Bolsonaro quer expor preocupação com mulheres em megaevento de lançamento da candidatura à reeleição


Pesquisas mostram alta rejeição do presidente no eleitorado feminino e convenção do PL, marcada para domingo no Maracanãzinho, tentará marcar nova estratégia para esse público

Por Felipe Frazão
Atualização:

BRASÍLIA - A convenção do PL que oficializa neste domingo, 24, o presidente Jair Bolsonaro como candidato à reeleição vai evidenciar a preocupação da campanha com o eleitorado feminino. Um dos focos do megaevento, o maior entre os presidenciáveis de 2022, será debelar a resistência a Bolsonaro entre as mulheres, com destaque para a presença delas no palco. O presidente pretende expor essa preocupação e atenção com os mais pobres diante de 10 mil apoiadores no ginásio do Maracanãzinho, no Rio, berço político do bolsonarismo.

Se tudo sair como planejado, Bolsonaro subirá no palanque às 11h22 para discursar. A ideia da campanha é que ele siga um roteiro planejado e com viés social. Na prática, Bolsonaro será aclamado candidato do PL a presidente da República, tendo o general Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, como candidato a vice-presidente. Com dificuldades de engajar a primeira-dama Michelle Bolsonaro na campanha, o presidente pretende levá-la ao centro do palanque para uma inflexão histórica em seus discursos. Até agora, Michelle vinha se recusando a gravar participações em propagandas do PL. Apesar de apelos do marido e da cúpula da campanha, silenciou.

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Em lançamento de candidatura à reeleição, presidente Jair Bolsonaro quer expor imagem de preocupação com mulheres e conta com a imagem da primeira-dama, Michelle. Foto: AP

O script do comitê de campanha prevê que Michelle discurse na convenção, assim como fez de surpresa na posse de Bolsonaro, em 1º de janeiro de 2019. No entendimento dos marqueteiros, ela suaviza a imagem do presidente. As autoridades e principais candidatos aliados foram incentivados pela cúpula da campanha a levar suas respectivas companheiras ao palanque.Nem todos os candidatos do PL poderão subir ao palco, e parte do espaço foi reservado justamente para que os principais candidatos ligados ao Palácio do Planalto possam aparecer ao lado das esposas no centro da convenção nacional. O marketing da campanha aposta que essa ideia ajudará na captação de imagens para propagandas de Bolsonaro, como costuma ocorrer em convenções que se transformam em megaeventos.

O partido não revelou quanto investiu na convenção. No fim do ano passado, o ato de filiação de Bolsonaro ao PL, cerimônia de menor proporção, custou R$ 370 mil, pagos majoritariamente com recursos do Fundo Partidário.

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Presidente Jair Bolsonaro quer destacar valores tradicionais de família em sua campanha como fez em cerimônia no Planalto em junho deste ano. Foto: Wilton Junior / Estadão

Diversas pesquisas foram feitas em arquivos dos quatro anos de governo, mas os publicitários que trabalham para reeleger Bolsonaro encontraram em geral um ambiente muito masculino no entorno do presidente, como as motociatas e formaturas militares, além das atividades de governo, marcado por ter poucas mulheres no primeiro escalão. Para os marqueteiros, o presidente precisa demonstrar emoção e empatia com as mulheres.

Pesquisas de diferentes institutos mostram que Bolsonaro tem mais rejeição entre elas e menor intenção de voto, sobretudo entre as mais pobres. Elas são 53% do eleitorado nacional. Ao longo de julho, ele se reuniu com mulheres evangélicas no Maranhão e reconheceu que teve de “ceder” e se aproximar mais delas. “São a nossa âncora”, afirmou.

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O presidente tem a imagem associada a episódios públicos de discussões ríspidas e trocas de ofensas com mulheres, como parlamentares, celebridades e jornalistas, e chegou a dizer em março que elas estão “praticamente integradas à sociedade”. Já foi condenado a pagar indenizações na Justiça, em mais de uma ocasião.

