Cenário: Bolsonaro faz discurso de vítima na área ambiental e cita ‘interesses escusos’


Na ONU, presidente usa o mesmo argumento que tem sido ecoado pela base militar que ocupa o Palácio do Planalto e que é alardeado pelo Ministério da Agricultura e pelo Meio Ambiente

Por André Borges
Atualização:

BRASÍLIA - Não foi apenas uma defesa do governo para tentar sustentar a tese de que tem atuado na proteção do meio ambiente. Em seu discurso de abertura da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o presidente Jair Bolsonaro partiu para cima dos outros países e suas instituições, acusando-os de “interesses escusos” em prejudicar o agronegócio brasileiro.

Presidente Jair Bolsonaro em discurso gravado para a abertura da 75ª Assembleia Geral das Nações Unidas. Foto: Reprodução

No momento em que o Pantanal registra o maior índice de queimadas desde 1998, quando os incêndios passaram a ser medidos, e a Amazônia volta a se aproximar dos recordes alarmantes de destruição ocorridos no ano passado, Bolsonaro diz ao mundo que “somos vítimas de uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal”.

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O argumento é o mesmo que tem sido ecoado pela base militar que ocupa o Palácio do Planalto e que é alardeado pelo Ministério da Agricultura e pelo próprio Meio Ambiente: países incomodados com a competitividade do agronegócio brasileiro - principalmente europeus - querem prejudicar ao máximo a imagem do Brasil, afetando diretamente seus negócios.

“Nosso agronegócio continua pujante e, acima de tudo, possuindo e respeitando a melhor legislação ambiental do planeta”, disse Bolsonaro, em seu vídeo gravado. “O Brasil desponta como o maior produtor mundial de alimentos. E, por isso, há tanto interesse em propagar desinformações sobre o nosso meio ambiente. A Amazônia brasileira é sabidamente riquíssima. Isso explica o apoio de instituições internacionais a essa campanha escorada em interesses escusos que se unem a associações brasileiras, aproveitadoras e impatrióticas, com o objetivo de prejudicar o governo e o próprio Brasil.”

Bolsonaro disse que “os focos criminosos são combatidos com rigor e determinação”, ao mesmo tempo em que se sabe que os programas que existiam para combater os incêndios foram eliminados por seu governo. O Ibama e o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), órgãos que estão na linha de frente dessas ações, estão com seus orçamentos depauperados, com sucateamento de infraestrutura e de servidores, assistindo aos recursos destinados à proteção da Amazônia serem drenados para projetos militares, por orientação do Ministério da Defesa. O próprio ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em plena crise aguda dos incêndios florestais, foi a público dizer que teria de encerrar todas as atividades de fiscalização e proteção das áreas, porque não tinha mais recursos.

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Bolsonaro disse que mantém uma “política de tolerância zero com o crime ambiental”, mas ordena a demissão de agentes do Ibama que, no exercício da lei, destroem máquinas usadas pelo crime organizado que derruba a floresta.

Há contradições flagrantes em seu discurso. Ao mesmo tempo em que diz que “os incêndios acontecem praticamente, nos mesmos lugares, no entorno leste da Floresta, onde o caboclo e o índio queimam seus roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas”, afirma, sem seguida, que “a Região Amazônica é maior que toda a Europa Ocidental. Daí, a dificuldade em combater, não só os focos de incêndio, mas também, a extração ilegal de madeira e a biopirataria”.

É sabido há décadas que o desmatamento é o primeiro passo para a queimada. O criminoso ambiental entra na mata, derruba as madeiras nobres, retira esse material e derruba o resto da vegetação, para em seguida, na época de seca, essa área ser queimada. É quando ocorrem as etapas de abertura de pastagem e grilagem de terras. É assim em toda a Amazônia e isso ocorre todos os anos.

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Uma nota técnica divulgada em agosto pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), órgão que estuda a região há 25 anos, mostra que a concentração de focos de incêndio na Amazônia não acontece apenas em áreas já desmatadas da região. O levantamento realizado a partir de dados oficiais do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revela que 30% do fogo registrado na Amazônia em 2019 foi incêndio florestal, ou seja, ocorreu em área protegida. Outros 34% estão relacionados a desmatamentos recentes e os demais 36% em áreas já desmatadas. É um mito, portanto, que não haja expansão da área desmatada.

O presidente diz ao mundo que "as grandes queimadas são consequências inevitáveis da alta temperatura local, somada ao acúmulo de massa orgânica em decomposição”. Se há alguma responsabilidade humana nos crimes, ele culpa o “caboclo” e os “índios”. Basta observar um mapa das terras indígenas demarcadas na Amazônia para ver que é dentro delas que a vegetação, graças a essa demarcação, segue praticamente intacta e protegida. Não por acaso, as terras indígenas são hoje os principais alvos dos madeireiros.

