SÃO PAULO E BRASÍLIA – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou neste domingo (25), durante ato político na Avenida Paulista, em São Paulo, que sofre uma perseguição que se recrudesceu depois que deixou a Presidência no fim de 2022 e pediu anistia a presos do 8 de Janeiro. Em um discurso para milhares de apoiadores, o ex-mandatário negou liderar uma articulação golpista depois da derrota nas eleições.
Ele minimizou a existência da “minuta do golpe”, da qual foi o mentor, segundo a Polícia Federal (PF). Segundo ele, estados de sítio e defesa estão previstos na Constituição e só poderiam ser acionados depois de consulta a conselhos da República e deliberação do Congresso, o que não ocorreu.
“Golpe é tanque na rua, é arma, é conspiração. Nada disso foi feito no Brasil. Por que continuam me acusando de golpe? Porque tem uma minuta de decreto de estado de defesa. Golpe usando a Constituição? Deixo claro que estado de sítio começa com presidente convocando conselho da República. Isso foi feito? não”, disse. “É o Parlamento quem decide se o presidente pode ou não editar decreto de estado de sítio. O da defesa é semelhante. Ou seja, agora querem entubar em todos os nós um golpe usando dispositivos da Constituição cuja palavra final quem dá é o Parlamento.”
A manifestação com milhares de pessoas foi convocada pessoalmente por Bolsonaro para mostrar força política e apoio popular no momento em que ele e aliados são pressionados por inquéritos da Polícia Federal e do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele se mostrou satisfeito com a adesão dos apoiadores e disse que a “fotografia vai rodar o mundo”.
“Estou muito orgulhoso e grato por vocês terem aceito esse convite. Era para termos uma fotografia para o mundo, uma imagem para o Brasil e para o mundo do que é a garra e a determinação do povo brasileiro”, destacou. “Levo pancada desde antes das eleições de 2018. Essa perseguição aumentou a sua força quando deixei a Presidência da República. Saí do Brasil, a perseguição não terminou. É joia, é importunação de baleia, é dinheiro que teria mandado para fora”, disse.
O ex-presidente mencionou a derrota eleitoral dizendo que “aquela coisa que aconteceu em outubro de 2022″ deve ser considerada “página virada”. Contudo, voltou a lançar suspeitas sobre a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Nós podemos até ver um time de futebol sem torcida ser campeão, mas não conseguimos entender como existe um presidente sem povo ao teu lado”, afirmou.
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Ele evitou citar o ministro Alexandre de Moraes, do STF, que foi alvo de outras manifestações de Bolsonaro. Houve uma menção indireta a integrantes do Poder Judiciário. “Quando o Estado Democrático de Direito não é respeitado, aquela minoria fabrica órfãos de pais vivos. O abuso por parte de alguns traz insegurança para todos nós”, disse.
Em outra menção indireta ao Judiciário, Bolsonaro também reclamou da retirada de atores do “palco político”. “Não podemos concordar que um Poder tire do palco político quem quer que seja, a não ser por um motivo extremamente justo. Não podemos pensar em ganhar as eleições afastando opositores do cenário político”, afirmou.
O ex-presidente ainda pediu anistia a presos por participação nos ataques antidemocráticos contra as sedes dos Três Poderes no 8 de Janeiro ao dizer que busca uma “pacificação” do País.
“O que eu busco é uma pacificação. É passar uma borracha no passado, é buscar uma maneira de nós vivermos em paz, não continuarmos sobressaltados. É, por parte do parlamento brasileiro, uma anistia para aqueles pobres coitados presos em Brasília. Nao queremos mais que seus filhos sejam órfãos de pais vivos. A conciliação. Nós já anistiamos no passado quem fez barbaridades no Brasil. Agora, pedimos a todos os 513 deputados e 81 senadores um projeto de anistia para que seja feita Justiça no nosso Brasil”, declarou.
Bolsonaro foi aconselhado a evitar subir o tom contra o STF para não piorar a situação jurídica dele e de aliados. O ex-presidente é investigado em pelo menos oito inquéritos, de fake news sobre urnas eletrônicas a ataques golpistas e venda de joias do acervo da Presidência.
Ele está inelegível até 2030 e aliados já trabalham com a possibilidade de prisão dele. “Se eles te prenderem, você vai sair de lá exaltado. Se eles te prenderem, não vai ser para a tua destruição, mas para a destruição deles”, disse o pastor Silas Malafaia, organizador do ato, durante o discurso.
Nas imediações da Avenida Paulista, os apoiadores evitaram mensagens contra integrantes do Judiciário e pedidos de intervenção militar. Bolsonaro pediu expressamente para que ninguém comparecesse com “faixa e cartaz contra quem quer que seja”.
Além de Bolsonaro e Malafaia, discursaram os deputados Gustavo Gayer (PL-GO) e Nikolas Ferreira (PL-MG), o governador de São Paulo, Tarcísio Freitas (Republicanos), e o senador Magno Malta (PL-ES). A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro também falou à multidão. As falas tiveram referências bíblicas e tom de pregação.
Na parte final do discurso, o ex-presidente Jair Bolsonaro convocou apoiadores a darem atenção especial às eleições de 2024, quando serão eleitos prefeitos e vereadores, e a começarem a preparação para a disputa de 2026.
“Em 2024, teremos eleições municipais. Vamos caprichar nos votos, em especial para vereadores. E também para prefeitos. E nos preparemos para 2026. O futuro a Deus pertence. Sabemos o que deve ser feito no futuro para que o Brasil tenha um presidente que tenha Deus no coração, ame a sua bandeira, cante o hino nacional e que ame de verdade o seu povo”, disse.
A Avenida Paulista recebeu uma multidão de apoiadores de Bolsonaro. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, contudo, ainda não divulgou uma estimativa do total de pessoas presentes na manifestação política.