A preocupação também se estendeu à elaboração do plano de governo. Uma das colaboradoras é Daniella Marques, atual presidente da Caixa. O programa de empreendedorismo Brasil Para Elas, elaborado há quatro meses por Marques, será uma das vitrines. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente mais influente na coordenação da campanha, tem destacado em recentes entrevistas iniciativas como titulação de terras em nome de mulheres e pagamento em dobro do Auxílio Brasil para mães solteiras.

Por orientação do marketing, Bolsonaro deve fazer um discurso com acenos para além do bolsonarismo-raiz, de olho no voto de indecisos e dos arrependidos de 2018, que não votariam no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Dois conceitos centrais são “liberdade” e “fé”, que o presidente não deverá abandonar. O jingle, no estilo sertanejo, lembra também o gospel, e apresenta o presidente como “capitão do povo”, uma referência à origem militar e à simplicidade.

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Para ir além do bolsonarismo, o presidente pretende reforçar o discurso social, com o pagamento reforçado do Auxílio Brasil e de benefícios a caminhoneiros e taxistas, vale gás, e gratuidade a idosos no transporte coletivo. Quer capitalizar a redução recente no preço dos combustíveis, com baixa no ICMS por pressão do Planalto e queda no valor em âmbito mundial, além de atrelar os preços mais altos ao longo do governo ao escândalo do petrolão.

A campanha quer expor as consequências de casos de corrupção. Os governistas tentarão emplacar a tese de que os desvios na estatal, em governos anteriores, impediram investimentos em refino no País, que reduziriam a dependência de importações e o impacto da alta de preços. A inflação também será atrelada a conjunturas externas.

Um objetivo declarado de seu comitê é reconquistar eleitores desiludidos com os rumos do governo e com o enfraquecimento da pauta anti-corrupção, por isso voltarão a associar Lula à corrupção descoberta pela Operação Lava Jato, que o prendeu e condenou, embora ele tenha sido libertado com a anulação dos processos.

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A campanha vasculha dados de indicadores sociais mundiais para uma engenharia matemática: sustentar o raciocínio segundo o qual, entre 2003 e 2015, o PT tirou menos pessoas da linha da pobreza do que a média mundial, enquanto Bolsonaro enfrentou um cenário mais adverso, com a pandemia da covid-19 e a guerra da Ucrânia, e, segundo eles, manteve o País abaixo dessa média.

“Ele evitou que muitos milhões de brasileiros fossem para pobreza e no cenário de um segundo mandato sem corrupção, sem covid, e com as bandeiras de enxugar a máquina pública, de botar dinheiro público no lugar certo, tenho a convicção de que muito mais pessoas vão deixar a linha de pobreza e como já está acontecendo agora muitas pessoas vão até parar de precisar do governo e vão conseguir caminhar com as próprias pernas. Porque vão ter oportunidade de emprego e de aumentar muito mais a sua renda familiar do que com o Auxílio Brasil, por exemplo, e outros programas sociais do governo”, diz Flávio Bolsonaro.

Bolsonaro foi orientado a citar apenas diretrizes e ideias no discurso e no programa de governo em elaboração, em vez de metas e números para que não seja cobrado no futuro. Com a ajuda de ministros e ex-ministros, citará feitos do governo, como a transposição do Rio São Francisco, considerada pauta positiva. Há duas semanas, a equipe da campanha foi ao Maracanãzinho testar montagem de palco, posicionamento de câmeras e rever o esquema de segurança, que envolve os militares do Gabinete de Segurança Institucional e as forças policiais do governo do Rio.

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A campanha quer promover um ato de grandes proporções. O planejamento prevê 10 mil militantes nas arquibancadas do Maracanãzinho, e em torno de 500 profissionais de mídia credenciados, tanto nacional quanto internacional, além de candidatos com acesso a áreas vips. O partido sugeriu o uso das cores verde e amarelo e desistiu de cobrar inscrição prévia online para ingresso no ginásio. Foi uma forma de contornar campanhas virtuais de anti-bolsonaristas que se inscreveram apenas para esgotar as entradas e esvaziar a convenção.

