Dentro do estúdio que recebe uma sabatina na reta final de uma campanha presidencial tensa como a atual, duas coisas são certas: o ar-condicionado vai estar à toda, assim como a tensão. A contagem regressiva de tempo anunciada no sistema de som - faltam dez minutos, cinco minutos, dois minutos... - não diminui em nada a ansiedade natural ao momento.
Contrastando com o clima, estava um Jair Bolsonaro diferente do que o cidadão se acostumou a ver nas lives, no cercadinho em Brasília ou nos comícios desta campanha pela reeleição.
A sabatina, importante dizer, seria um debate, mas o candidato Luiz Inácio Lula da Silva decidiu não participar. Sozinho na bancada ao lado do mediador, Carlos Nascimento, Bolsonaro parecia à vontade. E tranquilo. Respondeu com essa tranquilidade sobre orçamento secreto e até sobre racismo no País, indicando que todos devem ser tratados de maneira igual.
São dois temas sensíveis ao presidente.
E o tom de voz era controladamente baixo, mesmo quando o presidente aproveitou a entrevista para criticar o Partido dos Trabalhadores do adversário Lula. No primeiro intervalo, foi cercado o tempo todo pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria, e pelo coordenador de comunicação da campanha, Fabio Wajngarten, e outros membros da equipe.
O presidente continuou à vontade.
No segundo bloco, admitiu até mesmo que há dano ambiental e que é preciso combater as queimadas no País. Disse também que não vai mexer na estabilidade do servidor público atual e que pode discutir mudanças para os novos servidores. Ah, e garantiu que Paulo Guedes fica onde está, buscando dar mais uma vez a sinalização de que sua política econômica não mudará.
E o presidente continuou à vontade no bloco final.
A explicação para tanta diferença parece estar no momento da campanha. Bolsonaro chega à reta final da corrida contra Lula em ascensão e o resultado disso é uma campanha confiante de que obterá a virada e derrotará o adversário do PT. Em pouco mais de uma semana, as urnas - democraticamente e com toda a segurança - vão mostrar se a confiança de Bolsonaro tinha razão de ser. E se não tiver, e ele perder a eleição, que o presidente mantenha essa mesma tranquilidade, esse mesmo tom de voz sereno de hoje a fim de reconhecer a legitimidade de Lula. Não é pedir muito.