Ao apontar o dedo para o mundo, Bolsonaro alimenta as chances de conflitos externos, acirra os ânimos com lideranças e investidores internacionais, ao mesmo tempo em que exime de seu próprio governo a responsabilidade pelo desastre da política ambiental em vigor no Brasil de hoje.

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BRASÍLIA - Não foi apenas uma defesa do governo para tentar sustentar a tese de que tem atuado na proteção do meio ambiente. Em seu discurso de abertura da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o presidente Jair Bolsonaro partiu para cima dos outros países e suas instituições, acusando-os de “interesses escusos” em prejudicar o agronegócio brasileiro.

Presidente Jair Bolsonaro em discurso gravado para a abertura da 75ª Assembleia Geral das Nações Unidas. Foto: Reprodução

No momento em que o Pantanal registra o maior índice de queimadas desde 1998, quando os incêndios passaram a ser medidos, e a Amazônia volta a se aproximar dos recordes alarmantes de destruição ocorridos no ano passado, Bolsonaro diz ao mundo que “somos vítimas de uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal”.

O argumento é o mesmo que tem sido ecoado pela base militar que ocupa o Palácio do Planalto e que é alardeado pelo Ministério da Agricultura e pelo próprio Meio Ambiente: países incomodados com a competitividade do agronegócio brasileiro - principalmente europeus - querem prejudicar ao máximo a imagem do Brasil, afetando diretamente seus negócios.

“Nosso agronegócio continua pujante e, acima de tudo, possuindo e respeitando a melhor legislação ambiental do planeta”, disse Bolsonaro, em seu vídeo gravado. “O Brasil desponta como o maior produtor mundial de alimentos. E, por isso, há tanto interesse em propagar desinformações sobre o nosso meio ambiente. A Amazônia brasileira é sabidamente riquíssima. Isso explica o apoio de instituições internacionais a essa campanha escorada em interesses escusos que se unem a associações brasileiras, aproveitadoras e impatrióticas, com o objetivo de prejudicar o governo e o próprio Brasil.”

Bolsonaro disse que “os focos criminosos são combatidos com rigor e determinação”, ao mesmo tempo em que se sabe que os programas que existiam para combater os incêndios foram eliminados por seu governo. O Ibama e o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), órgãos que estão na linha de frente dessas ações, estão com seus orçamentos depauperados, com sucateamento de infraestrutura e de servidores, assistindo aos recursos destinados à proteção da Amazônia serem drenados para projetos militares, por orientação do Ministério da Defesa. O próprio ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em plena crise aguda dos incêndios florestais, foi a público dizer que teria de encerrar todas as atividades de fiscalização e proteção das áreas, porque não tinha mais recursos.

Bolsonaro disse que mantém uma “política de tolerância zero com o crime ambiental”, mas ordena a demissão de agentes do Ibama que, no exercício da lei, destroem máquinas usadas pelo crime organizado que derruba a floresta.

Há contradições flagrantes em seu discurso. Ao mesmo tempo em que diz que “os incêndios acontecem praticamente, nos mesmos lugares, no entorno leste da Floresta, onde o caboclo e o índio queimam seus roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas”, afirma, sem seguida, que “a Região Amazônica é maior que toda a Europa Ocidental. Daí, a dificuldade em combater, não só os focos de incêndio, mas também, a extração ilegal de madeira e a biopirataria”.

É sabido há décadas que o desmatamento é o primeiro passo para a queimada. O criminoso ambiental entra na mata, derruba as madeiras nobres, retira esse material e derruba o resto da vegetação, para em seguida, na época de seca, essa área ser queimada. É quando ocorrem as etapas de abertura de pastagem e grilagem de terras. É assim em toda a Amazônia e isso ocorre todos os anos.

Uma nota técnica divulgada em agosto pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), órgão que estuda a região há 25 anos, mostra que a concentração de focos de incêndio na Amazônia não acontece apenas em áreas já desmatadas da região. O levantamento realizado a partir de dados oficiais do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revela que 30% do fogo registrado na Amazônia em 2019 foi incêndio florestal, ou seja, ocorreu em área protegida. Outros 34% estão relacionados a desmatamentos recentes e os demais 36% em áreas já desmatadas. É um mito, portanto, que não haja expansão da área desmatada.

O presidente diz ao mundo que "as grandes queimadas são consequências inevitáveis da alta temperatura local, somada ao acúmulo de massa orgânica em decomposição”. Se há alguma responsabilidade humana nos crimes, ele culpa o “caboclo” e os “índios”. Basta observar um mapa das terras indígenas demarcadas na Amazônia para ver que é dentro delas que a vegetação, graças a essa demarcação, segue praticamente intacta e protegida. Não por acaso, as terras indígenas são hoje os principais alvos dos madeireiros.

Ao apontar o dedo para o mundo, Bolsonaro alimenta as chances de conflitos externos, acirra os ânimos com lideranças e investidores internacionais, ao mesmo tempo em que exime de seu próprio governo a responsabilidade pelo desastre da política ambiental em vigor no Brasil de hoje.