Para a convenção, o PL vai inaugurar também os perfis da campanha em redes sociais, como Twitter e Instagram. Eles usam o nome “Pelo Bem do Brasil”, mesmo mote da campanha. A campanha instalou um palco para militantes cantarem num “Karaokê do Capitão” e um estúdio para gravarem dancinhas de Tik Tok.

BRASÍLIA - A convenção do PL que oficializa neste domingo, 24, o presidente Jair Bolsonaro como candidato à reeleição vai evidenciar a preocupação da campanha com o eleitorado feminino. Um dos focos do megaevento, o maior entre os presidenciáveis de 2022, será debelar a resistência a Bolsonaro entre as mulheres, com destaque para a presença delas no palco. O presidente pretende expor essa preocupação e atenção com os mais pobres diante de 10 mil apoiadores no ginásio do Maracanãzinho, no Rio, berço político do bolsonarismo.

Se tudo sair como planejado, Bolsonaro subirá no palanque às 11h22 para discursar. A ideia da campanha é que ele siga um roteiro planejado e com viés social. Na prática, Bolsonaro será aclamado candidato do PL a presidente da República, tendo o general Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, como candidato a vice-presidente. Com dificuldades de engajar a primeira-dama Michelle Bolsonaro na campanha, o presidente pretende levá-la ao centro do palanque para uma inflexão histórica em seus discursos. Até agora, Michelle vinha se recusando a gravar participações em propagandas do PL. Apesar de apelos do marido e da cúpula da campanha, silenciou.

Em lançamento de candidatura à reeleição, presidente Jair Bolsonaro quer expor imagem de preocupação com mulheres e conta com a imagem da primeira-dama, Michelle. Foto: AP

O script do comitê de campanha prevê que Michelle discurse na convenção, assim como fez de surpresa na posse de Bolsonaro, em 1º de janeiro de 2019. No entendimento dos marqueteiros, ela suaviza a imagem do presidente. As autoridades e principais candidatos aliados foram incentivados pela cúpula da campanha a levar suas respectivas companheiras ao palanque.Nem todos os candidatos do PL poderão subir ao palco, e parte do espaço foi reservado justamente para que os principais candidatos ligados ao Palácio do Planalto possam aparecer ao lado das esposas no centro da convenção nacional. O marketing da campanha aposta que essa ideia ajudará na captação de imagens para propagandas de Bolsonaro, como costuma ocorrer em convenções que se transformam em megaeventos.

O partido não revelou quanto investiu na convenção. No fim do ano passado, o ato de filiação de Bolsonaro ao PL, cerimônia de menor proporção, custou R$ 370 mil, pagos majoritariamente com recursos do Fundo Partidário.

Presidente Jair Bolsonaro quer destacar valores tradicionais de família em sua campanha como fez em cerimônia no Planalto em junho deste ano. Foto: Wilton Junior / Estadão

Diversas pesquisas foram feitas em arquivos dos quatro anos de governo, mas os publicitários que trabalham para reeleger Bolsonaro encontraram em geral um ambiente muito masculino no entorno do presidente, como as motociatas e formaturas militares, além das atividades de governo, marcado por ter poucas mulheres no primeiro escalão. Para os marqueteiros, o presidente precisa demonstrar emoção e empatia com as mulheres.

Pesquisas de diferentes institutos mostram que Bolsonaro tem mais rejeição entre elas e menor intenção de voto, sobretudo entre as mais pobres. Elas são 53% do eleitorado nacional. Ao longo de julho, ele se reuniu com mulheres evangélicas no Maranhão e reconheceu que teve de “ceder” e se aproximar mais delas. “São a nossa âncora”, afirmou.

O presidente tem a imagem associada a episódios públicos de discussões ríspidas e trocas de ofensas com mulheres, como parlamentares, celebridades e jornalistas, e chegou a dizer em março que elas estão “praticamente integradas à sociedade”. Já foi condenado a pagar indenizações na Justiça, em mais de uma ocasião.

A preocupação também se estendeu à elaboração do plano de governo. Uma das colaboradoras é Daniella Marques, atual presidente da Caixa. O programa de empreendedorismo Brasil Para Elas, elaborado há quatro meses por Marques, será uma das vitrines. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente mais influente na coordenação da campanha, tem destacado em recentes entrevistas iniciativas como titulação de terras em nome de mulheres e pagamento em dobro do Auxílio Brasil para mães solteiras.

