BRASÍLIA - O prefeito eleito de Goiânia, Sandro Mabel (União Brasil), não esconde o ressentimento com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado federal Gustavo Gayer (PL), que foram opositores da sua candidatura nas eleições deste ano. O político goianiense e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), são investigados por distribuir cestas básicas com fins eleitorais, mas Mabel argumenta que a única discussão possível sobre cassação de mandato deve envolver o nome de Gayer.
“Deveriam cassar o mandato do Gayer por esse tanto de confusão que fez. Esse monte de fake news que foi feito. Isso daí, sim, precisa ser olhado”, afirmou em entrevista ao Estadão. “O Gustavo Gayer não tem muito o que falar porque a Polícia Federal está no encalço dele. Pegou ele e uma série de assessores dele”, prosseguiu.
O deputado federal foi alvo de operação da Polícia Federal (PF) na última sexta-feira, 25, sob suspeita de operar um esquema de desvio de recursos da cota parlamentar. Gayer associou o cumprimento de mandados de busca e apreensão nos seus endereços a um movimento político de Caiado para desgastar o candidato que ele apoiou na eleição, o deputado estadual Fred Rodrigues (PL).
O parlamentar chamou o governador de “canalha”, disse que ele não representa a verdadeira direita e recebeu o apoio da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). A esposa do ex-presidente afirmou que “quem nasceu para ser Caiado, nunca será Bolsonaro”. Mabel, que ficou no meio do fogo cruzado, se diz decepcionado com a postura de Bolsonaro.
“Ele foi muito desleal comigo, sobretudo, que sempre o ajudei ao longo da sua vida parlamentar, quando ele não era o Bolsonaro presidente. Eu acho que ele foi muito desleal defendendo uma candidatura que era péssima para Goiânia”, afirmou.
“Essas pessoas são um pouco inconsequentes em campanha. Inventam um monte de mentira. A força digital que esse 22 (número do PL) tem é muito grande. Eu desconhecia isso. Fazia 14 anos que eu não fazia campanha. Eu desconhecia todo esse potencial e a forma virulenta que eles nos atacaram”, disse. “É um pessoal que sabe fazer isso. Gestão eles não sabem fazer; confusão, os caras são bons”, completou.
Apesar da disputa com Bolsonaro e seus aliados, Mabel avalia que não há racha na direita e que não terá uma forte oposição bolsonarista ao seu governo, pois conta com 30 de 37 vereadores em sua base aliada. O prefeito eleito se apresentou como um nome de centro-direita na disputa contra Fred Rodrigues e afirma que a receita que o levou ao comando da capital de Goiás é a mesma que a direita deve aplicar em nível nacional, caso queira vencer a eleição presidencial de 2026.
“Se a direita quiser ganhar as próximas eleições presidenciais, ela precisa estar com candidatos que tenham uma visão de centro-direita, como é o caso do Caiado aqui. Se tiver de extrema, chega no segundo turno, mas não passa. O Bolsonaro chegou ao segundo turno em diversas capitais, mas os candidatos dele não ganharam. Aqui a gente chama de cavalo paraguaio. Tem arrancada, mas não tem chegada”, avaliou.
Mabel também atribuiu o seu sucesso eleitoral diretamente a Caiado. “O apoio do governador foi fundamental. Eu sou o candidato que ele lançou, então a responsabilidade da eleição era até dele. Ele trabalhou muito forte em cima dessa eleição e eu diria que o apoio dele foi fundamental para a vitória”, afirmou.
Sobre a possibilidade de a Justiça Eleitoral puni-lo por abuso de poder político do governo, Mabel afirma que “a Justiça Eleitoral não vai deixar um prefeito que teve 55% dos votos para administrar uma capital dessas cassar um mandato em função de uma coisa que não tem impacto na eleição”.