BRASÍLIA - Não foi apenas uma defesa do governo para tentar sustentar a tese de que tem atuado na proteção do meio ambiente. Em seu discurso de abertura da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o presidente Jair Bolsonaro partiu para cima dos outros países e suas instituições, acusando-os de “interesses escusos” em prejudicar o agronegócio brasileiro.

Presidente Jair Bolsonaro em discurso gravado para a abertura da 75ª Assembleia Geral das Nações Unidas. Foto: Reprodução

No momento em que o Pantanal registra o maior índice de queimadas desde 1998, quando os incêndios passaram a ser medidos, e a Amazônia volta a se aproximar dos recordes alarmantes de destruição ocorridos no ano passado, Bolsonaro diz ao mundo que “somos vítimas de uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal”.

O argumento é o mesmo que tem sido ecoado pela base militar que ocupa o Palácio do Planalto e que é alardeado pelo Ministério da Agricultura e pelo próprio Meio Ambiente: países incomodados com a competitividade do agronegócio brasileiro - principalmente europeus - querem prejudicar ao máximo a imagem do Brasil, afetando diretamente seus negócios.

“Nosso agronegócio continua pujante e, acima de tudo, possuindo e respeitando a melhor legislação ambiental do planeta”, disse Bolsonaro, em seu vídeo gravado. “O Brasil desponta como o maior produtor mundial de alimentos. E, por isso, há tanto interesse em propagar desinformações sobre o nosso meio ambiente. A Amazônia brasileira é sabidamente riquíssima. Isso explica o apoio de instituições internacionais a essa campanha escorada em interesses escusos que se unem a associações brasileiras, aproveitadoras e impatrióticas, com o objetivo de prejudicar o governo e o próprio Brasil.”

Bolsonaro disse que “os focos criminosos são combatidos com rigor e determinação”, ao mesmo tempo em que se sabe que os programas que existiam para combater os incêndios foram eliminados por seu governo. O Ibama e o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), órgãos que estão na linha de frente dessas ações, estão com seus orçamentos depauperados, com sucateamento de infraestrutura e de servidores, assistindo aos recursos destinados à proteção da Amazônia serem drenados para projetos militares, por orientação do Ministério da Defesa. O próprio ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em plena crise aguda dos incêndios florestais, foi a público dizer que teria de encerrar todas as atividades de fiscalização e proteção das áreas, porque não tinha mais recursos.

Bolsonaro disse que mantém uma “política de tolerância zero com o crime ambiental”, mas ordena a demissão de agentes do Ibama que, no exercício da lei, destroem máquinas usadas pelo crime organizado que derruba a floresta.

Há contradições flagrantes em seu discurso. Ao mesmo tempo em que diz que “os incêndios acontecem praticamente, nos mesmos lugares, no entorno leste da Floresta, onde o caboclo e o índio queimam seus roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas”, afirma, sem seguida, que “a Região Amazônica é maior que toda a Europa Ocidental. Daí, a dificuldade em combater, não só os focos de incêndio, mas também, a extração ilegal de madeira e a biopirataria”.

É sabido há décadas que o desmatamento é o primeiro passo para a queimada. O criminoso ambiental entra na mata, derruba as madeiras nobres, retira esse material e derruba o resto da vegetação, para em seguida, na época de seca, essa área ser queimada. É quando ocorrem as etapas de abertura de pastagem e grilagem de terras. É assim em toda a Amazônia e isso ocorre todos os anos.

Uma nota técnica divulgada em agosto pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), órgão que estuda a região há 25 anos, mostra que a concentração de focos de incêndio na Amazônia não acontece apenas em áreas já desmatadas da região. O levantamento realizado a partir de dados oficiais do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revela que 30% do fogo registrado na Amazônia em 2019 foi incêndio florestal, ou seja, ocorreu em área protegida. Outros 34% estão relacionados a desmatamentos recentes e os demais 36% em áreas já desmatadas. É um mito, portanto, que não haja expansão da área desmatada.

O presidente diz ao mundo que "as grandes queimadas são consequências inevitáveis da alta temperatura local, somada ao acúmulo de massa orgânica em decomposição”. Se há alguma responsabilidade humana nos crimes, ele culpa o “caboclo” e os “índios”. Basta observar um mapa das terras indígenas demarcadas na Amazônia para ver que é dentro delas que a vegetação, graças a essa demarcação, segue praticamente intacta e protegida. Não por acaso, as terras indígenas são hoje os principais alvos dos madeireiros.

Ao apontar o dedo para o mundo, Bolsonaro alimenta as chances de conflitos externos, acirra os ânimos com lideranças e investidores internacionais, ao mesmo tempo em que exime de seu próprio governo a responsabilidade pelo desastre da política ambiental em vigor no Brasil de hoje.

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