Por orientação do marketing, Bolsonaro deve fazer um discurso com acenos para além do bolsonarismo-raiz, de olho no voto de indecisos e dos arrependidos de 2018, que não votariam no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Dois conceitos centrais são “liberdade” e “fé”, que o presidente não deverá abandonar. O jingle, no estilo sertanejo, lembra também o gospel, e apresenta o presidente como “capitão do povo”, uma referência à origem militar e à simplicidade.

Para ir além do bolsonarismo, o presidente pretende reforçar o discurso social, com o pagamento reforçado do Auxílio Brasil e de benefícios a caminhoneiros e taxistas, vale gás, e gratuidade a idosos no transporte coletivo. Quer capitalizar a redução recente no preço dos combustíveis, com baixa no ICMS por pressão do Planalto e queda no valor em âmbito mundial, além de atrelar os preços mais altos ao longo do governo ao escândalo do petrolão.

A campanha quer expor as consequências de casos de corrupção. Os governistas tentarão emplacar a tese de que os desvios na estatal, em governos anteriores, impediram investimentos em refino no País, que reduziriam a dependência de importações e o impacto da alta de preços. A inflação também será atrelada a conjunturas externas.

Um objetivo declarado de seu comitê é reconquistar eleitores desiludidos com os rumos do governo e com o enfraquecimento da pauta anti-corrupção, por isso voltarão a associar Lula à corrupção descoberta pela Operação Lava Jato, que o prendeu e condenou, embora ele tenha sido libertado com a anulação dos processos.

A campanha vasculha dados de indicadores sociais mundiais para uma engenharia matemática: sustentar o raciocínio segundo o qual, entre 2003 e 2015, o PT tirou menos pessoas da linha da pobreza do que a média mundial, enquanto Bolsonaro enfrentou um cenário mais adverso, com a pandemia da covid-19 e a guerra da Ucrânia, e, segundo eles, manteve o País abaixo dessa média.

“Ele evitou que muitos milhões de brasileiros fossem para pobreza e no cenário de um segundo mandato sem corrupção, sem covid, e com as bandeiras de enxugar a máquina pública, de botar dinheiro público no lugar certo, tenho a convicção de que muito mais pessoas vão deixar a linha de pobreza e como já está acontecendo agora muitas pessoas vão até parar de precisar do governo e vão conseguir caminhar com as próprias pernas. Porque vão ter oportunidade de emprego e de aumentar muito mais a sua renda familiar do que com o Auxílio Brasil, por exemplo, e outros programas sociais do governo”, diz Flávio Bolsonaro.

Bolsonaro foi orientado a citar apenas diretrizes e ideias no discurso e no programa de governo em elaboração, em vez de metas e números para que não seja cobrado no futuro. Com a ajuda de ministros e ex-ministros, citará feitos do governo, como a transposição do Rio São Francisco, considerada pauta positiva. Há duas semanas, a equipe da campanha foi ao Maracanãzinho testar montagem de palco, posicionamento de câmeras e rever o esquema de segurança, que envolve os militares do Gabinete de Segurança Institucional e as forças policiais do governo do Rio.

A campanha quer promover um ato de grandes proporções. O planejamento prevê 10 mil militantes nas arquibancadas do Maracanãzinho, e em torno de 500 profissionais de mídia credenciados, tanto nacional quanto internacional, além de candidatos com acesso a áreas vips. O partido sugeriu o uso das cores verde e amarelo e desistiu de cobrar inscrição prévia online para ingresso no ginásio. Foi uma forma de contornar campanhas virtuais de anti-bolsonaristas que se inscreveram apenas para esgotar as entradas e esvaziar a convenção.

Para a convenção, o PL vai inaugurar também os perfis da campanha em redes sociais, como Twitter e Instagram. Eles usam o nome “Pelo Bem do Brasil”, mesmo mote da campanha. A campanha instalou um palco para militantes cantarem num “Karaokê do Capitão” e um estúdio para gravarem dancinhas de Tik Tok.

