda é bacana. Do lado de cá, é o tempo todo de atos antidemocráticos. Até de terroristas são chamados porque um elemento que passou por lá fez besteira”, afirmou.

George Washington de Oliveira Sousa, de 54 anos, o homem preso em razão da bomba, tem conexões com outros acampados na frente do QG e relatou à polícia que participou de atos antidemocráticos realizados por apoiadores do presidente. Disse ainda que agiu por influência do discurso de Bolsonaro, defensor do armamentismo como instrumento de defesa da liberdade. No último pronunciamento, o presidente voltou a defender que as pessoas comprem armas e disse que o “revogaço” proposto pelo “opositor” vai aumentar a violência no Brasil. Segundo Bolsonaro, se se quer a paz, tem de se preparar para a guerra.

‘Alternativas’

O presidente acenou durante a live aos apoiadores que estão nas portas dos quartéis. Bolsonaro afirmou que “está prevista a posse no dia 1.º de janeiro” e que buscou, “dentro das leis, saída para isso aí”, mas não encontrou apoio. “Como foi difícil ficar dois meses calado, trabalhando para buscar alternativas”, afirmou. “Tudo dentro das quatro linhas. Ninguém quer uma aventura. Ou vivemos uma democracia ou não vivemos. Mas agora, até dentro das quatro linhas, você tem de ter apoio. Em nenhum momento, fui procurado para fazer nada de errado, violentando seja o que for”, disse.

Em pronunciamento a um dia de terminar mandato, presidente faz balanço de sua gestão e não cita nominalmente Lula Foto: Igo Estrela/Estadão

“Até hoje, eu fiz a minha parte dentro das quatro linhas. Mas tem de ter apoio do Parlamento, de alguns do Supremo e de outras instituições. Não pode acusar a mim você que quer resolver o assunto. O caminho não é fácil”, afirmou o presidente. Bolsonaro afirmou que não pode “fazer algo que não seja bem-feito que os efeitos colaterais não sejam danosos demais”. “Tudo hoje em dia tem reflexões no mundo todo”, disse.

Inconformismo

No seu último discurso, o presidente demonstrou que não assimilou a derrota, que, segundo ele, foi inesperada, uma vez que levou uma “multidão” às ruas. “Quem não leva o povo para as ruas não tem voto”, afirmou. O presidente citou medidas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que, para ele, prejudicaram-no e “mentiras” contadas na propaganda eleitoral de Lula, como a de que ele iria acabar com o reajuste do salário mínimo. Insistiu também que medidas judiciais tomadas no País afetam a liberdade das pessoas e que hoje tem gente com medo de mandar uma mensagem de WhatsApp.

O presidente pediu a compreensão dos eleitores. “É um momento triste para milhões de pessoas, alguns outros estão vibrando, mas é a minoria. É um momento de reflexão. Tem gente chateada comigo porque acha que eu poderia ter feito alguma coisa”, afirmou.

Bolsonaro sinalizou que vai tentar voltar ao poder. “Tenho certeza de que não vai demorar muito tempo e o Brasil vai voltar ao eixo da normalidade. O Brasil não sucumbirá. Acredito em vocês, acredito no Brasil, acredito em Deus. Temos um grande futuro pela frente. Perde-se a batalha, mas não a guerra. Muito obrigado a todos por terem me proporcionado quatro anos à frente da Presidência da República”, disse, com a voz embargada.

Comparação

Ao longo do pronunciamento, Bolsonaro comparou seu governo com o que está em formação por Lula, a quem não citou nominalmente e chamou, além de “opositor”, de “cara”. O atual presidente disse que a gestão Lula “começa capenga, já com muitas reações”, avaliando as medidas iniciais da futura administração como uma “gastança enorme, fura-teto”. “Alguma coisa poderia ser revista, mas não explodir o teto”, disse.

Bolsonaro fez uma referência à Emenda Constitucional da Transição, que ampliou o teto de gastos em R$ 145 bilhões para garantir R$ 600, além de um extra de R$ 150 para crianças de 6 anos, no Bolsa Família. O teto limita o aumento das despesas à inflação do ano anterior. No governo Bolsonaro, a âncora fiscal foi “furada” seis vezes – a última por causa da PEC da Transição, para bancar as promessas de Lula.

O presidente reforçou, ainda, o discurso de medo para seus apoiadores em relação ao governo de esquerda de Lula. “Hoje, temos uma massa de pessoas que passaram a entender melhor sobre política. As pessoas achavam que não corriam risco, mas correm risco”, disse. Pediu também que sejam comparados o seu ministério com o do “opositor” e os chefes de Estado que estarão presentes à posse, citando Daniel Ortega (Nicarágua) e Nicolás Maduro (Venezuela).

Nesta sexta, o governo Bolsonaro suspendeu a sua própria portaria que barrava a entrada de Maduro no Brasil. No entanto, o cerimonial da posse de Lula ainda não confirmou a presença do dirigente do regime chavista. Em 2019, na posse de Bolsonaro, estiveram presentes os primeiros-ministros de Israel, Benjamin Netanyahu, e da Hungria, Viktor Orbán, ideologicamente alinhados a ele.

Sem agradecimentos

O presidente não fez nenhum agradecimento a ministros de seu governo e citou apenas a primeira-dama Michelle Bolsonaro. Ele estava sozinho na live, acompanhado apenas da tradutora de libras. “Tenho a convicção que dei o melhor de mim, com sacrifício de quem estava ao meu lado, em especial a minha esposa”, afirmou. Bolsonaro disse também que trabalhou de “domingo a domingo”.

“A mão de Deus me salvou. A mão dele me elegeu”, disse o presidente. Na campanha de 2018, Lula, o líder nas pesquisas na época, estava inelegível por decisão da Justiça. Bolsonaro derrotou Fernando Haddad, que foi escolhido por Lula para ministro da Fazenda. Nesta sexta, Bolsonaro embarca para Orlando, nos Estados Unidos.

Tudo Sobre

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.