BRASÍLIA – O presidente Jair Bolsonaro (PL) rebateu nesta quinta-feira, 26, a declaração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de que a população tem que voltar a comer picanha. “A esquerda vende a ilusão de picanha para todo mundo, e eu digo: não tem filé mignon para todo mundo”, declarou o chefe do Executivo, em entrevista ao programa Pânico, da Jovem Pan.
Lula tocou no assunto em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo. “O povo tem que voltar a comer um churrasquinho, a comer uma picanha e tomar uma cervejinha”, disse o candidato do PT à Presidência da República, ao defender o aumento do poder de compra da população.
Mais cedo, em cerimônia de inauguração do auditório da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Bolsonaro já havia comentado as declarações do petista no JN. “Vai acreditar nessa conversa mole de que você vai ter tudo, ‘vou passar gasolina para 3 reais’, ‘todo mundo vai comer picanha todo final de semana’? Não tem filé mignon para todo mundo”, declarou.
Em maio do ano passado, Bolsonaro foi alvo de críticas nas redes sociais ao aparecer em uma foto segurando uma picanha de R$ 1.799,99 o quilo. À época, o presidente disse a peça de carne em questão foi um presente.
Na entrevista, Bolsonaro disse que apenas executa o orçamento secreto e negou que tenha responsabilidade pela distribuição das verbas. Por meio do esquema, revelado no ano passado pelo Estadão, o governo destina recursos de emendas a aliados, sem critérios e transparência, para garantir apoio em votações no Congresso. Na prática, as emendas são controladas pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), aliado de Bolsonaro.
“Hoje em dia são mais de R$ 16 bilhões (de emendas de relator) na mão do Parlamento. E, detalhe: quem decide para onde vai o dinheiro não sou eu, é o relator. E o relator sofre influências dentro do parlamento, ele manda essas notificações. Tal ministério, R$ 200 milhões para tal Estado”, afirmou o candidato à reeleição.
Bolsonaro reclamou que o orçamento é “bastante restrito” e ressaltou que o Congresso costuma derrubar vetos presidenciais. “Isso aí vai dar problema um dia. O pessoal culpa a mim pelo orçamento secreto. Eu não tenho nada a ver com isso. Quem decide as leis na ponta da linha não sou eu. Aprova um negócio do Congresso, eu veto, se derrubar o veto, não tem mais conversa”, disse o chefe do Executivo.
“Nós apenas executamos (o orçamento secreto), não temos qualquer responsabilidade nisso aí. E eu não posso, se eu quiser fazer, vamos supor uma chantagem em cima disso, tentar negociar, não posso, o orçamento é do parlamento”, emendou.
Bolsonaro foi questionado sobre o orçamento secreto porque o assunto foi abordado na entrevista de Lula ao Jornal Nacional. O petista chamou o esquema de “usurpação de poder” e disse que Bolsonaro é “refém” do Congresso. “O ministro liga para ele (Arthur Lira, presidente da Câmara), não liga para o presidente da República. Isso nunca aconteceu desde a Proclamação da República. O Bolsonaro parece o bobo da corte”, criticou Lula.