BRASÍLIA - A convenção do PL que oficializa neste domingo, 24, o presidente Jair Bolsonaro como candidato à reeleição vai evidenciar a preocupação da campanha com o eleitorado feminino. Um dos focos do megaevento, o maior entre os presidenciáveis de 2022, será debelar a resistência a Bolsonaro entre as mulheres, com destaque para a presença delas no palco. O presidente pretende expor essa preocupação e atenção com os mais pobres diante de 10 mil apoiadores no ginásio do Maracanãzinho, no Rio, berço político do bolsonarismo.

Se tudo sair como planejado, Bolsonaro subirá no palanque às 11h22 para discursar. A ideia da campanha é que ele siga um roteiro planejado e com viés social. Na prática, Bolsonaro será aclamado candidato do PL a presidente da República, tendo o general Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, como candidato a vice-presidente. Com dificuldades de engajar a primeira-dama Michelle Bolsonaro na campanha, o presidente pretende levá-la ao centro do palanque para uma inflexão histórica em seus discursos. Até agora, Michelle vinha se recusando a gravar participações em propagandas do PL. Apesar de apelos do marido e da cúpula da campanha, silenciou.

Em lançamento de candidatura à reeleição, presidente Jair Bolsonaro quer expor imagem de preocupação com mulheres e conta com a imagem da primeira-dama, Michelle. Foto: AP

O script do comitê de campanha prevê que Michelle discurse na convenção, assim como fez de surpresa na posse de Bolsonaro, em 1º de janeiro de 2019. No entendimento dos marqueteiros, ela suaviza a imagem do presidente. As autoridades e principais candidatos aliados foram incentivados pela cúpula da campanha a levar suas respectivas companheiras ao palanque.Nem todos os candidatos do PL poderão subir ao palco, e parte do espaço foi reservado justamente para que os principais candidatos ligados ao Palácio do Planalto possam aparecer ao lado das esposas no centro da convenção nacional. O marketing da campanha aposta que essa ideia ajudará na captação de imagens para propagandas de Bolsonaro, como costuma ocorrer em convenções que se transformam em megaeventos.

O partido não revelou quanto investiu na convenção. No fim do ano passado, o ato de filiação de Bolsonaro ao PL, cerimônia de menor proporção, custou R$ 370 mil, pagos majoritariamente com recursos do Fundo Partidário.

Presidente Jair Bolsonaro quer destacar valores tradicionais de família em sua campanha como fez em cerimônia no Planalto em junho deste ano. Foto: Wilton Junior / Estadão

Diversas pesquisas foram feitas em arquivos dos quatro anos de governo, mas os publicitários que trabalham para reeleger Bolsonaro encontraram em geral um ambiente muito masculino no entorno do presidente, como as motociatas e formaturas militares, além das atividades de governo, marcado por ter poucas mulheres no primeiro escalão. Para os marqueteiros, o presidente precisa demonstrar emoção e empatia com as mulheres.

Pesquisas de diferentes institutos mostram que Bolsonaro tem mais rejeição entre elas e menor intenção de voto, sobretudo entre as mais pobres. Elas são 53% do eleitorado nacional. Ao longo de julho, ele se reuniu com mulheres evangélicas no Maranhão e reconheceu que teve de “ceder” e se aproximar mais delas. “São a nossa âncora”, afirmou.

O presidente tem a imagem associada a episódios públicos de discussões ríspidas e trocas de ofensas com mulheres, como parlamentares, celebridades e jornalistas, e chegou a dizer em março que elas estão “praticamente integradas à sociedade”. Já foi condenado a pagar indenizações na Justiça, em mais de uma ocasião.

A preocupação também se estendeu à elaboração do plano de governo. Uma das colaboradoras é Daniella Marques, atual presidente da Caixa. O programa de empreendedorismo Brasil Para Elas, elaborado há quatro meses por Marques, será uma das vitrines. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente mais influente na coordenação da campanha, tem destacado em recentes entrevistas iniciativas como titulação de terras em nome de mulheres e pagamento em dobro do Auxílio Brasil para mães solteiras.

Por orientação do marketing, Bolsonaro deve fazer um discurso com acenos para além do bolsonarismo-raiz, de olho no voto de indecisos e dos arrependidos de 2018, que não votariam no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Dois conceitos centrais são “liberdade” e “fé”, que o presidente não deverá abandonar. O jingle, no estilo sertanejo, lembra também o gospel, e apresenta o presidente como “capitão do povo”, uma referência à origem militar e à simplicidade.

Para ir além do bolsonarismo, o presidente pretende reforçar o discurso social, com o pagamento reforçado do Auxílio Brasil e de benefícios a caminhoneiros e taxistas, vale gás, e gratuidade a idosos no transporte coletivo. Quer capitalizar a redução recente no preço dos combustíveis, com baixa no ICMS por pressão do Planalto e queda no valor em âmbito mundial, além de atrelar os preços mais altos ao longo do governo ao escândalo do petrolão.

A campanha quer expor as consequências de casos de corrupção. Os governistas tentarão emplacar a tese de que os desvios na estatal, em governos anteriores, impediram investimentos em refino no País, que reduziriam a dependência de importações e o impacto da alta de preços. A inflação também será atrelada a conjunturas externas.

Um objetivo declarado de seu comitê é reconquistar eleitores desiludidos com os rumos do governo e com o enfraquecimento da pauta anti-corrupção, por isso voltarão a associar Lula à corrupção descoberta pela Operação Lava Jato, que o prendeu e condenou, embora ele tenha sido libertado com a anulação dos processos.

A campanha vasculha dados de indicadores sociais mundiais para uma engenharia matemática: sustentar o raciocínio segundo o qual, entre 2003 e 2015, o PT tirou menos pessoas da linha da pobreza do que a média mundial, enquanto Bolsonaro enfrentou um cenário mais adverso, com a pandemia da covid-19 e a guerra da Ucrânia, e, segundo eles, manteve o País abaixo dessa média.

“Ele evitou que muitos milhões de brasileiros fossem para pobreza e no cenário de um segundo mandato sem corrupção, sem covid, e com as bandeiras de enxugar a máquina pública, de botar dinheiro público no lugar certo, tenho a convicção de que muito mais pessoas vão deixar a linha de pobreza e como já está acontecendo agora muitas pessoas vão até parar de precisar do governo e vão conseguir caminhar com as próprias pernas. Porque vão ter oportunidade de emprego e de aumentar muito mais a sua renda familiar do que com o Auxílio Brasil, por exemplo, e outros programas sociais do governo”, diz Flávio Bolsonaro.

Bolsonaro foi orientado a citar apenas diretrizes e ideias no discurso e no programa de governo em elaboração, em vez de metas e números para que não seja cobrado no futuro. Com a ajuda de ministros e ex-ministros, citará feitos do governo, como a transposição do Rio São Francisco, considerada pauta positiva. Há duas semanas, a equipe da campanha foi ao Maracanãzinho testar montagem de palco, posicionamento de câmeras e rever o esquema de segurança, que envolve os militares do Gabinete de Segurança Institucional e as forças policiais do governo do Rio.

A campanha quer promover um ato de grandes proporções. O planejamento prevê 10 mil militantes nas arquibancadas do Maracanãzinho, e em torno de 500 profissionais de mídia credenciados, tanto nacional quanto internacional, além de candidatos com acesso a áreas vips. O partido sugeriu o uso das cores verde e amarelo e desistiu de cobrar inscrição prévia online para ingresso no ginásio. Foi uma forma de contornar campanhas virtuais de anti-bolsonaristas que se inscreveram apenas para esgotar as entradas e esvaziar a convenção.

Para a convenção, o PL vai inaugurar também os perfis da campanha em redes sociais, como Twitter e Instagram. Eles usam o nome “Pelo Bem do Brasil”, mesmo mote da campanha. A campanha instalou um palco para militantes cantarem num “Karaokê do Capitão” e um estúdio para gravarem dancinhas de Tik Tok.

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